Cassian encarava o chão à sua frente, vendo o grupo de pombos brigando pelas migalhas de pão. Ele arrancou mais um pedaço do pão em sua mão, tacando-o e assistindo a três dos pombos brigarem pelo pedaço. Estava sentado em um banco, ao Sol. Preferia ficar perto das sombras, mas não era sua culpa não ter árvores perto daquele bloco de lápides do cemitério.

Portanto, ele percebeu a chegada de Héctor antes de o garoto dizer algo, notandoa luz do Sol bloqueada à direita. Ele jogou mais um pedaço para os pombos e ergueu o rosto, vendo Héctor parado ali de braços cruzados.

— O que aconteceu? — O garoto perguntou, encarando a lápide atrás dos pombos.

— Fomos tentar reaver um explosivo. As coisas deram errado. Não tem máscara que dê conta daquela quantidade de toxina em uma sala fechada.

Claramente, as coisas tinham dado errado. Charlotte tinha se revelado extremamente sensível ao terrígeno e morreu no local. Eveline teve de ser carregada para fora e levada a um hospital. Cassian já tinha descoberto que a garota talvez nunca se recuperasse por completo, e estava fadada a viver com problemas respiratórios — logo, estava fora do time. Cassian jogou mais dois pedaços no chão, respirando fundo. Ele só tinha tido alguns dias de falta de ar, e agora uma dor leve no peito quando respirava que diminuía a cada dia. Em breve, acreditava, não sentiria mais nada.

— Eu não quero morrer, Cassian.

— Então vaza — ele resmungou, agora arrancando o pedaço de pão com mais violência. — Não preciso de gente com meio interesse do meu lado.

— Foi isso que eu vim te dizer. Eu vou passar no apartamento amanhã pra pegar minhas coisas, e então o Padre Lantom disse que vai me ajudar a encontrar um lugar pra ficar. Preciso que você esteja lá pra abrir a porta pra mim.

Cassian suspirou, sentindo aquela dor leve no peito. É claro que precisava.

— Vou estar. Mais alguma coisa?

Se Héctor estava pensando em algo, não falou. Ele se despediu, deu as costas e foi embora. Cassian sentiu um aperto na garganta, um tremor na mão, a mistura de um impulso de fúria e indignação. Como isso era justo? Um gás, uma coisa da qual não se podia fugir, e era letal para seu povo. Apenas para seu povo. Estavam tentando exterminá-los. Estavam conseguindo.

Nunca tinha sentido uma raiva tão grande. Nunca tinha imaginado que fosse assistir a uma colega de time cair no chão em sua frente e morrer sem conseguir respirar, enquanto a outra colapsava e implorava por ajuda para sair de lá. Não era sentimental, e não as considerava suas melhores amigas ou qualquer outra baboseira do tipo, mas isso não amenizava a crueldade do extermínio. E agora estava furioso. Queria encontrar o responsável. Queria fazer algo a ele, talvez sufocá-lo também, para ver como era bom.

Ele apertou o pedaço de pão, ouvindo seu celular tocar em seguida. Cassian o tirou do bolso, vendo se tratar de Niko, e respirou fundo. Não podia soar tão irritado assim ao telefone com ela. Ele jogou o resto do pão para os pombos e atendeu a chamada, colocando o sorriso mais amarelo possível no rosto, mesmo que a garota não pudesse ver. Ajudava se a atuação fosse completa.

— Ei, Cass! Quanto tempo!

— Ah, pois é… Fiquei enrolado com algumas coisas. Como estão aí?

— Hm… É complicado. E confidencial. Você precisa parar de me perguntar as coisas.

Cass tamborilou os dedos no banco. Estava esperando essa resposta. Sabia o que fazer.

— Desculpe. Ainda está bem ruim, entende. Eu só tive esperanças de você ter boas notícias pra me dar.

Por favor, ele pensou. Por favor me diga algo que eu quero ouvir.

— Bem… andando as coisas estão… mas isso é tudo o que posso dizer. Você vai ter que segurar as pontas por mais um tempo, entende?

— Claro… Claro, entendo sim.

Depois disso, ela começou a falar sobre visitas e Nova York, e Cassian aceitou que o assunto estava encerrado. Por enquanto.