Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 104
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Ainda não é final, mas é, talvez, a parte mais importante do julgamento.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799284/chapter/104

Às oito em ponto da manhã seguinte, a sessão recomeçou. Do outro lado, hoje, tinha a novidade da ausência de Matti. Depois de ontem, achei muito bom, e do “meu lado” hoje estavam presentes, Alex, Ian, Tanya, além de meus avós Spencer, meus pais e minha avó Mina. Sim, eles resolveram que viriam hoje.

Com o intuito de não demorar ainda mais, aliás, já eram dois dias de julgamento, começaram logo a ouvir as testemunhas.

Ian foi o primeiro a ser chamado.

E tudo o que o meu irmão mais velho disse foi a confirmação do que já havia sido dito no tribunal.

Como ele não fazia parte do quadro de funcionários da empresa, seu interrogatório ficou restrito aos acontecimentos de dezembro e ao casamento arranjado.

— Não. – Ele começou. – Eu não sabia que tinham arranjado o casamento da Kat. Apesar de nunca ter sido amigo de Dempsey, estava feliz porque a minha irmã estava feliz. Não gostei do que a fizeram passar no dia do casamento, ela não merece ser humilhada por ninguém e não tem que se arrastar por nenhum homem.

Jurava que ele iria dizer babaca, mas Ian sabe o que fala e quando fala. E, ao ser questionado sobre a minha condição psicológica, ele foi direto.

— Kat passou por um quadro de depressão, que foi devidamente tratado e não deveria ser a razão pela qual ela deva ou não ser considerada culpada de algo. O que aconteceu foi em consequência da cerimônia de casamento fracassada e da forma como ela foi tratada nos dias subsequentes. Não havia quadro de depressão anterior ao casamento. Isso não é justificativa nenhuma para tentar desacreditar a palavra dela.

Mais algumas perguntas sobre o convívio de Cavendish com a família e na empresa e chegaram ao grande dia.

— Como o senhor ficou sabendo que a sua irmã precisava de ajuda?

— Kat mandou um e-mail com documentos para minha avó Mina e para meu pai. Junto com um e-mail para ambos, em que ela dizia estar sendo usada como laranja de Cavendish. Minha avó, sabendo que era uma semana importante, resolveu ir para a empresa, chamando meu pai e a mim para acompanhá-la.

— Por quê?

— Ela dizia ter um mal pressentimento sobre essa situação.

— Só isso. Um pressentimento?

— Foi o que ela falou.

— E como vocês sabiam para onde ir?

— Mary Brandon, assim que nos viu entrar ficou apavorada. Começou a gaguejar dizendo que Matti Nieminen não estava no prédio. Que não sabia do paradeiro da Kat. Que achava que ela tinha saído para almoçar. Durante toda a conversa, ela olhava para um corredor, esfregando as mãos. Minha avó pressionou por respostas mais claras e foi quando escutamos o som de tiros. Três. Seguimos na direção, testando as portas, todas estavam abertas, e foi quando ouvimos outro som de tiro. Chegamos à última porta, que tinha, inclusive a maçaneta arrombada. Testamos estava, de fato, trancada. Foi quando atiraram na nossa direção. E logo em seguida, Alexander e eu tentamos arrombar a porta.

— Como Alexander entrou na empresa?

— Ele estava do lado de fora, esperando a Kat para levá-la para almoçar. Assim que o vimos, minha avó mandou que ele nos seguisse.

— Claro. Pode prosseguir. Tentaram arrombar a porta e atiraram na direção de vocês.

— Sim. Com mais uma tentativa, arrancamos a porta pelas dobradiças, e tudo o que vi, foi a minha irmã caída no chão e o Réu com a arma na mão. Além de pegadas ensanguentadas no chão de carpete claro.

— Não chegou a entrar na sala?

— Não completamente. A sala é pequena, e eu não queria ficar no mesmo lugar que o Réu. Além do mais, me preocupei em ligar para a emergência e para minha esposa que é médica. Tentei salvar a minha irmã do jeito que podia

— E por que não entrou na sala e tentou ajudá-la lá de dentro?

— Não sou médico e não sei primeiros socorros. Poderia fazer algo errado e piorar a situação de Kat. Além de que, o réu tinha acabado de atirar na minha irmã mais nova... era melhor ficar longe ou não seria só ela quem iria para o hospital. – Foi tudo o que Ian disse.

— E o que aconteceu, do momento em que vocês arrombaram a porta, até o socorro chegar?

— Cavendish xingou meu cunhado, minha irmã, acabou apanhando e desmaiando no chão. Era menos um problema.

— Mas ele não ficou desacordado por todo o tempo?

— Não. E mesmo assim, ainda continuou a xingar, meu pai o pegou pelo colarinho e o jogou na minha direção. Fiz o que tinha que fazer.

Por ‘o que tinha que fazer’ meu irmão explicava o soco que ele dera.

— Não achou errado? Bater em alguém que já estava machucado?

— Se você tivesse visto a cena que vi, tivesse ouvido o grito de dor que eu ouvi, teria feito a mesma coisa. Eu conheço a minha irmã, ela pode ser perfeccionista ao extremo, adorar o trabalho dela e, às vezes, até trabalhar demais. Mas ela jamais daria causa para que alguém atirasse nela em legítima defesa. Kat é pacifista, não briga à toa, nem levanta a voz. Prefere usar palavras difíceis em uma discussão a partir para a violência, sempre foi assim. E, sem razão nenhuma, alguém se acha no direito de tentar tirar a vida dela e ainda torturá-la por conta de dinheiro? Só porque ela é boa no que faz e faz melhor do que todos? Errado foi Cavendish ter saído andando daquele prédio enquanto a minha irmã parava dentro do elevador!

— Para você, Sr. Nieminen, sua irmã não deu causa ao ataque?

— Kat não consegue matar uma aranha!! Morre de medo de barata! Não sabe nem defesa pessoal! Como ela daria causa para que alguém atirasse nela? Como? Não tentem transformar em vítima quem já estava armado e se trancou na sala com a uma pessoa que só tinha descoberto evidências de que a empresa que ela dedicou a vida estava sendo roubada! A vítima é a Katerina! – Ian se exaltou.

A acusação terminou o interrogatório e foi a vez da defesa.

As primeiras perguntas foram ridículas e Ian só respondeu porque estava sob juramento. Tudo estava indo bem, até que disseram:

— Você disse que acha certo ter batido em um homem indefeso e desarmado, que já estava ferido...

Vi meu irmão ficar vermelho, depois se recompôs, e apenas disse:

— Antes de dizer isso, testemunhei, também, que quando tentamos arrombar a porta, atiraram na nossa direção. Creio que a reconstituição da perícia que foi mostrada dois dias atrás, diz isso... ou seja, não foi sem causa. Ele atacou primeiro e, depois, até onde sei, existe a figura da legítima defesa putativa, quando você defende quem não pode se defender. Minha irmã estava deitada no chão, com um buraco de bala do lado esquerdo do peito, quase no coração. Ela não poderia se defender ali, não tinha como. Fiz o que tinha que fazer por ela. Cavendish não era um homem indefeso, pois até machucado continuou injuriando a minha irmã.

Com essa a defesa se viu sem opções. Ian tinha coberto todas as suas bases e olha que meu irmão não tinha formação em Direito. Ele era de exatas, como brincamos em casa.

Ian se levantou do banco das testemunhas e quando ele passou perto de mim sussurrei um obrigada a ele.

A próxima testemunha era meu pai.

Ele foi juramentado e logo antes de ele se sentar, eu sabia que viria verdades. Muitas.

E como vieram.

O seu depoimento daria um livro.

Meu pai, depois de devidamente introduzido, começou explicando os motivos de ele não estar presente no Conselho, pois, como único herdeiro dos Nieminen, o lugar era dele por direito. Depois passou a explicar porque devolveu a cadeira para a mãe. Até que começou com a sua sinceridade ímpar.

— Nunca me perguntaram sobre a presença de Cavendish e sua família na empresa. Nunca fui questionado sobre como a empresa era administrada. Não me importei até porque meu emprego é outro. Porém, sempre fui contra a presença de Cavendish na família. Tanto que ele nunca foi na minha casa. Quando a minha caçula começou um relacionamento com o sobrinho dele, eu acreditei nas suas palavras; ela me disse que estava feliz que o namorado a deixava feliz. Não vi motivos para duvidar das palavras dela, pois minha filha sempre foi sensata e responsável. Mas eu falhei quando não conversei pessoalmente com Dempsey. Porém, não havia nada de errado na forma como ele tratava a minha filha e eu nunca vi nada de errado acontecendo. Até o fracasso da cerimônia. Até ele humilhar a minha menina na frente de tantos e ainda sair rindo. Porém, eu nunca desconfiei que esse casamento era arranjado. Que tinham planejado isso para condensarem as ações da empresa nas mãos de poucos. Fiquei sabendo disso em novembro do ano passado. Quase sete meses depois que tudo aconteceu.

— E o senhor não tomou nenhuma providência?

— Queria. Mas em uma conversa franca com a minha filha, decidimos que era melhor deixar como estava. Ela já tinha seguido em frente e mexer em um passado doloroso como esse era tudo o que ela não queria. Como ela me garantiu no telefonema, tudo tinha acabado e eu concordei com ela. Só que, mesmo como fim do relacionamento, por culpa do sobrinho do réu, ainda culpavam a minha filha. Pegaram a pessoa mais fraca e jogaram a culpa nela. E, não satisfeitos em humilhar a minha caçula desse jeito, por dinheiro, por poder, chegaram ao ponto de tentar matá-la. E não só em dezembro do ano passado, mas em outras duas vezes, quando ela nem sabia o que estava acontecendo, nem tinha noção do que era administrar uma empresa...  Tentaram tirar a vida dela por três vezes e ela sobreviveu, o que ninguém sabe, é que a primeira tentativa, quando ela tinha apenas 8 anos, matou o seu sonho de ser patinadora olímpica. Ao atropelarem-na, ao quebrarem todo seu lado esquerdo, enterraram todas as chances que ela tinha de ser uma atleta de nível profissional. Poderiam não saber, mas se perguntassem para a Katerina de oito anos o que ela queria ser, se ela queria ser patinadora ou a CEO da empresa do avô, ela sempre iria responder patinadora, sem nem parar para pensar, pois era isso que ela queria ser. E tiraram isso dela, nada mais justo que, anos depois, ela tire dessa pessoa, o poder que ela tinha.

— Então, o senhor está afirmando que fazer parte do quadro de funcionários da NT&S não era o primeiro sonho de Katerina?

— Não. Era ser patinadora. O sonho de Katerina era ir para os jogos olímpicos representando a Finlândia e ganhar a medalha de ouro. E Deus e os treinadores dela sabiam que isso era possível. Kat chegou a ser campeã mundial infantil, meses antes de sofrer o primeiro atendado. Ela só dirigiu o seu olhar completamente para a empresa quando entendeu que a patinação já não era mais possível. Foi, então, que ela falou comigo e com a mãe, bem assim, “tudo bem, eu nunca vou ser campeã olímpica, mas eu vou administrar a empresa do vovô um dia. Um dia eu vou comandar tudo isso, tão bem ou até melhor do que o ele”. Quando mencionam que ela se tornou ‘um problema’, porque queria a cadeira do avô, deveriam pensar melhor, ela só se tornou o que ela é hoje, porque tiraram o grande sonho que ela tinha.

Eu estava mordendo o lábio para não chorar, meu pai tinha dito tudo e mais um pouco, pelo canto do olho, notei que os advogados de Cavendish tentavam se virar para arranjar desculpas para o que fora dito. Pelas suas expressões, eu duvidava que fossem conseguir.

Meu celular, que estava em meu bolso, vibrou. Com cuidado, coloquei-o em cima da mesa e olhei o que poderia ser.

Era uma mensagem. De Alex. Que estava sentado bem atrás de mim, na plateia.

Como você está?

Olhei por sobre o ombro, na pausa que deram para meu pai beber água e respondi.

— Já tive dias melhores.

Outra mensagem:

Acho que depois dessa, o Pateta 2 já era.

Respondi da seguinte forma:

Cuidado para não o chamar de Pateta 2 quando estiver sentado lá.

Se sair, eu finjo que nem notei.

Você não precisa ser o bobo da corte, Alex. Por favor.

Tudo bem, Kat. Vou me policiar, mas não prometo nada.

O interrogatório de meu pai continuou e agora mencionavam os documentos que eu encaminhara para a minha avó e a ele.

— Sua filha poderia ter mexido nestes papéis? Fingido que não sabia, quando poderia estar se beneficiando de valores?

— Minha filha não é uma ladra. Não roubaria da própria família. Eu sei como minha esposa e eu a criamos e sei o tipo de mulher que ela se tornou. Ela começou na empresa aos doze anos, aos dezesseis foi efetivamente contratada, entrou mais cedo na faculdade e conquistou a independência financeira aos 21anos. Pagou pelos seus estudos. Ela não precisava ou precisa de mais. Katerina não foi criada para buscar só dinheiro. Foi criada para valorizar a família. E, se tem uma coisa que eu sei que ela preza, é a opinião que a família tem dela. Assim, sua bússola moral é o seu guia e ela não estragaria a sua vida por dinheiro e poder, perdendo o apreço da família. Há coisas mais importantes para ela do que isso.

Pude sentir, quando meu pai terminou esse pequeno discurso, que todos do júri me olhavam. Medindo e tentando comprovar a veracidade de suas palavras.

Logo em seguida, Granger perguntou sobre o fatídico dia.

A explicação inicial de meu pai começava quase da mesma forma que a de Ian, mudando só quando eles me encontraram na sala.

— O sentimento de impotência que senti ao vê-la ali, deitada em uma poça de sangue, com a blusa branca tingida de escarlate do lado esquerdo e um buraco de bala do peito foi demais para mim. Eu perdi o chão. Fiquei com medo de perder a minha filha. Eu não tive reação. E quando dei por mim, a pessoa que causou tudo aquilo ainda estava xingando e a culpando por tudo? Tive que me controlar muito para só empurrá-lo da sala, para bem longe de mim.

— Quando o senhor se deu conta de que tudo fora gravado?

— Me falaram que o celular da minha filha estava posicionado na janela e que estava gravando tudo.

— Viram o vídeo na hora?

— Não. Nossa preocupação era salvar a vida da Katerina.

— Quando viram?

— Depois que tudo foi entregue para a polícia. Tudo o que estava na sala foi levado, e só fomos ver quando nos devolveram o celular da Katerina.

— O vídeo passado aqui, há dois dias, foi o mesmo que o senhor viu?

— Até a parte em que tive condições de ver, sim.

A acusação disse estar satisfeita e passaram para a defesa. Só que a defesa não tinha o que falar diante da sinceridade de meu pai. Assim, fizeram perguntas genéricas, tentando induzir aos jurados a ideia de que o vídeo fora manipulado por Alexander. E o melhor foi a resposta de meu pai.

— Isso é impossível, Alexander não saiu do lado de Kat por vontade própria, foi preciso que eu, junto com minha esposa e meus dois filhos praticamente o arrastássemos para fora do hospital para que pudesse comer alguma coisa. Até o depoimento dele foi dado de dentro do hospital.

O advogado começou a mexer nos papéis que tinha na mão e a ficar nervoso e, sem encontrar uma pergunta que fosse útil para seu cliente, dispensou a testemunha.

E, como já era metade da tarde, a sessão foi suspensa para o almoço.

A defesa saiu voando da sala, com certeza para procurar por algum podre de alguma das testemunhas e tudo o que eu fiz foi abraçar meu pai.

— Obrigada por tudo o que o senhor falou!

— Sei que tem coisa ali que você não queria que fosse falada ou quisesse ouvir, filha, mas...

— Eu te entendo, papai. Eu realmente te entendo. E tudo o que falou é verdade. Está na cabeça dos jurados, eles façam o melhor proveito dessa informação.

Agradeci a Ian e à sua sinceridade ímpar, também. E por mais que eu não quisesse, comecei a ter esperança de que esse julgamento acabasse com uma vitória para nós.

Na parte da tarde, minha mãe foi a próxima a ser ouvida.

Sobre o dia do atentado, ela não tinha nada a dizer, o que ela havia presenciado era a minha chegada ao hospital e minha internação. Mas ela tinha o que falar sobre o casamento.

— Confrontei Cavendish no dia seguinte à cerimônia. Nunca comentei nada com ninguém da família, porque temia o que essa revelação traria, ainda mais estando tão recente. Mas, quando desconfiei, fui direto na empresa e perguntei sem meias palavras. Foi-me confirmado tudo. E a grande desculpa que deram era a de que “era bom para a empresa” e que “você sabe, uma mulher não pode comandar tudo isso, não tem pulso forte”. Fiz uma promessa mental de contar tudo para a minha filha, quando eu soubesse que ela já havia superado tudo o que passou. Não precisei contar, ela descobriu a armação e confrontou o avô.

— Por acaso a Srta. Nieminen te contou como descobriu tudo.

— Simplesmente disse que juntou as informações que lhe foram apresentadas. Ela passou por muita coisa dentro de curto espaço de tempo, claro que desconfiaria de tudo. E, assim que teve certeza, confrontou o avô. Que confirmou.

— Acha que a promoção dela para Los Angeles...

— Com perdão da interrupção, não foi uma promoção. Foi uma punição. Katerina não poderia ficar ao lado da administração mais, pois ela era a maior ameaça ao poder dos dois homens que tanto lhe fizeram mal. Quanto mais longe ela estivesse melhor.

— Sobre a afirmação de Cavendish de que “ela foi mandada para Los Angeles para se matar”.

— Minha filha é mais forte que a maioria das pessoas que eu conheço. Muito mais forte do que querem fazer todos acreditarem aqui. E, vou além, ela não se mataria por conta de um desvio em seus sonhos, assim como ela já havia feito, Katerina é capaz de dar a volta e colocar todos os seus sonhos em curso novamente. Porque ela não se deixa abalar por uma porta fechada. Ela se reinventa, se adapta e volta mais forte. Assim é a minha filha.

Novamente a defesa fez perguntas genéricas, não entrando no cerne da questão mais importante, mas, como o próprio Cavendish havia dito, minha mãe não era a sua fã número um, então, preferiram deixar a testemunha ir a estragar – ainda mais - a imagem de seu cliente.

O próximo da lista de testemunhas foi Alex. E, pela cara dos advogados de defesa, não seria o mais fácil dos momentos para ele.

Meu noivo andou confiante até o banco das testemunhas, fez seu juramento, agradecendo ao meirinho quando tiraram a Bíblia de debaixo de sua mão. Se sentou quando foi autorizado e a sua provação começava.

— Bem, Senhor Pierce, vou começar de uma maneira mais tranquila. Não conhece a Srta. Nieminen há muito tempo, não é verdade?

— Sim. Nos conhecemos há cinco meses.

— Ela te contou todo o passado dela?

— Não só ela, como seu pai, o Sr. Nieminen, e seus irmãos.

— Então estava ciente que ela tinha um passado complicado, quando começaram o relacionamento.

— Sim. Eu sabia. Assim como ela sabe o meu passado. – Alex foi além de sincero.

— E, mesmo assim, você resolveu que viria com ela para Londres em dezembro?

— Sim. Além da reunião do Conselho. Tínhamos um outro compromisso.

— Que seria?

— Anunciar nosso noivado.

— Pois bem. Pelo visto vocês têm um relacionamento baseado na confiança e na sinceridade.

— Sim.

— E quais eram os sentimentos da Srta. Nieminen com relação à reunião do Conselho?

— Ela estava nervosa. Era a primeira vez que encararia Diretor e Vice-Diretor da Empresa, frente a frente, depois de tudo o que ela descobriu.

— Ela ainda não tinha falado nada para eles?

— Para o avô, sim. Em uma reunião na semana seguinte à descoberta. O avô dela costumava misturar assuntos profissionais e pessoais. E Kat... Katerina sempre fazia questão de lembrá-lo da existência dos limites.

— E quanto ao réu, o que ela chegou a falar dele?

— Que ele era amigo de longa data do avô e tio de seu ex-noivo.

— Mais alguma coisa?

— Até antes do Conselho, só que ele duvidava da capacidade dela de gerir o escritório de Los Angeles. Ela acreditava que havia uma aposta sobre quando ela pediria para voltar para Londres.

— Mas ela não pediu...

— Muito pelo contrário. Foi-lhe oferecida a vaga de CEO, por seu avô, desde que ela voltasse e ficasse do lado dele. E, depois, a vaga de Vice-Diretora. Ela tornou a negar a cadeira.

— Te contou o motivo?

— Ela tem serviço inacabado em Los Angeles e não quer estragar a relação de confiança que ela já construiu com todos por lá, além de que não seria justo com os funcionários, outra troca de chefes.

— Uma mulher de princípios....

— Sim, Kat é.

— E sobre a semana do Conselho. Você foi visto andando perto da empresa e parece que houve um problema entre você e o ex-noivo da Srta. Nieminen.

— Eu estava perto do prédio, porque iria almoçar com a minha noiva. O ‘problema’ que aconteceu foi que o Sr. Dempsey se achou no direito de dizer que eu não poderia ficar esperando a minha noiva, parado do outro lado da rua, porque eu não fazia parte daquela região. Ignorei o comentário e ele partiu para cima de mim. Não revidei, e quando Kat apareceu, dizendo que não precisava me importar, o Sr. Dempsey começou a dizer, em alto e bom som, mentiras sobre ela e me atacou novamente. Não foi nada mais do que minha defesa.

— Você não provocou nada?

— Até onde sei, ficar parado do outro lado da rua, esperando uma pessoa, não é o mesmo que provocar.

— E sobre o dia em que atiraram na Srta. Nieminen. Pode nos contar a sua parte nos acontecimentos?

— Começou como todos os outros daquela semana, ela se levantou, levou os sobrinhos para a escola, cada um deles. Depois foi para o escritório.

— Vocês tinham planejado saírem para almoçar?

— Não. Resolvi de última hora, pois sabia que ela deveria estar nervosa e quando ela fica assim, esquece de comer. Assim, fui para a frente do prédio e estava para ligar para ela quando vi a senhora Mina, Ian e o Sr. Nieminen chegando. A Sra. Nieminen Mãe me chamou para acompanhá-la, pois ela temia que Kat fosse precisar de nós.

— Não perguntou o que isso significava?

— Sinceramente, com o histórico do que já haviam feito para a Kat, não. Poderia ser qualquer coisa, mas nunca achei que tentariam matá-la.

— E a sua versão sobre a cena em si, desde que entrara no prédio...

— A primeira pessoa que vimos foi a secretária da Direção. Ela estava nervosa e inquieta, olhando sempre por cima do ombro do Sr. Nieminen, na direção de um corredor. Explicou que não sabia o paradeiro de ninguém e acreditava que Kat deveria ter saído para almoçar. A Senhora Mina pressionou por respostas concretas, pois estava claro que a mulher mentia, foi quando escutamos três tiros. Corremos na direção do som, que era no mesmo corredor para o qual a Secretária, Mary, olhava. Testamos todas as portas no caminho, todas as salas estavam vazias. À medida em que avançamos pelo corredor, outro barulho de tiro, corremos até a última porta, que estava trancada. Ian e eu não pensamos duas vezes e tentamos arrombá-la. Atiraram na nossa direção, creio que duas vezes. As balas atravessaram a porta e ficaram cravadas na parede, pouco acima de nossas cabeças. Forçamos mais uma vez, Ian na maçaneta e eu tentei as dobradiças, a porta cedeu e eu fui o primeiro a entrar.

— O que viu?

— Cavendish estava parado ao lado de Kat, que estava caída no chão, tinha uma enorme poça de sangue embaixo dela e o suéter branco que ela usava estava coberto de sangue na meia altura entre o ombro e o coração. Por alguns segundos eu achei que ela já estava morta e, enquanto isso, Cavendish me xingava, perguntando como um ‘mendigo’, poderia ter entrado na empresa. Quem o respondeu foi a Sra. Mina. Eu ainda olhava para Kat que estava imóvel e quando notei, fechei a mão em punho e acertei o rosto dele. – Alex apontou com o rosto para Cavendish. – Ele caiu no chão na hora e foi com o barulho dele caindo que Kat se mexeu um pouco, me abaixei para tentar fazer pressão na ferida, tentar estancar o sangue, e, assim que comecei a pressionar, Kat deu um grito de dor tão alto e tão desesperado que eu só pude perguntar o que ele havia feito com ela. Assim, o que nos restou foi colocar um pano por cima da ferida e pressionar minimamente, para que ela não perdesse ainda mais sangue.

— A essa altura, onde estava o Réu?

— O Sr. Nieminen o tirou da sala pelo colarinho, assim que ele acordou e continuou a xingar tanto Kat quanto a mim. Não sei o que aconteceu com ele depois.

— Você prestou depoimento de dentro do hospital, Sr. Pierce?

— Sim. Não ia sair de perto da Kat.

— Mesmo ela tendo familiares que poderiam tomar conta dela, talvez melhor do que você.

— Logo após tudo isso acontecer, e até onde eu fiquei sabendo, descobriram o vídeo que a Kat gravou, entregaram todas as provas para a polícia. Prenderam Cavendish. No que consta sobre a empresa, a Sra. Mina e o Sr. Nieminen, pai da Kat, tiveram que resolver alguns problemas internos, que culminaram com a expulsão do Réu e o afastamento do CEO. Na família ainda tem três crianças. Assim, ficamos resolvidos que eu ficaria no hospital, que era o lugar onde eu poderia ajudar, uma vez que não poderia resolver os problemas de uma empresa na qual não faço parte.

— Quantos dias até que a Srta. Nieminen acordasse?

— Oito longos dias.

— Certo. Alguma vez saiu de perto dela ou entrou com contato com alguém fora do círculo da família Nieminen?

— Somente com os meus pais e meu irmão.

— Eles moram em?

— Los Angeles.

— Pode dar um resumo das conversas?

— O estado da Kat. Quando ela poderia acordar. Como a minha mãe poderia ajudar de longe.

— E a última pergunta. Você viu o vídeo?

— Sim. Junto com a família de Kat.

— As reações.

— Não consigo traduzir em palavras o que foi ver aquilo tudo. A confissão de tudo o que fizeram com a Kat. Nem a minha, muito menos a de toda a família. Só posso dizer que ninguém merecia ver ou passar por isso.

A acusação acabou com o interrogatório poucas perguntas depois disso. Passando a vez para a defesa. E os dois advogados sorriam cinicamente ao caminharem até o púlpito, com papeis nas mãos.

— Vamos pular a parte em que tentamos explicar para os jurados o que você faz, Sr. Pierce e passemos para quem você é, pode ser?

Eu não gostei disso. Algo me dizia que iriam complicar o lado de Alex, mas ele estava sereno.

— Você é americano. Seus pais são famosos. Ricos. E você, em palavras mais fáceis de serem entendidas, pega carona na fama deles. Não faz um filme, ou estrela qualquer coisa, há mais de quatro anos e, de repente, retornou aos holofotes, porque achou uma garota rica e de coração partido para namorar, não é isso?

Eu revirei os olhos, era assim que iriam rebaixar as palavras de Alex.

— Não. A versão correta é que eu passei os últimos três anos atuando como dublê e coordenando as equipes de vários filmes. Não apareci na tela ou fui creditado como ator, mas se procurarem bem, verão meu nome lá. Posso dar os filmes se quiserem. Não pego carona na fama de meus pais, eles me ensinaram o que sei. E eu não voltei aos holofotes porque namoro a ‘garota rica de coração partido’. Primeiramente, eu não fazia ideia de quem Katerina Nieminen era quando, em uma manhã de sábado, ela cruzou o meu caminho, correndo e ouvindo as suas músicas. E, mesmo depois de nossa primeira conversa, eu continuava no escuro, porque ela não me passou o nome completo. E vou além, não me importo com o sobrenome e origem das pessoas. Nunca me importei. É indiferente.

A resposta não fez efeito, e os advogados continuaram.

— Seu sumiço das telas, teve algo a ver com a acusação de agressão à sua ex-namorada, Suzanna Cameron?

— Essa agressão nunca aconteceu. E a própria Srta. Cameron foi a um programa de TV e desmentiu a história para todos verem.

— Mas não o fato de que você quebrou o dedo de um fotógrafo, enquanto ele trabalhava, tirando fotos suas. Uma pessoa ‘famosa’ ainda mais tendo sido criado no meio, deveria estar acostumado a isso. À presença dos paparazzi.

— Não eram fotos. Foram fotos íntimas e constrangedoras da minha ex-namorada. Ninguém pode dizer que tirar uma foto por baixo da saia, invadindo a privacidade de uma mulher, é uma espécie de trabalho. – Alex se explicou.

— Mas, isso conta como histórico de agressão, e tendo em vista que Senhor admitiu ter batido no Sr. Dempsey e depois no Sr. Cavendish. Isso te torna o que... vejamos, um agressor. E que credibilidade tem a palavra de uma pessoa que por qualquer razão, parte para a violência? – Disse o advogado, olhando firmemente para os jurados.

A acusação protestou por estar induzindo os jurados, o que foi aceito.

A defesa voltou a especular sobre a credibilidade de Alex e mais uma vez foi aceito o protesto. Porém, a dúvida já estava plantada. Logo passaram para outro ponto.

Nosso noivado às pressas.

— Você disse que não se importa com o berço ou sobrenome das pessoas, mas ficou noivo de uma total desconhecida com menos de dois meses de relacionamento, sem ao menos ter conhecido a família dela. Tem certeza de que tudo isso não é interesse financeiro? Até porque, não são só as mulheres que dão golpes, a recíproca é verdadeira.

Por alguns segundos os olhos de Alex faiscaram diante da acusação de que ele só estava comigo por interesse, então, ele respirou e assumiu uma fachada de pessoa controlada e calma, e eu tinha certeza de que ele estava se segurando para não falar besteira.

— Porque, vejamos, Sr. Pierce, não precisamos comparar muito as fortunas. Você nunca constou na lista dos mais bem pagos da indústria, tenho dúvidas se realmente trabalha, já a Srta. Nieminen. É a herdeira da maior empresa de transporte do globo, como o pai dela frisou, conquistou a independência financeira aos 21 anos. Anda sempre com carros caros, bem-vestida, com roupas e sapatos de grife, e ostenta um cordão cheio de diamantes no pescoço. Você não precisava ter trabalho para pesquisar sobre ela... era só olhar para ela.

— Eu não quero o dinheiro da Kat. E não tenho interesse no dinheiro que ela tem ou nas coisas que ela tem!

— Mas ganhou um carro dela! Um Aston Martin. Não é um carro que qualquer um possa pagar.

Foi um presente. Um presente que ela insistiu em me dar, quando fomos morar juntos.

— E, claro, você aceitou.

— O carro é nosso. Não há exclusividade entre nossos bens.

— Está registrado em seu nome. Não há registro comum de bens, Sr. Pierce. Mas você não deve saber muito bem disso, não fez uma faculdade que lhe desse um título importante, não é mesmo?

Eu estava quase pulando no pescoço do advogado.

E Alex somente olhou para a cara do sujeito, e sua feição dizia que ele teria que desenhar a situação para o advogado entender.

— Não se recusa presente de ninguém, além do mais, pode anotar no seu rascunho, Kat já afirmou que adora dar presentes. E não somente para mim.

— Que conveniente para você, não? Uma mulher rica, que gosta de dar presentes. Assim, até eu me caso com ela.

Alex ficou vermelho por alguns segundos, depois voltou a si, para responder:

— Mais uma vez, eu não tenho interesse no dinheiro ou na posição que Katerina ocupa dentro da empresa na qual ela trabalha. Estou com ela porque a amo.

O advogado fingia que não escutava as retóricas de Alex e passou para outro ponto.

— Por acaso sabe ou entende de edição?

— Entendo.

— Conhece pessoas que trabalham nesse ramo?

— Sim.

— Levaria muito tempo para editar um vídeo de vinte minutos?

— Depende do equipamento, de quem está operando e o que se quer editar. – Alex resolveu pela sinceridade, mesmo sabendo onde isso poderia parar. – Mas sempre é possível perceber uma edição.

— Precisaria de uma perícia. – O advogado encurtou.

— Não. Não precisa ter olho clínico. Vídeos gavados por celular e editados, sempre deixam os pontos de corte perceptíveis.

— Você entende muito do assunto, não? Já trabalhou em algo assim.

— Não. Tenho amigos que trabalham.

— Você alterou o vídeo que a Srta. Nieminen gravou dentro daquela sala, sem o consentimento do meu cliente?

— Não.

— Resposta rápida.

— Não alterei. A polícia levou o celular da Katerina para a perícia e quando entregaram, quem ficou com ele foi a Senhora Mina.

— Por acaso não mandou esse vídeo para algum de seus amigos que mexem com edição ou qualquer coisa semelhante, lá em Hollywood?

— Não. Não corrompi nenhuma prova.

— Mesmo que fosse para beneficiar a sua “noiva”? Pense bem, tudo acabando mais rápido, ela é promovida e a sua boa vida só melhora.

— Posso ser muitas coisas. Mas não iria cometer um crime de adulterar uma prova. Mesmo que beneficiasse pessoas que amo.

— Não comete o crime de adulterar provas, mas bate em pessoas inocentes e desarmadas. Sua moral é um tanto contraditória, Sr. Pierce. Ela só age de acordo com a sua vontade, pelo que se nota... e você vem julgar os atos de outros?

— Não, muito pelo contrário. Eu não julgo ninguém aqui. Eles é que julgarão as minhas palavras. – Apontou para os jurados. - Eu só trago as verdades do acontecido que chegaram até mim.

— Verdades. Como assim, ‘verdades’? Está afirmando que suas palavras são a única fonte de verdade?

— Não. Estou dizendo que digo exatamente o que aconteceu, o que vi e presenciei. Nada além disso. – Alex disse solenemente.

O advogado resolveu fazer uma careta para tal fala.

— Então, vamos esclarecer estas ‘verdades’. Primeiramente, você falou que escutaram tiros, que os levaram até a cena do crime?

— Sim.

— Quantos foram?

— Três, e depois de um intervalo, mais um.

— Intervalo de quanto tempo?

— Dois a três minutos.

— E levaram tudo isso para cruzarem um corredor?

— Como não tínhamos certeza de qual das salas vieram os sons. Testamos todas as portas.

— E quantas eram? – O advogado achou que iria tirar vantagem. Porém, Alex tem memória fotográfica e respondeu sem pestanejar.

— Eram doze salas, contando com a que estavam Kat e o Réu.

— Tem certeza?

— Sim.

— Você contou?

— Tenho memória fotográfica. Guardo tudo de primeira.

E aqui o advogado deu um passo atrás e outro assumiu os questionamentos.

— Depois de acharem a sala onde o incidente aconteceu, o que fizeram? Ouviram mais tiros?

— O atentado contra a vida de Kat, o senhor quis, dizer, certo? Pois bem, quando testamos a maçaneta e a porta não abriu, forçamos um pouco e nesse momento duas balas atravessaram a porta, nos errando por uns dez centímetros.

— E depois que a porta foi abaixo? O que encontraram?

— O Réu de pé, sobre a Kat. Ainda com a arma na mão. E Katerina desfalecida no chão, em cima de uma poça de sangue e um buraco de bala no meio do caminho entre o coração e a clavícula.

— Você disse que o meu cliente, o Sr. Edward Cavendish, estava com uma arma na mão, certo?

— Sim.

— Mas não viu quem disparou?

— Não.

— Então, se não há testemunhas do momento em que se ouve os disparos... como quer que as suas palavras sejam tidas como verdade?

— Eu não vi, mas foi filmado. E, além do mais, havia duas pessoas naquela sala. Uma estava de pé, com a arma na mão. E a outra quase exangue no chão. Não precisa ser perito ou ter visto a cena, para saber o que aconteceu.

— Você tem certeza de que a sua noiva, não atirou em si e meu cliente tentou impedi-la?

— Kat é uma pacifista, não gosta de armas e nem sabe atirar. Também não possui armas.

— E por ela ser uma pacifista, você tem a certeza de que o acidente não aconteceu de outra forma? A Srta. Nieminen tentando atirar em si e meu cliente tentado evitar que o pior acontecesse?

— Impossível, até porque no vídeo, nota-se direitinho o que aconteceu. E não foi ‘acidente’, foi uma tentativa de assassinato e isso está gravado e confessado.

— Então, você afirma que viu o vídeo, mas não foi aqui, visto que não estava presente no dia em que foi transmitido. Assim, só podemos concluir que faltou com a verdade quando afirmou que não mandou o vídeo para ser editado em Hollywood.

Alex ficou encarando o advogado por quase um minuto, e era possível ver em sua expressão que ele estava considerando chamá-lo de imbecil.

— Eu vi o vídeo antes de ser transmitido neste Tribunal. Assim que o telefone celular de Katerina foi entregue para a Senhora Mina, pela polícia, depois de periciá-lo, toda a família e eu vimos o vídeo. E eu não precisava ver aquilo novamente.

— Me pergunto como não quis sair socando alguém por aí. Já que parece que este é o seu hobby... – O advogado voltou ao tema das agressões.

— Ao contrário do que você diz, eu não saio batendo em qualquer um, ao meu bel prazer.

— Mas bateu, vejamos, em três pessoas. Em um paparazzi, no Sr. Dempsey e no Sr. Cavendish.

— Todos depois de ser provocado.

O advogado deu uma risada sarcástica.

— O senhor acredita em suas palavras? Pois teve que pagar indenização ao fotógrafo, já que ele não pode trabalhar.

— Foi pela câmera quebrada. Não acredite em tudo o que sai nas revistas de fofoca. Cem por cento das vezes não é a realidade e quando chega perto, está aumentada quase cinquenta vezes. – Falou e apontou para a revista sensacionalista que o advogado tinha nas mãos. – Essa daí, por exemplo, é quase igual ao The Sun aqui na Inglaterra. Ninguém acredita.

A reação dos jurados foi começar a desconfiar do advogado. Ainda bem que nenhum deles parecia ser um leitor fervoroso desse jornaleco.

A defesa notou isso também, e começaram a passar páginas e mais páginas do que eu presumi serem perguntas para Alex, mas, como os jurados já estavam cansados de toda essa especulação e do fato de que estarem acusando a testemunha de fatos que lhes eram estranhos, decidiram por encerrar o interrogatório, com uma pergunta, no mínimo, interessante:

— Senhor Pierce, se tivesse a oportunidade de ser juiz, jurado e executor, o que faria com o meu cliente?

Alex foi esperto e pegou no ar a pegadinha, ele não poderia falar nada que induzisse os jurados e, também, não poderia ser sincero ao extremo, ou poderia ter o seu depoimento desqualificado, então, só respondeu:

— Não estou aqui no papel de julgar ninguém, vim para testemunhar o que sei e o que vi. Presentes neste Tribunal estão o júri e o julgador. Não há executor mais.

O advogado fez aquela cara de quem comeu limão e a testemunha foi liberada e ele logo veio se sentar no banco atrás de mim, respirando aliviado assim que ficou livre dessa obrigação.

Mandei uma mensagem para ele na hora.

Obrigada.

Tudo por você, Rainha de Gelo.

Não, ele não precisava encarar essas acusações que ouviu hoje, mas estava mais do que agradecida por ele ter falado o que falou.

Já era tarde, e mesmo com a insistência da defesa em continuar com os depoimentos, a juíza deu o dia por encerrado, já avisando que no próximo dia se encerrariam os depoimentos da acusação e se iniciariam os da defesa.

Da acusação só faltava minha avó. Da defesa, todas as testemunhas eram um mistério para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Novamente um capítulo imenso... pois é, não tem como ser diferente, e o próximo também será.
Muito obrigada a cada um de vocês que estão lendo, acompanhando e comentando a história!
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Presos Por Um Olhar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.