Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 12
Conselho das Loucas


Notas iniciais do capítulo

Conheçam Pietra, Melissa e Victoria! E temos um plus nesse capítulo!
E morram de ansiedade junto com Katerina!
E Milena, sem saber, vai salvar a chefe!
Espero que gostem!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/12

Eu juro que eu não tenho ideia de como eu consegui tirar o carro da garagem, eu não estava raciocinando direito, estava mais do que desesperada, em um nível de pânico tal que eu mal conseguia respirar.

Quando saí na rua, vi que Alex ainda estava com o carro parado em frente ao prédio e estava falando ao telefone com alguém, assim que me viu acenou, com medo de perder o controle da direção, apenas apertei a buzina.

Voei pelos cruzamentos, tentando fazer mentalmente as contas de quantos fusos eu estava da Inglaterra, da Itália e de Chicago. Sim, eu ia ter que soltar a notícia com as três, mesmo sabendo que Pietra iria contar vantagem por já saber sobre Alex, ou como ela o conhecia, “O Surfista Tatuado de Venice Beach”.

Só que antes de ligar para as três, eu precisava de uma informação muito essencial.

Quem era Alex? Quem era a família dele? Ele disse que atuar estava no sangue, mas eu não me lembro de reconhecer o casal da mesa para onde Dottie toda hora ia.

Na verdade, eu não prestei atenção suficiente neles para ter uma ideia se eram famosos ou não.

— Mas eu sou avoada em outro nível! – Me xinguei ao parar o carro na minha vaga e descer apressada.

Mesmo com toda a conversa e o meu desligamento temporário da realidade, eu ainda cheguei cedo. Eram 8:30 da manhã e ninguém tinha dado as caras ainda.

Cumprimentei os seguranças, já sabia os nomes deles. Subi para o meu andar, tentando colocar meu cérebro no lugar, na verdade, estava tentando me impor a pensar no trabalho. Porém, a minha mente elaborou uma listinha bem básica do que eu tinha que saber até às 19:00.

Quem era Alex

O nome dos pais dele.

O sobrenome dele.

O presente para a sogra que eu não conheço, mas que me conhece.

A roupa que vou usar.

Não surtar.

Não entrar em pânico.

Ser uma pessoa mais responsável e menos atraída por belos homens de olhos azuis.

Eu quase estava gritando quando abri a porta do meu escritório.

Coloquei minha bolsa e pastas em cima da mesa, corri para fazer um bule de chá, liguei os computadores, peguei os arquivos que ainda tinha que olhar, e verifiquei a minha agenda.

E eu estava com sorte ou azarada demais. Pois a minha única reunião do dia, com o pessoal responsável pelo Japão, era às 15:00.

Movida a desespero e adrenalina, mandei a seguinte mensagem no grupo das minhas amigas:

SOS! REUNIÃO POR VÍDEO ÀS 12:00 HORÁRIO DE LOS ANGELES, SE VIREM E FAÇAM AS CONTAS PARA SABER QUE HORAS SERÁ ONDE VOCÊS ESTÃO!

Silenciei o grupo por uma semana e me concentrei em trabalhar.

Do meu serviço do dia anterior tinha faltado a análise de um novo cliente, um Antiquário de San Francisco que queria inovar na distribuição de seus produtos pela Costa Oeste.

Achei um contrato arriscado. Porém, a Empresa parecia consolidada na internet e o mais incrível, mesmo usando o sistema de correio tradicional do país, era considerada extremamente pontual na entrega das mercadorias, com total integridade dos produtos. Na Costa Oeste queria investir no transporte por drones.

— Mas vocês não são a Amazon, que alugou mais de dois mil drones nossos. – Comentei em voz alta.

Resolvi entrar no site e analisar o que vendiam.  E me vi fascinada com as coleções de cristais, faqueiros, enfeites com várias temáticas.

Por algum motivo desconhecido, fiquei atraída pelos cristais, e algo clicou na minha mente.

Eu posso não conhecer a mãe de meu namorado - olha a encrenca, já dei nome! - Mas desconheço uma pessoa que não ache um jarro de cristal bonito.

Me arrisquei e para saber se eram pontuais e com um bom serviço, me vi comprando o tal jarro e ainda pedi com a opção “embrulho para presente”. Dei o endereço comercial e pedi entrega expressa. Pedidos até uma distância de 800 km, se processados no dia, seriam entregues em até oito horas.

— Vamos ver se é verdade. – Falei ao finalizar a compra e me voltei ao relatório financeiro e de integridade que sempre vinham acompanhando essas propostas.

Nossos pesquisadores, e aqui preciso dizer, eles desenterram coisas do tempo de Shakespeare se precisar, não encontraram nada de suspeito no inventário e muito menos nos donos. Tinham ótimos históricos e a empresa estava sob o comando da mesma família a quase cem anos, sempre passando de geração em geração. No quesito financeiro, também eram sólidos, donos do próprio prédio, sem dívidas e com tudo em dia.

— Agora o motivo de algo tão tradicional querer transportar por drones...

E fui lendo o histórico. Bem no fim da pesquisa, estava a resposta à minha maior dúvida, a nova geração da família, estava expandindo o comércio eletrônico. As vendas pela internet cresceram muito e para manter a qualidade dos produtos, queriam uma nova maneira de entrega, expressa e segura e nem tão cara assim.

Como estava na fase de teste, deixei uma observação de “em espera” na pasta.

Passei para os próximos relatórios e compromissos, quando Milena entrou na minha sala, pontualmente às 10:00, soltou:

— Bom dia. Isso tudo aqui é para mim?

Eu estava tão elétrica pela ansiedade, que tive que pensar em uma resposta bem-humorada.

— Espero que tenha trazido seus tênis de corrida... – Brinquei,

— Posso sugerir uma pessoa só para fazer isso?

—  Os trainees serão contratados em quinze dias, acabei de ler os relatórios e as entrevistas finais serão na semana que vem. Até lá, Milena, é só com você.

— Acho que vou sobreviver.

— Te garanto que vai. Eu comecei entregando estes relatórios.

Ela riu e pediu licença, o telefone da mesa dela tocava.

— Tem algo urgente agora pela manhã?

— Nada. Já na semana que vem... é outra história.

— Vou deixar para sofrer na semana que vem por isso. Um dia de cada vez. Precisa de ajuda?

— Seria pedir muito?

Ajudei Milena com os relatórios e quando coloquei a última pilha na mesa conjugada à dela, uma imagem, na contracapa da revista que ela tinha ali, chamou a minha atenção.

Era a propaganda de um relógio, daqueles caros, bem caros. Mas não foi o relógio, que seria um ótimo presente para meus irmãos, que chamou a minha atenção. Foi o garoto propaganda.

Eu conhecia aquele homem.

Era Alexander.

— Bonito ele, não é? - Milena me tirou de minha contemplação.

— Muito. – Respondi sem tirar os olhos da foto.

— Uma pena que a série onde ele era um personagem recorrente foi cancelada. O nome dele é Alexander Pierce.

Milena sem saber, tinha me dado a informação que eu precisava. Acho que vou dar um aumento para ela depois disso!

Deixei a pilha de relatório lá e, por muito pouco não corri de volta para a minha sala, assim, com toda a elegância que tinha, fui devagar até a porta, pedi licença e a fechei. Sabendo que o carpete da sala abafava os sons dos saltos, corri até a minha mesa e digitei no nome no Google.

— Olha a que ponto eu cheguei!! – Enterrei minha cabeça em meus braços.

E quando o Google me deu os resultados, entre personagens de filmes e de quadrinhos, eu tinha 98.600.000 de possibilidades de achar o que eu queria.

— E ele achando que setenta e sete milhões eram muito!

Tentei refinar com o que eu sabia, idade e a propaganda do relógio.

E lá estavam as notícias.

Dentre todas, vi uma foto dele com uma modelo loira, magrela e de olhos castanhos. Na legenda dizia se tratar de Suzanna Cameron.

— Então é você a ex. Será que loiras são o tipo dele?

Rolei a página mais para baixo, e na aba de pesquisa relacionada, vi uma outra foto da tal de Suzanna, dessa vez ao lado de minha irmã, Mia!

Em usko[1]!!

Deixei esta infeliz coincidência de lado e voltei à página principal, a ex dele não me importava.

Fui direto na página do IMDB e li a biografia e os trabalhos dele, lógico que a genética – e que genética, meu pai! – era mencionada. E eu fiquei morta de vergonha ao saber que já tinha assistido filmes tanto com o pai quanto com a mãe dele. E, descobri que a sétima arte, ou pelo menos a vida dentro de estúdios, é coisa de família quando li que o irmão dele é diretor.

— Meu Deus! Eu não vou saber conversar sobre nenhum assunto com essa família! Eu não entendo absolutamente nada de cinema e televisão. Eu mal sei quais filmes ganharam o Oscar recentemente! – Gemi em desespero.

Mais uma olhada na página de buscas e lá estavam alguns vídeos dele. Alguns tributos de fãs para o tal personagem da série que Milena comentou e até alguns comerciais.

Dei o play no primeiro vídeo que o YouTube me indicou e quase que eu dou um ataque cardíaco.

— Precisava ser sem camisa? – Murmurei. – Não, peraí... tudo isso está do meu lado e eu... – Coloquei no replay e vi o comercial novamente e de novo e de novo... até que eu comecei a rir. – É dessa vez eu dei uma sorte daquelas!!

Li as duas entrevistas com ele que encontrei, não eram grandes e não me davam muitas pistas. Aí parti para uma pesquisa paralela.

Os pais dele.

Até porque eu precisava saber um pouco sobre a mãe dele se eu quisesse comprar um presente aceitável para ela.

Conferi a hora, eram 10:30, eu tinha um tempinho se nada aparecesse agora.

Abri mais duas abas no navegador e digitei os dois nomes. Filtrei para entrevistas e passei os olhos, uma, de uns dois anos atrás, me pareceu promissora.

E só pela foto da capa, eu sabia que tinha acertado no presente. Lá estava Amelia Pierce, sentada em uma sala elegantemente mobiliada, e no fundo uma cristaleira maravilhosa.

— Muito obrigada! – Dei um tapinha no relatório que estava suspenso. – Se vocês me entregarem o produto hoje, como combinado, eu fecho o negócio com vocês!

Nem terminei de ler a entrevista, apenas rolei a página para baixo e vi as fotos, em uma sessão, ela mostrava as melhores fotos de família. E dentre o casamento, algumas fotos de Ação de Graças, estava uma, de Alex, com um braço quebrado e seu irmão, Will, pequenos. Tive que copiar a foto e anexá-la em uma mensagem que dizia assim:

Curiosa pela história por trás dessa foto... será que algum dia eu vou saber?

Onde você achou isso?— Foi a resposta imediata que recebi.

Como eu te disse, Alex, eu sei usar as ferramentas de busca melhor do que você...

Mais o que você descobriu?

Resolvi brincar com a cara dele.

Seu dossiê está bem grande agora...

Preciso me preocupar?

Acho que alguém está com medo do passado...

Não, só querendo saber a sua opinião.

Eu ainda vou ao jantar hoje. Acho que isso diz muito, não diz?

E como. – Foi a resposta curta dele.

Só uma perguntinha, onde vai ser o jantar?

Na casa dos meus pais.

Eu só não ri como uma pessoa a beira de um ataque histérico porque eu estava no trabalho, mas se eu estivesse em casa....

Claro...

Kat, não é nada muito chique, só família.

Olhei a pesquisa do Google, se tudo estivesse certo, iria quase umas trinta pessoas, completamente desconhecidas para mim.

Eu sei.— Respondi e notei que nunca menti tanto na minha vida.

Você quer me encontrar para almoçar e saber mais sobre a minha família?

Adoraria almoçar com você, Alex!— Isso era verdade! - Mas tenho uma reunião.— O que também era verdade. Só não era a reunião que ele pensava...

Claro, você tem a sua agenda. Boa reunião para você.

Obrigada e só mais uma coisinha...

O que?

Belo comercial, aquele do perfume.

Ele não me respondeu, mas vi que ele viu a mensagem. E, sem a resposta que eu queria, e sem a pessoa do meu lado, revi o comercial.

— Senhor! Olha o tamanho do problema que eu fui arranjar! – Falei ao dar novamente o play, desnecessário dizer que precisei me abanar no final...

Milena pareceu com mais relatórios e os deixou na minha mesa.

— Hora da lei do retorno! – Ela me lembrou do que havia dito ontem.

— Cuidado, isso aqui é igual a um bumerangue! – Respondi já separando a pilha. Estava mais interessada no e-mail que havia recebido de Londres, com a aprovação provisória do meu orçamento anual para 2022.

Depois de tudo organizado, peguei a pilha mais rápida de resolver, atualizações das cargas pelos mundos.

Até que vi que teria que pôr a cara no sol e dar uma voltinha nos portos de Los Angeles e San Diego.

— Que maravilha... atraso no embarque e desembarque dos contêineres, era a dor de cabeça que eu não precisava agora.

Dei uma outra olhada na minha agenda. O jeito era aproveitar a relativa calma da sexta-feira e fazer essas visitas e reuniões com os administradores das docas.

Fui até a antessala e Milena se assustou.

— Preciso de um favor. – Falei.

— Pode falar.

— Marque uma reunião com os portos de San Diego e Los Angeles. sexta-feira. De manhã aqui em Los Angeles, o mais cedo possível, e de tarde em San Diego.

— São duas horas de viagem até lá.

— Marque para depois das 14:00.

— Precisa que o motorista te leve?

— Não. Eu já estive lá, vou saber chegar.

— Tudo bem. Vou marcar e te dou o horário certo daqui a pouco.

— Muito obrigada. – Agradeci e voltei para dentro da sala.

E foi a conta de entrar e escutei o som da chamada do FaceTime.

Corri para atender. Eram as três.

— Ainda não é meio-dia! – Falei.

— Você manda um pedido de SOS e quer que façamos o que? Meditação até o horário marcado? Você quer nos enlouquecer? – Essa era Melissa, ou Mel.

— Me diga que você reencontrou o ‘Surfista Tatuado’! – Pietra lançou a bomba fazendo aspas com as mãos.

— QUE SURFISTA TATUADO?!!! – Victória deu o berro e eu escutei até o meu irmão xingando.

— Primeiro, Victória, feche a porta, coloque os fones de ouvido e não grite. Segundo Melissa, você é exagerada. Terceiro, Pietra, eu convoquei a reunião, eu faço a pauta. Tenho pouco tempo e muito para falar, então me deixem resumir os acontecimentos e depois, vocês falam, pode ser?

As três concordaram com a cabeça.

— Então vamos lá! Sentem-se que lá vem a bomba. Se trata do “Surfista Tatuado”, o nome dele é Alex e, vamos dizer que...

— Ele tem olho azul??? – Victória me cortou.

— Ela falou que tem! – Pietra respondeu por mim.

— Me diz que ele é bonito. – Melissa implorou.

— Pesquisem por Alexander Pierce, ator, no Google. – Falei. – Enquanto vocês fazem a pesquisa eu falo.

E eu comecei a resumir os últimos dois dias e meio.

Madonna Mia!!! Ma ché!! Katerina Elizabeth Nieminen... isso é que eu chamo de pescaria!! E esse vídeo do perfume?? – Pietra falou depois que eu resumi a história.

— Olha... Kat... amiga... uau... Ele é muito, muito bonito, acho que vou ver a filmografia, como referência. – Mel disse.

Foi Vic quem viu a mesma foto que eu vi.

— Você viu de quem a ex dele é amiga, não viu?

— Vi...

— De quem? - Pietra e Mel perguntaram juntas.

— Mia.

As caretas das minhas amigas foram impagáveis.

— Ótimo. Já vimos o gato. Aprovamos o quesito capa. Conteúdo? O que você estava dizendo sobre ele e um aniversário, mesmo? – Melissa aterrissou na conversa.

— Hoje é aniversário da mãe dele. – Falei.

— É mesmo. Tá aqui na página dela no IMDB! – Vic ficava trocando de tela e de computador enquanto conversávamos.

— Ele vai te levar na festa?? – Pietra atalhou de novo.

— A coisa tá séria assim?! – Mel caiu da cadeira e só apareceu a testa dela na câmera.

— Santo Chá das Cinco!! Isso que eu chamo de namoro à jato. Mas me conta. Foi ele quem te contou tudo isso ou foi você quem...

— Na verdade, até duas horas atrás eu nem sabia o sobrenome dele.

Pietra deu um ataque de riso. Melissa continuou no chão e Victória me olhava espantada.

— Sério? – Disse minha cunhada.

— Sim. Muito sério. Descobri só porque a foto dele, em uma propaganda de uma marca de relógio, está estampando a contracapa de uma revista.

— Quero ver a revista! Diga o nome! – Pietra exigiu.

— Não faço ideia. Eu vi a foto e minha secretária me deu o nome dele.

— Ela acha ele bonito?

— Que mulher no mundo não acha esse Poisedon bonito, Victória Williams?? Acorda mulher! – Melissa gritou. - Tudo bem, realmente temos uma emergência. Tirando a Vic que já conhecia os sogros quando começou a namorar o Kim, nós nunca fomos apresentadas às famílias tão rapidamente.

— Tem mais uma coisinha. – Murmurei.

— Meu Deus, Katerina, desde quando é você quem dá essa trabalheira toda para gente? Normalmente você é a conselheira, não a que pede conselhos. O sol da Califórnia está te fazendo mal! – Mel continuou a falar. – E por Deus, olha essa tatuagem!! Me diga que você já viu todas as tatuagens.

— Não, eu não vi, Mel. E, bem, o que eu estava falando é que... os pais dele já me viram.

— E você, como fica avoada perto de um par de olhos azuis não notou nada.

— Exatamente, Vic.

Pietra ria de chorar.

— Quando que, na minha vidinha, eu ia pensar que a Kat entraria numa enrascada dessas?? NUNCA! Agora, me diga uma coisa, ó senhorita apaixonada pelo surfista que seu pai vai odiar, onde é a festa?

— Na casa dos pais dele.

— A família dele vai estar lá! Que ótimo. Vão te jogar na fogueira com 24 horas de namoro! – A Italiana Louca continuou.

— Você vai dar o que de presente? – Vic perguntou, até agora era a única que ainda não tinha rido da minha cara.

— Isso eu já resolvi. Se é que vai chegar a tempo...

— E o que vai ser?

— Um belo jarro de cristal de um antiquário de San Francisco. Eles querem que comecemos a fazer a logística deles, então resolvi testar a confiança, credibilidade e qualidade da venda. – Dei de ombros.

— Com o presente da sua sogra?! Isso que é ter sangue frio. E se não chegar? – Mel perguntou.

— Aí eu pulo do prédio! – Me desesperei.

Foi quando uma pessoa que eu não estava esperando, entrou na conversa.

Ma non! Non! Você vai na festa. Eu gostei da carinha do Surfista Tatuado. E você vai trazê-lo até aqui, no mio ristorante, prego?

Nona Agnelli!! Que saudade!! – Falei para a signora. – E sí, vou levá-lo aí, se eu sobreviver...

As outras duas saudaram a Nona que se sentou ao lado de Pietra e começou a prestar atenção na conversa.

— Peraí! Vamos fazer uma lista de coisas que precisamos até às 19:00, horário de Los Angeles. – Mel falou.

Vic foi mais esperta e começou a ler o que ela já tinha pensado:

— Eu tenho aqui: Presente, tá ok, se chegar, é claro. Pesquisa rápida sobre a família, ok. Roupa? Sapatos a gente sabe que ela tem, agora, só Jesus na causa pra fazer a Katerina sair da roupa social. Agora só tem um problema...

Cos’è? – Nona perguntou por todas nós.

— O que você entende da sétima arte e de séries, Katerina? Só te vejo no canal de negócios...

— Absolutamente nada. Niente.

— Que horas que começa a festa? – Vic continuava com o interrogatório.

— Alex vai me pegar às 19:00.

— Meu Deus, ela tá apaixonada! Já é até “Alex”!! – Pietra começou a brincar.

— Então, amiga. – Mel resolveu ignorar a Pietra. – Você tem seis horas para ler cada editorial que o Martin Scorsese, já escreveu. Decorar todas as páginas do IMDB. Procurar saber quais são as séries mais assistidas da atualidade, a número um aí nos EUA... se vira. E pelo amor de Deus, começa a assistir televisão como um ser humano normal!

— Eu não vou assistir a canais de fofoca como você, Melissa.

— Assista à Netflix! Assina a Disney+, Amazon Prime e sei lá mais qual existe! Você vai precisar disso se quiser que a família do Bonitão Tatuado te aceite entre eles. Porque, só ter assistido à Sherlock, Hawaii Five-0 e House não vai te salvar, não! E canal de notícias 24 horas e de Finanças só tem uma utilidade.

Todas ficamos em silêncio.

— Tá bom, eu pergunto. Qual é a única utilidade desses canais, Mel? – Vic perguntou, depois que nós cinco ficamos nos encarando pelas telas.

— Te fazer dormir!

Suspirei.

— É Finlandesa, você tá perdida! – Pietra soltou. – Ainda bem que o seu beau é bonito, porque se ele fosse feio, eu te juro, não te dava essa força toda não!

Isso porque eu ainda não tinha dito nada sobre o outro hobby dele.

— Bem... não podemos fazer mais nada daqui, Kat..., se quiser ajuda no quesito guarda roupa, mais tarde... – Vic começou, solidária em meu desespero.

— Eu vou estar no décimo sono, são longas sete horas de diferença! Me mande a foto. – Pietra me respondeu. – Arrivederci!

Näkemiin[2].- Respondi.

Mel também foi se despedindo.

— Eu tô morta de sono por aqui! Boa sorte, pra você, amiga. E me conta o que rolar por lá, temos que destrinchar os mínimos detalhes, sabe como é, para garantir que não aconteça mais nada de errado. Mas eu tenho o pressentimento estranho de que esse é o cara, apesar do que a Pietra falou é certo. Seu pai vai odiá-lo!

— Obrigada, Mel. E eu mando o resumo ainda hoje, dependendo do que acontecer! Tchauzinho!

Vic ficou online mais uns minutos, afinal, ela era da família e, apesar de morar em Chicago, era a mais próxima das minhas amigas.

— Olha... eu te conheço há muito tempo, Kat, sei que você, apesar de ter um precipício por homens de olhos azuis, não comete nenhuma besteira, mas eu fiquei assustada com a rapidez disso aí... sei que sou a mais errada para dizer, afinal me casei com o seu irmão aos dezenove anos, porém, olhe onde você está se metendo. Com Lucca foi fácil te ajudar, estávamos perto. Não estamos aí na Califórnia, então... você sabe. Se ele for realmente o cara, boa sorte, quero conhecê-lo quando for a hora, mas se ele não for... caia fora antes que o pior aconteça! Pietra fica rindo, Mel estoura fácil, mas você sabe que nenhuma de nós quer te ver daquele jeito de novo, não sabe? E que se o bonitão da propaganda de perfume – e que propaganda se me permite dizer! – fizer qualquer coisa contra você, sabe que nós três vamos pegar em armas para te defender, não sabe?

— Eu sei... sabe, Vic, é só que... – Mordi a língua.

— Que? – Minha cunhada insistiu.

— Eu acho que o conheço!

— Deve ser das propagandas.

— Não. Não é de nenhum comercial ou foto, eu nunca tinha visto esse comercial antes... parece que eu o conheço de muito tempo atrás.

— Reencarnação? – Ela levantou uma sobrancelha.

— Algo assim...

— Bem... Nona Agnelli acredita nisso. Eu nunca vi acontecer... mas se você, que sempre teve o cérebro mais racional de todas nós está dizendo isso, quem sou eu para duvidar.

— Obrigada... acho que precisava ouvir isso.

— Eu vou monitorar as redes sociais até a hora que eu conseguir hoje... caso saia algo de vocês... eu te aviso, porque você sabe, aí é Los Angeles e tudo mais.

— Redes sociais?

— É, você ainda não está seguindo o seu namorado no Instagram, não?

— Ele tem um perfil no Instagram?

E ela me mandou o link por mensagem.

— Até eu já o estou seguindo lá... e a Pietra e a Mel também... Que vergonha... ele não pediu solicitação no seu perfil não?

— Vic, eu mal abro aquilo....

— Dá uma olhada só para garantir! Anda, estou esperando!

Abri o Instagram e não tinha nada.

— Ele não me achou.

— Mas você o achou, ou nós o achamos. Anda... faz isso!

— Ele nem vai notar, o perfil dele é público.

— E o seu tem nome e sobrenome que ele conhece! Vai por mim, vai ser automático esse aí!

Mesmo achando besteira, fiz o que ela me pediu.

— Me fala quando ele te seguir de volta. E se ele perceber que tem três seguidoras em comum com você!

Vic iria continuar falando, mas meu irmão enfiou a cara feia na frente da câmera.

— Oi Kit-Kat!! Como está se sentindo debaixo do sol da Califórnia? Espero que o mofo já esteja secando.

— Larga de ser engraçadinho, Kim!

— Mas, pensa bem, agora você tem a chance de realmente ficar no sol... porque pelo que ouvi o apartamento aí tem cobertura, você mora quase perto da praia... Você já foi conhecer o mar, né? Só cuidado, porque é diferente do lago, tem onda, e te puxa... não quero receber a notícia de que encontraram o corpo de uma desconhecida boiando pela orla de Los Angeles, não.

— Kim, já deu.

Mas meu irmão não desistia, não, Kim era sempre o bobo da corte.

— Só te ajudando a enfrentar esse momento único da sua vida, a primeira vez que você vai à praia!

Encarei meu irmão pela tela do computador.

— Você é um palhaço, Kim!

— Mentirosa, o palhaço da casa é a Mia, viu a última foto dela? Aquela roupa dava para ela fazer figuração em qualquer circo! - Ele riu.

— Fiquei sabendo que você vai ser tio... – Passei a fofoca pra frente.

— Quem é o pai do seu filho??

— É a Mia quem está grávida, gênio!

Kim começou a rir. Vic, que estava sentada do lado dele, se engasgou.

— Isso foi erro de percurso, né? – Ela questionou.

— Pergunta mais importante. – Kim interrompeu. – Quem te contou isso, Mia não conversa com você, ela te acha "brega, insossa e feia". – Ele imitou o jeito de falar de nossa irmã.

— Você sabe, né Kim, se eu sou feia, você é feio por associação... é meu irmão gêmeo!

— Quem te passou a notícia, não tem nada na internet!!! – Vic se desesperou.

— Liv.

— Aquela pequena fofoqueira! Ela só conta as coisas para você!

— Deve ter alguma coisa a ver com o fato de que eu sou a madrinha dela.

— Eu sou o tio, Vic é tia, e só você fica sabendo....

— Como ela ficou sabendo? – Vic tampou a boca de Kim com mão pra conseguir conversar comigo.

— Mia foi jantar na casa do vovô, no domingo.

Mesmo com a boca tampada, Kim tinha algo a dizer.

— Esperou estar todo mundo fora para dar as caras, deveria estar com medo de você.

— Vic, coloca o animalzinho de estimação pra fora, por favor! – Pedi.

— Mais alguma informação valiosa? – Vic retomou a conversa.

— Mas é claro... é um menino, a balança da família está equilibrada novamente. – Fui sarcástica.

— Quem é mesmo o marido dela?

— Um Príncipe por aí... Liv me falou o nome, não lembro.

Kim deu uma risada.

— Fala sério... quem vai criar esse pestinha?

— Uma babá, e quando ele estiver em idade escolar, vão colocá-lo no Colégio Interno. – Conjeturei.

— Você que não pense em fazer isso com os meus sobrinhos, quero quatro vindos de você. Um pra seguir a sua carreira, outro para seguir a minha, outro pra ser piloto e o quarto vai ser jogador de futebol.

— Claro... super tranquilo. Quatro filhos! Que lindeza, Kim!

— Já tenho tudo planejado para os meus sobrinhos.

— Quatro meninos?

— Sim.

Eu vou colocar quatro cromossomos Y no mundo?

— E de uma vez!! – Meu irmão ria.

— Nossa! Mal posso esperar para ficar do tamanho de uma rinoceronte.

— Brincadeiras à parte. – Meu irmão ficou sério. – Isso, essa notícia da Mia é verdade?

— Sim. E nem a mãe está acreditando.

— E o pai?

— Ainda não conversei com ele. Na verdade, nossos horários não estão batendo e ele não ficou nem um pouco feliz com a minha mudança pra cá... mas quando a Liv vier em quatro semanas, eu vou saber mais.

— A Liv vai te visitar aí?

— Sim. Não sei como ela convenceu o Ian, mas ela vai vir.

— Eu sou o tio esquecido, é isso?

— Olha, tem alguém com ciúmes! Que fofo! Vê se cresce, Joakim!

Meu irmão estava pensando em uma resposta bem sarcástica para me dar, quando minha secretária bateu na porta e pediu licença.

— Tenho que ir, Casalzinho 20. Nos falamos a qualquer hora. – Me despedi, mas Kim tem sempre que ter a última palavra – boba – da conversa.

— Não esqueça a sua boia de braço quando for na praia, Kit-Kat!

Desliguei a chamada.

— Por favor, ignore o que você acabou de ouvir, Milena. E boa tarde!

— Marquei as duas reuniões para sexta-feira. Às 8:00 da manhã aqui em LA e às 14:00 em San Diego.

— Ótimo. Muito obrigada. Tem mais algum relatório esperando o fim do dia para pular na minha mesa?

— Até agora não... Mas eles gostam do entardecer...

— Nem me fale. E se multiplicam durante à noite. E, aproveitando que estou lembrando, preciso que você levante a ficha dos diretores das docas dos dois portos. Pode me entregar amanhã, sem problemas, por favor.

— Sim. Vou trazer a ficha dos imediatos também.

— Ótimo. Não os conheço ainda, e gosto de ir preparada. No mais, eu não estou aqui para relatório nenhum.

— Eles te encontram... sentem o cheiro do medo. – Milena brincou e pediu licença para sair.

Mesmo com fome, mergulhei no trabalho, tendo programado um alarme para as 17:00 com o intuito de poder sair mais cedo e ter um tempo para me desesperar atrás de uma roupa para vestir para a pior ocasião do planeta, aquela chamada “Vamos Conhecer Os Sogros!”

Às 15:00 tive a reunião mais rápida da minha vida, o pessoal veio tão preparado que em quarenta minutos, resolvemos todos os trabalhos, inclusive a seleção dos novos estagiários.

Era um pouco depois da 16:00 quando bateram na minha porta.

— Eu falei para dizer que eu não estava!! – Brinquei.

Milena colocou a cabeça para dentro e falou.

— Você pediu algo na internet? De San Francisco?

— Já chegou!

— Tem um embrulho com a marca de “Cuidado, frágil” aqui fora, e só aceitam a sua assinatura.

— Sim, eu pedi. Era um teste. – Me levantei e fui receber o pacote que salvaria a minha vida.

Assinei o recibo e o entregador me passou o pacote. Já na minha sala, abri a caixa de papelão e vi como eles acondicionavam a peça, com todo o cuidado para não quebrar e ainda usavam materiais reciclados e nada de isopor.

— Ainda são amigos do meio-ambiente. Vou fechar negócio. – Tirei o embrulho de dentro da caixa e vi que tudo estava perfeito. Dei uma leve balançada para ter certeza de que nada estava quebrado e o deixei em cima da mesa de reuniões como um pedestal e um lembrete sobre o que eu estava prestes a encarar.

Voltei ao trabalho e só parei quando meu celular tocou. Mesmo sem querer, juntei as minhas coisas, não tinha muito trabalho ficando para o dia seguinte, o que era ótimo. Ajeitei a sala, peguei minha bolsa e o presente da minha sogra.

— Bom, Milena, vou precisar sair mais cedo hoje. Falta uma hora para o expediente acabar, se você quiser sair mais cedo, não tem problema. – Avisei.

— Sim, Senhora. Boa-noite!

— Para você também. – Respondi, já eu duvidava que teria uma boa-noite...

No meu carro, prendi o presente como se fosse um bebê, tudo para evitar de quebrar. O trânsito ainda estava tranquilo, assim, cheguei mais rápido e ainda pude dar uma voltinha com Thor e Loki pelo quarteirão, só para eles darem uma distraída. Protelei o quanto eu pude, mas uma hora eu precisei entrar debaixo do chuveiro, mesmo sem saber o que vestir.

Estava fazendo a maquiagem quando meu celular tocou. Era Alex e uma vozinha dentro de mim começou a torcer para que ele estivesse cancelando a minha participação no jantar.

— Hei você! – Atendi.

— Oi! – E ele parou.

— Algum problema? – Eu até cruzei os dedos de ansiedade, esperando pela frase que me faria me jogar na cama e ler um bom livro.

— Está muito cedo para dizer que estou aqui do outro lado da sua porta? – Ele perguntou todo sem graça.

Tirei o celular do ouvido e conferi o relógio. Eram 18:35.

— Bem... não. – Falei. E me olhei. Eu estava meio pronta e de roupão. – Mas um trato, você só vai abrir a porta quando eu gritar que pode! – Barganhei.

— Cheguei em uma hora ruim?

— Estou meio arrumada, meio desarrumada, não tá uma visão muito legal...

— Tudo bem.

Já estava na porta, destrancando-a quando ele respondeu isso, logo que a chave virou, e como eu já tinha presenciado como ele era um trapaceiro de primeira, saí correndo. E estava na porta do quarto, quando ele, por conta própria, abriu a porta. Para a minha sorte, Thor foi pedir carinho, enquanto Loki veio para perto de mim e se deitou na porta do quarto.

— Não o deixe passar para dentro. – Ordenei ao meu cachorro.

— Você não falou nada, então eu entrei!

— Você virou a maçaneta assim que eu a destranquei! – Retruquei. – E não ouse entrar aqui. Loki está de guarda e se você preza por ter tudo no lugar, não tente passar por ele. – Ameacei enquanto estava parada no meio do meu closet, procurando algo para vestir.

Roupa eu tinha, mas 75% do meu guarda-roupa são roupas de trabalho, os outros 25% são divididos em roupa de ginástica, roupa de ficar em casa e roupa de sair, a roupa de ficar em casa ganhando de lavada das outras duas.

E eu duvidava que houvesse um manual na internet que ensinasse a “Como Se Vestir Para Encontrar Os Seus Sogros, No Dia Do Aniversário De Sua Sogra, Sendo Que Você Só Tem 36 Horas De Namoro”.

Eu quis chorar de desespero, mas não queria arruinar a minha maquiagem, então me recompus, respirei fundo e vasculhei tudo o que eu tinha guardado na quinta à tarde, tentando me lembrar se eu tinha trazido alguma roupa que fosse chique, mas casual ao mesmo tempo.

Foi quando me lembrei de um vestido branco, na altura do joelho, no estilo envelope, que eu tinha. Era ele ou nada mais. Achei o bendito dependuradinho no cantinho, não pensei mais e o vesti. Agora faltavam os sapatos e a bolsa.

Resolvi por um pouco de cor no look e escolhi um par de sapatos azul elétrico. Uma última conferida no espelho, eu parecia apresentável, joguei o lip tint dentro da bolsa com um kit basiquinho de sobrevivência que eu sempre carregava, junto com o meu celular e cartões e estava pronta. Era hora da verdade!

 

[1] Eu não acredito!

[2] Adeus.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sou má e deixei um gancho! Sem desespero por favor, como dei uma adiantada na história, sábado tem mais um capítulo para vocês!
Espero que tenham gostado das personagens que apareceram...
Muito obrigada a você que leu!
Até sábado!
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.