Essa história, como tantas outras, começa em um salão de bailes. Assim como em centenas antes dela, seus protagonistas são um jovem Duque e uma bela dama. Mas as semelhanças param por aí. Porque essa é a história de um golpe de Estado, de uma espiã e de uma empresa que cria belezas geneticamente manipuladas, na qual nada é o que parece.

O salão em que tudo começou era dourado e amplo, cheio de lustres de cristal, cortinas de veludo e segredos. Foi nele onde o momento que serviu de alicerce para todo o emaranhado de mentiras e conspirações que viria a seguir aconteceu. Eu me lembro muito bem do instante fatídico, a música era animada, e se misturava ao som de risadas e conversa educada no ar, mas quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, foi como se tudo se calasse, e o mundo ficou completamente silencioso. Ele tinha olhos azuis, elétricos e brilhantes contra seus cílios escuros, e foi esse exato segundo que selou para sempre o destino de todos naquele salão.

—Aquele é o Duque de York- Lysander anunciou em uma voz macia e sugestiva ao meu ouvido- Nosso elo fraco na corrente.

Ele não parecia fraco, parecia confiante e voluntarioso, me encarando impetuosamente, como se a qualquer segundo seu olhar pudesse me convencer a ser dele. Eu sabia que eu jamais poderia, e eu também sabia que isso só o faria querer mais ainda que eu fosse.

—Ele é mais jovem do que imaginei- eu comentei, sem tirar os olhos dele.

—Eles sempre são- Lysander disse, com um risinho debochado- Jovens, nobres, poderosos... inconsequentes.

Aquela troca de olhares foi o primeiro passo de uma dança mortal e complexa, a primeira reverência antes da valsa. Com um último arquear de sobrancelhas, tão suave quanto um suspiro, eu quebrei o contato visual, torcendo para que aquilo fosse o suficiente.

—Ele ainda está olhando?- eu perguntei a Lysander, tentando manter minha voz baixa e minha expressão neutra.

Lysander deu um sorrisinho satisfeito.

—É claro que está

—Ótimo- eu disse, com um leve curvar de lábios- Isso deve mantê-lo interessado por um tempo. Mas, por enquanto, me tire daqui, querido. Não queremos que ele me confunda com um alvo fácil.

Lysander riu, passando o braço pelo meu e me guiando até a varanda, longe dos olhos azuis e famintos do jovem Duque.

—Eu não acho que ninguém nunca estaria tão errado quanto alguém que pensasse isso, irmãzinha- ele lançou um breve olhar para trás- E ele ainda não tirou os olhos de você. Pobrezinho, mal sabe no que está se metendo.

Eu e Lysander também não sabíamos no que estávamos nos metendo, éramos duas crianças arrogantes e loiras, andando por aquele salão como se fôssemos os donos de tudo que nossos pés tocavam, completamente ignorantes dos jogos de poder e manipulação que se desenrolavam ao nosso redor. Naquela época, eu era apenas um peão, descartável e simplória aos olhos daqueles que me controlavam, mas, um dia, eu me tornaria a Rainha do tabuleiro, e quando isso acontecesse, até mesmo os Titãs que jogavam conosco teriam de baixar as cabeças na minha presença e deixar que eu brincasse com eles, como eles tão facilmente faziam comigo nos dias áureos de minha ingenuidade. O Duque e seus olhos azuis foram minha primeira jogada, mas eu não iria parar até conseguir um xeque-mate.