Por Que Deixaram Ele Entrar No Clube? escrita por Napalm


Capítulo 1
Por Que Deixaram Ele Entrar No Clube?




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Você vai voltar do trabalho e jogar a bolsa em cima do sofá, em seguida se jogar na cama por uns dez minutos. Agradecer aos céus mentalmente pelo fim do batente, porque fora lhe ensinado que era algo a se agradecer. É uma noite de sexta-feira e mesmo diante do caos que ela representa à sua rotina, ela é também bem rotineira: você liga para suas amigas, encontram-se na casa de uma delas, discutem suas vestimentas e toda aquela coisa de toda semana. A música de fundo transforma esse ritual de preparação praticamente numa parte da festa que logo virá. Os ânimos estão estimulados não só pelo som, mas também pelo “esquenta” do que tinha de álcool na casa de Fulana de Tal, que por sinal, é uma péssima motorista e te obriga a estar meia hora pronta mais cedo para que cheguem ao clube a tempo.

Já pronta, você se olha no espelho. Está exatamente como aquela mulher da capa da revista, que por sua vez, estava exatamente como outra mulher em outra capa de revista e assim por diante, mas de alguma forma, você consegue se sentir única. Será as recentes mechas loiras que desta vez simplesmente combinaram demais com o novo vestido? Ah, o mistério.

Você chega na fila para o clube e vê alguns conhecidos e alguns desconhecidos. Cumprimenta o amigo bem-vestido da sua amiga. Você sabe que ele está a fim de você desde outras sextas-feiras, mas você não lembra mais o que ele faz da vida e se distancia, com medo de revelar que não estava prestando atenção quando ele lhe contou. Vai deixar isso pra lá, por ora. Entrará no clube e vai passar umas duas horas dançando. Vai olhar ao redor. E então…

Você vai notá-lo. Você sabe que ele está falando alto demais, mas não tem certeza se ele está gritando por causa do som que abafa suas palavras ou se ele realmente grita pra falar em seu cotidiano. É uma nuance que o ambiente permite relevar. Mas aos poucos você percebe que tudo que te estranha nele você deveria relevar, mas não consegue. Pelo menos não inteiramente. Quando você passa e olha rapidamente para o indivíduo, sem entender se por curiosidade, por julgamento ou outra coisa, ele como se sentisse seus olhos imediatamente te olha de volta. E se antes desse cruzar de olhares ele estava dançando, agora ele dança muito mais vigorosamente. Te faz querer dançar. Se antes estava falando, agora ele se expressa pelo rosto sem precisar de palavras. Te faz querer sorrir. Se antes estava bebendo, agora está comicamente lambendo as bordas do copo ou os próprios lábios. Te faz querer… Você finge ignorar e vai até o balcão. Pede mais uma bebida. O ciclo se repete.

Você o nota, ele te nota. Você finge que nada aconteceu e bebe.

A estranheza daquele ser, a cada copo que se vai, fica cada vez mais difícil de não virar o foco da sua noite. O tudo o que importa. E isso te incomoda. Você vai então dar uma chance para aquele cara da fila. Aquele engomadinho, que você acha que é advogado. E vai torcer para que o estranho a veja nos braços deste outro homem. Você vai começar a puxar o amigo da amiga pela mão, festa afora. Para o cara ao seu lado vai parecer apenas que você está aleatoriamente zanzando por aí, o que não é tão incomum. Mas o que você quer é que aquele estranho a veja com outro. É o único motivo pra você estar suportando o tédio de agora estar presa a alguém que nem sequer dança num clube de dança.

Mas você não o encontra mais. Não o vê mais.

A festa termina e parece que você estava no inferno. Você fecha a cara e por mais que tente disfarçar, não consegue. As suas sobrancelhas criaram vontade própria e simplesmente não arqueiam mais. Suas amigas te perguntam se está tudo bem. Tudo o que você pensa soa tão patético na sua cabeça que você prefere não falar. Seu desejo é que aquele homem nunca tivesse surgido à sua visão. Ou que, pelo menos, estivesse em outra festa.

Por que deixaram ele entrar no clube? Você começa a se sentir ridícula pelo questionamento. Pelo resto da noite, você simplesmente teria que lidar com as consequências do caos que havia se inserido na sua sexta-feira.

E durante a noite, com o suposto advogado, tudo vai ser péssimo e ao mesmo tempo um pouco bom, graças a sua inerente capacidade de fechar os olhos e imaginar outra pessoa ali.

Aquilo vai te abalar por uns dias, mas com o advento da semana, você sabe que tudo estará em confortável ordem de novo.


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