Queen of Titans escrita por Lady L


Capítulo 3
II- Pity Party


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como prometido, voltei dentro de quinze dias! Mas não se acostumem muito, vou me esforçar mas não garanto o próximo tão rápido kkkk! Boa leitura :)



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19 de Junho de 2171; Companhia Platina, Alcântara

Titania->

  

—O que nós vamos dizer a eles?- eu perguntei, assentada em minha cama, abraçando os joelhos e mordiscando meu polegar.

Lysander andava de um lado para o outro no quarto, pensativo, enrolando os dedos no cabelo nervosamente.

—O que o Diretor mandou dizer- ele respondeu, sem parar de perambular- Não acho que Mab ou Oberon irão desconfiar.

“Concursos de beleza”- foi o que o Diretor havia dito- “Isso será o que vocês dirão a todos que perguntarem. Deverá justificar porque vocês não aparecerão na mídia ou nos tabloides de fofoca por um tempo, assim como os sumiços prolongados.”

—Eu também acho que não- eu respondi, o encarando com algum pesar- Mas eu nunca menti para eles antes.

Lysander sustentou meu olhar, mas não respondeu nada por alguns segundos.

—Acho que estamos mesmo virando adultos, afinal- ele disse, e voltou a andar de um lado para o outro.

Minha cabeça estava cheia de pensamentos caóticos, e eu mal conseguia respirar. Tudo parecia fazer sentindo de repente, e de uma maneira terrível. Alta demais para ser uma acompanhante, voluptuosa demais para ser uma modelo. Orgulhosa demais, submissa de menos, não uma sílfide fotogênica ou uma sedutora risonha, mas ainda assim feita para ser apelativa, de um jeito ou de outro. Será que toda a minha personalidade havia sido condicionada, será que eu era apenas uma obra de engenharia? Eu não deixava de ser um joguete, de qualquer maneira, eu não tinha como escapar disso.

—Todas aquelas aulas de línguas, de defesa pessoal, de etiqueta- eu falei, e meu irmão virou a cabeça para me olhar- Deus, como não percebemos antes? Estamos sendo preparados para isso desde que nascemos.

Lysander se aproximou de mim e se ajoelhou na minha frente. Àquela distância, eu podia ver claramente a delicadeza nos seus traços que jamais permitiria que ele fosse um modelo. Como não havíamos visto antes? Como não havíamos percebido que não pertencíamos a categoria alguma, ou melhor, que pertencíamos a uma categoria única?

—Nós não tínhamos como saber, Titania- ele disse, colocando a mão em meu ombro- Fomos criados em meio a modelos e acompanhantes, é óbvio que acharíamos que éramos como eles. Os engenheiros fizeram isso de propósito, eles não queriam que ninguém descobrisse, e nos éramos só crianças, como seríamos mais espertos que eles?

Eu sabia o que ele estava falando tinha sentido, mas eu não conseguia deixar de me sentir completamente estúpida. “Nós os fizemos inteligentes o suficientes para perceberem isso”, o Diretor havia dito sobre sabermos que éramos diferentes de alguma forma, mas aparentemente não éramos inteligentes o suficiente para descobrir a verdade.

—Eu sei, Lys, mas mesmo assim eu me sinto idiota por não ter sequer suspeitado que havia uma categoria secreta ou algo do tipo antes- eu disse- E agora que eu sei que existe, ainda não consigo saber como eu posso ser útil para essas pessoas. Quer dizer, eu não sou uma pessoa particularmente agradável, por que eles me escolheriam para espionar os outros?

Lysander soltou uma risada, e se assentou ao meu lado na cama.

—Prospero Tempest discordaria de você- ele disse, com um sorrisinho malicioso.

Eu senti meu rosto corar.

—Discordaria sobre o que?- eu perguntei, me fingindo de boba.

—Sobre você não ser agradável, obviamente- ele respondeu, se inclinando um pouco na minha direção- Veja bem, Ania, homens nem sempre se apaixonam pela garota descomplicada e sorridente. Alguns gostam de desafios. E acho que esse é um atributo seu que eles podem usar.

Eu fiz uma careta.

—Não sou um “desafio”, só acho que Prospero é um babaca- eu respondi.

—Um babaca completamente apaixonado por você- ele disse, esbarrando com seu ombro no meu para me provocar.

Nós caímos na risada juntos, e por um momento, eu esqueci da espionagem, dos segredos, do contrato, de tudo. Só havia eu e meu irmão, e eu precisava estar lá para protegê-lo, eu precisava ser corajosa.

—Eu sinto muito por ter discutido tanto com você nessa última semana- eu disse, quando paramos de rir- Minhas intenções eram boas, mas eu não tinha o direito de julgar a sua escolha.

—Está tudo bem, eu também não tinha o direito de julgar a sua- ele respondeu- E, afinal, nós acabamos ainda mais ferrados do que você achou que estaríamos.

Eu acabei rindo por mais que não devesse, e ele me acompanhou.

—Mab e Oberon já devem estar voltando da finalização do contrato- Lysander disse depois de alguns segundos- Talvez devêssemos esperá-los na sala comunal.

—Sim, também acho- eu respondi- Vamos lá.

Não se passou muito tempo até que nossos irmãos voltassem, sorridentes e exultantes.

—Vocês voltaram rápido!- Mab observou, conforme ia se aproximando- Tudo correu bem?

“Não muito”- eu pensei- “Mas ainda vai piorar”

—Sim, mas nossos contratos só serão finalizados amanhã- eu expliquei- Por isso chegamos mais cedo que vocês.

—Faz sentido- Oberon disse, se assentando ao meu lado do sofá- Então, vocês vão com a gente para os Estados Unidos?

Eu me senti mal vendo a expressão esperançosa de Oberon, tão desejoso por manter a família unida. Eu também queria que todos pudéssemos ficar juntos, ele sempre fora meu irmão preferido e eu sentiria sua falta terrivelmente, mas a vida era cruel.

—Infelizmente não- Lysander disse- Mas temos excelentes notícias: eu e Titania fomos selecionados para um concurso de beleza! Se tudo der certo, podemos até chegar a sermos Miss ou Mister nos próximos anos!

A mentira fluiu para fora dos lábios de Lysander com uma facilidade invejável, soando tão natural como se fosse a verdade mais pura. Ele sempre fora um excelente mentiroso, e agora isso fazia mais sentido ainda.

—Oh, isso é ótimo!- Mab disse, abrindo um grande sorriso e nos puxando para seus braços- Estou tão orgulhosa de vocês!

A mentira não havia sido contada por mim, mas eu iria acobertá-la, então eu me senti terrivelmente culpada, ainda mais quando meus irmãos pareciam tão felizes por nós. “Acho que estamos mesmo virando adultos, afinal”, Lysander havia dito mais cedo. Era isso o que ser um adulto significava, então? Esconder as coisas das pessoas que mais te amam, mentir para elas? Pouco me admira que as crianças sintam dor quando seus ossos estão se esticando: crescer é um processo terrível e lancinante.

Como era de costume, uma pequena festa havia sido planejada no período da tarde, afinal, por mais insignificante que isso parecesse diante das inúmeras coisas que eu havia descoberto naquele dia, ainda era dezenove de junho: nosso aniversário.

A festa foi um borrão de rostos conhecidos, pessoas com as quais eu mantinha relações cordiais, mas não sentiria realmente falta; e latinhas de cerveja contrabandeadas, que eu bebia por falta de opção, já que não era grande fã do sabor. Rosalind e Celia Arden; Portia Venice; Beatrice, Benedick e Hero Messina; Katherine Minola; Viola e Sebastian Illyria; Miranda e Prospero Tempest; toda a turma de 2153 estava lá, mesmo os que já haviam assinado seus contratos, como era costume.

Eu estava conversando com Portia e Hero quando senti uma presença atrás de mim. Antes mesmo de me virar, eu já sabia quem era, e me preparei mentalmente para mais uma conversa constrangedora e indesejada.

—Titania- Prospero disse, com seu sorriso branco e galanteador de sempre- Parabéns pelo contrato, me disseram que já vai entrar para um concurso. Eu sempre soube que você seria a mais bem sucedida de nós.

Portia e Hero se entreolharam, e, em um consenso silencioso, se afastaram. Eu já estava tonta demais para entender se era por desinteresse ou por respeito à nossa privacidade, embora, conhecendo as duas, eu apostasse na última.

—Obrigada, Prospero- eu me forcei a sorrir- Mas tenho certeza que todos nós teremos muito sucesso.

—Talvez, talvez. Mas você sempre foi especial. Deslumbrante. Mesmo agora, eu mal consigo tirar meus olhos de você- ele disse, se aproximando, e eu senti um cheiro pungente de álcool em seu hálito.

Prospero era bonito, provavelmente o homem mais bonito do nosso ano, com a exceção de Lysander. Cabelos escuros arrumados em um corte curto, pele morena impecável, que brilhava mesmo sob as luzes fracas da sala comunal, e olhos estreitos e intensos, escuros como os de um predador. Ele e a irmã Miranda tinham aquela mesma beleza sensual, com traços marcantes e dramáticos, lábios carnudos e mandíbulas afiadas, corpos esculturais e sorrisos brancos. Como a esmagadora maioria parte dos acompanhantes, ele havia sido projetado para fazer o cliente se sentir grande e poderoso, então não era muito alto, sendo na verdade alguns poucos centímetros mais baixo do que eu, mas isso não afetava em nada seu apelo. O problema é que não importava o quanto ele fosse bonito, eu não conseguia me sentir minimamente atraída por ele.

—Bem, você deveria transmitir esse elogio aos engenheiros que me projetaram, então- eu disse, me afastando dele ostensivamente- Não acho que eu tenha muito mérito sobre a minha aparência.

Ele soltou uma risada ébria.

—É, eu suponho que não- ele disse- Mas você não vai sumir, vai, Titania? Nós ainda vamos poder nos ver, não vamos?

O olhar dele estava nublado e impreciso, mas ainda assim muito mais insinuante do que eu gostaria.

—Não, Prospero, não acho que iremos nos ver por um bom tempo- eu respondi, sem muita preocupação em estar sendo educada ou não, já cansada de ter que aturá-lo- Mas, para ser sincera, se dependesse de mim, já não nos veríamos há um bom tempo.

A expressão em seu rosto era de confusão, mas também de raiva, como eu sabia que seria. Ele era o tipo de garoto que não conseguia ouvir um não com graciosidade.

—Você pode até mentir para si mesma, mas não pode mentir para mim- ele disse, tentando agarrar meu braço- Eu sei que você só está se fazendo de difícil, é impossível que você não queira também.

Eu puxei meu braço com força, e me afastei mais, defensiva.

—Eu estou te avisando, Prospero, se você tocar em mim mais uma vez, eu vou...- eu comecei, mas antes que eu pudesse concluir, Oberon surgiu, se colocando entre nós dois.

—Titania- ele disse, sorrindo, fingindo estar alheio à tensão presente anteriormente à sua chegada- Mab está te chamando, acho que ela precisa de você.

Eu assenti, aliviada por sua intervenção, mas um pouco frustrada também. Eu estava prestes a dizer àquele garoto petulante exatamente o que eu pensava, e ter isso tirado de mim depois de tanto tempo me segurando deixou um gosto amargo em minha boca.

—Tudo bem, eu estou indo- eu digo, me forçando a sorrir também- Passar bem, Prospero.

Prospero não me incomodou pelo resto da festa, embora eu tenha pegado a sua irmã, Miranda, me olhando feio algumas vezes. Decidi não me importar. Aquela era minha noite, minha festa, e o último respiro de normalidade que eu teria antes da minha vida mudar totalmente, e ninguém tiraria isso de mim.

Talvez eu devesse explicar de onde surgiu a minha repulsa por Prospero, mas acho que depois desse excerto de interação, ela se tornou bastante autoexplicativa. Sempre desgostei dele, daquele jeito arrogante e pretensioso, daquela confiança absoluta que sua beleza e sua lábia lhe conseguiriam qualquer coisa e qualquer pessoa que ele desejasse. Por muito tempo, isso realmente foi verdade, e ele ostentou uma coleção interminável de namoradas, que prontamente eram traídas e substituídas sucessivamente, até que ele colocou na cabeça que eu deveria ser a próxima. Isso nunca aconteceu, e o ego dele não poderia lidar com isso, então há pouco mais de dois anos, ele vinha me importunando. No início, eu me esforçava para ser cordial, para não ferir seus sentimentos, mas ele confundiu minha educação com fraqueza, então conforme ele ficava mais incisivo em seus avanços, eu ficava mais assertiva em minha recusa.

A única outra coisa da qual me recordo claramente sobre aquele dia, e que realmente ficou marcada a ferro em minha memória, foi o entardecer. Já era o final da tarde, e as pessoas começaram a ir embora e a se dispersar, então eu, Mab, Lysander e Oberon decidimos escapar da bagunça que havia sido deixada da sala comunal. Nós fomos até o telhado da nossa ala do prédio, onde costumávamos ir com frequência quando éramos mais novos. Levemente embebedados e rindo à toa, nós subimos pelas escadas, tropeçando nos nossos próprios pés e nos apoiando uns nos outros. Quando finalmente chegamos ao topo, assistimos ao sol se pôr deitados no chão e embolados em uma grande pilha de braços e pernas, falando sobre as coisas das quais sentiríamos falta, mas também sobre as coisas que esperávamos fazer no mundo lá fora.

É uma das melhores memórias que eu tenho, e a que me dá mais forças ultimamente. Apenas eu minha família em um momento genuíno de felicidade, sem nenhuma preocupação, sem nenhum perigo à espreita. Mal sabia eu que aquele seria o último em muito, muito, tempo.

A manhã seguinte chegou cedo para mim e Lysander, que deveríamos comparecer à sala do Diretor novamente para receber os detalhes de nossa missão. Quando eu acordei, com a cabeça latejando e as articulações rígidas, Mab ainda estava dormindo na cama ao lado, o que era uma raridade, então me arrumei o mais silenciosamente possível e a deixei no quarto.

Lysander já estava me esperando na sala comunal, e fomos juntos até o elevador.

—Ressaca?- ele perguntou, ao me ver massageando a têmpora.

—Um pouco- eu respondi, com uma careta- E você?

—Também, mas não muita- ele disse- Pelo menos você está apresentável, eu me sinto um caco.

Não era verdade, ele parecia tão perfeito como sempre.

—Você está com a aparência boa, normal- eu comentei, enquanto elevador subia- Só não sei se estamos com cabeça para lidar com toda essa loucura de espionagem agora.

Ele riu, uma insinuação de amargor em sua voz.

—Bem, eu acho que nunca estaremos realmente prontos, então agora é um momento tão bom quanto qualquer outro- ele disse, e as portas do elevador se abriram.

Assim como no dia anterior, fomos guiados até a sala do Diretor, e o encontramos junto com o tal do Senhor Philips.

—Bom dia, senhores- o Diretor cumprimentou- Façam o favor de se assentarem, há muito a ser discutido.

O Senhor Philips puxou uma pasta cheia de papéis quando nos assentamos. Papéis em geral não eram uma vista comum, a maioria dos documentos era digitalizado, mas eu supus que documentos impressos não poderiam ser rastreados, o que em certos aspectos os faziam mais secretos que arquivos computadorizados.

—Já ouviram falar em Gregory Bishop?- o Senhor Philips perguntou, começando a ajeitar os papéis sobre a mesa.

—Claro que sim- eu respondi- É o Primeiro Ministro do Reino Unido.

O Senhor Philips assentiu, ainda concentrado em sua tarefa.

—Sim, exatamente. E vocês tem alguma noção de há quanto tempo ele está no poder?- ele replicou.

Lysander e eu nos entreolhamos antes de meu irmão responder:

—Bem, desde que eu me entendo por gente, ele é o Primeiro Ministro. Então uns quinze, vinte anos.

O Senhor Philips terminou de ajeitar os papéis, e cruzou as mãos sobre a mesa, nos encarando.

—Já fazem dezessete anos que ele está no poder. E com uma impopularidade crescente nos últimos tempos, sobretudo dentre a nobreza- o homem disse, com um tom grave- E é por isso que eles estão planejando um golpe de Estado. A nobreza quer depor o Premiê Bishop e assumir o poder todo para si.

—Bem, isso decerto não é correto da parte deles, mas também não é um golpe de Estado. O cargo de Primeiro Ministro não é estabelecido ou defendido pela Constituição- eu me peguei dizendo antes que pudesse me conter, me lembrando sobre as inúmeras aulas sobre política que tivera na minha adolescência.

Advogada do diabo, eu sei, mas eu queria apenas tirar o Senhor Philips um pouco do sério depois da raiva que ele havia me feito no dia anterior.

Ele esboçou uma expressão ligeiramente irritada antes de dizer:

—Derrubar o Primeiro Ministro pode não ser um golpe de Estado em si, mas suprimir o Parlamento, sobretudo a Câmara dos Comuns, da qual ele é o chefe, é. E isso é certamente o que eles planejam fazer em seguida.

—Se você tivesse tanta certeza disso, não precisaria da nossa ajuda, não é mesmo?- eu imediatamente repliquei, arqueando uma sobrancelha.

O Senhor Philips apertou os lábios em uma linha fina, nitidamente exasperado, mas o Diretor soltou uma sonora gargalhada.

—Você pediu a garota mais esperta que tínhamos, Senhor Philips, então você já deveria estar esperando algum questionamento, não acha?- o Diretor disse, ainda com um sorrisinho no rosto.

—Bem, eu disse que uma jovem inteligente teria mais chances de obter sucesso, mas não sabia que esses rostinhos bonitos que você produz poderiam ter línguas tão afiadas- o Senhor Philips disse, me olhando com algum desgosto.

—O senhor tinha razão sobre uma coisa que disse ontem- eu provoquei, ajeitando a postura na cadeira- Nós, as loiras,  realmente nos divertimos mais.

Lysander pareceu mortificado por alguns segundos, e o Diretor novamente esboçou um sorrisinho. O Senhor Philips, contudo, não pareceu mais irritado do que estava antes. Na verdade, ele me encarou com uma expressão até mesmo intrigada.

—Você fez mesmo uma boa escolha, Diretor, ela é realmente perfeita. Ele vai adorá-la- o homem disse, voltando a mexer nos papéis sobre a mesa, fingindo desinteresse.

—Ele?- eu me peguei perguntando. Talvez eu estivesse mordendo uma isca, mas não me importei, eu queria saber logo exatamente no que eu estava me metendo.

O Senhor Philips ergueu a cabeça e sorriu discretamente, satisfeito por me ver menos insubmissa.

—O seu alvo, Senhorita Midsummer- ele respondeu, puxando uma foto de entre os papéis- Thomas Spencer, o Duque de York.

A foto mostrava um rapaz que estava na casa dos vinte anos, e que sorria para a câmera, segurando um troféu de equitação, o capacete de jóquei debaixo do braço. Seus cabelos negros iam até a altura do queixo, e estavam bastante desgrenhados, supostamente devido à competição na qual havia conquistado o troféu, e seus olhos eram intensamente azuis. Era um contraste bonito esse entre os cabelos escuros e os olhos claros, o que lhe dava certa distinção, mas ele possuía muito mais charme do que beleza propriamente dita. O jovem Duque certamente não era feio, mas seu rosto era um tanto anguloso, e ele tinha uma postura um pouco ruim, destacada pelo fato de ele ser bem esguio. Em geral, sua aparência não chegava nem aos pés da perfeição das pessoas com quem eu havia crescido, mas, ainda assim, havia algo de interessante sobre ele, um certo método em todas as aquelas imperfeições.

—O Duque é um membro conhecido dos conspiradores, mas é também um alvo suscetível. O elo fraco da corrente, assim digamos. Temos razões para crer que ele poderia ser impelido a vazar informações sobre o golpe... para a pessoa certa- ele disse, me lançando um olhar significativo- Obviamente, há outras maneiras de obter informações, como se aproximando de outras pessoas, e até mesmo por meio de boatos, e por isso é importante que vocês dois estejam atentos a todas as oportunidades. Uma lista com alguns perfis interessantes que estarão presentes na Corte durante as próximas semanas, que contarão com a celebração do aniversário do Príncipe Herdeiro, também será disponibilizada para vocês. Mas eu creio que a Senhorita Midsummer seja exatamente o tipo de moça capaz de encantar o Duque, e que vocês obterão sucesso em conseguir impedir esse conluio terrível.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando entender exatamente o que aquelas pessoas esperavam de nós.

—Então você quer que nos infiltremos na Corte inglesa?- eu perguntei, e o Senhor Philips assentiu.

—É claro que para isso nós lhes daremos identidades novas- ele disse, remexendo mais uma vez por entre os papéis- Como está o alemão de vocês?

Duas carteiras de identidade e alguns documentos adicionais, como passaportes e habilitações de motorista, com nossas fotos foram colocados à nossa frente. Lorde Lorenz e Lady Verena Von Scholz, dezenove anos de idade, originais de Vienna, Áustria, filhos de um barão.

Sehr gut— respondeu Lysander, com um sorrisinho.

—É claro que vocês não vão precisar falar alemão na Corte, mas caso encontrem alguém que fale, é bom para manter o disfarce- o Senhor Philips explicou- De qualquer maneira, o voo de vocês é ainda hoje, no final da tarde. Vocês terão o dia para se prepararem, embora não precisem levar muita coisa, nós forneceremos roupas adequadas e outros itens necessários.

—Espere- eu digo, minha ficha finalmente caindo- Você quer dizer que vamos sair hoje? Vamos ficar fora por quanto tempo?

O Senhor Philips deu de ombros.

—Não temos como saber. Quanto mais cedo vocês nos repassarem as informações que precisamos, mais cedo poderão ir embora.

—E que informações seriam essas?- eu perguntei.

O Senhor Philips fez uma pausa, e novamente cruzou as mãos sobre a mesa.

—Veja bem, nós não sabemos ao certo a extensão dessa conspiração. Pode ser apenas uma célula de nobres radicais. Mas nosso medo é que esse golpe envolva pessoas mais importantes.

—Como?

—A família real.

Eu senti meu queixo caindo um pouco contra a minha vontade, e eu assenti gravemente.

—Então é mesmo uma questão de vida ou morte- eu murmurei- Tudo bem, Senhor Philips, eu acho que podemos ajudar vocês. Mas não conte apenas com os afetos do Duque por mim, eu e Lysander somos capazes conseguir as informações por outros meios.

—Certamente, Senhorita- o homem concordou- Mas lembre-se: falhar não é uma opção.

—Eu não esperaria que fosse.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Atualizei o tumblr com algumas informações sobre o Duque. Sim, eu tenho ciência que todo mundo acha o Thimotèe Chalamet esquisito, mas eu acho ele esquisito de um jeito bonitinho kkkk! Ainda assim, sintam-se livres pra imaginá-lo do jeito que vocês quiserem, assim como qualquer um dos outros personagens, o cast só está lá para dar uma noção. Vejo vocês nos comentários, até!

Ps: Acho que depois de ver os nomes dos colegas de turma da Titania deu pra entender de onde saíram os nomes dos personagens, não deu? Kkkkk