POV KAGOME

Acordo no susto ao escutar meu celular tocar. A cama está vazia e gelada, passo a mão pelo meu cabelo úmido e emaranhado.

— O que foi que eu fiz? - Uma sensação de tristeza, vazio e decepção me invade como um soco no estômago.

Meu celular toca de novo e dessa vez eu atendo.

— Vovô - Minha voz parece entalada pelo choro - Eu estou bem, eu devia ter te avisado que ia trabalhar até tarde ... Nos falamos de manhã.

Fico parada encarando o celular apagado.

Eu estava irritada mas sabia das consequências. Ele é meu chefe, eu quase o matei e agora fizemos sexo. 

As lembranças vem em minha mente como em um sonho distante. Seus lábios, seus carinhos, seu cheiro ...

— Meu Deus - Engulo seco já levantando e me enrolando no lençol - O que eu to fazendo aqui ... - Aperto o espaço entre os olhos onde minha cabeça pulsa.

Minhas roupas não estão nesse quarto. Droga.

Abro a porta do quarto me esgueirando para fora sem fazer barulho. O corredor tem pelo menos umas sete portas.

— Finalmente saiu da minha cama. - Escuto Sesshoumaru dizer em algum lugar atrás de mim. 

— Eu não sabia que aquele quarto era seu. - Digo tomando coragem pra me virar - Onde estão minhas roupas?

— No quarto de hóspedes 02. - Escuto seus passos cada vez mais próximos. 

— Certo, eu vou embora agora ... - Tento andar mais o tecido me puxa pra trás. Esse desgraçado está pisando no meu lençol!

— Srt. Higurashi. - Sua voz soou baixa e rouca me arrepiando instantaneamente. Eu me viro lentamente.

Sesshoumaru está sem camisa, apenas vestindo uma calça moletom. Ele encara com um sorriso travesso nos lábios que apaga toda minha vontade de correr porta a fora.

— O que aconteceu ... - Tento começar.

— Apenas aconteceu. Espero que não ache que vamos casar ou coisa parecida. - Ele se apoia na parede flexibilizando o músculo me fazendo perder o foco.

O BICHO É BONITO!

— Casar com você, Quem em sã consciência faria isso? - Dou de ombros rindo e o homem logo fecha a cara.

— Se eu bem me lembro você disse a mesma coisa sobre quem ficaria com um cara como eu. - Ele se aproxima de mim em um movimento rápido e eu perco o ar - E vejo só quem acabou gozando pra mim três vezes. - Seu rosto inexpressivo me deixa profundamente irritada. Eu puxo o lençol mas ele não solta então eu simplesmente o solto.

— Você já viu tudo que tinha pra ver não é? Mais uma vez não vai importar se é pra deixar de olhar pra sua cara. - Encaro bem seus olhos dourados que lutam para se manter fixos em meu rosto mas se afasta um centímetro sequer.

— Eu não te chamei aqui pra isso.

— Eu te usei pra esquecer o Inuyasha. Eu sei que você não precisa de uma desculpa pra isso ... - Ao escutar o nome do irmão ele trincou o maxilar desviando o olhar - Você se aproveitou de mim também, então estamos quites e nunca mais vamos falar nisso.

Olho para o corredor escuro e me sinto mal. Mal por estar aqui nua por dentro, não por fora, o que é ainda mais estranho.

Sesshoumaru me olha lentamente de cima para baixo.

— Eu não acho que estamos quites. Placar de 3x1 pra você. - Ele dá um sorriso de canto que faz surgir um arrepio pela minha espinha. 

Ele não pode estar querendo dizer o que eu estou pensando que quer dizer.

Eu seguro um riso de pura indignação.

— É exatamente isso Higurashi. Vai pagar a sua dívida? Claro, por livre e espontânea vontade. - Ele tira meu rosto e desce o dedo suavemente pelo contorno do meu pescoço lentamente parando bem na minha clavícula.

Minha respiração acelera instantaneamente e meu corpo responde ao seu toque.

— Só que o prazer vai ser todo e exclusivamente meu. - Sesshoumaru sussurra em meu ouvido envolvendo minha cintura, colando meu corpo ao seu.

Puta que pariu. O jeito como seu corpo se molda ao meu, o como seus olhos parecem me desejar, me faz esquecer quem ele é. Quem eu sou. 

Ele não me beija e o modo como me segura forte me impede de me mexer. Isso é invasivo e excitante ao mesmo tempo.

Desgraçado.

POV SESSHOUMARU

O modo como essa garota se entrega é absurdo. Eu nunca imaginaria que se renderia sem esforço algum.

Seus olhos azuis expressam tanta expectativa, ela tenta se inclinar novamente em minha direção e dessa vez eu permito a levantando pelas pernas que prontamente se enrolam em minha cintura. 

Em um impulso ela me empurra contra a parede do corredor me beijando de forma voraz, mordiscando a minha boca, me segurando pela nuca e fazendo o que bem entende comigo. 

Pela primeira vez em anos, me deixo levar por uma mulher. 

—-

— Sr. Taisho, levante-se. Kaede-sama está lhe esperando no escritório em quarenta minutos. - Kagome me estende um copo de suco de laranja - Está melhor?

— Estou ótimo. - Bebo o suco de uma vez e vou tomar banho. Se ela vai agir como se nada tivesse acontecido eu também vou.

Quando saio do banheiro tem duas opções de terno estendida na cama bem forrada. Ela está cumprindo com a sua palavra em se esforçar ou está agindo como uma ... 

Engulo seco sentindo uma sensação de sufocamento súbita ao imaginar que ela acha que vamos ficar juntos por conta de uma noite.

— 15 minutos. - Sua doce voz soa através da porta como se estivesse me espionando e a sensação de sufocamento é tanta que nem coloco a gravata - Se correr um pouquinho consigo preparar seu café da manhã ...

Abro a porta sem conter minha irritação.

— Vamos.

— Agora?! Okaay. - A morena corre atras de mim tentando me acompanhar com os saltos batendo no chão.

—-

Nenhum de nós tocamos no assunto a manhã toda. Ela age como se nada tivesse acontecido e ao mesmo tempo me olha como se tivéssemos a maior intimidade fazendo minha cabeça ferver.

Porque me sinto tão intimidado por essa mulher?!

— Sr. Sesshoumaru, gostaríamos da sua aprovação para o novo projeto da Games 01. - Kagome entra acompanhada daquela mesma garota do hospital. Devo ter ficado encarando-a tempo demais porque ela se curva levemente se apresentando.

— Me chamo Sango Hibiki. É um prazer conhece-lo Sr. Taisho. - Ela diz séria, até um tanto ensaiado.

— Ela é a nova secretaria do Inuyasha. - Kagome sorri animada - Sango-chan é simplesmente fantástica!

— Eu não lembro de ter autorizado nenhum novo funcionário na empresa. 

As duas se entreolham por um instante e em seguida Kagome pega a pasta das mãos da outra mulher.

— Eu levo lá pra vocês. 

— Com licença. - Sango nem me dirige o olhar ao sair. Ela tem um ar ameaçador.

Quando escutamos a porta bater Kagome se aproxima da mesa colocando a pasta bem na minha frente.

— Estarei lá fora se precisar de mim. - A garota se curva levemente se virando em direção a porta.

— Kagome. - Ela para de costas pra mim - Sobre ontem ...

— Fico feliz que esteja bem Sr. Taisho. - Ela fica o suficiente para me olhar com seus óculos enormes, seu rabo de cavalo balança pra la e pra cá ressaltando a cor de sua pele - O que houve ontem?

— Nada. - Ela sorri docemente se virando rumando em direção a saída.

Fico a observando pelo vidro falar com a Kaede, pegar a bolsa e sair correndo.

Volto a focar no trabalho acumulado.

—-

Kaede entra com meu chá da tarde.

— Onde ela está?

— Eu dei o resto do dia de folga pra ela, a garota estava só o pó. A probabilidade de fazer uma grande besteira seria bem maior. - Ela coloca meu chá na minha frente com os biscoitos - Você também deveria ir pra casa no horário hoje.

— Ainda tem muita coisa pra fazer.

— Termine amanhã, até parece que não dormiu a noite! - Ela resmunga rindo e um sorriso surge em meus lábios - Você, sorrindo?! A quanto tempo que não vejo um desses menino!

— Velha Kaede, não faça piadas. - Ela para de rir me dando um tapa quando tento pegar a xícara.

— Me chame de novo de velha e vai ver só. 

— Entrega para Kagome Higurashi! - Escutamos alguém chamar batendo na porta segurando um  arranjo imenso de flores.

Kaede recebe colocando em cima da mesa da garota com um sorriso bobo. Eu vou até ela querendo investigar um pouco.

— Parece que a menina tem um admirador! - Ela diz pensativa. Pego o cartão ja rasgando o pequeno envelope - Sesshoumaru, não pode fazer isso!

— Desculpe. 

— O que?! - Ela diz perplexa.

— Aqui só está escrito, "Desculpe". - Devolvo o cartão para o meio das flores. Será que o Inuyasha mandou isso para a Kagome porque deu um fora nela? - Aquele bastardo não é romântico assim, ou é? - Kaede pega o telefone sem tirar os olhos de mim.

— Você não está bem, vou chamar o médico.

— Eu estou bem, mas vou seguir seu conselho e ir embora. Pode arrumar a minha mesa antes de sair? - A velha senhora assente a contragosto revirando os pequenos olhos escuros - Obrigada, velha Kaede. - Digo ja entrando no elevador de tão rápido.

— Sesshoumaru! - Kaede grita irritada antes da porta do elevador se fechar. 

Ao sair do prédio Jaken já está me esperando, ele é meu secretário de confiança desde que me entendo. 

— Está dispensado. 

— O que?! Sr.Sesshoumaru! - O homem baixinho me olha com os olhos arregalados - Não me deixe aqui tão preocupado assim!

— Jaken, calado. - Entro no carro deixando o velho senhor falando sozinho.

POV KAGOME

Meu celular toca pela quinta vez com o numero do Kouga, o que ele quer tão desesperadamente? Ele não é de pedir desculpas.

Deito na cama tentando ficar quietinha por um momento. Dormir com o Sesshomaru foi um erro, mas o pior é ter que aturá-lo todo santo dia. 

Eu sei que prometi que iria me esforçar mas acho que ferrei com tudo entrando na cama dele. 

— AHHHHHHH - Grito no meu travesseiro - PORQUE EU TENHO QUE SER TÃO IDIOTA?!

Escuto barulho de pedras na minha janela, no escuro do quarto eu só consigo ver a marcação da lua. Só tem uma pessoa que faz isso e eu não to afim de ir olhar pra cara dele.

As pedrinhas não param, nem o meu celular. Levanto puta da vida abrindo a janela já gritando.

— Vá embora.

— Eu trouxe seu prato favorito. - Kouga diz com um sorriso encantador. Deixá-lo entrar-lhe seria outro erro.

Eu balanço a cabeça negando.

— Kagome, eu só quero me desculpar. Se não quer me deixar subir, desce ... Daqui eu não saio. - Kouga senta no chão de frente para minha janela e eu entro no quarto, novamente.

~ Uma hora depois Kouga entra no meu quarto pela porta principal. Com certeza, meu avô ficou com pena dele lá fora no frio.

— Só aguentou uma hora? - Pergunto permanecendo deitada, sem dizer nada o moreno coloca uma bandeja sobre a cama com a minha janta que eu não desci pra comer.

— Você precisa comer. O que aconteceu? - Ele pergunta se sentando no canto da cama timidamente sem conseguir me olhar diretamente. Eu quase rio.

— Eu deveria lhe contar porque ... - Cantarolo debochadamente.

— Quero pedir desculpas, por tudo. Fui um idiota completo, você era tão incrível que eu ficava cego de ciumes. Me perdoe. - Ele suspira pesarosamente.

— Tudo bem, sabe que eu não consigo guardar raiva de ninguém ... - Abraço meu travesseiro com força virando contra a parede esperando que ele entenda e vá embora.

— Eu só vou quando comer, então levante logo se me quer longe daqui. - Respiro fundo dando um chute nele que quase derruba a bandeja do outro lado.

— Droga, droga, droga. - Fico de joelhos tentando não fazer ainda mais besteira e meu ex namorado ri, me fazendo rir também - Algumas coisas nunca mudam né?

— Só vamos mudar o necessário, tudo bem? - Eu concordo com um aceno de cabeça.

— Se for querer ser meu amigo, vai ter que fazer por onde. Confiança é um assunto, delicado. - Abraço meus joelhos encarando o chão.

— Começamos pelo caminho inverso, tivemos um relacionamento sem uma base estável ... Eu apaixonei por você Kagome sem nem te conhecer. Eu sinto muito por termos terminado daquela forma, eu não fazia ideia do que estava acontecendo ... - Kouga respira fundo tentando dizer alguma coisa.

— Não vamos mais tocar nesse assunto. - Eu me levanto ficando de frente para o moreno que me encara confuso - Me chamo Kagome Higurashi, é um prazer conhece-lo Hasegawa-kun.

Ele ri baixinho se levantando e estendendo a mão pra mim.

— Prazer em conhece-la Kagome-chan. - Eu sorrio apertando sua mão. 

—-

Sesshoumaru ainda não mandou aquelas roupas pra cá, eu preciso lembrar de fazer isso hoje. 

Repito pra mim mesma colocando uma roupa social minha que estava jogada no armário. Uma blusa de botões rosa claro com uma saia branca. 

— Ele não pode reclamar, é social! - Digo pra mim mesma me encarando no espelho a contra gosto - Ai ai, isso é bem cansativo ... - Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e coloco meus óculos.

— Bom dia mana! - Souta diz já fazendo o café da manhã, mesmo com o uniforme da escola ele parece o nosso pai. Vovô está sentado na mesa lendo o jornal resmungando alguma coisa. 

— Bom dia familia! O sol está brilhando e vai ser um ótimo dia! - Pego uma torrada em cima da mesa e coloco na boca - Souta, não chegue atrasado no colegio!

— Ih, o que deu nela?! - Meu irmão pergunta para meu avô que só dá de ombros.

— Não me ignora seu moleque - Corro até ele o abraçando forte - Coisa mais fofa da irmã!

— Você não está atrasada Kagome?! - Ele diz resmungando e eu saio correndo.

—-

Chego no trabalho antes de todo mundo. 

— Aquele menino me enganou só pra se livrar de mim ... - Paro ao ver as flores sobre minha mesa - Kouga me mandou isso? Desculpe... Pena que são as flores erradas.

— Quem é Kouga? - Sesshoumaru me dá um susto saindo de fininho da sua sala - Porque ele te mandaria flores?

— Ai, Sr. Taisho! Quer me matar do coração?! - Eu o olho veio enfiando o cartão no meio das flores - Porque mais um homem manda flores para uma mulher?

Ele revira os olhos colocando as mãos nos bolsos.

— É um ex namorado/amigo. Ele deve ter me mandado isso antes de aparecer lá em casa ...

— Ele foi na sua casa? Vou providenciar uma medida cautelar, esse cara não vai poder chegar a 10 metros de você sem ser preso. - A seriedade em seu rosto me confunde por um instante antes de eu dar um riso sem graça - Ele está te perseguindo srt. Higurashi.

— Não não, somos amigos. Kouga e eu temos muita bagagem mas já resolvemos tudo, não se preocupe. - Aliso um lírio branco sentindo seu aroma - Sabe Sr. Taisho, nem tudo é tão difícil. 

— Ele te manda flores e você já está caidinha, ótimo. Por isso que pessoas como ele continuam fazendo esse tipo de coisa com pessoas como você, que claramente não se valorizam. 

— Você não sabe nada sobre a minha vida pessoal. - Dou a volta na mesa me sentando na cadeira e o ignorando - Levarei seu café assim que estiver pronto.

Sesshoumaru respira fundo antes de entrar novamente em sua sala e me deixar com o choro entalado na garganta.