SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 13
Sophie em: Livre da Faculdade, mas Presa no FLET-C


Notas iniciais do capítulo

Olha quem trouxe oneshot nova hoje!!
Sim, é alta madrugada, mas eu precisava postar isso.
E a saga de Sophie crescendo, continua.
Espero que gostem!
Tenham uma ótima leitura



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Então era isso. Eu estava pronta, ou tão pronta quanto alguém está quando se forma. Sinceramente eu gosto de pensar que sei tudo, que posso me virar na área em que escolhi estudar e atuar.

Contudo, todo mundo sabe a verdade. Ninguém está preparado. A única diferença da formatura da faculdade para a do ensino médio é que você está mais velho, mais cansado e começando a sentir dor nas costas.

E eu estou falando todas essas besteiras porque, bem, estou a minutos de atravessar o salão e assumir o meu lugar no palco.

Parecia até um dejá vù. Parecia uma reprise da formatura de Kells. A diferença, meu avô não estava mais por aqui e a família tinha crescido consideravelmente, afinal já tinham chegado Tali, Victória, Will, Henry e mais recentemente Adam e eu não estava me formando em Medicina. Mas em um monte de curso ao mesmo tempo.

Abriram a porta do salão e deram permissão para que pudéssemos entrar. Eu era uma das últimas da fila, então, só pude escutar os gritos e saudações que as famílias faziam à medida que os outros formandos iam assumindo seus lugares.

E o alfabeto foi sendo chamado. Até que finalmente chegaram no “S”. Sa... Sb...

— Shepard-Gibbs! – Anunciaram no alto-falante.

Amadinhos, aqui vai Sophie!

Com o passar dos anos, a formatura ficou um pouco menos formal, então, agora, além de permitirem que a família faça aquela festa, o formando pode escolher uma música que o represente para entrar no salão.

Eu tinha milhares para escolher, porque momentos não faltavam.

Mas escolhi uma que me remetia ao casamento de Kelly, quando todo mundo foi para a pista de dança comigo e com Tony.

Little Less Conversation era o meu tema de entrada. O remix de Elvis tocou alto e eu parei na beirada da passarela e comecei a chamar minha família para dançar comigo.

Teoricamente eles não poderiam invadir o corredor, mas quem disse que Tony não deu um pulinho para mais perto de mim e reprisou o passinho que nós fizemos na festa de casamento.

Sem querer aparecer, mas a minha família foi a mais animada, talvez pelo número de crianças presentes ou talvez porque hoje, minha mãe já nem ligava se alguém iria reconhecer a Diretora do NCIS no meio de alguma bagunça que a família aprontava.

Cheguei no palco e antes de assumir a cadeira que me era destinada, ainda fiz uma mesura e mandei um beijo para minha família, dando uma piscadinha quando meu pai me deu aquela encarada.

Nem sei o porquê ele fez isso, afinal, eu tinha urrado para chegar até aqui, foram semanas sem dormir, foram trabalhos e mais trabalhos, estágios em diversos departamentos do governo e tinha até tomado um tiro no meio do processo.

Eu merecia essa festa.

E merecia muito, pois meus dias de liberdade estavam pra lá de contados, afinal, minha inscrição no NCIS já estava feita e confirmada. Dentro de quarenta dias eu seria a mais nova aspirante a recruta do NCIS, com as bênçãos de...

Até agora ninguém, porque eu não falei nada.

Mas voltemos à cerimônia.

Tudo ia às mil maravilhas, nada tinha saído fora do programado – tirando a menina que eu só conhecia de vista que deu aquele tropeção e saiu tentando se equilibrar até cair em cima do mestre de cerimônias. Tadinha, não era para rir, mas eu ri com respeito e bem discretamente.

Quando foi a minha hora de fazer o juramento, garanti que eu não pisasse na barra da beca e desci elegantemente os poucos degraus até o púlpito.

Foi engraçado ver a reação de meus pais quando estendi a mão direita e comecei a recitar as palavras.

Agora só faltava uma coisa para encerrar a cerimônia. A entrega simbólica dos diplomas. E lá foi eu ficar quase por último de novo.

Eu batia o pé de ansiedade no palco e podia ver Ziva, Tali e Jack quase querendo vir ao palco e pegar o meu diploma e me entregarem para que tudo se encerrasse.

Mais uma vez meu nome foi anunciado e dessa vez pude escutar o seguinte grito:

— Guardem esse nome, pois ela ainda vai dominar o mundo!!

Somente meu Italiano de Araque Preferido poderia soltar uma dessas no meio da minha formatura. Era por isso que, depois dos meus pais, ele era o meu preferido. Sim, tinha dia que eu o preferia à Kelly, que minha irmã jamais sonhe com isso.

Depois do meu nome, somente mais duas pessoas e, com toda turma de formandos em seus lugares, o mestre de cerimônias declarou a nossa formatura encerrada e nos deu os parabéns.

E capelos voaram para todos os lugares.

Como um gato joguei e peguei o meu e antes que toda aquela multidão convergisse para o palco, desci os degraus e fui desviando de um por um, até que trombei em um certo Marine que de Mal-Humorado não tinha nada hoje, tinha era de Manteiga Derretida mesmo.

— Precisa de um lencinho, papai? – Perguntei quando o olhei.

A minha resposta foi um tapa na cabeça e depois um abraço.

— Parabéns minha filha! Estou muito orgulhoso de você. – Ele disse escondendo muito bem as lágrimas.

— Obrigada, papai. Não teria sido possível sem a sua ajuda. – Respondi dando um beijo em sua bochecha.

Eu acho que ele iria falar mais alguma coisa, mas mamãe logo me tirou de seus braços e me puxou para um abraço apertado, ela sim, não teve vergonha de mostrar que estava chorando.

— Minha Miniatura já está formada na faculdade. Onde o tempo foi parar? – Me perguntou ao beijar minha testa.

— Por aí, mamãe. Ele simplesmente não quis parar. – Foi a minha retórica.

— Mas deveria ter parado. – Disse emocionada.

— Onde? – Desafiei-a.

E a Poderosa Diretora do NCIS só olhou em volta e deu de ombros.

— Não sei, não saberia escolher.

E um a um, meus familiares foram me abraçando. Foram reclamando da passagem do tempo.

Confesso que senti falta da presença do meu avô, mas de alguma forma eu sabia que ele estava aqui.

Jack começou a pular do meu lado e depois queria, porque queria me escalar, tudo para pegar o capelo que ainda estava na minha cabeça.

— Reza a tradição, Jack, que quem colocar o capelo na cabeça antes da hora tem que dizer o que vai querer fazer. – Brinquei com meu sobrinho mais novo.

E ele, muito deliberadamente, colocou o capelo em cima dos cabelos castanhos escuros e soltou para quem quisesse ouvir:

— Eu vou ser um Marine.

E o Senador Sanders caiu sentado na cadeira mais próxima.

Semper Fi!— Eu falei para ele.

Hurray! – Ele e meu pai responderam.

Minha mãe se arrepiou toda com a possibilidade de ter um neto Marine. Possibilidade não. Se Jack falou é porque ele seria. E esse era o momento perfeito.

— Bem, se o Jack vai se juntar à Corporação, cabe a mim garantir que nada de ruim aconteça com ele. – Disse simplesmente.

E todos me encararam.

— O que? Vocês estão olhando para a mais nova aspirante a recruta do NCIS! – Estendi os braços e falei.

E eu pude ver a reação de choque nos olhos de meus pais, minha irmã estava sem palavras, meu querido cunhado permaneceu sentado, estático. Mas a turma que trabalhava na MCRT...

Os sorrisos foram se alargando, foram ficando maiores à medida em que eles iam assimilando a notícia.

— Ora, ora... teremos uma novata com um sobrenome bem interessante no FLET-C agora... – Tony disse.

— Nós ainda temos que ir lá dar palestras para os aspirantes ou isso acabou? – Ellie perguntou.

— Ainda temos que ir. E podemos nos voluntariar para certos tipos de treinamentos também. – Ziva me olhou e eu já até sabia que tipo de treinamento ela estava pensando.

— Mandem o seu melhor. Estou sendo preparada para isso desde os meus 5 anos de idade.

— Ah, Peste Ruiva... você não sabe de nada, podemos ser um milhão de vezes piores do que você imagina.

— Não esperaria menos da equipe de Leroy Jethro Gibbs. – Falei sem emoção.

E no fundo eu sabia, todos eles iriam tentar arrancar o meu couro durante os mais de seis meses de treinamento intensivo, começando a contar do dia em que me inscrevi, passando por cada uma das fases qualificadoras e de checagem, até que eu me visse indo para Glynco, Georgia, para o treinamento específico. E note-se, não era nada garantido que, se eu passasse em cada um dos treinamentos, se eu fosse bem classificada e aprovada por uma bancada de agente sêniores da Agência, que eu viraria uma agente com distintivo no final.

Tudo isso era apenas um sonho, se eu realmente receberia um distintivo dentro de nove meses – que é o prazo que eu espero, pode ser mais. – aí sim, eu estaria realizada, mas até lá.

— Você está decidida em tentar ser uma agente? – Minha mãe me perguntou.

— Mamãe, está no meu sangue! Só resta saber se eu vou passar. – Respondi.

Meu pai me olhava um tanto atravessado e eu me perguntei internamente se ele tentaria dificultar o meu caminho até o meu sonhado distintivo.

Só o tempo diria.

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TRÊS MESES DEPOIS

Já tinha passado por quatro fases do processo seletivo. Inscrição, Entrevista – essa foi divertida, porque quem fez a minha entrevista foi Jackeline Sloane, uma amiga de longa data de Hetty e psicóloga do NCIS vinda do Exército.

Eu já conhecia Jack, de vez em quando ela dá uma ajuda para a MCRT, ainda mais depois que Ducky se aposentou e não está 100% do tempo presente e a equipe precisa de um perfil psicológico. Então, quando ela chamou o meu número – porque somos números aqui, para nenhum sobrenome – como os meus! – influenciarem nas escolhas, e eu bati na porta para entrar na sala, Jack tirou os óculos, abriu um sorriso e já foi falando.

— Fique à vontade. Escolha um pirulito e vamos começar.

Me sentei na frente dela e recusei o doce.

— Posso saber o motivo? – Ela perguntou ainda rindo.

— Prefiro chocolate. – Disse simplesmente.

 - Então você troca qualquer coisa pelo chocolate? – Ela tentou me pegar.

— Não. Não troco minha família por nada desse mundo.

E Jack deu uma gargalhada.

— Tudo bem, vamos começar com o básico. Por que ser uma agente do NCIS?

— Porque está no meu sangue. – Comecei e Jack fez uma anotação. – Eu cresci dentro dessa agência, vi o que todos são capazes de fazer, fui uma das pessoas que eles resgataram, apesar de não me lembrar muito desse dia em si, eu vi como uma agência civil pode ajudar o Corpo de Fuzileiros e a Marinha. E o mais importante, eu sei que aqui eu posso fazer a diferença. Eu estudei para ser uma agente do NCIS, para fazer o que os agentes fazem. Desde de criança eu carrego comigo um distintivo que pertenceu ao meu pai, fui empossada como Agente Baby, e desde então, tudo o que eu mais quero é fazer parte disso. É saber que eu posso ajudar quem precisa, independentemente de onde eu estiver. – Terminei.

— Independentemente de onde estiver. – Sloane fez coro. – Mas, e sua família? Você disse que não os troca por nada... não há um conflito, uma incoerência nisso?

— Minha família continua sendo a minha família, continua sendo a minha base, independente para onde eu vá. Fomos família quando minha irmã foi enviada para o exterior ou para a Costa Oeste. Continuaremos a ser quando for a minha vez. Família não é só a convivência, é saber que tem pessoas que se importam com você e querem o seu bem, estando perto ou longe.

Mais uma anotação e Sloane veio com a pergunta que eu sabia que apareceria mais cedo ou mais tarde.

— Shepard-Gibbs. Dois sobrenomes de peso na agência. Shepard o nome de solteira da Diretora e Gibbs, do agente cuja reputação o precede. Seu parentesco com tais pessoas influenciarão a sua possível carreia de forma positiva ou negativa?

— Gosto de pensar que não influenciarão. Que eu conseguirei fazer o meu caminho por mim mesma. Sei que é difícil, que comparações aparecerão, que pessoas me olharão com ar dúbio, especulando se a minha posição, se meu distintivo foi conquistado por merecimento ou por indicação. Isso vai acontecer, porque é assim que o Mundo é e eu não posso mudar os pré-conceitos das pessoas. A única coisa que meus sobrenomes separados por hífen vão influenciar é no modo como eu irei trabalhar. Irei trabalhar duro, dar o melhor de mim, focar em cada caso que aparecerá na minha frente, não irei desistir, não irei parar de procurar por respostas, não vou baixar a guarda e nem deixar que outros subestimem meu valor, porque se tem algo que meus pais me ensinaram em todos esses anos é ser eu mesma, é trabalhar para conquistar o que eu quero, é mostrar para cada pessoa que eu sou tão capaz quanto elas, não importando sobrenome, cor do cabelo ou gênero. Se eu quero, se eu colocar na minha cabeça que é possível, eu tenho que lutar até o fim por isso, e tenho que fazer tudo muito bem feito, não porque eu quero um reconhecimento, mas porque a vítima, a família da vítima, merece as respostas que eu posso dar.

 - E como você se vê trabalhando em equipe?

— E tem outra forma de se trabalhar sem ser em equipe? Não, não tem. Regra #15.

— Você vai seguir as regras do seu pai mesmo não trabalhando para ele? – Jack quis saber.

— Seguirei as regras e o código de Conduta do NCIS, Agente Sloane. Quanto às regras de meu pai, cresci com elas, estão arraigadas em mim. Fazem parte de quem sou. Então, uma vez ou outra, alguma vai surgir para me ajudar.

— E não pretende criar as suas próprias regras?

— Como eu disse, as únicas regras que interessam são as que o NCIS estipula. Quaisquer outras não podem ultrapassar os limites por elas imposto. Mas todas as pessoas tem um código moral, as próprias regras, para que possa viver a própria vida.

— Muito bem. Última pergunta, pode ser sincera. – Jack começou, e os pelos de minha nuca se eriçaram, isso era uma pegadinha, com certeza. Quer ir trabalhar onde? Pode escolher.

Não disse que era uma pegadinha? Eu estudei psicologia forense tanto quanto ela, apesar de não ter a mesma experiência.

— Se eu quisesse escolher um lugar para trabalhar, teria ido para a iniciativa privada, Agente Sloane. Aqui não é para onde eu quero ir, é onde precisam de mim.

— Assim você dificulta o meu trabalho, Sophie! Muito. Mas eu já esperava por isso quando vi seu cabelo vermelho. Não posso te dar o seu resultado agora, regras do NCIS, mas posso te dizer que um certo agente especial e uma tal de Diretora ficariam orgulhosos das respostas. Boa sorte nas demais fases. – Me estendeu a mão e eu vi não só nas palavras, mas em seus olhos, eu tinha passado em mais uma fase.

— Obrigada, Agente Sloane. Um ótimo trabalho para você.

Dali, um mês depois fui chamada para o teste do polígrafo. Nunca tinha feito um, mas tinha escutado as mais estranhas histórias quanto o famigerado teste.

Esse teste foi feito no Estaleiro Naval, no mesmo prédio em que eu vivia indo e vindo, e correndo e atazanando a MCRT até bem pouco tempo atrás. Hoje eu entrava como uma pessoa que queria se juntar a turma por merecimento, não pela associação com duas pessoas que trabalhavam ali.

Foi divertido ver a reação dos demais agentes quando eu desci do elevador e, ao invés de virar para a direita e ir direto para a mesa de Tony ou subir as escadas para a sala da direção, virei à esquerda e fui para a sala destinada ao teste.

Encontrei com o Agente Balboa – que cansou de autorizar a minha entrada no prédio. – Com a Agente Veronica Tyler, o insuportável do Swayer, por coincidência, trombei em Abby e quando eu parei na porta, para aguardar a minha vez, Tim saiu da sala.

Como tinham outros candidatos na minha frente, Timmy só meneou a cabeça e cumprimentou a todos, sem tratamento especial.

Me sentei na última cadeira e esperei. Vi gente saindo chorando da sala, outras pessoas batiam os pés, comiam as unhas de nervoso. E eu estava lá, quieta.

Não estava calma de tudo, nem poderia, afinal eu não sabia o que me aguardava lá dentro, mas também não estava totalmente nervosa, eu não tinha nada para esconder.

E uma hora depois, eu saía da sala, sem saber ao certo como fui. Falei todas as verdades, se elas seriam suficientes para me darem aprovação para a próxima fase, não saberia dizer.

Ia voltando para o elevador, com a intenção de ir embora para casa direto, quando ouvi passos bem conhecidos atrás de mim e senti o cheiro de café. Logo papai estava do meu lado, um meio sorriso nos lábios e, antes que eu pudesse reagir ou cumprimentá-lo, só ganhei um tapão na cabeça e ele passou na frente sem falar nada.

— E esse foi por quê? – Murmurei em russo.

— Não se conta todas as verdades no polígrafo, Ruiva. Deveria ter te alertado sobre isso antes. – Respondeu também em russo.

— Isso quer dizer que fui reprovada?

— Não, só que você é a candidata mais sincera que já pisou nesse prédio! E a mais nova também.

— Não ajudou muito.

— Em um mês você fica sabendo. – Disse e já foi gritando ordens para Nick e Timmy.

Quer dizer que meu próprio pai tinha assistido ao meu teste do polígrafo?! Que lindo!

Estava um tanto taciturna esperando elevador, quando escutei o sinal de que o elevador central tinha chegado no andar da Diretoria. Dei aquela olhada esperta e vi minha mãe, ela andava confiante nos seus saltos, deu uma olhada na direção de papai e depois os dois olharam para mim, sorrindo.

Ah, não! Minha mãe também assistiu ao teste?! Fala sério! Agora todo mundo sabe da cola na prova final de química do terceiro ano e que eu fui para um seminário de ressaca, só porque perdi uma porcaria de uma aposta no quarto ano de curso...  

Eu ia ser a piada do jantar em família pelos próximos vinte anos, ou até que Kelly desse uma furada tão grande que fosse impossível de não se comentar.

Como meu pai tinha adiantado, eu passei, até que bem, tendo em vista a minha sinceridade ímpar. Depois veio a checagem de antecedentes. Como pediram na ficha de inscrição os parentes próximos, e as pessoas mais próximas, taquei lá, Diretora do NCIS, Agente Supervisor Sênior da MCRT, dois Agentes de Campo Sêniores, uma ex Oficial do Mossad, um ex médico legista, um senador dos EUA, uma Comandante da Reserva da Marinha... e taquei todas as pessoas que eu conhecia para falarem bem de mim – menos Diane Fornell, aquela lá só me chamaria de Diabrete mesmo.

Creio que tenho bons antecedentes né? Se o nome Mossad não fizer ninguém querer queimar minha ficha, já será de grande coisa...   

Também passei por essa quarta fase, e hoje estou novamente no prédio do Estaleiro para o exame médico e teste de drogas. Não saberia dizer qual médico do NCIS me examinaria, porém, aqui estava eu, prontinha para ver o reconhecimento no rosto do médico assim que eu entrasse no consultório.

E lá foi meu número ser chamado – estava tão acostumada com ele, que se alguém me chamasse de Sophie ou Senhorita Shepard-Gibbs, era bem capaz que eu não atendesse. – E eu fui encaminhada para o consultório 08.

Bati na porta e uma voz conhecida me convidou a entrar. Abri a porta e o rosto sorridente da Dra. Loretta Wade me saudou.

— Bem, vejam só quem apareceu para mim. Já tinham me contado que você era uma das possíveis candidatas, mas não esperava que caísse em minhas mãos! E como tem sido até agora, Sophie? – Ela perguntou.

— Tenho passado, mas sempre tem alguém que me conhece ou deixa vazar os resultados. – Dei de ombros.

— Te garanto que assim que falar com Dwayne sobre você, ele vai querer saber o resultado.

— Loretta, depois que meus pais assistiram o meu teste do polígrafo, nem estou ligando mais.

Ela começou a rir.

— Ouvi por alto que você foi bem sincera...

— É, não me arrependo pelo emprego, mas se eu for pensar na família...

— Então vamos começar o seu exame, já que daqui a pouco vai ter alguém tentando hackear o meu computador atrás de seu resultado.

Veio aquela bateria de exames, fui picada, revirada do avesso, colocada de ponta cabeça. No fim do exame, estava até tonta de tanto sangue que tinham tirado de mim.

— Bem, Sophie, não vou segurar os seus resultados, até porque não segurei o de ninguém. Você passou, tanto no exame médico, quanto no antidrogas. Pode comemorar. E eu fico muito feliz em saber que o nível de cafeína em seu sistema é bem baixo, muito diferente do que eu já encontrei em alguns de seus parentes.

— Obrigada Loretta, nos vemos por aí. – Falei ao abraçá-la.

— Pelo que estou vendo, você será disputada à tapa pelas equipes.

— Acho que não é para tanto, mas obrigada.

— Você, verá, Sophie, escreva essas palavras. – Ela terminou como se isso fosse uma profecia.

Já era tarde quando coloquei meus pés no estacionamento do Estaleiro. Tinha parado o meu carro do lado de fora, nada mais de privilégios para mim, e me assustei quando vi aquele Dodge escandalosamente amarelo parado na vaga onde meu pai normalmente estaciona a caminhonete dele.

— Espero que eu não tenha a desagradável surpresa de saber que minha filha tem uma queda por substâncias proibidas. – Escutei a voz de meu pai, ele estava escorado no capô do Dodge.

— Então, fui reprovada. – Falei séria. – Doutora Wade descobriu o meu vício em chocolate e me deu um belo “X” vermelho na testa. Vou ter que procurar outra linha de emprego! Será que estão contratando na fábrica de chocolate?

Meu pai me deu uma olhada.

— Se chocolate for droga ilícita, nem quero saber como estão classificando o café agora.

— Bem, creio que a Loretta disse algo sobre os níveis de cafeína na família... – Dei de ombros e peguei a chave. – Precisando de carona, Agente Gibbs.

— Na verdade, esse carro só entrou aqui dentro porque eu disse que era meu.

— Pai, todo mundo sabe que esse carro é meu!

— Mas eu tenho a chave.

— Não, eu tenho, aqui! – Mostrei.

Meu pai estendeu um chaveiro e depois caminhou até a porta do motorista e a abriu.

— O senhor tem uma cópia da chave do meu carro? – Perguntei assim que ele abriu a janela.

— O que você acha? Depois de saber que você já apresentou um seminário de ressaca, o que mais poderia acontecer. Você perder as chaves... dar descarga nelas.

— Não acredito. Anda, pro banco do carona. Esse carro é meu! - Falei com ele.

— Não, Senhorita Sincera, eu dirijo, você é viciada em chocolate. – Apontou para o banco do carona.

Como uma criança birrenta, cruzei os braços e fiquei plantada do lado do carro. Meu pai nem se intimidou, só virou a chave e fez o motor roncar alto.

— Não vou falar de novo. – Me avisou.

— Nem eu! – Bati o pé.

Meu pai arrancou e saiu cantando pneus da vaga.

— HEI!! Hei! – Gritei e vergonhosamente tive que sair correndo atrás do meu próprio carro.

Ele parou depois da cancela e foi aquela cena linda, eu correndo, de salto alto, pelo estacionamento do NCIS.

Escutei as risadas dos Fuzileiros quando passei e assim que entrei no carro – não bati a porta, porque esse ainda era o meu carro. – Falei:

— Isso vai ter troco! Todos estão rindo.

— Se acostume, vão te tratar assim quando for uma novata, e isso só prova que você está usando os sapatos errados.

— Não comece a implicar com os meus saltos, papai. Você sabe muito bem que eu não vou abrir mão deles.

— Ah, Sophie, ou você abre mão deles, ou perde o pé.

Como sempre, eu tinha certeza de que ele estava exagerando.

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UM MÊS DEPOIS

Depois de passar pelos testes preliminares, fui convocada para uma reunião, onde ficaria frente à frente com três agentes sêniores do NCIS, que, depois de discutirem entre si, chegariam ao seguinte consenso.

Eu era uma boa candidata à vaga ou não?

Tentei não me matar de ansiedade e à medida que o dia da entrevista chegava, eu me via ainda mais nervosa.

Sem meu amado e fiel Marine, Jet foi viver uma vida de glória no céu há três anos, tudo o que me restou foi passear com o já velho, mas não menos teimoso e nada inteligente Nemo.

Confesso que o pobre cachorro só me fez passar vergonha e ainda bem que a família agora tinha um belo labrador preto para ser o cachorro oficial, pelo menos assim era menos um problema para o Senador Sanders.

E o meu grande dia chegou – não eu não estava me casando, nem tinha pretendente ainda... achar a alma gêmea não é assim tão fácil quanto Kelly e Henry, meus pais, Tiva, Jimmy e Breena, McAbby me fizeram acreditar! – era o dia da tão esperada reunião.

Novamente fui de carro para o Estaleiro, parei do lado de fora, me apresentei como aspirante a recruta e fui liberada para entrar, sempre acompanhada por um agente do NCIS.

Dessa vez a reunião seria na sala de conferências, a mesma sala onde eu vivia escondendo chocolates para que Tony comesse e vice-versa.

— Bons tempos. – Suspirei ao entrar no corredor que me levaria até lá.

Eu continuava sendo um número, assim, me escorei na parede e esperei.

Duas horas depois, me chamaram.

Bati na porta para anunciar a minha presença e, antes que eu pudesse dar boa tarde aos três agentes, alguém abafava a risada. Levantei minha cabeça e vi três rostos conhecidos.

Dwayne Pride.

Kensi Blye

E Stan Burley.

— Por favor, sente-se. – Pride me disse, indicando uma cadeira à frente do trio.

— Obrigada. – Murmurei.

E fui obrigada a ouvir.

— Creio que ela já leva uma vantagem porque sabe bater na porta e ainda não ameaçou a vida de ninguém. – Burley falou.

E eu entendi as duas indiretas. Meu pai jamais batia nas portas, ia entrando e, não era minha culpa se Stan ficava enchendo a ~pouca ~ paciência da minha mãe quando os dois estavam na mesma equipe e ela virava e mexia, ameaçava a vida dele.

— Bem, vamos focar na candidata que temos na nossa frente? – Kensi pediu.

— Claro. - Os dois homens responderam.

E os três começaram a discorrer sobre os resultados dos testes anteriores. Eles discutiram as minhas qualidades (minha fluência em vários idiomas, as minhas graduações, meu conhecimento sobre o NCIS e como tudo funcionava) e meus defeitos (sincera demais – maldito polígrafo! – nova demais – geralmente agentes do NCIS são contratados em idade mais avançada, ou pelo menos perto dos 30 anos. – e um fator que Jack tinha me dito e eu desdenhado, minha ascendência).

— Não é que você não tenha o perfil que o NCIS procura. – Pride começou. – Porém, você está disposta a virar um alvo?

Olhei para o Rei de Nova Orleans em dúvida.

— Sejamos sinceros, Sophie. Até hoje você tem um guarda-costas te protegendo, 24 horas por dia. Tem detalhamento de segurança em volta da casa de sua família. Se você seguir com o seu sonho, porque nós sabemos que você quer ser uma agente do NCIS desde criança, saiba que terá de abandonar essa segurança. Vai ser só você e a equipe para onde for alocada, ou só você, se te mandarem para o exterior, porém, e sempre tem um porém, seu sobrenome não muda. Shepard-Gibbs irá te acompanhar onde for e, enquanto sua mãe for a Diretora dessa agência, você será um alvo.

— Eu sei disso. E aceitei o risco quando me inscrevi para o processo de contratação.

— Sabe que não terá volta. Que você terá que se virar sozinha? – Kensi perguntou.

— Sei. Espero ter aprendido a me defender o suficientemente bem durante os últimos anos.

— E você está ciente da política de “não negociamos com terroristas” que nós temos, não está, Ruiva 2?

— Sim. Estou, Agente Burley.

— E sabe o que isso significa? – Pride continuou.

— Que independente do meu sobrenome, se eu, como agente do NCIS for capturada por qualquer grupo considerado terrorista por este país, não serei feita como moeda de troca para as suas exigências. Os EUA não me trocarão utilizando para isso qualquer documento da inteligência, prisioneiro de interesse ou até mesmo por outro agente. Eu estarei por minha conta e risco.

— E você aceita isso? Você, com 23 anos de idade, aceita todos estes riscos para se tornar agente do NCIS? – Kensi me perguntou.

— Sim, eu aceito.

Os três se encararam, deram outra risada, e olharam para mim.

— Como você sabe, o fato de te acharmos apta para ser uma agente do NCIS, não diz que você será contratada. Assim, a nossa recomendação é a de que você seja parte do quadro de Agentes Especiais e seja enviada para completar o treinamento na Georgia, porém, agora, é questão política e financeira. Enviaremos o relatório para a Diretora, que depois de uma reunião com os chefes das equipes, decidirá se você será ou não contratada e, se for, para onde irá. Muito boa sorte, Sophie Shepard-Gibbs, que nós possamos te chamar de colega de trabalho logo. – Pride terminou o discurso.

— Muito obrigada. – Agradeci de coração.

Essa etapa estava cumprida. Restava saber se o destino iria querer que eu realmente virasse uma agente.

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Vinte e um dias depois da minha reunião com os três agentes, recebi uma ligação de um número do governo.

— Senhorita Shepard-Gibbs?

— Sim, sou eu.

— Ótimo. Sou a Susan, do RH do NCIS. Gostaria de confirmar um horário para que você possa passar no Estaleiro Naval e assinar o seu contrato.

Olhei para o telefone, olhei em volta, tornei a olhar para o telefone.

— Senhorita Shepard-Gibbs, ainda está aí?

— Sim, sim. Claro. Estou aqui. Pode... pode marcar a data.

— Muito bem, amanhã, às 08:00 em ponto. Sem atrasos. E já venha com um bolsa arrumada, você será enviada para Glynco ainda amanhã.

— Vou... vou arrumar e estarei aí pontualmente.

— Assim espero. E, por favor, bata na porta. – Susan falou e desligou na minha cara.

— Eu vou bater... – Murmurei para o telefone mudo. E eu fiquei segurando o aparelho igual a uma completa idiota por um tempo que eu não saberia dizer quanto foi, mas quando meu cérebro finalmente voltou a funcionar depois do choque da notícia, eu saí gritando, pulando, dançando, cantando pela casa.

EU TINHA SIDO CONTRATADA PARA SER UMA AGENTE DO NCIS!

Apesar do peso do sobrenome, alguém tinha me escolhido para fazer parte da equipe.

Isso, se eu sobrevivesse ao treinamento de 60 dias na Geórgia.

Quando meus pais chegaram em casa – eu estava de hóspede por aqui até conseguir um emprego de verdade e alugar uma coisinha minha. – eu ainda estava pulando.

— Pelo amor de Deus, aqueles 5 ingleses voltaram a fazer show? – Meu pai perguntou.

— Não! Não! Isso é por outra coisa.

— Eu sei o que é. E não precisa ficar tão feliz. Se você sobreviver a Glynco, vai para Los Angeles.

— Jethro! Isso é informação confidencial! – Minha mãe chiou do alto da escada.

Hetty me escolheu?

— Sim. – Papai ainda não tinha melhorado a cara. – Disse que é uma oportunidade única ter alguém com o seu talento nato na equipe de Operações Especiais. Porém, eu ainda acho que você tem mais o perfil da MCRT!

— Jethro, não era a sua escolha. Se conforme. Era a vez da Hetty escolher o candidato ou candidata primeiro.

— E ela tinha que escolher a minha filha?! E jogar a Regra #05 na minha cara?

Mamãe ignorou os protestos de papai e veio me dar um abraço.

— Apesar de sua sinceridade ímpar, Sophie, estou muito feliz que tenha conseguido chegar até aqui. Sei que você tem uma pequena vantagem com relação aos demais, por já saber o que vem pela frente, mas não fique esperançosa de que vão pegar leve com você, não vão. Então, foco no que você quer e se faça de surda para os comentários.

— Sim, mamãe.

E o meu último jantar em casa foi um evento estranho. Tinha um gosto de alegria misturado com saudade. Acabei minha noite sentada no porão, vendo meu pai trabalhar, ele calado, medindo e cortando a madeira para seu mais novo projeto e eu muda, sentada no corrimão da escada, com as pernas viradas para dentro do cômodo, praticamente dependurada.

— Continua sem medo de altura, hein? – Papai soltou depois de quase uma hora.

— Pois é.

— Vê se não me cai de nenhum lugar.

— Vou tentar.

— Você vai conseguir, Sophie.

E o papo era sério, eu era "Sophie" e não "Ruiva".

— Tudo bem. Eu vou.

Papai parou o que estava fazendo e me encarou. Uma encarada que me fez me sentir com 6 anos de idade e não 23.

— Desça aqui. – Ele ordenou.

De onde estava, pulei até que aterrissei perto do barco dele.

— Por que não descer pela escada como sua irmã faz?

— Porque eu não sou a Kelly. Sou a mistura dos mais temidos, respeitados e, também odiados DNA’s do NCIS, não espere que eu faça algo que todos façam.

— Mas vai fazer.

Levantei uma sobrancelha para meu pai e ele logo veio até mim e a abaixou com a ponta do dedo indicador.

— Você vai ficar viva. Vai fazer o seu melhor para passar no treinamento, ser a agente do NCIS que você sempre quis ser, e vai fazer algo que todos os agentes fazem: Ser cautelosa, proteger não só a sua a vida, mas também a do seu parceiro. Vai ouvir o que seu chefe irá dizer, mas também não poderá ter medo de contradizê-lo quando for hora. Você, Ruiva, vai fazer aquilo que te treinamos desde criança para fazer. Vai ser a Agente Especial do NCIS Sophie Shepard-Gibbs. Claro, que nesse meio tempo, vai ter que aprender a mentir e a enganar o poligrafo, mas ninguém nasce sabendo tudo.

— Pai! – Reclamei.

— É para isso que existe o treinamento, Ruiva. E é para isso que eu tenho quase 30 anos de NCIS. Para te ensinar o que você precisar.

— Obrigada. E usando da minha sinceridade, posso confessar uma coisa?

— Você copiou seu trabalho de conclusão de curso de quem?

— Não é isso. Eu escrevi aquele calhamaço! - Retruquei injuriada.

— Então o que é, filha?

— Eu estou com medo. Com tanto medo como eu estava quando fui para a faculdade.

— Medo é normal, Ruiva. Só não deixe que ele seja mais forte que você.

— Vou tentar me lembrar disso na minha primeira noite no dormitório. Dessa vez eu não vou poder ligar para vocês, né?

— Não, não vai. Mas eu vou saber como você vai estar.

E eu não duvidava nem um pouco.

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 Às 7:30 da manhã eu estava na porta de Susan, ela pediu sem atrasos e eu acabei chegando antes dela, quem ficou comigo por ali, ou melhor ficou zanzando pelo corredor, foi o Meu Italiano de Araque Preferido.

— Ela está atrasada! – Ele reclamou.

— Tony, ela marcou às 08:00, são 07:36. Tenha calma.

— Mas você ainda tem que ir para a Geórgia!

— Eu sei. Mas creio que não tenho que me apresentar o FLET-C ao meio-dia! Ela vai me falar tudo.

— Não sei, essa bruxa mal-humorada pode acabar com as suas chances de ser uma agente da MCRT!

Mordi a língua, eu não podia dizer que sabia para onde iria, era informação privilegiada.

Às 07:50, Susan chegou. Esbarrou em Tony, lançando uma cara feia para ele e depois me encarou.

— Já começa na Agência com as companhias erradas. – Ela murmurou. – Me acompanhe.

Fiz o que ela pediu e tive que fechar a porta, antes de fechá-la completamente, vi Tony falando:

— Tomara que ela não te mate e tome seu sangue!

Revirei meus olhos diante do comentário fora de hora e me voltei para Susan, já que ela já coçava a garganta para chamar a minha atenção.

— Aqui estão os documentos que você deve assinar. Leia-os com atenção, rubrique todas as páginas e assine a última por extenso.

— Sim, senhora.

— E não me chame de senhora!

Li os documentos, assinei e quando ela me passou minha credencial temporária. Tinha meu nome, minha foto e alguns dados básicos e a inscrição: Agente em Treinamento.

— Muito obrigada. - Eu agradeci.

— Quando você for reprovada, não se esqueça de passar aqui e devolver tudo. Te esperam em Glynco às 17:00 horas de hoje, atrasos não são tolerados e se isso acontecer, será considerado abandono do cargo.

— Reprovada? – Perguntei espantada.

— Com as companhias com as quais anda, você não vai sobreviver.

— Tony não é apenas uma companhia. Ele é parte da minha família. Meu irmão mais velho. Entenda isso. Tenha um bom dia! – Falei e sai da sala.

— E então?? – Abby pulava do outro lado do corredor.

— Bem, sou uma agente em treinamento. – Mostrei minha recém adquirida credencial!

— AH!!!! – A Gótica Mais Feliz do Mundo deu uma corrida e me deu abraço. Junto com ela vieram Tony, Ziva, Tim, Jimmy e Ellie. Torres ficou de fora.

— Seja muito bem-vinda, Agente em Treinamento Shepard-Gibbs. O tempo passou muito rápido, mas estou feliz que eu ainda esteja por perto para poder ver esse momento. – Ducky disse.

— Muito obrigada, Tio Ducky! Suas boas-vindas são as mais importantes.

— E então, que horas você tem que estar na Geórgia?

— Tenho que me apresentar às 1700, Tony.

— Nosso isso soou tão... – Ellie brincou.

— Como alguém que trabalha na Marinha! – Eu ri.

Tony voltou ao assunto.

— Já comprou a passagem?

— Ainda não, mas já está tudo arrumado, por quê?

— Creio que temos tempo para um super almoço em família! Quem vai ligar para Kelly?

E o almoço em família se estendeu até o portão de embarque do aeroporto. Todos se despediram de mim ali, alguns falando que me veriam logo - Ziva. – outros que era para mandar notícias logo – McAbby e Jimmy, já outros:

— Tomara que você não quebre a perna usando esses saltos! – Tony brincou e levou um tapa duplo na cabeça. - Já calei.

Kelly só me deu um abraço e falou:

— Agora sou eu quem tem que te ver partir. Como o mundo dá voltas! Quer que eu mande cartas?

— Não, Kells. Existe chamada de vídeo agora. Vamos entrar no Século XXI, pelo amor de Deus!

Deixei meus pais por último e juro, não queria largá-los.

A última chamada do voo soou nos alto-falantes do aeroporto. Era a minha deixa. Dei um beijo na bochecha de meu pai e de minha mãe e corri para o portão.

Quatro horas depois, estava chegando na portaria do FLET-C. E eu me senti muito importante quando apresentei minha credencial.

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Foram os sessenta dias mais cansativos, aterrorizantes, difíceis e imprevisíveis da minha vida.

Eu fiz de tudo, de aprender a analisar uma cena de crime a técnicas de interrogatório. De aulas de defesa pessoal a tiro ao alvo. De corrida de 2,5 km a natação. Ou seja, foram dias longos. Eu tinha hora para estar de pé, mas não tinha hora para me deitar, afinal, ninguém nunca sabia quem seria escolhido para a tocaia.

Como Kensi havia destacado, eu era a pessoa mais jovem da turma. O que, claro, causou certa estranheza. Primeiro me perguntaram se eu tinha errado o caminho do shopping e parado ali, depois ouvi alguém brincando que eu estava procurando a minha boneca e, por fim, quando descobriram a minha linhagem, começaram a falar na minha cabeça que eu só estava ali por conta de meu sobrenome.

Fiz o que minha mãe me pediu para fazer. Ignorei os comentários e dei o meu melhor.

Seguindo os passos de meu pai, de minha irmã e de minha mãe, eu fui a melhor atiradora da turma, com qualquer arma, de longo ou curto alcance, de calibre pequeno à grande calibre.

Na defesa pessoal também foi difícil alguém que me vencesse, treinamento Mossad ativado com sucesso.

Tive um pequeno problema com a sala de autópsia, mas consegui passar pela provação sem vomitar no sapato de ninguém.

Aulas de tocaia e perseguição de pessoa de interesse foi fácil – apesar de que eu dei umas duas cochiladas na segunda noite da tocaia.

Por fim, o treinamento físico. Eu precisava de 25% de aproveitamento para passar, já tinha ido muito bem no restante, era só não estragar tudo aqui.

Me preparei para a corrida – com botas de combate, vejam só. – E eu não sei como estou de pé agora.

Meus pobres pezinhos estão em estado de miséria. Não tem um lugar onde não tenha uma bolha – seja inteira ou estourada. – e eu não sei o que passo para aliviar a dor!

Era o 59º dia, só faltava mais um e eu, talvez, conseguisse a aprovação.

Meu último dia se baseou em mais treinamento físico, mais aulas de táticas de invasão de prédios e áreas perigos, mais do mesmo.

Quando chegou às 1700, eu estava morta de dor, podia sentir meus pés sangrando dentro das botas, contudo estava realizada, eu conseguira. Eu era uma Agente em Estágio Probatório do NCIS.

FINALMENTE!

Nossa instrutora, Alexandra Quinn veio caminhando na nossa direção. E, um por um, ela foi falando o resultado. A quem ela entregava o distintivo, estava aprovado e deveria se apresentar no escritório em três dias. E quem não recebia...

Como de praxe, fiquei por último, junto comigo mais um cara, ele é de Seatle e é a terceira vez que ele tenta completar o treinamento específico.

Na mão da Agente Quinn um único distintivo.

Meu estômago gelou.

Será que eu não fora tão bem assim?

Quinn parou na nossa frente, olhou para os dois e disse:

— Robert Hale, não foi dessa vez.

Hale se levantou sem falar nada.

Já eu, eu estava de queixo caído.

— Sophie Shepard-Gibbs, oficialmente, seja bem-vinda ao NCIS, sua designação. Boa sorte. – Me estendeu o distintivo, a identificação e um envelope.

Olhei com cuidado para a identificação, ainda sem acreditar no que eu estava vendo, depois passei a mão sobre o distintivo, acompanhando a águia que tem ali.

Tive vontade de pular, de gritar, de sair dançando pela área de treinamento. Mas não fiz.

— Muito obrigada, Agente Quinn.

 - A gente vai se esbarrar por aí ainda, Shepard-Gibbs. Tenho certeza. - Ela falou e saiu andando.

Ainda fiquei um tempo olhando para a minha conquista. A minha conquista e de minha família, afinal, se não fossem os treinamentos que eles me deram durante todos esses anos, eu não teria sido aprovada no FLET-C.

Tirei uma foto da credencial e do distintivo, lado-a-lado em meu colo e mandei assim:

Eu consegui! Nós conseguimos! Muito obrigada a todos vocês que nunca desistiram de mim e me ensinaram tudo o que eu precisava, eu amo vocês!!

Recebi inúmeras respostas, de gifs a memes, a palavras de incentivo.

Vai se apresentar aqui quando, Peste Ruiva?

Em DC?—  Perguntei.

Mas é claro.

Não sei. Minha designação não para a MCRT.

E para onde é?

Ah, Tony. Eu vou ser uma garota da Califórnia agora. Hetty me quer nas Operações Especiais!

E como o Chefe permitiu isso? Não, isso tá errado, você pertence a essa equipe. Você faz parte dessa família.

Nunca deixarei de ser parte dessa família, Meu Italiano de Araque, mas da equipe... eu não sou parte.

Quando você desembarcar a gente conversa! ­— Tony encerrou o assunto.

Voltei para o dormitório e guardei minhas coisas. Tinha um voo para pegar, para poder arrumar tudo e despachar para LA.

Quando estava no portão de embarque, meu celular apitou. Não era uma mensagem no grupo da família.

Era uma mensagem comum. Um SMS, algo que quase ninguém usa hoje em dia.

Mas eu conhecia alguém que usava.

Meu pai.

Estou orgulhoso de você, Ruiva.

Li e reli a mensagem. Meu pai tinha me mandado uma mensagem quando ele não tinha nem recebido a foto? Ele deveria estar realmente orgulhoso.

Antes do avião decolar e mandarem colocar os aparelhos no modo avião, respondi:

Obrigada, papai. Devo muito ao senhor e à mamãe. Se eu consegui, é porque vocês me ensinaram.

Quando desembarquei no aeroporto, achei até estranho, não tinha ninguém. Liguei o celular para pedir um UBER, quando vi a mensagem de minha mãe.

Seu foguete está estacionado no terceiro piso, última vaga. Venha direto.

Achei meu carro no enorme terceiro piso e acelerei para casa, estava com saudade de dirigir o meu próprio carro, ter uma certa liberdade para escolher a altura das músicas.

Assim que parei na garagem, pude notar que algo não estava completamente normal em casa.

Ouvi sussurros não tão baixos já da porta da garagem e quando coloquei os pés na cozinha...

Acenderam a luz e uma faixa com os dizeres: “Seja bem-vinda ao NCIS, NOVATA!” Estava pregada na parede da sala.

É, eu era a Novata do NCIS... e eles não me deixariam esquecer disso jamais!


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Notas finais do capítulo

Uma notinha: todo esse procedimento para entrar no NCIS é de verdade, cada um deles. Está tudo descrito no site da Agência.
No mais, muito obrigada a você que leu!
Nos vemos quando a inspiração chamar!
xoxo



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