The Funeral escrita por Morgan


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Se eu posso recomendar algo é que leiam essa one com Gravity do Coldplay. https://www.youtube.com/watch?v=emTePWNepkk&feature=emb_title



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2 de maio de 1998 foi um dia difícil para todas as pessoas no mundo bruxo, mas o dia seguinte conseguiu ser ainda pior, principalmente para aqueles que perderam entes queridos durante a batalha.

A tenda que antes havia sido usada para o casamento feliz de Bill e Fleur, hoje erguia-se para receber todos aqueles que queriam dizer o seu último adeus a Frederick Gideon Weasley.

A Toca dos Weasleys nunca esteve tão silenciosa mesmo com tanta gente vagando pela propriedade quanto naquela tarde. O céu estava cinza, como se nunca tivesse conhecido o sol. Talvez para combinar com os sentimentos de todos que estavam ali, que também sentiam que perder Fred Weasley era como perder um astro.

Os professores de Hogwarts estavam sentados ao fundo da tenda. Baixinho, Minerva McGonagall chorava, pensando que tudo que queria agora era qualquer um dos momentos onde pensou que os gêmeos Weasley iriam fazê-la ter um ataque do coração. E na primeira fileira, sem conseguir encarar o caixão posto ao lado do púlpito, estavam todos os integrantes da família.

Molly Weasley soluçava nos braços do marido, que não estava muito melhor, mas ainda assim queria confortar a esposa.

— E agora – disse o cerimonialista – Vamos ouvir as palavras de despedida da família.

Bill foi o primeiro a subir. Seus olhos estavam fundos e vermelhos. Todos encaravam o primogênito sério e impassível dos Weasley com atenção, mas quando Bill abriu a boca tudo que saiu foi um choro baixo. Sua esposa Fleur o olhou com compaixão enquanto todos assistiam a dor estampar o rosto do homem que sempre havia conseguido controlar todas suas emoções tão bem. 

Até aquele momento. 

— Não sei o que faremos sem você por aqui, Freddie – disse ele depois de um tempo – Mas quero que saiba que você será para sempre o meu irmãozinho, o único que nunca me obedecia e sempre me fazia correr pela casa desde o primeiro dia em que aprendeu a andar. Vou sentir a sua falta.

Ele engasgou na última palavra e desceu os três degraus o mais rápido que pôde, caindo nos braços de Fleur, que o abraçou no mesmo segundo.

— A última vez que Fred me visitou na Romênia, havia um pequeno dragão – começou Charlie, logo depois de Bill – Foi Fred quem o viu quando nasceu e desde então, ele passou a dizer que era a mãe desse dragão – Charlie riu baixinho, secando algumas lágrimas que escorriam pelo seu rosto – Depois que ele se foi, o dragão, com apenas uma semana de vida, fugiu para a floresta. Levei umas quatro horas para encontrá-lo e quando o encontrei, posso jurar: ele riu de mim. Eu o nomeei de Fred na mesma hora – algumas pessoas riram baixo nas cadeiras a frente de Charlie – Fred-dragão é bagunceiro. Me deixa preocupado, irritado, mas me faz rir a todo momento. Exatamente como você faz desde que nasceu, Freddie. Eu não poderia ter te amado mais nem se quisesse. Espero que saiba disso. Desculpe não ter te contado antes que usei seu nome. Achei que teríamos tempo.

Charlie abaixou a cabeça e saiu rápido, afim de esconder as lágrimas que escorriam de seu rosto como cachoeiras. Percy subiu no púlpito, estava sem óculos e seu cabelo parecia ter várias formas diferentes, mas ele não parecia se importar. E ao contrário dos irmãos mais velhos, Percy também não parecia se importar com as lágrimas que escorriam sem parar de seu rosto, deixando sua voz rouca e embargada na frente de todos.

Ao contrário dos irmãos mais velhos, Percy Weasley não conseguia parar de chorar nem por um segundo e não fazia sentido esconder isso de ninguém.

Ele encarou os pais por um tempo antes de começar a falar.

— Eu e Fred brigávamos mais do que qualquer outra pessoa na família. Ele foi o primeiro a ameaçar quebrar o meu nariz se me visse na rua e eu acreditei – Percy respirou fundo – Mas ele também foi o primeiro a me estender a mão assim que eu voltei. Fred podia parecer difícil, mas ele tinha o maior coração que eu já vi. O maior de todos – Percy trocou um rápido olhar com o caixão fechado que estava ao seu lado – Me desculpe, Freddie. Me desculpe mesmo por não ter vindo antes. Se eu soubesse... se eu... eu trocaria de lugar com você sem pensar duas vezes. Me desculpe por nunca ter sido o irmão mais velho que você... que vocês mereciam, nem quando você mais precisou que eu fosse.

Percy balançou a cabeça e saiu. Ao contrário dos outros irmãos que se sentaram novamente na primeira fileira, ele atravessou o corredor principal da tenda, desaparecendo.

Harry olhou disfarçadamente para George, que desde que tudo começara, apenas encarava um ponto fixo no chão, sem nem sequer parecer estar ouvindo qualquer um dos irmãos, mas foi Rony quem se levantou e começou a falar.

— Fred foi a primeira pessoa a quem eu contei quando me apaixonei – Rony sorriu de lado – Não sei muito bem porquê. Achei que ele iria rir de mim, como costumava fazer sempre que podia, mas ele apenas sorriu e me abraçou de lado – Rony riu fraco balançando a cabeça, sendo atingido pela memória dolorosa – Ele disse que sempre soube, mas ficava feliz por eu ter percebido. Pouco tempo depois ele e George me deram um livro sobre como conquistar garotas – Rony ria nervosamente com os olhos cheios de lágrimas – Acho que eu nunca percebi muito isso quando era criança, mas agora eu sei que você sempre acreditou em mim. Obrigado por ter estado do meu lado.

Rony desceu, sentando-se ao lado de Harry novamente, que estava pronto para confortar o melhor amigo machucado, quando o mesmo se virou e apontou para o púlpito a frente deles. Harry franziu o cenho e balançou a cabeça. Não poderia, era um momento de família, começou a dizer, mas Ginny, que parecia ser a próxima, apertou sua mão o incentivando.

O garoto subiu devagar os degraus e se posicionou atrás do microfone.

— Eu nunca pensei que estaria aqui – disse Harry – Nunca pensei que teria que me despedir de novo – murmurou – Muito menos de você, Fred. Não acho que nada vai conseguir ser tão bom quanto era quando você estava aqui, mas fico feliz por ter te conhecido. Sempre quis ter um irmão mais velho e você foi exatamente isso para mim. 

Ginny foi a próxima. Seus cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava um vestido preto, parecido com o da mãe. Ginny Weasley nunca foi de parecer frágil ou inofensiva, mas ali, naquele momento, era impossível dizer que a mais nova dos Weasleys não representava exatamente isso. 

— Na maior parte do tempo – começou ela com a voz quebradiça – É complicado ser a única garota entre seis irmãos. Sempre foi. Mas também tem as suas vantagens – ela olhou para George por um segundo – Fred e George sempre foram a minha. Lembro até hoje como fiquei feliz quando ouvi pela primeira vez em Hogwarts que me parecia muito com eles – Ginny mirou o céu por um segundo inteiro antes de fechar os olhos, respirar fundo e prosseguir – Fred era o meu irmão mais superprotetor, mas ao mesmo tempo era o que mais me entendia. Ele sempre ria das minhas piadas e sabia o nome de todos os meus namorados. Foi ele quem me incentivou a entrar no time e foi ele quem treinou comigo até tarde da noite todos os dias durante as férias – Ginny balançou a cabeça quando as lágrimas começaram a rolar em seu rosto – Eu te amo tanto, Freddie, tanto, tanto e vou amar pelo resto da minha vida. Obrigada por ter sido o meu irmão.

Depois que Ginny se sentou, sendo abraçada logo depois por Hermione Granger, a maioria dos olhares recaiu sobre George. Arthur e Molly Weasley haviam decidido não se pronunciar. Haviam feito sua despedida antes de todos e sozinhos, como acreditavam que tinha que ser, mas os irmãos haviam concordado em fazer aquilo. Quando Charlie se preparou para pedir ao cerimonialista para encerrar, George se levantou e em silêncio subiu os poucos degraus. Ele viu Angelina, Katie, Wood e Alicia chorando baixinho algumas fileiras antes dos professores. Viu também Lee Jordan no canto. Ele parecia querer se distanciar daquilo como se fosse evitar de acontecer. George sentia a mesma vontade.

— Eu sempre tive muita sorte – começou ele, sua voz rouca do pouco uso. O garoto mal falara desde que saíram de Hogwarts no dia anterior – Ser de uma família grande é bom, na maioria das vezes, mas ter Fred? Isso era sorte – ele pigarreou – Ter o meu irmão e melhor amigo na mesma pessoa? – George tentou sorrir – Sorte. As pessoas acham que eu não vou saber viver sem ele e... bem, isso é verdade. Eu queria dizer que não. Não gosto de ser o que todos esperam, mas dessa vez eu sou – ele sentiu as lágrimas escorrerem em seu rosto – Ficar sem você, Freddie, é como se tivessem tirado uma parte de mim. Levaram a minha melhor metade, como eu poderia saber o que fazer? – George suspirou – Não consigo dizer muitas palavras bonitas como os outros e espero que você me entenda, Fred, mas o problema é que estou com um pouco de raiva, sabe? – ele soltou uma risada amarga, sem humor algum – Não consigo entender. Não consigo entender como você foi capaz de ir para qualquer lugar sem mim. Como você foi capaz de apenas... apenas ir... e me deixar – a voz de George saiu carregada de uma certa rispidez e ele desviou o olhar, seu rosto se contorcendo em dor, angústia e lágrimas – Você sempre gostou de inventar coisas e me dizer o que fazer – o ruivo hesitou, passando a mão pelo rosto – Gostaria que pudesse me dizer agora também, porque eu não sei e acho que nunca vou saber.

3 MESES DEPOIS

— Harry, você não pode estar falando sério – disse Hermione, olhando nervosamente em volta.

O garoto estava a horas no meio da Floresta Proibida, se arrastando pelo chão.

— Preciso fazer, Mione, eu preciso – retrucou – Você não os vê? Eles não... Não estão bem.

Hermione passou a mão pelos cabelos – Faz pouco tempo...

Harry parou virando-se para a amiga – Hermione, eles são a minha família! Não posso deixar isso acontecer!

— Harry, você não pode...

— Você mal fala com Rony – disse o garoto de repente, fazendo Hermione se encolher – Ginny chora todos as noites e George... Eu gostaria que o único problema de George fosse não abrir a loja, mas ele se recusa a vê-los a três meses. Três meses!

A garota balançou a cabeça e sem dizer nada abaixou-se como Harry estava fazendo, começando a procurar a pequena pedra que Harry insistia estar por ali.

— Você sabe, não é a mesma coisa – murmurou depois de um tempo.

— Ele não precisa ficar. Ele só precisa se despedir de George. Molly, Arthur, Ginny, todos eles... Eles precisam de George – Harry parou por um segundo – Eles não podem perder os dois – Hermione viu quando os olhos de Harry brilharam atrás das lentes dos óculos.

A família Weasley não era a mesma depois que Fred partiu. É claro que ninguém esperava que fosse, mas George havia se trancado em casa, se distanciado de todos os irmãos, Percy voltara par'A Toca e Charlie também resolvera ficar até que as coisas melhorassem e até mesmo Bill e Fleur resolveram se juntar aos outros por uma única semana que acabou durando três meses.

Mas elas não estavam melhorando, porque eles sentiam que haviam perdido não apenas Fred, mas George também. Hermione não havia contado a Harry nem a Rony, mas havia encontrado Angelina no dia anterior e a garota parecia tão abalada quanto no dia do funeral de Fred.

— Todos os espelhos estão quebrados – dissera ela a Hermione – Todos eles. A mão dele está machucada, então acho que foi assim que ele os quebrou. Algumas prateleiras da loja estão derrubadas também e a casa toda fica escura. Quando eu acendi uma das luzes... – ela hesitou – Não parecia ele. Não parecia George.

Harry se levantou, exausto, caminhando lentamente até onde ele se lembrava de ter encontrado o unicórnio morto no primeiro ano. Tudo que ele queria era trazer um pouco de consolo para a família Weasley, como eles sempre haviam trazido para ele. O garoto tirou a varinha do bolso, e como em sua última tentativa tentou o mais bobo dos feitiços.

— Accio Pedra da Ressureição.

Como se apenas estivesse esperando que o garoto se posicionasse no lugar certo, algumas folhas a frente começaram a se mexer, a pedra voando para a mão de Harry no segundo seguinte.

*

— George? – chamou Harry, subindo as escadas que davam para o apartamento, mas ninguém respondeu. A única luz acesa era a que vinha do que costumava ser o quarto de Fred então Harry entrou. A cama estava feita e o quarto parecia intocado e se Harry tivesse parado na porta, poderia jurar que não havia ninguém em casa. Mas ele viu, no canto do cômodo, um George Weasley abraçado aos próprios joelhos sob a luz fraca, parecendo alheio a presença de Harry.

O garoto se aproximou do mais velho.

— George – chamou novamente, tocando os joelhos do homem. George ergueu os olhos e Harry quase desejou que ele não tivesse feito isso. Seus olhos estavam fundos e ele parecia ter perdido mais quilos do que Harry era capaz de notar.

— Que está fazendo aqui, Harry? – perguntou George, sua voz baixa e rouca.

— Vim te trazer uma coisa – respondeu, tirando a pedra do bolso – Poderia ficar aqui e te dizer o que eu sei que todos já disseram, mas conheço uma pessoa que vai fazer isso melhor do que eu – Harry puxou a mão de George e colocou o objeto ali – E você também. Gire três vezes e pense nele. Não posso deixá-la com você, então estarei lá fora esperando.

George franziu o cenho sem entender, mas Harry não esperou para responder nenhuma de suas perguntas.

— Pense... nele? – murmurou George. Ele se sentou ereto. Do que Harry estava falando? Isso era algum tipo de brincadeira? Ele continuou mirando a pedra por alguns segundos, antes de, lentamente fazer como o amigo havia dito.

Mas nada aconteceu. George encarou a pedra por um segundo antes de deixar que ela caísse no chão e suspirasse. Não sabia que tipo de coisa eles estavam planejando agora para tirá-lo de casa, mas não parecia ter funcionado.

Ele voltou a repousar o rosto nos joelhos, desejando ter pedido a Harry para apagar a luz. Ele se sentia melhor no escuro. Sentia-se melhor sem ter que olhar para o próprio reflexo e na escuridão tudo parecia poder acabar.

George sentia que poderia acordar desse pesadelo se tentasse o bastante.

A luz do quarto se acendeu, iluminando todo o cômodo e George fez uma careta. Ele só queria ficar sozinho, só queria ficar longe deles, era tão difícil assim entender?

— Harry, eu não quero ser grosseiro, mas...

— Só fazem três meses e você já está me confundindo com Harry? O ocludo magrelo, dentre todas as pessoas?

George não conseguiu erguer o olhar totalmente. Estava congelado, olhando fixamente para os próprios pés, porque a voz que acabara de ouvir não era a de Harry, de Rony ou de qualquer um dos seus irmãos que tentaram visitá-lo.

Era dele.

— Que ideia foi essa de pintar o cabelo? – continuou, parecendo mais perto – Agora eu sou definitivamente o gêmeo mais bonito.

George arfou e reunindo toda a força que ainda restava em si, ele ergueu os olhos.

Fred estava parado a sua frente com um sorriso de lado. Parecia ligeiramente mais novo, com as mãos no bolso da calça preta, a camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e a gravata da Grifinória pendurada em volta de seu pescoço.

Ele lembrou a George o dia em que fugiram de Hogwarts. O dia em que abandonaram tudo para iniciar a própria vida. Juntos. 

— O que você...? Como...?

— Foi você quem me chamou – disse Fred com um sorriso, abaixando-se e ficando na altura do irmão.

— Eu te chamo todos os dias – George respondeu, fazendo o sorriso do irmão tremer por um segundo.

— Bom, você nunca teve essa pedrinha especial, não é? – retrucou e segurou George pelos ombros, o levantando e fazendo uma cara feia logo em seguida – Meu Deus, George, você não está comendo?

Fred começou a andar em direção ao banheiro com dificuldade, porque George não conseguia parar de virar e estancar no meio do caminho para encarar a cena com incredulidade. Não estava apenas vendo Fred, estava o sentindo.

George conseguia lidar com sonhos, alucinações e delírios. Não era como se nunca tivesse sonhado com o irmão nesses três meses, mas aquilo?

Fred fez com que George se sentasse no vaso fechado.

— Estou sonhando – disse George para ninguém em especial – Atingi um novo nível de loucura. Agora consigo sentir a sua presença. 

Fred soltou uma risada fazendo com que George imediatamente o olhasse. A risada de Fred sempre fora uma das poucas coisas diferentes entre eles e George sempre gostara disso.

— Não sou um sonho – disse – Aquilo que Harry te trouxe se chama Pedra da Ressurreição. É uma das relíquias da morte. Foi ela quem me trouxe. 

— Então... você... você voltou?! – perguntou George, sua voz saindo mais alta do que pretendia ou estava acostumado.

Fred sorriu pequeno, negando com a cabeça. Toda a esperança que havia se acumulado no peito de George durante aqueles três segundos explodiu em pequenos pedaços, trazendo-o de volta a realidade. 

— O que está fazendo, Georgie? – perguntou o garoto, seu sorriso travesso e bem-humorado dando lugar a um olhar suave e carinhoso para o irmão gêmeo – Você não está comendo, pintou o cabelo e quase destruiu a nossa casa! – ele riu fraco, pegando a varinha de George que estava encostada na pia e consertando o espelho com facilidade – Está tudo uma bagunça. Quando foi a última vez que você tomou banho?

— Então você não vai ficar – foi tudo que o garoto disse. Fred largou a varinha.

— Não posso ficar, Georgie, não... pertenço mais – disse, as palavras o machucando tanto quanto machucavam o irmão, que já havia constatado aquele fato a alguns meses – Não sou bem um fantasma, mas também não estou vivo.

George riu, amargo.

— Então por que eu perderia meu tempo falando com você? – retrucou, olhando Fred nos olhos – Você foi embora. Foi embora! Me deixou aqui sozinho!

Fred piscou.

— Você não está sozinho.

— Mas é claro que eu estou! Quem é você para me dizer que não?! – explodiu – Como você achou que eu estaria sem você? Eu não tenho como fazer isso sem você, Fred! Não tenho como fazer nada disso sem você! Nunca tive!

As lágrimas já escorriam rapidamente pelo rosto do homem sentado.

— George, não diga isso – disse Fred – Sempre brigamos com as pessoas que diziam que éramos gêmeos siameses. Não somos a mesma pessoa, lembra?

George riu mais uma vez, se virando para o irmão.

— Não precisamos ser para isso, Fred! – gritou, balançando a cabeça logo em seguida – A porra de um fantasma! O que você saberia? Foi você quem me deixou aqui, não o contrário. 

Fred sentiu como se tivesse levado um tapa na cara. Não pelas palavras do irmão, mas por ver tão de perto o quão magoado e com raiva ele estava. Sentia que se tocasse George com força demais seria capaz de quebrar o irmão. Essa era uma das piores coisas que ele já havia presenciado. 

— Eu sinto a sua falta a cada momento – disse Fred, fazendo George se calar de vez – Sinto falta de vocês todos os dias, Georgie, mas sinto a sua a cada segundo.

George abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas escorrerem de seu rosto, toda a raiva se dissipando de dentro de si.

— Temos uma família para cuidar, George – disse Fred, sua voz embargada tanto quanto a do irmão – Eles precisam de você e você, mais do que nunca, precisa deles.

George balançou a cabeça enfaticamente, ainda sem querer olhar para o gêmeo.

— Não posso fazer isso com eles – murmurou, limpando as lágrimas – Não consigo me olhar no espelho, Freddie, não consigo... não posso fazer com que eles tenham que ver você todos os dias em mim.

Fred se ajoelhou na frente dele, puxando seu rosto e fazendo com que olhasse para ele.

— Eles precisam de você, George – repetiu – Eles já me perderam, não podem perder você também. Não podem perder nós dois.

— Deveria ter sido eu. Você deveria ter ficado, você deveria... – George enfiou os dedos finos nos cabelos mal pintados de castanho escuro – Você saberia o que fazer...

— Está louco?! – exclamou Fred com um sorriso – Você sempre foi mil vezes mais forte do que eu, Georgie, mil vezes! Eu não duraria dois dias sem você. Acabaria em Azkaban, provavelmente.

George não respondeu. Não conseguia rir do que Fred chamava de "aliviar a tensão" agora.

— Eu estava no funeral, sabia? – disse Fred abaixando as mãos do irmão e passando a mão vagarosamente pelo seu cabelo – Eu estou sempre com vocês. Estou sempre com você, George, todos os dias. E nunca vou deixar de estar.

As lágrimas de George aumentaram.

— Não é o mesmo sem você...

— Eu sei, eu sei. Não é o mesmo para mim também – disse Fred, que se esforçava para não chorar. Havia ido até ali para consertar as coisas e não piorá-las – George, me escute. Você precisa abrir a loja.

George negou com a cabeça na mesma hora como se Fred tivesse sugerido que ele matasse um animal indefeso.

— Não posso.

— Sim, você pode. Não – Fred balançou a cabeça – Você deve. Você lembra por que a abrimos em primeiro lugar?

— Para sair de casa e ganhar dinheiro? – respondeu George e Fred riu.

— Também – ele ainda passava a mão levemente pelo cabelo do irmão. George parecia uma criança e se Fred não estivesse tão decidido a fazer aquele tempo valer a pena e a fazer a coisa certa, estaria aos prantos, exatamente como ele – Mas para fazer as pessoas rirem. Lembra do que Harry nos disse? Que as pessoas iriam precisar daquilo. Elas precisavam antes e precisam agora, talvez até mais do que quando abrimos.

— Mas sem você... 

— Não me diga que vai admitir finalmente que eu sou um empresário melhor do que você?

George riu fraco e Fred sorriu. Tudo que mais queria era fazer o irmão gêmeo sorrir novamente.

— Você disse que queria que eu te dissesse o que fazer, Georgie – falou – Estou fazendo isso. Abra a loja. Chame Rony para te ajudar. 

— Rony?

— Sim. Ele vai gostar. Ele não é do tipo que gosta do Ministério, só não percebeu ainda. 

George ainda parecia incerto e Fred ficou de pé.

— Por que você pintou o cabelo? 

— Eu... ahn... – George hesitou – Não queria ficar parecido com você. Bill, Charlie e mamãe costumavam vir. Não gosto do olhar deles quando me vêem. Sei que se lembram de você e não quero fazer isso com eles. 

Fred assentiu em silêncio enquanto pegava a varinha novamente.

— Ficou uma bosta.

George riu.

— Eu sei.

O garoto apontou a varinha para o cabelo do irmão e com um movimento rápido, a tinta escura começou a ser puxada para fora pela ponta da varinha de George, o deixando como sempre fora e fazendo Fred se sentir muito melhor. 

— Eles não te olham daquele jeito porque pensam em mim, Georgie – disse Fred com um sorriso, bagunçando o cabelo, agora ruivo, do irmão com a mão – Eles te olham daquele jeito porque estão preocupados, porque te amam e porque precisam de você. A Toca nem parece mais a nossa casa sem você.

— Sem você — corrigiu George.

— Mas não podemos fazer nada quanto a isso. Não podemos ser responsáveis pela infelicidade deles. Sempre trouxemos risadas, cara, era esse o nosso trabalho. Ginny chora todas as noites. A nossa caçula me chama tanto quanto chama você, George. Consegue entender? A diferença é que eu não posso ir até ela, você sim. Eles precisam de você.

As lágrimas voltaram a se formar nos cantos dos olhos do gêmeo sentado, de tristeza e vergonha. Ele sabia que a família estava sofrendo, mas ele simplesmente achou que seria mais fácil se ficasse longe.

— Eu me sinto um lembrante ambulante de que você se foi, Freddie.

— Mas você não é – disse o outro, sério – Você precisa voltar para casa. Você é a única coisa capaz de fazer com que as coisas se ajeitem, George. Eles só vão ficar bem quando você voltar e você só ficará bem quando estiver com eles de novo. Precisa fazer com que papai volte a mostrar as engenhocas trouxas que ele abandonou, que mamãe pare de chorar pelo menos um pouco, precisa ajudar Rony e Ginny a ficarem melhor. Eles não podem se isolar assim, não de Harry e Hermione.

George continuava fitando as próprias mãos e Fred o pôs de pé. 

— Você precisa convencer Charlie a voltar para a Romênia. Ele não pode parar a vida dele por nós. Ele nunca foi assim, não é agora que vai começar. Precisa dizer a Bill e Fleur para voltarem para o Chalé das Conchas, sei que Bill pensa que precisa cuidar de todo mundo por ser o mais velho, mas não precisa. Não sempre – George percebeu que Fred piscava um pouco mais rápido, como se quisesse impedir que lágrimas descessem, mas sua voz arrastada e emocionada o denunciava mais do que qualquer outra coisa – E Percy... – ele pigarreou – Precisa dizer a Percy que não é culpa dele. Nunca poderia ser culpa dele. Eu sei que ele fez besteira e a minha partida o deixou ainda mais instável, mas ele não precisa se castigar para o resto da vida. Eu o perdoei. Todos nós o perdoamos. Somos irmãos. Agora ele precisa se perdoar, voltar a viver, voltar ao Ministério e fazer o bom trabalho que sempre fez agora que os corruptos saíram de lá de vez. 

George ouvia atentamente tudo que o irmão falava, mas não conseguia evitar querer apenas guardar aquele momento. Sabia que Fred não ficaria e não fazia ideia de quando o veria de novo sem ser nos seus sonhos, então tudo que conseguia fazer era tentar aproveitar o pouco mais de tempo que havia ganhado com o seu melhor amigo.

Como não obteve resposta, Fred repousou as mãos nos ombros de George e perguntou:

— Não está mais disposto a seguir os meus planos? 

Fred sorria de lado, com as sobrancelhas arqueadas e George sorriu para acompanhá-lo. Seu peito parecia ter voltado ao tamanho normal depois de chorar com seu irmão o confortando. A única pessoa que ele sempre quis que o confortasse.

— Estou sempre disposto a isso, você sabe. 

— Então aqui vai o último deles: – Fred sentiu uma lágrima solitária e teimosa finalmente escapar de seu olho – Ser feliz. Pode fazer isso por mim, Georgie? Pode se juntar a nossa família e ajudá-los a voltar aos trilhos com amor e risadas? Pode dar uma chance a si mesmo por mim e, pelo amor de Merlin, voltar a comer direito e nunca mais pintar o cabelo?

George não conseguiu segurar a risada que veio junto das lágrimas e nem Fred, que o abraçou logo em seguida. Ficaram assim, em frente ao espelho recém consertado, por longos segundos até George responder.

— Posso – disse – Posso fazer qualquer coisa por vocês, Freddie. 

Fred se afastou enquanto dizia "ótimo" várias vezes seguidas e George suspeitou que o irmão estivesse tentando esconder as lágrimas quando saiu do banheiro e seguiu para o guarda-roupas do quarto de George. Ele voltou algum tempo depois, colocando roupas limpas em cima da cama. 

— Então está na hora. Harry não vai esperar a vida toda – disse ele tentando sorrir – Vou esperar você na loja. 

George assentiu, sem saber muito bem o que dizer, já que Fred já havia se virado e ido em direção as escadas. Ele foi até o banheiro tomar banho antes de vestir as roupas que Fred havia escolhido para ele. Quando estava pronto, parou na frente do espelho, passando os dedos pelos cabelos ruivos noivamente. George não sabia a quanto tempo não via o seu cabelo na cor natural assim como não sabia qual fora a última vez que conseguira se olhar no espelho daquela forma sem chorar ou quebrar o objeto que o refletia. 

— Não é ruim – murmurou para si mesmo enquanto se encarava – Me parecer com a pessoa que eu mais amei na vida. Não é ruim. 

Quando desceu para a loja após pegar a pequena Pedra da Ressurreição no canto do quarto e colocá-la bolso, viu Fred encarando as prateleiras caídas no chão. Seu olhar se voltou para George e ele torceu a boca.

— Você é idiota, não é? Não podia ter socado um travesseiro ou, sei lá, o Draco Malfoy de novo? Isso aqui custou dinheiro. 

George sorriu e foi até ele.

— Sinto muito por não pensar nisso quando meu irmão morreu – as palavras saíram antes que George pudesse controlar e Fred soltou uma gargalhada – Merlin... Você chegou por uma hora e eu já estou fazendo piada com isso. 

Fred deu um tapinha em seu ombro.

— Esse é o espírito da coisa – ele deu um sorrisinho para o irmão – Entendeu, Georgie? O espírito sou eu – explicou e George revirou os olhos. Os dois se viraram para encarar Harry em pé do lado de fora da loja, apenas observando a rua e as pessoas que passavam o reconhecendo – Cuide dele também, Georgie. 

O garoto assentiu.

— Então está na hora de ir?

Fred se virou para o irmão, dando-lhe um sorriso pequeno.

— Preciso voltar. A mãe de Harry deve estar preocupada a essa altura.

Ele riu – Você conheceu os pais dele?

— Sim. Pontas é muito engraçado, Georgie, tanto quanto imaginávamos! E ele se parece muito com Harry também. Sirius está lá, assim como Remus e Tonks – ele deu um sorriso reconfortante ao irmão – Não é a mesma coisa, mas não é ruim, eu garanto.

George sorriu, surpreendendo a si mesmo ao perceber que aquilo era o que ele mais precisava ouvir. Que Fred ficaria bem. 

— Vou sentir sua falta.

— Estou dando o meu melhor aqui, George, mas você precisa parar de tentar me fazer chorar – disse Fred já com lágrimas nos olhos. George deu um passo a frente e o abraçou forte, como nunca havia feito antes – Você não está sozinho, tudo bem? E não apenas pela nossa família – falou – Estou sempre com você. Não vou deixá-lo, Georgie. Nunca conseguiria fazer isso. 

— Obrigado – disse o ruivo ao se afastar – Por ter vindo. Por ter existido, por ter me amado e sido meu amigo antes de tudo. Obrigado, Freddie. Tem certeza que não quer se despedir deles também?

Fred negou com a cabeça. 

— Não, não acho que vai ajudá-los – disse.

— E por que achou que me ajudaria? 

Fred mordeu o lábio e ficou em silêncio por um tempo antes de responder – Não sabia. Sirius e James acharam que não ajudaria, mas eu pensei... pensei que se fosse ao contrário eu gostaria de me despedir de você de verdade. Gostaria do momento que fosse, contanto que fosse com você. Só assim conseguiria seguir em frente e ajudar os outros a fazerem o mesmo. 

Fred abriu um sorriso e levantou a mão em um aceno quando Harry se virou e através da vitrine transparente, viu Fred e George juntos novamente. Não importava se era pela última vez, Harry se sentia grato. Ele sorriu de volta. 

— Reabra a loja, Georgie – disse Fred, abaixando a mão e voltando a olhar o irmão – E dê uma chance a Angelina. Acho que vocês fariam um casal legal. 

O garoto deixou que um pouco de ar escapasse de sua boca, olhando o irmão com uma grande interrogação no meio da testa. 

— Acho que essa é a última coisa que estou pensando agora, Frederick.

— Pois não deveria ser – retrucou ele, dando de ombros – Se quer manter um cinto de castidade aí, tudo bem, é uma escolha sua. Não é como eu agiria, mas o que eu sei, não é? Sou só um fantasminha camarada – ele sorriu – Mas você deveria pelo menos falar com ela. Ela está preocupada. 

Fred deu alguns passos para trás, se afastando de George, que abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido pelo irmão.

— Não se esqueça do meu plano. É o último deles e você sempre aperfeiçoou e cumpriu todos. Eu acredito que você vai fazer o mesmo com esse também, Georgie. Seja feliz. Por favor – Fred chorava silenciosamente e George fazia força para não acompanhá-lo nisso também – Seja feliz.

— Eu vou. Vou ser feliz por nós dois. Vou viver a vida por nós dois, Freddie – Fred abriu um largo sorriso enquanto passava a mão no rosto, secando suas lágrimas – Eu te amo, sabe disso, não é? – disse George quando uma luz branca pareceu atravessar todos os andares da casa e iluminar o local onde Fred estava. Ele sorriu, concordando, ainda tentando secar lágrimas que pareciam impossíveis de desaparecer. 

— Eu sei – respondeu – Eu te amo muito e depois ainda amo mais um pouco, Georgie. Vejo você depois – Fred deu um último sorriso travesso em direção ao irmão gêmeo – Não tenha pressa! 

E tão rápido quanto apareceu, Fred sumiu, assim como a luz que o iluminava. 

Por um segundo George pensou estar sozinho novamente, mas então ele deixou que as palavras de Fred o acalentassem, o protegessem e o guiassem. Ele não estava sozinho. Nunca estivera e provavelmente nunca estaria. Era isso que significava ser um Weasley: não estar sozinho. Ao contrário de três meses atrás, agora George sabia exatamente o que fazer. 

Ele saiu da Gemialidades Weasley e entregou a Pedra da Ressurreição a um Harry ansioso do lado de fora, o garoto a pegou, guardando consigo antes de poder se livrar dela novamente, de uma vez por todas dessa vez. 

— Vamos, Harry – disse George parado ao seu lado, encarando a vitrine vazia da loja.

— Para onde?

George deu um sorriso, segurando o ombro do mais novo com a mão, preparando-se para aparatar. 

— Para casa, é claro. 

 

 

 

 


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