Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 107
Recomeços


Notas iniciais do capítulo

Sem atrasos nessa semana! Aqui vai o capítulo.
Boa leitura!



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Com o fim do julgamento, eu estava mais do que liberada para voltar para Los Angeles, para a minha vida e meu trabalho.

Ainda demorei um pouco mais em Londres, estendendo a minha estadia até domingo de manhã, assim, pude passar um tempinho com quase todos, levei meus sobrinhos na escola, passei as tardes ao lado da minha avó, conversando com ela sobre os acontecimentos dos últimos meses, tentando descobrir como ela recomeçaria depois de tantos anos, e recebendo a mais espantosas das respostas:

— Vou voltar a fazer o que eu fazia, Katerina. Vou abrir uma escola de canto e música. Sei que estou velha e que muito provavelmente ninguém da família irá levar isso para frente, mas é o que eu quero e eu vou fazer.

— Aqui em Londres ou na Finlândia?

— Minha família está toda aqui, ou quase toda, tenho dois netos desgarrados que estão nos EUA, contudo, nada me impede de ir visitá-los quando eu bem entender, ou me impede?

Tive que rir.

— Do meu lado, digo que nada lhe impede, aliás, seria muito bem-vinda! Tenho alguns lugares que gostaria que a senhora conhecesse na Califórnia!

— Eu aviso quando estiver subindo no avião.

— Vou aguardar essa visita com ansiedade.

Outras pessoas com quem pude conversar, foram minhas amigas, e fiquei mais do que atualizada quanto à suas vidas amorosas, ao que parece a virada de 2021/2022 trouxe boas notícias e agora, todas estávamos oficialmente desencalhadas.

— Só não podemos virar todas, donas de casa e com filhos, como a Vic... assim não vai dar certo! – Pietra falou rindo.

— Deixa para a Vic essa vida de doméstica. Eu ainda tenho muitos anos trabalhando na McLaren. – Mel comentou.

— Perdendo, não é? – Pietra cutucou.

— No final da temporada conversaremos sobre isso.

Eu fiz uma careta. Secretamente eu achava que nenhuma das duas iria estar contando vantagem, ainda mais depois do domínio avassalador da Mercedes nos últimos anos.

— Novas regras, novos dominadores. – Respondeu a italiana. – Mas, voltando à nossa conversa, vamos fazer uma aposta. Quem será a próxima do nosso Bando de Loucas a começar uma vida 100% doméstica?

As duas olharam para mim, claro, talvez eu seria a escolha mais lógica, tendo em vista o anel de noivado, mas como eu falara com Alex, ainda não era o momento, então, soltei a bomba:

— Você, Pietra. Vai ser você!

E a Louca deu um pulo da cadeira, assustando os demais presentes do restaurante onde estávamos.

— Nem nos seus sonhos mais loucos, Bionda! – Foi a resposta que recebi.

 E, por fim, tive bons momentos ao lado de minha mãe, na manhã em que nós duas saímos cedo de mais para cavalgar no Haras. Deixamos todos dormindo e praticamente ao amanhecer, selamos os cavalos e fomos dar uma longa cavalgada por toda a propriedade, não conversamos sobre o que aconteceu, isso não nos importava mais, conversamos sobre o futuro, o nosso e de nossas famílias. Fazendo previsões absurdas e até mesmo apostando sobre a data em que o filho de Kim e Vic nasceria.

Foram bons estes quatro dias, mas o domingo chegou cedo demais e, ainda mais cedo, me vi parada no hangar, esperando a inspeção da alfandega terminar para poder embarcar. Estava ao lado de Alex, na sala de espera, com muito sono, por não ter dormido absolutamente nada e já sentindo uma enorme saudade dele ao meu lado, mesmo sabendo que ele voltaria exatos quinze dias depois de mim, a tempo para ir ver o Super Bowl.

— Está tão calada... – Ele falou no meu ouvido.

— Só aproveitando o momento para cochilar.

Escutei a sua risada ecoando em seu peito.

— É... nós não dormimos muito nessa última noite. Mas você vai poder tirar o atraso no voo, enquanto eu vou dormir durante o dia, para estar no set à noite.

— Dessa vez a despedida não é por muito tempo. – Falei ao pegar a mão dele.

— Não. Não é, só que eu não volto sozinho.

Foi a minha vez de rir, em um movimento que surpreendeu a todos, Ian, depois de ser devidamente convencido por meu sogro, deixou que os filhos fossem ao jogo. Ele também iria, assim, a volta para casa de meu noivo, seria com companhia, de toda a minha família.

— Será que vai caber todo mundo lá em casa? – Perguntei.

— Não sei... qualquer coisa a gente pode ir para a fazenda, lá com certeza cabe.

— Não podemos esquecer de chamar a Dona Ilsa...

— Minha avó... Creio que Dona Laura é quem não vai gostar disso. Vai morrer de ciúmes.

— Ou talvez a sua mãe já falou para todos que os europeus estão chegando para conquistar o Super Bowl, e seus avós vão sair de Michigan para ver esse momento.

Alex jogou a cabeça para cima, sabendo que vindo de Dona Amelia, isso era bem possível.

— Vamos deixar para saber disso quando for a hora.

— Ou eu posso deixar você saber só quando você chegar, sabe como é, fazer aquela surpresa imensa...

Meu noivo me olhou enviesado, mas depois só balançou a cabeça.

— Eu vou estar chegando com a sua metade da família, mais do que justo que você se ajeite com a minha metade.

Acabaram a inspeção e liberaram avião e tripulação para o voo. Não tinha como atrasar a partida, não se eu quisesse chegar na Califórnia ainda com o sol brilhando.

— Então nos vemos em quinze dias? – Perguntei ao me levantar.

— Sim. Eu vou voar mais de onze horas ao lado meu sogro, se eu chegar vivo em Los Angeles, creio que devemos marcar a data do casamento.

Tive que rir da ideia dele.

— Já falei que não. Ainda não é o momento. Quando for, você será o primeiro a saber. – Disse e dei um beijo nele, na verdade, estava muito propensa em carregá-lo comigo para dentro do avião e não o soltar até que fossemos obrigados a desembarcar na Califórnia.

— Não vai subir no avião? – Alex questionou sem soltar a minha cintura.

— Eu tenho que subir, difícil está sendo me convencer a fazer isso.

E ele me abraçou ainda mais forte.

— Em quinze dias nos veremos. – Me prometeu e me guiou pelo saguão até o pé da escada.

— Vou estar no aeroporto te esperando. – Prometi e dei o beijo de despedida nele.

Avisaram que estávamos na hora e tive que me despedir de vez de Alex. Lá ia eu voltar sozinha para Los Angeles.

Antes de subir, vi Alex se encaminhar para a área de espera, quando ele se virou e me deu o último adeus, pude subir a escada e voltar para casa.

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E depois de um longo voo, eu finalmente começava a ver os limites de Los Angeles, que aos poucos foi ficando maior e mais perto.

Era uma sensação agridoce voltar para cara, sabendo que na teoria, a única companhia que eu teria seria de meus cachorros - que esperava ainda fossem meus e não tivessem me trocado pelo amor de minha sogra ou meu sogro.

Nossa aterrissagem foi autorizada e com pouco o jato foi encostado no hangar e só faltava a alfândega nos liberar. Algo que também foi bem rápido, tendo em vista a demora que costuma ser.

Agradeci aos pilotos, desejei a eles um voo seguro para casa e depois de pegar a minha mala, só uma, não era necessário mais do que isso, caminhei até o estacionamento, tirando, enfim, o celular do modo avião para informar para a família inteira que estava bem e em solo americano, aproveitando o momento e conferindo se minha sogra tinha mandado algo sobre onde estaria o meu carro…

Não havia esse tipo de mensagem, porém havia outra. Ela não trouxera o meu carro, mas sim viria me buscar, a desculpa:

É domingo, Kat, e eu não tenho nada para fazer, a não ser escutar as lamúrias de Jonathan que diz não ter nada de novo para mexer desde que construiu o seu escritório.— E ela terminava me informando em que parte do imenso estacionamento externo ela estava.

Puxei a minha mala sem muita animação até que encontrei o carro de Dona Amelia. Ela, achando que eu não tinha percebido, buzinou e colocou a mão para fora. Acenei de volta, só para que não continuasse com isso e acabasse atraindo olhares dos demais viajantes, tudo para evitar que ela fosse reconhecida e acabasse na capa de alguma revista de fofoca de quinta categoria no dia seguinte.

Mal cheguei perto da vaga e minha sogra já foi logo abrindo o porta-malas e me avisando:

— Quero um resumo bem completo de tudo o que aconteceu em Londres, e, também, atualizações sobre como vai meu primogênito, afinal, meu caçula já está de volta à Los Angeles.

Entrei no carro e logo depois de colocar o cinto, satisfiz a curiosidade de Dona Amelia, que soube ficar quieta e prestou atenção nos mínimos detalhes que contei. Ao fim da minha narrativa, ela ficou alguns segundos calada para então dizer:

— É, a minha intuição não falha mesmo. Não te disse que Mia tinha quem puxar? No final, ela é mais neta do seu avô do que você. Contudo, apesar de agora saber como foram seus dias na capital inglesa, fico contente que, pelo menos em parte, as coisas se resolveram e que agora você, sua avó e o restante de sua família estão livres de alguém tão maldoso e sem coração como Matti.

— Obrigada, Dona Amelia. O meu sentimento é o mesmo, como falei com Alex, eu, dentro de muito pouco tempo, passei por todas as fases do luto e agora me sinto aliviada. Acabou tudo. Porque eu tenho certeza de que a polícia não achará Matti, ele já está bem longe e escondido em algum lugar paradisíaco neste mundo, mas o ponto mais importante é que ele está longe de minha família e, principalmente, de meus sobrinhos. Agora sim, seremos uma família de verdade.

— E por falar em família de verdade, Katerina, todos realmente virão para o Super Bowl?

— Sim, todos vêm. Nem todos vão ao campo, mas virão. Alex não viajará sozinho de Londres a LA.

Minha sogra abriu um sorriso.

— Quantos dias ficarão aqui?

— Supreendentemente, Ian liberou os filhos para virem na quinta e voltarem na segunda à tarde. Serão quase quatro dias.

— Será mais interessante do que no GP de Austin…. Vai ser bom que toda a família vai poder se conhecer.

— A senhora está me falando que seus pais…

— Sim, eles virão. Até porque trarão uma encomenda que pedi e preciso da sua ajuda para que ela chegue até aqui, antes de todos e com segurança.

— Falou com a pessoa certa. Que encomenda é?

 E para que eu fui perguntar? Para que?

— Ah! São dois pôneis e três cavalos. Os pôneis são para Elena, os cavalos é um para mim, outro para Pepper e o terceiro para Liv. Já estou até ansiosa para saber que nome ela dará a ele. Só faltou para Tuomas... sem os meninos por aqui, fiquei em dúvida.

— Dona Amelia, não precisava.

— Gosto de presentear as pessoas que me são queridas. E a sua mãe que me desculpe, eu realmente me sinto um pouco avó de Elena, Olívia e Tuomas.

Fiquei toda sem graça com essa revelação. Mas era algo tão típico de minha sogra! Tão a cara dela que eu nem deveria me importar, pois avisa eu já estava. Ela mesma já tinha me dado inúmeros presentes de uma única vez e Pepper tinha me avisado.

— Bem… continuo com a opinião de que não precisava, porém, agradeço ter lembrado das meninas. E quanto a Tuomas, não se preocupe, ele também gosta e cavalos, mas creio que vai gostar ainda mais da pista de motocross.

— Eu tinha me esquecido da pista… pior vai se se vocês se embrenharem no meio da poeira e se esquecerem do resto.

— Não posso prometer nada… a senhora viu em primeira mão no Natal passado.

— Prefiro pensar que todos ficarão juntos, vou torcer para isso. - Disse a minha sogra. - Agora deixando os preparativos de lado, como está Alexander? Diga-me que dessa vez ele não se machucou!

— Alex está bem, acordando cada dia mais cedo e indo dormir cada dia mais tarde… mas ele me disse que as gravações são assim mesmo, e a senhora pode ficar tranquila, dessa vez ele estava bem inteiro, apesar de que eu acho que a senhora vai se surpreender com o tamanho do seu filho. Alex estão muito, muito forte! Malhando todos os dias e malhando pesado.

— Bem, isso não é novidade para mim, e, vai ser só as gravações acabarem que ele logo ele volta à velha forma…. Conheço meu filho, ele não gosta de ficar parecendo um competidor de halterofilismo.

Por mais que me doesse falar, tive que concordar com a minha sogra, foi estranho ver meu noivo tão forte e musculoso, de alguma forma, não parecia ele, mas isso era parte da profissão que ele exercia, e mudanças no corpo, como deixar o cabelo crescer, a barba e todos aqueles músculos nada mais eram do que o personagem que ele estava encarnando nas gravações.

Dona Amelia estava fazendo um caminho desconhecido por mim, e quando consegui me situar, vi que estávamos passando por Venice Beach.

— Saudades de correr aqui. - Murmurei de repente.

— Sinto te dizer, minha filha, mas assim que o filme for lançado, você e Alex terão que mudar de hábitos, pois os paparazzis sempre sabem e estudam as rotinas dos famosos, e, você, ainda é uma novidade para eles. Assim, não terão perdão de ficar em cima de você para terem aquela foto exclusiva ou até mesmo uma declaração sua, de preferência uma bem mal-educada e carregada de ódio, para que os programas de fofocas possam ficar te comparando com a ex de meu filho.

Infelizmente isso também era verdade, contudo, eu ainda tinha esperanças de que, pelo menos quando eu estivesse sozinha, tivesse um pouco de paz.

Mais alguns minutos, e mais alguns planos para a ‘grande reunião’, e chegamos na casa de meus sogros.

Eu nem havia colocado o meu pé para fora do carro, quando Loki e Thor vieram correndo e pularam na porta.

— Também senti saudades de vocês, peludos. Mas será que poderiam me dar espaço para sair daqui? Ou não poderei fazer carinho em vocês! - Falei como se estivesse falando com duas crianças.

Com muito custo consegui descer do carro e sair da garagem, e foi entrar na sala e fui praticamente arremessada no chão por Stark, que no desespero em me ver, não mediu a altura (e a força) do pulo e acabou por me jogar no chão.

— Tudo bem, Stark, eu entendi, você tem que ser o dramático dos três!

Meu sogro, que vinha da direção do jardim dos fundos, só deu uma gargalhada.

— Cada vez que vocês ligavam e Amelia colocava a conversa no viva-voz, esse aí ficava rodando pela casa, procurando por vocês. Nem Thor fez isso, apesar de que ele quis comer o telefone... – Ele parou do meu lado e me estendeu a mão. – Fez boa viagem, filha?

— Foi a melhor que fiz tendo Los Angeles como destino. Parece que um peso saiu das minhas costas. E como vocês estão?

Meu sogro deu um sorriso de lado e só me mostrou a tela do celular.

— Aguardando o Super Bowl.

Já Dona Amelia não parecia compartilhar do entusiasmo do marido, pois ela fez uma careta às costas dele.

— Por tudo o que já fiquei sabendo, vai ser o evento do primeiro semestre...

Meu sogro tomou fôlego para começar a dissertar sobre este final de semana em específico, só que foi interrompido pela campainha. Ele olhou para a origem do som meio contrariado, e dona Amelia quase que sai cantando de alegria por não ter que ouvir a ladainha mais uma vez. Só que para o desespero dela e felicidade do Sr. Pierce, eram Will e Pepper, assim, a falação que era só de um, multiplicou por três, pois Pepper estava eufórica, afinal, contaram que ela ganharia uma surpresa, e isso estava deixando a pobre morta de ansiedade, assim, a cada dez palavras, nove eram “O jogo” e uma era “surpresa”.

Estavam tão animados, que chegou o ponto da minha sogra pedir para trocarem de assunto.

— E vamos falar do que? – Will perguntou. – Do tempo? Isso não tem graça! Pensa, mãe, que vamos poder zoar com a cara dos Nieminen, porque eles não entendem nada de Futebol.

— Eu ensinei a Liv quando ela esteve aqui. Assim, pelo menos alguém entende. – Disse meu sogro.

— Vai deixar falarem da sua família desse jeito? – Pepper perguntou brincando.

— Mentira não é, né? Mas, se rirem muito, quando for a nossa vez de tornar a levar todo mundo na Fórmula 1... bem, nós vamos lembrar de cada uma das piadas.

Will só fez um bico e fingiu que nunca tinha falado nada de errado, já meu sogro...

— Mas eu entendo de Fórmula 1. Tanto que eu tive que explicar para a Kat o que estava acontecendo no GP que fomos.

Pepper e Will olharam para o Senhor Pierce com uma feição que era o misto de incredulidade e diversão. Minha sogra só deu um tapa no ombro dele, pedindo que ele parasse de falar asneira. Já eu...

— Com certeza. Entende tudo! Sabe mais do que os chefes de equipe.

— Katerina não dê corda! Depois você se arrepende! – Disse a minha sogra.

— E como a Kat concordou comigo, ela foi a premiada e vai fazer a sobremesa do jantar!

— Mas... – Eu perdi a até a fala!

— Eu te falei, Kat, que você iria se arrepender... – Dona Amelia provou o seu ponto.

Meu sogro, muito alegremente, só apontou para a cozinha, e eu, um tanto relutante, levantei do sofá e a cada passo que dava em direção ao cômodo, me arrependia amargamente do dia em que resolvi ser a educada e trazer, para essa casa, uma sobremesa para o jantar.

Depois de fazer a sobremesa e escutar a minha sogra fazer os planos dela para os poucos dias em que minha família iria ficar em Los Angeles, comemos em relativa paz.

Para compensar que eu ajudei no jantar, Dona Amelia mandou os faladores para arrumarem a cozinha, e nem adiantou Will protestar falando que da última vez que ele entrou em uma cozinha, o pano de prato pegou fogo, hoje ele não escapou e pelo o que deu para escutar, ele acabou com tarefa de lavar cada uma das vasilhas. 

Ainda fiz um pouco de hora, porém, não tinha jeito, a segunda-feira já estava batendo na porta e eu tinha que voltar para casa.

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Não posso dizer que tive a melhor das noites, mesmo cansada, dormi muito pouco, não porque tive pesadelos, ou insônia, foi por puro desacostume de dormir sozinha mesmo.

Assim, levantei-me cedo, e resolvi correr na praia, como Dona Amelia dissera, talvez estes dias estejam mesmo contados.

Fiz meu percurso completo, dessa vez com Loki e Stark ao meu lado – Thor nem acordou quando eu o chamei, aquele preguiçoso! – e depois fui tomar café na Dottie.

— Pelo visto temos notícias boas vindas de Londres! – Foi assim que ela me saudou quando abri a porta.

— São mais ou menos boas. – Corrigi. – Porém, creio que nem as más irão influenciar mais a minha vida.

— Então são boas. Não para esse momento, mas para o futuro. E só por isso, tem uma surpresa para você!

Dottie me trouxe, além das panquecas e do chá gelado, um pedaço de torta de maçã com canela. Estava tão boa, que na hora que fui embora, pedi um pedaço para viagem para levar de sobremesa para o escritório.

 E por falar em escritório... minha mesa estava tampada de serviços e memorando internos.

— Eu não deveria ter enrolado a quinta e a sexta em Londres... olha no que deu! – Falei sozinha na porta de minha sala. – Vão ser longas horas sentada atrás dessa mesa hoje.

Ajeitei os documentos por importância, fiz um bule de chá e, como ainda era cedo, coloquei uma música para tocar, enquanto eu me dedicava a todo esse trabalho acumulado.

Amanda chegou três horas depois, antes de Milena e assim que bateu na porta, só soltou:

— Oi, Chefa! Bom dia! Olha, hoje tem até trilha sonora!! Posso trabalhar daqui?

— Bom dia, Amanda! Não se anime, a música já está com os minutos contados.

— Que pena, acho mais produtivo quando se tem música tocando.

— Eu concordo com você, porém tem gente que não gosta e temos que respeitar.

— Milena não gosta de nem do barulho da máquina de café... imagina de som alto!

— Eu ouvi isso! – Milena gritou da outra sala.

— Finjo que não disse nada? – Perguntou Amanda brincando e foi para a sala ao lado perturbar a paz de Milena.

— Nem dez e meia da manhã e essa menina já está assim! – Foi o que eu ouvi.

— Duas doidas. – Murmurei e voltei ao trabalho.

O primeiro ponto que resolvi, e até com certa rapidez, foi o transporte dos cavalos e dos pôneis para a minha sogra. Como o veterinário de Michigan não quis acompanhar os equinos em um voo, providenciei um caminhão especial para trazer a carga, assim como um dos tratadores da fazenda voou até a casa dos pais da minha sogra para acompanhar o transporte interestadual. Os animais foram checados, colocados no caminhão, que era uma espécie de celeiro sob rodas e, de tempos em tempos o motorista fazia paradas programadas para que fossem checados e tratados. Desse modo, com chegaram na fazenda e foram entregues nas mãos de minha sogra com dois dias. E ela, claro, teve que falar como estava agradecida.

— É o meu trabalho, dona Amelia. Não fiz nada demais. - Garanti a ela ao telefone.

— Espero que você consiga um tempo para vir até aqui e conhecer os novos moradores.

— Isso está um pouco difícil... creio que só os verei junto com o pessoal.

— Sempre trabalhando demais... acho que vou ter que aparecer aí para te puxar a orelha! - Ela brincou e depois voltou a me agradecer.

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Minha semana passou voando, entre resolver cada um dos problemas que chegaram e os atrasados e tentar convencer ao pessoal do surfe que eu não tinha prática suficiente para ir com eles para o México no final de semana para surfar, a sexta-feira chegou.

E com ela toda a turma do surfe foi parar lá em casa, ainda tentando me convencer a viajar com eles.

— Emilly, eu não quero morrer afogada no México! – Pedi.

— Você não vai, maninha! – Matt respondeu pela namorada. – A gente te resgata.

— Ou te coloca boia de braço! – Benny, que tinha voltado da Itália um pouco antes de mim, falou.

— Vou me lembrar dessa, Benny!

— Mas a Pietra me disse que essa é a ideia do seu irmão.

— Sério que a Italiana Louca está espalhando fofocas de mim?!

— Tenho que admitir que a ideia do seu irmão é válida! – Grant começou a rir.

— Nada que Kim fala é para ser levado à sério. – Resmunguei.

— Isso quer dizer que você vai?! – Até Lilly estava nessa de tentar me carregar para praia.

— Não! Não posso! Minha família chega semana que vem, tenho que organizar a minha vida no escritório e o mais importante...

— O Alex está para chegar!

Eu não sei surfar!— Falei desesperada! – Mal fico de pé da prancha e quando eu acho que vou realmente conseguir ser levada, ser levada, não pegar a onda, eu levo um tombo homérico.

— Não é por nada não, mas eu vi os seus tombos... – Benny falou. – Não sei como está viva até hoje.

— Onde você viu? – Lilly e Emilly perguntaram eufóricas.

— Aqui! – Benny mostrou o celular e teve a cara de pau de conectá-lo na TV, só para que os meus tombos fossem transmitidos para todos, na tela de 55’’.

As risadas foram altas. Os comentários vieram aos arrancos porque estavam sem ar de tanto que riram.

— É, melhor não te levar para o México... ou você acaba morrendo e a gente vai ter que sobreviver à fúria de Alex e de sei lá mais quem que virá da Europa para te defender. - Matt disse ainda entre risos.

— Não acredito que vocês só acreditaram nas minhas palavras depois que viram isso! – Apontei para a TV onde o tombo mais desengonçado passava em looping.

— A gente achou que você estava exagerando um pouquinho. – Emilly, que desde que chegara não tinha soltado Thor, disse.

— Mas não foi exagero. Você foi até boazinha consigo mesma... porque isso aqui nunca foi surfar...

— Minha praia é gelada, Matt. Acredite em mim. Sou muito melhor no snowboard.

— Quero vídeos para acreditar! – Benny brincou.

— Se você pedir à sua namorada gran fina, é bem capaz que ela tenha. – Grant deu a ideia.

E para que ele foi fazer isso? Pois Benny mandou o pedido para Pietra na hora, e a resposta dela veio em áudio:

— Para que você quer ver um vídeo da Bionda no snowboard! Não tem graça. Ela humilha qualquer ser humano em cima daquela prancha... peça mais vídeos dela surfando, aí vale a piada e a risada. E se você tiver algum que eu não tenha, me mande, preciso entupir o grupo que a Fofoquita da Liv criou e teve e brilhante ideia de me adicionar!

— Eu avisei... – Foi o que eu falei para a turma de decepcionados.

Eles ainda ficaram por um tempo – tempo suficiente para comerem umas sete pizzas que eu fiz no forno que fica na área da piscina e que eles me disseram que nunca tinha sido usado... depois se despediram, pois, iam direto dali para o México.

— A gente se vê! – Despedi da turma no portão.

— Quem sabe não marcamos um motocross? Aí vai ser legal. – Matt comentou já de dentro do carro.

— Se isso sair da ideia, me falem, que tenho que comprar uma moto!

 - Pega uma do Alex. – Grant deu a ideia.

— Nem morta, ele é um péssimo mecânico, não quero pilotar uma moto que a qualquer momento pode, ou se desfazer, ou explodir o motor!

— Você sabe que isso vai chegar nos ouvidos dele, não sabe?

— Lilly, pode chegar, mas ele já sabe! E ainda bem que é ator, porque se fosse mecânico, tinha morrido de fome!

E eles se foram, e eu pude, enfim, organizar minha casa e minha vida.

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Se por um lado meu final de semana se resumiu em ficar em casa e organizar tudo para a iminente chegada da minha família, ficando em uma relativa paz, tanto no sábado, quanto no domingo, não posso dizer a mesma coisa da minha semana.

Foi uma correria sem fim, eu não parei um minuto. Além do trabalho habitual, logo na segunda, recebi atualizações de Londres, Dr. Neville, me ligou para me informar sobre a questão dos herdeiros da NT&S e como ficaríamos caso alguns dos bastardos filhos de Matti aparecessem para reclamar um pedaço da empresa.

— Não podem. – Ele começou a ligação desse exato jeito. – Como o dinheiro que fundou a empresa é de Mina e era fruto da herança dela, e seus avós, de uma maneira muito avançada para a época, casaram-se no regime da separação total de bens, o dinheiro que Mina passou para Matti foi uma espécie de empréstimo, condicionado ao fato de quem ficaria com a herança total seriam os descendentes dela e, caso não tivessem, a quem os dois escolhessem de comum acordo.

Eu respirei aliviada. Não por causa do dinheiro, mas por causa de que, dessa maneira, qualquer vínculo com Matti já estava mais do que cortado e ninguém poderia aparecer para perturbar a paz recém adquirida de minha avó.

E Neville continuou:

— E, tudo isso está descrito nos atos constitutivos iniciais da NT&S, mesmo ela tendo se transformado em uma S/A, o que é da sua avó não muda. O único herdeiro é seu pai, que pode renunciar a tudo e, assim, sua avó poderá escolher para quem vai.

— E ela já está sabendo disso? – Perguntei ansiosa.

— Liguei para você primeiro, Katerina. Acho melhor que você conte, ainda mais que os documentos da NT&S, são todos traduzidos do finlandês, seria melhor que você contasse, já estou te encaminhando os documentos, e quando você achar que é o melhor momento, vá em frente.

— Certo. Muito obrigada. E tem mais alguma coisa?

— Na verdade, sim. Estou em contato direto com Granger, e as notícias com relação ao seu avô não são as mais animadoras.

— Vão suspender as investigações, não vão?

— Sim. A última pista que tiveram dele foi em Shanghai. Depois, não sabem se ele foi para o interior da China, se pegou um voo comercial para qualquer outro lugar, ou até mesmo um jato.

— Já imaginava isso. Fiquei surpresa quando me avisaram que ele tinha sido visto na China, quatro dias depois de ter sido delatado. Achei que nunca mais o encontrariam depois que ele deixou a Inglaterra.

— Mas você tem ciência de que ele agora é um fugitivo, não tem?

— Sim. Eu tenho. E tenho a sensação de que, mesmo que ele for localizado, ele nunca será julgado, pois deve estar em algum lugar que não tem tratado de extradição com o Reino Unido. Ele é bem esperto para fazer um movimento como esse.

— Bem, mas se um dia ele entrar em algum país em que a Interpol possa atuar, será pego.

— Isso é até verdade, Neville, e, vou te dizer algo, não quero que ele seja pego, ou preso. Não porque tenho laços sanguíneos com ele, mas sim porque não quero ver a minha avó sofrer novamente.

— Só saiba que ele está na lista da Interpol, cedo ou tarde isso pode acontecer, e você já sabe onde terminará.

— Sim, minha família e eu sabemos. Muito obrigada pelas boas notícias.

— Se algo de extraordinário acontecer, te informarei, Katerina.

— Fico agradecida, Dr. Neville. Tenha uma boa-noite.

— E para você uma ótima tarde!

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Depois dessa ligação, todos os meus problemas foram concentrados em Los Angeles e na administração dos portos. Pelo visto, eu teria que ir viajar até o Chile logo e, dependendo da minha agenda, estava querendo aproveitar a viagem e fazer uma vistoria nos portos das Américas, e seria bom que fosse antes que meu sobrinho nascesse, pois quero estar por perto. 

Quando dei por mim, era quarta-feira, dia de reunião com Camilla, estávamos discutindo exatamente a vistoria dos portos, quando Wendy pediu licença e avisou que tinha quatro advogados do lado na recepção, querendo uma audiência urgente com a CEO da empresa.

Camilla, ao invés de encerrar a chamada, me deixou escutando tudo.

— Disseram sobre o que queriam conversar?

— Lucca Dempsey. Têm um acordo para oferecerem.

Camilla olhou para a tela e perguntou:

— Gostaria de me ajudar com essa proposta, Katerina? Sou a CEO, mas você é a herdeira e quem mais sofreu na mão dessa família.

— Posso escutar a proposta e te ajudar a decidir, Sra. Grissom, mas creio que a decisão final deve ser sua.

— Peça, por favor, que os seguranças liberem as entradas dos advogados, depois das devidas identificações e quero dois seguranças escoltando-os até aqui em cima e depois que fiquem na porta da dessa sala. – Camilla pediu para Wendy. E depois, voltando a conversar comigo: - O que será que querem?

— Se pudesse apostar, vão tentar evitar que Dempsey tenha que cumprir pena...

— E se for isso, o que faremos?

— Sinceramente, depende. Qual foi o tamanho do rombo que ele deixou nas contas da empresa?

— Quase um bilhão de Libras.

— Se ele devolver tudo, podemos fazer esse acordo. E se for com os rendimentos totais, melhor. – Completei o raciocínio.

— Veremos o que querem. Acabaram de chegar.

Grissom permaneceu sentada e observou quem chegava, como a câmera estava posicionada distante de sua mesa, pude ver exatamente quem eram, e me surpreendi quando a última pessoa entrou na sala. Phillip Dempsey, o pai de Lucca, meu ex-sogro.

Eu sabia que ele tinha um escritório de advocacia, nas vezes que nos encontramos, conversamos muito sobre justiça e a aplicação do direito. Apesar de ser um homem frio e distante (completamente o oposto do Sr. Pierce), ele sempre me passou a sensação de ser um homem justo. E a presença dele nesta reunião me intrigava.

Camilla tomou a frente e cumprimentou os presentes, dois homens e duas mulheres e logo informou que para essa reunião, ela estava acompanhada da sua assessora especial para os escritórios globais da NT&S, ou seja, eu.

Phillip Dempsey foi o primeiro a levantar o rosto para a tela e me ver, me cumprimentou polidamente, era a primeira vez que nos encontrávamos desde o casamento.

— Senhorita Nieminen, boa tarde!

— Boa tarde a todos! – Cumprimentei-os e passei a palavra para Camilla.

— Então, vamos direto ao assunto, pois eu e a senhorita Nieminen ainda temos muito o que discutir. A que devo a presença de todos vocês, senhoras e senhores, no escritório da Administração?

Os advogados se entreolharam e deram a palavra a Dempsey.

— Bem, senhora Grissom, Senhorita Nieminen, estamos aqui para tentar evitar que meu filho seja preso. De início, queremos saber qual foi o valor desviado, por ele, desta empresa?

Camilla, esperta, já tinha tudo em mãos.

— Novecentos e quarenta milhões de Libras, isso sem juros e correções.

— Nossa proposta é devolver tudo, inclusive com os rendimentos das aplicações, desde que vocês acordem em não o processar, por nenhum crime envolvendo este desvio.

Grissom olhou para a tela, como que me dizendo que minha aposta estava certa.

— E quando seria esta devolução? – Perguntei.

— Imediatamente. Como sabemos que Lucca não pode entrar neste prédio, e na minha opinião nem deve, há dois advogados de minha firma ao lado dele, no meu escritório, agora, somente esperando a minha ordem, para transferir todo o valor. Lucca só estará presente, por conta do escâner de retina.

— E esta proposta tem prazo para expirar?

— Se sairmos do prédio, não haverá mais acordo. – Disse o Sr. Dempsey.

— Por favor, dê-nos quinze minutos para discutirmos a proposta, podem ficar à vontade na sala de espera. – Camila pediu.

— Claro. – Anuíram e saíram da sala.

Assim que a porta foi fechada, Grissom abriu um sorriso e comentou:

— Poderia me passar os números da loteria, por favor, Katerina?

— Se eu soubesse... – Respondi.

— E quanto à proposta? O que vamos fazer?

— Creio que é a melhor opção. O dinheiro de volta com os rendimentos? E só temos que prometer que não vamos processá-lo por este crime. É muito bom, contudo, temos que nos resguardar e garantir que ele não nos processe por nenhum motivo, também. Sei que não tem nenhum, mas o pai dele é um advogado bem experiente, não duvido que possam vir, nos pagar e depois entrarem com alguma reclamação trabalhista, cobrando o mesmo valor.

— Bem lembrado. Então, só há acordo, se aceitarem essa cláusula.

— Com a devida assinatura de Lucca. – Emendei.

— Concordo. Você assinaria também?

— Claro.

Camilla pediu que Wendy liberasse a entrada dos quatro e, assim que todos estavam acomodados, disse as nossas exigências.

Os advogados se olharam, talvez pressentindo algum truque, para no final, concordarem.

— Quem irá redigir o acordo? – Perguntaram.

— Isso poderá ser feito imediatamente, nosso jurídico poderá redigi-lo agora, se for conveniente para todos.

E vinte minutos depois, com o contrato assinado digitalmente, entraram em contato, por vídeo, com o escritório de advocacia, colocaram os dois advogados responsáveis pelo dinheiro na reunião, e foi dada a ordem da transferência.

O valor total passava de um bilhão e meio e quando chamaram Lucca para que ele escaneasse os olhos, ele entrou como uma criança birrenta, reclamando que estavam acabando com a vida dele.

— Você acabou com a própria vida quando aceitou entrar no esquema do seu tio. – Disse Dempsey Pai. – Agora coloque os olhos no leitor e pode ir embora.

— Para onde? Estou sem casa, sem carro e sem dinheiro! Não tenho nem mais minha namorada! Os Nieminen tiraram tudo de mim!

— Pode ir para a fila do centro social e começar a procurar um emprego.

— Junto com os pobres?! Eu? – Dempsey esgoelou-se.

— Coloque os olhos e suma, Lucca. – Seu pai ordenou.

A contragosto, Lucca deixou que as retinas fossem escaneadas e, depois que a transferência foi realizada e confirmada por nosso financeiro, ele foi escoltado para fora da sala e, creio eu, do prédio.

— Bem, senhoras, senhores, estamos acordados. E eu, em nome de toda a NT&S, agradeço pelo acordo assinado e pela devolução dos valores. – Grissom falou e foi apertando a mão dos advogados que foram saindo um por um, depois que me despedi deles.

Phillip Dempsey ficou por último e, completando a fala de Camilla, disse até com certo alívio:

— Quem agradece sou eu, pois, assim, minha família evita o constrangimento de um processo. Que Lucca viva a vida dele, bem longe de todos nós. Em nome da minha família, peço desculpas a essa empresa e a você, Senhorita Nieminen, por todos os problemas e infortúnios. Não repara o dano emocional, mas estejam certas, meu filho jamais incomodará alguém da NT&S ou dos Nieminen novamente. Tenham uma ótima tarde. – Despediu-se e passou pela porta. E, finalmente, era o fim do problema Lucca Dempsey tanto na minha vida, quanto para a empresa.

— Por esta eu não esperava. – Grissom comentou comigo. – Nem nos meus sonhos. Contudo, parece que nem toda a família é sem caráter como Cavendish e o sobrinho.

— De fato, foi uma surpresa. E o melhor é que agora estamos livres de vez da presença de Dempsey.

— Sim. Todas as laranjas podres se foram e agora podemos recomeçar, enfim. Bem, Katerina, creio que já tomei seu tempo demais. Faça a previsão de quando poderá ir vistoriar os portos das Américas e me passe, só para nosso controle. No mais, um ótimo dia de trabalho para você e a todo o escritório do Pacífico.

— Muito obrigada, Sra. Grissom. E uma ótima noite para todos aí em Londres. – Falei e a chamada foi encerrada.

Esperei um pouco, só para ter certeza de que isso não era um sonho estranho, e, depois de me beliscar, constatei que não, tudo fora real.

Edward Cavendish, Lucca Dempsey e Matti Nieminen estavam, enfim, fora da minha vida para sempre.

Se eu não estivesse dentro do escritório, no meio do expediente, eu teria gritado de felicidade!

E, depois de uma notícia como esta, não tinha nada que prejudicasse a minha semana. Nada.

Era metade da quarta-feira e se tudo desse certo, às 22:00 estaria recebendo minha família no aeroporto. Toda ela!

Voltei a me concentrar no trabalho, estava analisando uma rota de carga, verificando os gastos médios de tempo, combustível e valores de frete, quando escutei uma certa falação na antessala. Achando que era um dos muitos vídeos que Amanda adora assistir no TikTok e que às vezes são realmente engraçados, deixei para lá, cedo ou tarde ela viria me mostrar a mais nova trend do aplicativo.

Só que esse cedo ou tarde foi praticamente imediatamente, e não foi Amanda quem entrou correndo na minha sala (não que a trainee faça isso.). Eu mal tive tempo de levantar a cabeça quando minha porta bateu na parede e voltou a se fechar, e fui atingida por um míssil loiro, que fez com que minha cadeira se afastasse da mesa e fosse bater na parede de vidro atrás de mim.

— SURPRESA, TÄTI!!!! – Gritava Elena. – Chegamos mais cedo, porque faltamos na escola hoje também!!! Isso não é legal?

Olhei para minha sobrinha que, enquanto eu ficava sem reação diante da surpresa, já tinha me escalado e agora se sentava no meu colo.

— E veio todo mundo! – Ela continuou a falar. – Todo mundo mesmo!! Será que vamos nos mudar para a Califórnia agora? – Ela divagava.

— Oi, Elena! – Finalmente a surpresa passava e eu pude abraçá-la apertado. – Senti saudades de você, Pequena!

— Eu também, tia! – Ela me respondeu em finlandês.

— Quem está lá fora? – Perguntei, já me levantando com ela no colo.

— Todo mundo. A vovó Amelia, junto com a vó Diana quiseram fazer essa surpresa para você! Eu achei legal! O que você achou?

No momento em que ela acabou de me questionar o que eu achava da surpresa, abri a porta e realmente todos estavam do lado de fora, até meus avós.

— Sejam bem-vindos à Califórnia! – Falei com um sorriso incontido. – E eu adorei a surpresa!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Sei que terminou com um gancho, mas foi só para dar o tom do que vem por aí. Um pouco mais de confusão em família, porque já estava passando da hora de parar um pouco com o drama.
Muito obrigada a quem leu até aqui! Semana que vem tem mais.
Até lá!
xoxo



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