Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Minhas mais sincera gratidão a lelinhacullen por comentar sempre nos capítulos e por me estimular sempre a continuar com essa história. Agradeço também a Anna por me dar esperança que essa finc não está morrendo.



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William olhava atento para as fotos do assassinato de Elton Rust. Em sua vida como jornalista já tinha visto de tudo, mas tinha que admitir que dessa vez o crime tinha sido brutal demais! Depois de uma denúncia anônima à polícia, tinham encontrado o corpo daquele que foi um dos grandes ativistas da causa LGBTQUIA+, o fundador da maior instituição de Belgonia para a comunidade que pertencia. Elton já estava há quase uma semana desaparecido. O corpo dele havia sido encontrado numa cisterna todo esquartejado. O jornalista sentia até agonia em ver, mas ao mesmo tempo tinha ficado curioso com o acontecido. Nada tirava da cabeça dele que Bono Donalson ou algum de seus leais seguidores tinham assassinado o ativista. E isso o consumia de uma maneira devastadora. Se antes ele tinha lá as suas dúvidas quanto a sua participação na derrubada de Donalson, agora ele se sentia mais impelido que nunca.

Henry entrou na sala e encontrou o seu colega de trabalho totalmente absorto olhando as fotos tanto que nem tinha prestado atenção na entrada dele.

— Will! Quando me disseram que você estava aqui no escritório a essa hora da manhã, eu nem me surpreendi.

William se assustou um pouco com a entrada do neto do rei, mas logo voltou a si e desviou a atenção das fotos. A área policial nunca lhe interessara muito. Ele sempre soube que os seres humanos eram capazes de fazer as mais diversas atrocidades, porém dessa vez ele realmente queria estar a par de tudo que a imprensa estava coletando a respeito desse caso e por isso ficara noite e dia na redação tentando participar de tudo.

— Trouxe a sua credencial para a entrada na festa. – falou o neto do rei.

Henry balançava a pequena plaquinha todo animado. William lembrou então que tinha prometido a ele a sua presença na tradicional festa da primavera no palácio de Belgravia para pagar a aposta que eles tinham feito. Respirou fundo e tentou não passar a imagem de que estava completamente nada a fim de participar desse evento, porém, não queria desapontar o amigo.

— Que bacana! – disse sem animação. – Sinceramente, Henry, não me leve a mal. Mas estou com vontade de ajudar os caras da página policial a fazer essa cobertura sobre o assassinato. Não podemos ir em uma outra oportunidade?

— Você me prometeu William.

— Eu sei, Henry. Olha, estamos num momento crítico no nosso país. O círculo está se fechando. Nada me tira da cabeça que esse crime foi encomendado pelo Bono.

— Cuidado com o que diz, ein? Não tem como provar.

— Não vou afirmar categoricamente, é claro! Gente como Bono, morre pelo próprio veneno.

— Deixe isso William! Você nem trabalha com matérias do tipo! E depois, você pode acabar se queimando também.

William se encostou na cadeira e pensou por alguns minutos. Guardou as fotos na gaveta e olhou para Henry novamente. Uma ideia passou-lhe pela cabeça um instante e imaginou que talvez a sua ida ao palácio não seria tão ruim assim.

— Tem alguma chance da duquesa de Richmond estar lá?

— Claro! Afinal de contas ela mora lá.

O jornalista esfregou as mãos e levantou-se num rompante.

— Pensando bem, Henry, acho que vai ser uma boa ideia, eu estar lá hoje.

— É mesmo?

— Sim. Tem como me arranjar alguns minutos junto com a duquesa? Acho que precisamos nos conhecer.

— Eu posso tentar. Mas olha lá o que você vai dizer, ein!

— Eu não vou dizer nada demais. Afinal de contas, estamos no mesmo lado.

Henry sorriu meio desconfiado e seguiu atrás de William pela sede do jornal a fora.

Dentro do palácio, Renesme podia sentir o calor das pessoas no jardim. A festa anual da primavera era um dos eventos mais antigos da realeza Belgã. Antes era algo restrito apenas a alta aristocracia do país. Um ponto de encontro para jogos de interesse e o momento ideal para se estar mais próximo da família real e assim conseguir certos privilégios e uma sonhada ascensão social. Mas desde que seu avô tornou-se rei, a festa ganhou uma nova cara. Agora qualquer pessoa poderia participar caso contribuísse para alguma caridade que a família real ajudasse.

De todos os eventos que exigiam sua presença obrigatória, era este o seu favorito. Geralmente por estar um clima bom que só a primavera podia oferecer e pelo contato com as pessoas ser mais amistoso. O fato de elas estarem ali no palácio, o “habitat” natural da princesa, fazia com que essas pessoas fossem menos assustadoras para uma garota tímida. Além de ela amar ouvir todos os tipos de histórias dos visitantes. Por isso, ela se juntou, com satisfação, a avó, o avô e o restante dos membros sênior da família, com exceção de seu irmão, Anthony, que estava na Inglaterra, e de sua mãe, que tinha declarado a sua indisposição para participar do evento. Todos eles se juntaram na entrada do jardim para darem início ao evento.

Durante a execução do hino nacional, ela pensava na mãe com preocupação. Bella havia estado muito distante desde a morte de Elton. Renesme sabia que não era para menos. O crime tinha sido hediondo! E ficava ainda pior por que era uma pessoa que elas conheciam.

A princesa segurou bastante a vontade de largar tudo e ir lá nos aposentos da mãe para consolá-la. Renesme sabia o quanto Bella estava sofrendo e não gostava de deixá-la nesse estado. Porém, ela sabia que o dia de hoje era muito importante também. Era a sua chance, assim como de toda a família real, de se conectar com as pessoas de todas as esferas da vida, todas as quais causaram um impacto positivo em suas comunidades. Não podia fugir disso.

Tentou seguir em frente e apertar a mão de cada pessoa que aguardava na fila ansiosamente para conhecê-los. O fato de ela estar pensando na mãe o tempo inteiro a distraia e a tirava de todo o prazer que antes ela sentia por estar participando deste evento.

Bella observava a festa do lado de dentro. Ela reversava entre a janela e o interior. Os últimos dias não tinham sido nada fáceis para ela. Descobrir o que tinha acontecido com Elton tinha perturbado todo o seu ser, derrubado todas as suas estruturas. Ela ficava dando voltas em seus pensamentos, tentando encaixar tudo, mas nada conseguia. Só aquela aflição estridente de que tinha que fazer alguma coisa, que tinha que entender o que houve, que não saia de dentro dela. Ela sabia que sua família estava preocupada, mas não havia nada que podia ser feito. Enquanto, ela não descobrisse alguma coisa ou soubesse o que fazer, nada disso iria acabar.

Emily encontrou-se com Bella em seu quarto para fazer mais uma tentativa para que ela descesse e participasse da festa. Afinal de contas, não queriam passar a imagem de que havia alguma coisa de errado. Quando entrou no interior, viu a patroa observando a janela.

— Alteza, se sente melhor?

Bella ignorou Emily por alguns instantes. Odiava o fato das pessoas estarem o tempo inteiro perguntando isso e a tirando de seu estado de recolhimento. Ela sabia bem que a sua secretária não estava realmente interessada em “saber se ela se sentia melhor”. Todos eles só se preocupavam com as aparências. Queriam vê-la trabalhando o tempo inteiro e dando ao mundo o ar de sua graça.

Porém, a visão que teve do jardim fez com que ela chamasse Emily para mais próximo dela e apontou para o lado de fora da janela.

— Aquele que está chegando ao lado de Henry é o tal jornalista do The Globe?

— Sim, é, alteza. O nome dele é William Lamb.

— Ótimo! Que bom que ele está aqui. Não esperava a presença dele num evento como esse.

— Ele é um nobre, alteza, mas precisamente um visconde. Certamente, ele deve ter recebido o convite para a festa.

— Visconde e jornalista. Interessante! De qualquer forma, eu adoro as matérias que ele escreve!

— Ele é muito talentoso mesmo.

— Emily, consiga alguns minutos com ele, por favor.

— Tem certeza, alteza? Não é bom que você seja vista com um jornalista tão polêmico quanto ele. As pessoas podem fazer suposições erradas.

— Elas não vão. Ninguém precisa saber. Encontrarei com ele aqui em cima no escritório.

— Como desejar, senhora.

Bella sorriu ao ver Emily se afastar. Há um tempo já vinha acompanhando as matérias do jornal The Globe, mas especificamente as de William, e sentia que ambos podiam formar uma parceria muito boa. Ele, aparentemente, pensava como ela e quem sabe, não conseguiria receber alguns conselhos dele de como deveria agir daqui para frente, após a morte de Elton?

Lá em baixo, William entrava no palácio com Henry e não pôde deixar de recordar das desagradáveis lembranças de sua infância. Quando ele nascera, seu pai tinha acabado de conquistar o título de visconde de Gotland e como filho mais velho, é claro que ele teria de herdar tudo isso. O que para o jornalista, com toda sinceridade, nada significava. Era apenas um título e só. Seus pais é que valorizavam isso e sempre fizeram questão de participar de todos os eventos da corte. William lembrava bem o tamanho da felicidade deles cada vez que chegava algum convite com um selo real. Ele mesmo ironizara em sua mente que seus pais eram como “vira – latas em torno do osso.”.

O título de visconde veio tarde, e pensava William que talvez não tivesse sido totalmente justo diante de tudo que sua família fez em prol da monarquia durante todos esses anos. Foram os Lambs que ajudaram a fundar Belgonia lá trás e desde então, foram os principais aliados da realeza. Os pais de William foram monarquistas convictos e aristocráticos por profissão. Mesmo tendo que administrar as grandes fazendas de soja, lã e gado em Gotland, eles estavam mais presentes nos eventos e reuniões entre os nobres, fazendo muitos nadas o dia inteiro, do que em suas principais funções.

William teve que participar dessa vida, que para ele sempre fora um grande fardo, por boa parte de sua adolescência e infância. Ele agradecera imensamente o minuto que entrou na faculdade de jornalismo e dera adeus a essa vida “vazia”. Mesmo assim, depois que herdou o título que fora do pai, não teve coragem de abdicá-lo. Não sabia o porquê disso, mas talvez fosse uma forte lembrança que guardava deles consigo. Afinal, mesmo tentando se livrar ao máximo de sua sina aristocrática, uma vez nobre sempre nobre, não tinha como fugir disso.

Ao ver todas aquelas pessoas animadas e quase desmaiando para ter um pouco de atenção quase o fez vomitar. Era impossível não lembrar de todas as vezes que presenciou os pais fazerem isso também e de todos os momentos que ele próprio fora obrigado a pôr um terno e participar desses entediantes eventos.

Henry parecia bem à vontade. Sorria o tempo inteiro ainda mais ao avistar uma moça baixa de cabelos cor de cobre de costas para eles e um pouco mais a frente. William seguiu o amigo sem muita animação. Esperava que não fosse um membro de nariz empinado da aristocracia belgã.

— Ness! – Henry a chamou.

A moça virou-se e alargou o sorriso ao vê-lo. Logo abriu os braços e o abraçou com prazer. Henry sorria com o mesmo entusiasmo para ela. William observou que eles eram bastante próximos.

— Que bom te ver por aqui.

— Eu tenho que te apresentar a uma pessoa.

— Certo.

— Ness, esse é o meu colega trabalho e meu grande mentor, William Lamb. E essa é a minha prima, a princesa Renesme. Ness, para os íntimos.

A moça virou-se e William pôde ver o rosto dela com detalhes pela primeira vez. Renesme lançou para ele um olhar atento, o observando de baixo para cima, como se tivesse envergonhada, mas ao mesmo tempo curiosa. Ele lembrava de tê-la visto antes na TV, mas tinha que admitir que ela era muito mais bonita pessoalmente. A princesa estendeu a mão para ele e percebeu que o jornalista estava distraído e demorara a apertar a sua mão de volta. Ela sorriu e abaixou a cabeça, sabia que estava corando também.

— É um prazer em conhecê-la. – William falou finalmente enquanto apertava a mão dela.

— É bom poder conhecê-lo pessoalmente. Henry fala muito de você.

William sabia que estava olhando para ela por tempo demais e talvez ela pensasse que ele era um velho tarado. Ele acabou sorrindo com esse pensamento à medida que ele observava que ela também o analisava.

— Espero que ele tenha falado de bem.

— Não se preocupe! Eu confio no julgamento do meu primo. Você deve mesmo ser uma pessoa absolutamente incrível!

— Espero que não mude de ideia depois.

Renesme observava o homem em sua frente e tinha que admitir que ele era muito bonito. As marcas de expressão em seu rosto denunciava que talvez ele já estive na casa dos cinquenta, ou próximo disso, porém a idade não tirava o charme que ele tinha. Principalmente quando ele a olhava com aqueles grandes olhos verdes que poderia lhe arrancar qualquer coisa que ele quisesse. Ambos ficaram em silêncio por alguns segundos apenas olhando um para o outro sem saber o que dizer em seguida. Henry percebeu o clima que tinha se estabelecido e resolveu se manifestar:

— Na verdade, foi um desafio trazê-lo para essa cobertura hoje.

— Por quê? Não entendo como um dia tão lindo como esse e uma festa tão agradável pode não ser um bom local para estar.

William olhou para o lado com um breve sorriso. Não tinha como concordar com ela. Ele podia pensar em vários locais mais interessantes para estar nessa bela manhã de sol.

— Concordo. Mas acho que essa festa poderia não estar se realizando no momento em que estamos no momento.

— Não entendo o porquê. – Renesme falou categoricamente. - Um pouco de distração ás vezes faz bem.

— Sim, mas não com tantas pessoas precisando do dinheiro que está sendo aplicado aqui...

— Mas estamos arrecadando justamente para a caridade.

— Talvez um amontoado de pessoas pedantes juntas numa festa que talvez tenha custado o dobro do valor do meu carro não seja uma boa ideia para se juntar dinheiro. Não há um equilíbrio no gasto e na arrecadação.

Renesme cruzou os braços e olhou para William indignada e se perguntava por que ele estava ali afinal de contas? O achou bastante pedante e de certa forma corajoso por falar assim diante dela. Queria nesse momento poder apagar toda a boa impressão que teve dele no início.

— Então, talvez teria sido bom que você não tivesse vindo mesmo. – disse Renesme irritada.

William observava a princesa sair atravessando entre as pessoas com o mesmo fascínio de antes. A clara maneira que ela defendeu o evento organizado pela sua família tinha mostrado que ela tinha uma grande personalidade, porém um fruto claro da instituição que ela fora criada. Não esperava menos que isso.

— Podia ter dito isso, William? Você me prometeu que não seria grosseiro! Dá para perceber o que você disse em frente a um dos membros do mais alto escalão da família real? Ela poderia ter te expulsado daqui.

— Mas que prima mais linda essa sua, ein?  

Henry olhou para ele sem entender. William ainda acompanhava Renesme andar para cada vez mais longe dele.

— Que?!

— Gostei dela. Me parece ter uma força! Uma personalidade!

— Você enlouqueceu! – disse Henry tentando entender se o colega tinha sido sincero em suas palavras ou tinha apenas jogado uma verde para colher maduro propositalmente a reação de sua prima. Mesmo assim não gostou nada disso.

Nem mesmo Renesme que saiu agitada e bastante irritada. Ela não conseguia entender como alguém de tão bom julgamento como seu primo adoraria uma pessoa que ia contra os princípios que ele próprio fora criado. Balançou a cabeça e tentou não demonstrar sua raiva para as pessoas que cercavam a sua volta por que aí sim seria um grande desastre para a sua imagem pública!

Tom seguia a princesa e percebeu que ela tinha se irritado com alguma coisa que William Lamb tinha dito e ele estava morrendo de curiosidade de saber o que era. Por isso apressou o passo e pegou o braço dela a levando para um local escondido do palácio. Renesme o abraçou e o surpreendeu com um beijo ardente e desesperado. Tom se deixou levar por esse gesto inesperado e a correspondeu, mesmo não entendendo a atitude de sua amante.

— É tão bom estar assim com você! – afirmou a princesa após o beijo.

— O que aconteceu?

— Nada... – Ela disse se afastando um pouco de Tom. – Foi apenas uma bobagem!

— Você não estaria assim se fosse apenas uma bobagem.

— É que eu conheci um cara totalmente ridículo! Apenas isso!

— William Lamb.

— Você o conhece?

— Não pessoalmente, mas eu já li algumas matérias dele. São bem polêmicas, por sinal.

— Não tive esse desprazer!

— O que ele te disse para te deixar tão irritada?

Renesme coçou a testa e tentou não ficar com raiva novamente. Não queria pensar em William Lamb e na sua arrogância. Mas nem ela entendia o porquê dele tê-la afetado tanto desse jeito.

— Ele deixou a entender que nós, da família real, estávamos contribuindo com a pobreza durante esse tempo de crise. Não é um absurdo?

Tom foi até Renesme e a abraçou para tentar acalmá-la um pouco, ao mesmo tempo que absorvia o cheiro gostoso que vinha dos cabelos dela. Ele concordava com William. Nunca fora a favor da monarquia, mas diante da reação da princesa a esse comentário, talvez não fosse mesmo prudente ele dizer nada a respeito.

— Não ligue para isso.

— Não vou mesmo. Ele é apenas um esnobe desinformado.

O segurança afastou um pouco a princesa e olhou para os olhos intensos dela. Precisava saber um pouco mais de informações que ela não estava revelando para ele.

— E o que aconteceu com a sua mãe? Eu ouvi algumas pessoas comentando sobre a ausência dela.

— Ela apenas não está se sentindo bem.

— Não tem nada a ver com o assassinato tem?

— Provavelmente. Mas ela não falou abertamente comigo sobre isso.

— Ela vai continuar trabalhando na causa? Mesmo depois da morte do Elton?

— Não sei. Mas a minha mãe não é o tipo de pessoa que desiste fácil. Quando ela quer algo vai até o fim.

Tom assentiu. Era tudo que ele precisava saber no momento.

Enquanto isso, William ia andando pelos jardins, procurando alguma coisa interessante, mas tudo parecia muito entediante para ele, como sempre! Até que sentiu um rapaz alto o seguir e tratou de andar mais rápido sem um rumo certo. Todos os seus instintos o dizia que essa pessoa estava mesmo o seguindo. William apressou ainda mais o passo, mas foi alcançado.

— Por favor, me siga. – disse o homem.

William olhou bem para ele e viu que poderia ser um dos seguranças do palácio. Será que a princesa o tinha mandado expulsá-lo dali? Ela teria essa ousadia? Ou será que Henry tinha conseguido um momento com a duquesa de Richmond? Ele achou melhor segui-lo pelo palácio adentro sem nada dizer. Queria ver onde isso ia dar.

Não teve como não se encantar com a beleza do prédio em seu interior. Mesmo antes nos eventos com os pais, ele não pôde conhecer o andar de cima do palácio. Mas o mais surpreendente mesmo foi ser levado a um dos apartamentos. Era tudo tão pessoal e diferente que o fazia pensar em mil coisas.

Quando foi deixado numa sala, que provavelmente era um escritório, e com uma bela figura a sua frente, ele ficou ainda mais surpreso. Ele lembrava de conhecer a mulher ali parada. Definitivamente era a duquesa de Richmond. Ele era ainda um adolescente quando acompanhou em todos os lugares que ia, em todas as matérias de jornais que passava na TV ou nas revistas, a ascensão de Isabella Swan e o seu romance de contos de fadas com o príncipe Edward. Era só o que as pessoas comentavam na época.

Mas a mulher que estava a sua frente parecia outra. Mais velha, é claro, porém o que a caracterizava era uma serenidade e uma força que exalava pelo ambiente. Na verdade, ela não lembrava nada aquela menina acanhada que estava entrando num mundo considerado dos sonhos.

William fez uma reverência quase que desastrada. Bella olhou para ele com firmeza e com um sorriso pequeno. Ela até lembrava um pouco a sua filha, que ele acabara de conhecer. Mas ainda assim, ele acreditava que as duas eram bem distintas.

— Desculpe eu te chamar assim com tanto mistério. Mas você sabe, as pessoas aqui no palácio são muito protetoras com a imagem que podemos repassar.

— Eu entendo.

— Eu gostaria de dizer que gosto muito das matérias que você escreve. Quando soube que você estava aqui, achei que teria a oportunidade perfeita para conversarmos.

— É mesmo? Que grande honra!

A duquesa ofereceu a poltrona em frente a ela para que William se sentasse e ele a atendeu em um segundo. Pelo visto a conversa seria mais longa do que previra antes.

— Acho que temos alguns pensamentos em comum. Por isso eu confio plenamente que você poderá me dar um conselho.

— Eu, senhora?

— Senhora, não, por favor. Assim me faz parecer bem velha. – disse Bella sorrindo. – Apenas Isabella.

— Certo, então. E que tipo de conselho eu poderia dar a você.

— Você sabe que eu venho trabalhando em alguns trabalhos filantrópicos com a fundação Multicores. Por causa disso, eu fiquei bastante próxima de Elton Rust.

— Eu venho acompanhando.

— A morte dele me abalou muito. Me deixou paralisada, na verdade. Há alguma novidade no caso?

— Por coincidência, eu vinha vendo algumas fotos que uns colegas meus fizeram do local do crime. Eu particularmente fiquei bastante interessado no caso, mesmo não sendo a minha área de trabalho. Mas até onde eu sei, ainda não há uma ligação concreta.

— Mas você tem algum palpite?

William se ajeitou na cadeira e tentou entender até onde a duquesa queria chegar e se poderia fazer suposições tão sérias para uma pessoa como ela.

— Não sei bem se eu posso dar alguma opinião sobre o caso. Porém, sabemos que Elton era um ativista voraz e isso acabou dando a ele alguns inimigos.

Bella cruzou os dedos e ficou a observá-lo por alguns segundos. Assim, como ele, também não sabia ela se podia confiar nele. Porém, teria que fazer isso. Não havia outra saída. Seria melhor do que confiar nas pessoas ao redor dela.

— Escute, William. Eu quero que você converse comigo agora como um homem comum e não como um jornalista político.

— Não se preocupe. Eu não vi com gravadores.

— Tem certeza? Faria o favor de me mostrar? O que eu vou lhe dizer não pode sair daqui.

William tateou os bolsos e pegou o seu celular, passou as mãos pela roupa para que ela entendesse que não havia nada pregado nele e por fim, desligou o celular em sua frente.

— Alguns dias antes de Elton desaparecer, ele ligou para mim. Nessa ligação, ele parecia aflito. Dizia coisas apressadas. Algo como, “Não podemos ser vistos juntos”, “Não é mais seguro”, “Vão nos prejudicar”. Na hora eu não entendi, mas fiquei preocupada. No dia do casamento da minha sobrinha é que eu descobri que ele... – a garganta de Bella se fechou.

— Foi assassinado. – William completou.

— Sim. Eu já revirei as palavras dele várias vezes na minha cabeça e eu não consigo entender a quem ele se referia. Absolutamente, eu não sei o que fazer a partir do que aconteceu.

— Entendo. Foi algo brutal, mas a senh... Você já contou isso à polícia?

— Não. Além do que, não deixariam, pela minha posição. Entende?

Bella respirou fundo e se aproximou mais de William.

— Eu não sei se eu posso confiar nas pessoas que trabalham aqui no palácio.

— Por quê? – perguntou William ainda mais curioso.

— Eles não gostam de mim. Nunca gostaram. Eles vinham me podando esses anos todos com medo do que eu pudesse ocasionar para família com os meus projetos. Essas filantropias com a Multicores eu venho bancando por conta própria. Eles vêm engolindo por enquanto, mas eu temo que eles possam ter interferido de alguma forma para me fazer parar.

William coçou o queixo analisando as palavras que ouvia da duquesa. Não esperava ouvir tantas revelações bombásticas quando quis se encontrar com ela. Não sabia o que dizer diante dessa nova linha de acontecimentos. Não duvidava que alguns funcionários de alto escalão da “firma” monárquica poderiam fazer qualquer coisa para proteger os membros sênior da realeza. Porém, ele não acreditava que eles poderiam chegar a ir tão longe.

— Você acha que isso é possível? Eu não consigo em confiar em ninguém ao meu redor.

— Sinceramente, acho que você está muito mais protegida estando com o apoio da instituição do que fora dela. Não acho que o palácio sujaria as mãos em algo tão grotesco apenas para fazê-la parar. Mas eu teria mais cuidado com as conversas que tem, com a possibilidade de ter alguém que possa estar a traindo.

— Acha que estão me vigiando?

— Eu não descartaria essa possibilidade. Podem haver pessoas dentro do palácio interessadas em apenas colher informações ou prejudicar a você ou qualquer outro membro da família. Estamos em tempos difíceis, alteza.

Bella sentiu a sua respiração acelerar e pôs as mãos pelos cabelos. O medo lhe abatera e a desconfiança a fazia querer sair dali agora mesmo para tentar descobrir alguma coisa.

— Mas eu não descartaria uma iniciativa política no caso do Elton. Tem muita gente que não gostava do que ele fazia.

— Eu sei de quem você está falando e é por causa dele que eu não quero parar o que venho fazendo. Eu entrei para a causa depois que eu perdi um grande amigo meu por conta da violência e do ódio que esse idiota vem plantando. Minha única intenção realmente é ajudar e nada mais. Não quero me promover em cima disso.

— Eu compreendo a sua iniciativa.

— Mas, eu não sei como devo agir daqui para frente depois do que aconteceu com o Elton. Porém, eu não queria parar por que realmente estávamos fazendo algo bom.

— Eu acredito que não deva parar alteza. Até como uma homenagem ao Elton e a todos que perderam a vida por causa da homofobia. Porém, você deve ser mais cautelosa e pensar bem antes de fazer e dizer alguma coisa.

— Eu sei...

— Querendo ou não, alteza, você chama muita atenção em tudo que faz. E algumas pessoas podem não gostar disso. Por isso, tenha cautela. Não queremos vê-la numa cisterna também.

Bella assentiu e agradeceu a sinceridade de William. Mas não teve como não se arrepiar com as palavras dele.

— Eu gostaria de contar com a sua ajuda. Não no sentido de promover os meus trabalhos, mas como uma mão para denunciar esses preconceitos, esses crimes, essa ideologia horrorosa.

— Eu entendo, alteza. E não precisa me pedir isso. Eu voltei a Belgonia para deter Boni Donalson e todas as suas maledicências. Eu serei o seu ajudante nessa luta, Isabella, e o seu escudo também.

Bella deu um sorriso radiante pela primeira vez em dias. Era tão bom saber que não estava sozinha nessa luta tão árdua. Ela estendeu a mão para William e ele apertou com força. Ele sentia que talvez Henry tivesse razão quanto à família real. Nem todos mereciam o descrédito dele. Era visível a sinceridade nos olhos da duquesa.

Quando o jornalista deixou o escritório dela, sentia ainda abalado com tudo que ouvira. Estava impressionado. Não esperava que houvesse tantas outras histórias escondidas sobre o mesmo acontecimento. O caso do assassinato de Elton Rust era muito mais complicado do que ele imaginara. Estava certo que muitas surpresas ainda iriam ser reveladas pela frente.

Ao descer as grandes escadarias do palácio encontrou-se com Henry logo abaixo e foi até ele, ainda estremecido.

— Vejo que você conseguiu alguns minutos com a minha tia.

— Consegui e veja bem, Henry, talvez eu estivesse mesmo errado em algumas opiniões sobre alguns membros da família real.

Henry sorriu e tocou o ombro do jornalista.

— É mesmo?

— Não me faça repetir, por favor.

Henry gargalhou e William acabou tendo que rir também ainda mais quando viu a princesa Renesme passando por eles. Sem pensar, ele segurou o braço dela para fazer com que ela parasse e olhasse para ele. O gesto foi tão impulsivo que Renesme observava a mão de William e pensou que talvez ele fosse mesmo um maluco ao tratá-la dessa forma sem nem ao menos conhecê-la. Ela sentiu uma eletricidade tocar o seu braço ao sentir o toque dele. Ao mesmo tempo estava hipnotizada pela adrenalina desse ato inesperado. Sabia que se olhasse diretamente para os olhos dele, não teria palavras para revidar. Pelo pouco que tinha visto, já tinha percebido que William Lamb poderia ser convincente quando desejasse e ela não estava minimante interessada em mudar de ideia a respeito dele.

— Me desculpe, princesa. Eu fui grosseiro com você e isso foi imperdoável!

Renesme não se deu o trabalho de responder, apenas soltou o seu braço das mãos de William e seguiu subindo as escadas. Queria não estragar os seus pensamentos com esse homem arrogante quando existiam coisas mais sérias para ela se preocupar. Sua mãe era o que mais importava no momento. Seguiu castelo adentro até encontrar Bella em seu quarto e ficou até mais aliviada ao ver que sua mãe não estava deprimida como antes.

— Eu vim você, mãe. Passei o dia inteiro preocupada.

Bella foi até a filha e a abraçou com força. Renesme correspondeu o gesto e absorveu a sensação gostosa que era estar recebendo o carinho dos braços de sua mãe, que ela venerava. Bella pôs as duas mãos no rosto da filha e olhou bem nos olhos dela.

— Ness, eu quero que você nunca deixe de ser quem você é! Siga o seu coração sempre, ok? Não deixem que ninguém te diminua e tome controle sobre a sua vida.

— Isso é um pouco difícil devido às circunstâncias da minha posição, não é mãe?

— Não pense assim, por favor. Você é capaz de fazer grandes coisas por esse país se seguir os seus instintos.

— Mãe, por que está me dizendo isso agora?

— Por que eu quero que nunca esqueça disso. Por favor, me prometa que vai ser feliz e não vai deixar que passem por cima de você.

Renesme olhou bem para a mãe e não entendeu essa tamanha pressa que ela tinha para lhe dizer algo. Mas acabou balançando a cabeça em concordância, mesmo sem compreender os gestos aflitos da mãe.

— Eu prometo, mãe.

— Eu te amo tanto! Sempre e em qualquer lugar que eu esteja eu vou estar olhando por você.

— Você vai estar comigo, mãe. Vai me ajudar a ser a rainha que esse país precisa.

— Queira Deus, filha! Queira Deus!

Renesme abraçou a mãe com força, mas com a crescente sensação que a estava perdendo de alguma forma. Balançou a cabeça com esse pensamento. Jamais queria pensar num dia em que Bella não tivesse ao se lado. A duquesa sentiu-se aliviada aos braços da filha. O que quer que o destino lhe reservasse, ela estaria pronta.


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