A Escritora escrita por Sadie Ketchum Potter


Capítulo 1
Prazer, São Paulo


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu, faz muito tempo que não publico nada aqui KKKKKK, enfim, espero que gostem!!

P.S.: A Gabriela Silva é a Maria Cascuda, pra quem não sabe este é o verdadeiro nome dela
P.S.2: Eu pensava que o Chico era do interior de Minas, mas descobri essa semana que ele é do interior paulista KKKKKKKK (cada K uma lágrima), bom, vai ficar Minas Gerais mesmo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799255/chapter/1

Era quase seis e meia da manhã quando Mônica acordou, se espreguiçou na cama e olhou na janela ao lado, as nuvens negras no céu indicavam que uma chuva pesada estava para chegar, logo no seu primeiro dia de aula na escola nova. Deu um longo suspiro, não estava muito animada, sentia falta da vida no interior de Minas Gerais, perto de seus pais, de seus tios e de seu primo Chico Bento. Até mesmo seus tios e seu primo Zeca, que moravam em Belo Horizonte, lhe traziam saudades.

Quando finalmente criou coragem saiu de sua cama, andou lentamente até o guarda-roupa e o abriu, vendo a camiseta cinza clara com um tom verde escuro no símbolo do Colégio Limoeiro. Torceu o nariz, nunca precisou usar uniforme em sua escola antiga. Ah, como a saudade apertou naquela hora.

— Mô, já acordou? – Zé Luís, o irmão mais velha dela, falou do outro lado da porta.

— Já tô saindo Zé! – Ela respondeu, terminando de colocar a calça jeans escura. – Oi...

O rapaz deu um sorriso triste, bagunçou os cabelos curtos e pretos da irmã, arrancando uma risada dela. Ambos foram para São Paulo, ele para estudar Química na USP, e ela (aproveitando a mudança do irmão) iria estudar em uma escola particular na famigerada “Terra da Garoa”.

Foram para a cozinha tomar café da manhã, Zé Luís havia feito café e comprara pão, manteiga e bolo de chocolate. Sentaram na cadeira e começaram a comer tudo que tinham direito. A refeição estava silenciosa, sentiam falta dos pais sentados à mesa falando de assuntos diversos. Escutavam os carros passando na rua, e o silêncio interiorano era um desejo dos irmãos.

— Então, que horas é sua aula? – Questionou o rapaz.

— Sete horas. – Mônica respondeu. – Eu vou a pé, fica há cinco minutos daqui.

Ela tomou o último gole de café e se levantou, seu celular indicava ser quinze para as sete e precisava ir embora, correu para o banheiro, escovou os dentes e mordeu os lábios, com vergonha de seus dois dentes da frente que apareciam mesmo de boca fechada. Era um de seus charmes, porém estava receosa com a opinião dos futuros colegas.

Saiu e foi para seu quarto, pegou a mala e a revistou, sentindo falta de uma coisa, vasculhou o quarto levemente desarrumado e encontrou o que queria: seu caderno de histórias, seu fiel companheiro além de Sansão, o coelho azul de pelúcia. Colocou o caderno dentro de sua mochila e ia sair, porém parou em frente ao espelho, se encarou e corou. Tinha catorze anos, e o corpo modificava a cada dia, recordava-se que seus seios e sua bunda não eram daquele tamanho. Balançou a cabeça e caminhou até a entrada.

— Vou chegar tarde hoje, então quando chegar tranca a porta...

— E só abre a porta pra você, já sei. – Mônica revirou os olhos e riu, em seguida depositou um beijo na bochecha do irmão. – Confia em mim, tchau!

A garota de pele morena saiu de casa e desceu as escadas, morava no segundo andar, não tinha necessidade de ir pelo elevador. Chegou no andar térreo e passou pela porta do prédio, cumprimentou o porteiro, virou para a esquerda, andou e virou a segunda à esquerda, avistando o enorme prédio da escola. Engoliu em seco, imaginando que a essa hora seu primo, a namorada dele e seus amigos a chamariam para nadar no riacho próximo, ainda não teria aula pois na escola pública só voltaria depois do Carnaval.

Pegou o celular e viu o horário, dois minutos para as sete, o sinal tocaria dali pouco tempo, entraria na sala e tomaria um novo rumo. Mônica se direcionou a uma pequena muvuca, e no quadro de avisos (que era o que todos viam) estava anotado a turma, a sala e os integrantes de cada uma. Ela passou seus olhos castanhos por todos os papéis, até encontrar seu nome na turma do Primeiro A, no segundo andar, na sala 52.

Ao soar do sino a jovem foi para sua sala de aula, um tanto quanto ansiosa. O lugar estava vazio, havia apenas um garoto de cabelos loiros estilosos, olhos cor castanho claro, corpo bem definido e pele pouco bronzeada, sentou-se na frente dele e começou a ajeitar seu material, pouco a pouco os alunos foram entrando na sala e se acomodando. Uma garota de longos cabelos pretos e lisos, pele branca, olhos cor mel e corpo magro sentou ao lado de Mônica, ria de algo que os amigos lhe contaram. Eram dois garotos morenos de corpo definido, porém um tinha cabelos crespos e castanhos, olhos castanhos escuros e riscos nas bochechas, enquanto o outro tinha cabelos pretos e bagunçados e olhos cor mel.

— Bom dia alunos! Para os novatos, eu me chamo André e sou professor de Geografia. – Ele olhou a lista de chamada e sorriu de canto. – É, temos duas novatas, se apresentem, por favor, digam seus nomes, de onde vêm e porque mudaram.

— Meu nome é Sofia, venho do Colégio das Pitangueiras, e sai de lá pois minhas amigas foram embora da escola. – Disse uma garota alta e obesa, com cabelos crespos e loiros e olhos castanhos.

— Eu sou a Mônica, venho do interior de Minas Gerais e sempre estudei na escola pública, meus pais aproveitaram que meu irmão vai fazer faculdade aqui e mandaram-me ir com ele estudar em São Paulo.

Após o pronunciamento das duas, o professor começou a explicar como funcionaria a composição de notas, e naquele momento a mineira pegou seu caderno e começou a escrever. Era sua paixão, seu vício e dom natural, sempre tirava notas altas nas provas de redação, sentia que quando precisava de se acalmar a solução era escrever. Mas não um diário, uma história, algo de sua imaginação.

As aulas passaram rápido, rápido demais para o gosto de Mônica, estava em uma parte interessante de sua escrita. Fechou o caderno a contragosto, o colocou embaixo de sua carteira, pegou seu lanche e desceu. Durante o caminho na escada ficou observando o trio de amigos que havia a jovem de cabelos longos rindo, e junto a eles veio um rapaz do Terceiro B. Ele era alto e grande, aparentemente acima do peso, possuía pele branca, cabelos castanhos claros e bem ajeitados e olhos castanhos escuros, chegou tascando um selinho na garota e cumprimentando os rapazes com um aperto de mão.

— E então? Está gostando da escola? – O garoto loiro, que descobriu chamar-se Toni, comentou por trás da morena.

— Os professores parecem legais... – Ela respondeu e sorriu de canto, forçado. No fundo desejava estar em Vila Abobrinha tomando banho no rio.

Toni continuou falando animadamente com Mônica, ela contou sobre sua vida e de onde vinha, já ele falou que entrara na escola no sétimo ano e já era bem popular. Pudera, parecia um galã de novela.

Em uma mesa do refeitório, o grupo de amigos estava conversando sobre a troca do professor de matemática, Jayme, para um rapaz mais novo de nome Otávio.

— Ouvi que o Jayme foi pra praia, morar lá, descansar e curtir a aposentadoria. – Magali, a menina, comentou.

— Tenho minhas dúvidas. – Quim, o jovem do terceiro, falou. – Ei Cebola, não vi a Irene até agora... Como está com ela?

— Sinceramente faz quase duas semanas que não a vejo, eu ia cumprimenta-la, mas ela caiu fora! Acho que vamos terminar... – Comentou o de cabelos desgrenhados.

Cascão, o garoto com riscos nas bochechas, acabou nem prestando atenção na fala de Cebola, sua visão e pensamento estavam concentrados em Gabriela Silva, uma menina do qual era a fim desde criança. Dava alguns suspiros só de imaginá-la ao seu lado, abraçada e falando sobre algo interessante.

— Cas, tá ouvindo a gente? – Magali falou.

— Claro! – Ele respondeu, corando levemente. Por um momento o garoto encarou Mônica e Toni. – Xi, a novata já tá sendo arrastada pelo Toni... aquele infeliz vai se exibir falando que é ótimo no futebol, mas aparecer no treino que é bom nada! Além disso ele joga mal pra caramba!

Todos concordaram e os observavam ao longe. Enquanto isso a mineira o ouvia falar sobre o time de futebol da escola do qual ele participava, dizia ser um dos melhores por conta de seu grande esforço e talento.

O sinal tocou às dez e quarenta, e todos subiram de volta para suas salas. A próxima aula era de gramática com a professora Ana Paula, e a garota logo sentou em sua carteira, voltando a escrever em seu caderno. Toni até tentava puxar assunto, todavia Mônica estava compenetrada demais para escutá-lo.

— Linda letra. – Comentou a garota ao lado da novata, que levantou a cabeça para agradecer. – Por acaso conhece o Titi? Do Terceiro B?

— Não, por quê?

— Os dentes são iguais... Eles são bem fofos!

Mônica corou e sorriu, disse um obrigada e começou a conversar com ela, descobriu que se chamava Magali e que morava próximo ao seu prédio. Papearam durante a aula toda, e na penúltima aula Cascão e Cebola entraram na conversa. O loiro estava levemente irritado, torceu o nariz e voltou a falar com seus colegas.

Quando o sinal de saída soou todos saíram em disparada para fora da escola, andavam rápido e conversando. No portão, uma jovem de cabelos curtos, lisos e loiros, olhos castanhos e pele branca encontrava-se conversando com duas colegas. Ao vê-la, Cebola sorriu e andou até as três, tapou os olhos da garota e se segurou para não rir.

— Adivinha quem é! – Ele disse, engrossando a voz.

— Eu não sei... – Irene, a menina, falou. – Seria o rapaz que me namora?

Cebola destapou seus olhos e deu um selinho na namorada, cumprimentou as amigas dela e a chamou para irem embora juntos, almoçar na casa dela ou na dele, passar uma tarde juntos como há tempos não faziam.

— Ai Cê, hoje não dá, tenho que ajudar a Amanda com algumas coisas da família dela...

O suspiro dele foi longo, um pouco de raiva e de tristeza.

— Tá bem, a gente se fala depois?

Irene assentiu e beijou a bochecha do namorado, que voltou para seus amigos. A namorada parecia estar inventando desculpas quase todo santo dia, um dia disse que precisava levar o gato da vizinha no veterinário. Se não queria vê-lo era só dizer, melhor que inventar histórias sem pé nem cabeça.

Magali deu um longo suspiro, achava a loira um pouco arrogante agindo daquele jeito com o namorado, já que ela sempre fora educada com Quim, e tentava sempre que possível ser sincera do porquê não poderia vê-lo.

Cascão, Magali, Cebola, Quim e Mônica andavam em direção à padaria do pai do mais velho, decidiram almoçar por lá e apresentar um pouco do bairro para a novata. No fundo Mônica rezava para que não demorassem com o “tour”, tinha medo de Zé Luís ficar bravo com sua demora em voltar para casa.

— Isso tá ficando um saco... – Murmurou o rapaz de cabelos desgrenhados. –Parece que ela nem me ama mais!

— Infelizmente tenho que concordar meu amigo. – Falou o de marcas nas bochechas, levantando os ombros.

Quim àquela altura já estava ajudando o pai com os clientes, e de vez em quando pausava o serviço para se intrometer na conversa dos amigos. Magali e Cascão tentavam consolar Cebola, até mesmo Mônica, entretanto ela não sabia muito bem como, já que não entendia direito o problema do casal de namorados. No fundo Cebola já havia aceitado que Irene não era mais a mesma que conhecera, mas não sabia o que os tinha afastado tanto. Teriam sido as férias dela em Goiânia com os pais? Ou até os compromissos dele com o futebol?

— Bem, vamos levantar um pouco o astral disso aqui! Mônica, o que você conhece do bairro? – Questionou Magali.

— Bem, não muita coisa, o shopping, o mercado, a escola e agora a padaria... – Ela respondeu sem graça e com um sorriso tímido.

— Olha, aqui é um bairro bem família, sabe, bem unido. – Continuou Cebola. – Então vamos mostrar a casa dos nossos amigos e colegas, a praça, o parquinho, o campinho, a sorveteria...

A novata sorriu grata, pediu uma coxinha e um suco de melão, provavelmente aquele seria seu almoço, ainda não tinha comida em casa para fazer ou esquentar no micro-ondas. Acabou conhecendo um pouco mais sobre os novos amigos, e até um pouco sobre sua própria turma na escola, descobrindo que todos eram extremamente unidos desde crianças.

Mônica falou um pouco sobre si para os novos colegas, sua infância no interior de Minas Gerais, sobre a antiga escola e sobre sua família. Família, não conseguia falar ou pensar nesta palavra que a saudade já batia forte em seu coração, todavia ficou séria, deveria parar de chorar por aí, todos estavam bem e saudáveis, provavelmente com saudades, mas bem.

Saíram da padaria assim que Magali parou de comer, despediram-se de Quim e foram andando pelo bairro. Apresentaram todos os lugares, e passaram a tarde daquela forma, apenas os quatro andando por todos os cantos do Limoeiro. Quando era por volta das quinze para às cinco, foram para o shopping West Lemon, comer um lanche ou ir ao cinema.

— Uau, que lugar enorme! – Comentou Mônica, arregalando um pouco os olhos.

— Nunca veio em um shopping center? – Cebola perguntou, arqueando as sobrancelhas.

— Bem, eu até ia, mas era raro. Morava em Vila Abobrinha, e era meio distante de Belo Horizonte.

Decidiram que era bom ficar apenas andando, não estavam com fome e os filmes teriam horários tardios demais para uma segunda-feira início de aulas. As roupas das vitrines eram bonitas, até a fonte era interessante, talvez São Paulo não fosse um lugar tão ruim assim.

A novata sentiu o celular vibrar, além de Fat Bottomed Girl do Queen soar pelos ares. Ela pegou o objeto, viu que Zé Luís ligava para ela, provavelmente preocupado com o fato dela ainda não ter voltado para o apartamento.

— Oi Zé, tô no shopping, relaxa.

— Mô, tá ficando tarde, já vem voltando para casa.

— Relaxa, já já tô voltando, beijos!

Após desligar o aparelho Mônica anunciou que iria voltar para casa, Magali decidiu acompanhar a nova amiga até a rua, afinal moravam perto uma da outra. Enquanto andavam, os sinais de chuva começavam a aparecer mais uma vez, e desta vez a água desatou a cair, para a sorte delas Magali era prevenida e sempre andava com um guarda-chuva na mão.

Entraram na Rua Barão, a jovem de cabelos longos parou em frente ao prédio onde a colega nova morava e se despediu dela com um beijo de bochecha com bochecha, porém antes fez questão de passar seu endereço.

— Olha, eu moro nessa mesma rua, só que um pouco mais pra direita, qualquer coisa é só chamar!

— Tá certo, tchau!

Mônica entrou no prédio, cumprimentou o porteiro mais uma vez e subiu as escadas até o segundo andar, tocou a campainha de seu apartamento e viu Zé Luís abrir a porta. Ela abraçou o irmão, aparentava estar animada.

— E então, como foi? – Ele perguntou, sentando no sofá.

— Tudo bem, bem até demais... o pessoal é bacana... – Ela disse, sorrindo de canto.

É, talvez São Paulo não fosse tão ruim assim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Escritora" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.