Dark escrita por Alice


Capítulo 2
Dizzy


Notas iniciais do capítulo

Oii, gente!

Tradução da Música:
No fim do dia dia estou me sentindo criminosa, habitual
Eu tento esconder minha dor atrás de um sorriso quebrado



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End by my day I'm feeling criminal, habitual
I try to hide my pain behind a broken smile

Dizzy - Missio

 

Quantas vezes terei que falar para você não cruzar a fronteira, Emma?” Uma voz soa irritada atrás de mim, e viro-me para ver a Diretora Dowling. Estou sentada em um tronco de árvore no meio da floresta, e ela sabia exatamente aonde me encontrar. 

“É onde eu me sinto em casa” digo, e minha voz soa tão triste quanto eu. Minha madrinha se aproxima de mim, sentando-se no tronco ao meu lado. Ela está vestida bela e formalmente com uma capa azul, e acho a cena incoerente.

“Amanhã será mais difícil" ela diz, seus olhos azuis me fitando.

“Uau, bela maneira de me confortar” Reviro os olhos, e ela me olha séria.

“Olhe seu tom” Ela repreende, e abaixo os olhos arrependida.  

“Eu só queria ter um poder normal” sussurro, mordendo os lábios. Farah repousa sua mão no meu ombro esquerdo suavemente. Eu sou a única pessoa que vê seu lado carinhoso, ainda que raramente, uma vez que para ela é essencial sempre manter sua pose autoritária. 

“Lembre-se do que eu te ensinei, basta ter controle” ela diz, e concordo com a cabeça.

“Será que meus pais também eram fadas da escuridão?” questiono, olhando para seus olhos claros. Ela parece surpresa com o questionamento inesperado por um segundo, mas logo ela controla sua expressão.

“Não sei” ela admite. Então Farah se levanta, olhando em direção à escola, oculta pelas árvores densas. “Vamos.”

Suspiro, e levanto-me para segui-la, limpando a sujeira da minha saia.

“Você deve me prometer que não irá mais cruzar a barreira, Emma. Você sabe como é perigoso” Farah diz, olhando-me seriamente quando retornamos à segurança fora da floresta.

“Eu prometo” digo, mas não sei até que ponto poderei cumprir essa promessa. Eu não posso prometer ficar longe da escuridão.

Farah se preocupa com minha segurança, e entendo porque ela sempre fica tão irritada com minhas fugas. As histórias sobre os Queimados ainda ecoam, vestígios de tempos passados, repleto de mortes. Porém, um deles não é mais visto desde que eu nasci, então duvido muito que ainda existam.

“Boa sorte amanhã, querida” Farah sorri para mim, apertando meu ombro, quando entramos na construção imponente de Alfea.

“Obrigada, madrinha” sorrio de volta, colocando minha mão sobre a sua um momento antes de me afastar em direção ao meu dormitório. 

Quando entro no quarto, noto que as meninas estão aqui, exceto Aisha e Bloom — a garota de Sky. Será que Stella sabe que eles conversaram? Tomara que ela não surte com isso.

Sinto o olhar de Musa sobre mim quando pesco uma roupa para a festa dentro da minhas gavetas, ainda com as palavras de Stella ecoando em meus ouvidos. Ela não diz nada, porém, e eu apenas vou em direção ao banheiro. Tomo um banho longo, ouvindo as garotas saírem novamente.

Visto um vestido azul, que tem um leve decote e acentua minha cintura fina, terminando com uma parte de baixo solta estilo princesa. Calço meus coturnos, e olho meu reflexo no espelho. Meus cabelos loiros e ondulados estão presos em um coque baixo, junto a uma tiara de pedrarias, e mordo meus lábios carnudos nervosamente. Avalio o nariz pequeno e arrebitado coberto por minúsculas sardas e meus olhos verdes claros. Ok, não pareço nada ameaçadora. 

Satisfeita com o resultado, saio do dormitório vazio, percebendo que já anoiteceu. Ouço a música tocar quando me aproximo novamente do salão, e as pessoas estão todas bem vestidas, dançando e bebendo. 

“Você está quente” uma voz sussurra no meu ouvido, e pulo para notar Riven ao meu lado. Ele está com sua jaqueta de couro e com um coldre de bebida na mão. 

“Você está limpo” constato, sorrindo zombeteira. Ele revira os olhos, e me estende a bebida alcoólica. Olho para os lados antes de aceitar, e tomo um gole longo, sentindo o líquido queimar em minha garganta.

“Ei, calma aí, garota” Riv chama a atenção, notando minha sede. “O que aconteceu?”

“Stella” retruco, dando mais um gole na bebida antes de devolver a ele. Riven faz uma careta.

“Ela é uma cadela” ele diz, olhando para a princesa de Solaria no meio do salão. Assim como eu, ele não é lá muito fã da ex namorada de Sky.

“Ela é minha colega de quarto” digo, infeliz. Ele arqueia as sobrancelhas, e oferece a bebida para mim novamente, decidido que eu realmente preciso. Sorrio, dando mais um gole.

Olho para o salão novamente, e localizo Musa em meio a multidão. Ela está olhando para alguém, que percebo ser Aisha, e não nota meu olhar. Ela está com o cabelo preso em dois coques e sua jaqueta vermelha.

“Ela sabe que você quer transar com ela?” Riven questiona, notando a direção do meu olhar.

“O quê?” guincho, minha voz soando alguns tons mais altos. Ele arqueia as sobrancelhas.

“Estou zuando, Emma” ele diz, sorrindo torto. “Mas pela sua reação, não sei se eu estou mentindo…”

“Eu não gosto de garotas, Riven” retruco, cerrando a mandíbula. Bom, não sei até que ponto isso é verdade.

“Se você diz” ele dá de ombros, e olha para um garoto negro parado na coluna próxima a gente. 

Riven vai até ele, enchendo o copo do garoto de álcool, e reviro os olhos. Lá vai meu querido amigo corromper mais uma pobre alma.

Encaro Musa novamente, mordendo o lábio. Ela está sorrindo, levando um copo de bebida à boca, ainda sem notar a fodida stalker aqui.

“Implicando com calouros? Seja menos previsível” Terra diz atrás de mim, e viro-me para vê-la avançar até onde Riven está com o calouro.

“Não se ele não quiser, não é?” Meu amigo diz, agarrando o garoto pelos ombros.

“Não sei o que quer dizer” o calouro diz, inseguro.

“Apenas ignore-o. Ele se acha o fodão, mas é apenas um coitado disfarçado” Terra diz, e franzo as sobrancelhas. Riven pode ser um idiota, mas é meu amigo idiota, e não aprecio o tom dela.

“E ela equivale a três pessoas disfarçadas” Riv diz. Definitivamente um idiota fodido.

“Qual é” o calouro chama a atenção de Riven, não gostando de seu comentário sobre Terra.

“Pode deixar” Terra diz, com raiva. “As pessoas sempre acham que podem destratar a gordinha, porque ela é simpática, inofensiva, e deveria ficar feliz só por falarem com ela. Só que, às vezes, a gordinha teve um dia realmente péssimo, e um varapau de merda diz algo errado na hora errada, ela fica infeliz por ter falado com ela, toda antipática e, ainda por cima, nada inofensiva.”

Ela ergue os braços, e de repente galhos da planta atrás de Riven cercam seu pescoço. Dou um passo até eles, nervosa.

“O que disse, Riv? Deve ser engraçado, mas não consigo ouvir” Terra questiona, sorrindo maldosamente, olhando o garoto suplicar por ar. Todos estão olhando a cena.

“Pare” ordeno, a voz um pouco mais alta que o normal. Terra vira-se assustada em minha direção, não tendo me notado até então, e as plantas soltam o pescoço de Riven, que respira desesperado.

“Podia ter me matado, aberração” Ele grunhe, as mãos no pescoço.

“Também senti saudades” Terra diz, olhando para ele. Riven sai apressado, bufando de ódio, e tento segui-lo em meio a multidão.

Porém, sinto um braço no meu ombro quando chego ao corredor, e viro-me para ver Aisha. Ela tem um olhar preocupado no rosto.

“Precisamos de sua ajuda” ela diz, e olho-a confusa. Noto Musa ao seu lado. “Não estamos encontrando Bloom.”

“Ela deve estar com algum garoto” arrisco, olhando para trás ansiosa, vendo Riven sumir da minha vista.

“É mais sério que isso, Emma” Aisha diz. “Ela acabou de descobrir que é uma Trocada.”

“O quê?” questiono, arregalando meus olhos. Bebês fadas deixados no mundo humano não acontecem há anos.

“Sim, e acho que ela vai fazer alguma coisa ruim” Aisha diz, nervosa. “Precisamos encontrá-la.”

“Certo, vamos ver no dormitório” respondo, já aceitando que não posso mais alcançar Riven.

“Ignorou as mensagens. Isso é estranho” Aisha reclama, olhando para seu celular enquanto avançamos pelo corredor.

“Será que é porque ela desabafou e você a chamou de anormal?” Musa diz, sarcástica. Arqueio as sobrancelhas para elas, e Aisha desvia o olhar.

Ao chegarmos no quarto, Stella está sentada no sofá, com o celular apontado para o próprio rosto enquanto uma orbe de luz ilumina seu rosto. 

“Você viu Bloom?” Aisha questiona a loira, que não nos olha.

“Não recentemente” Stella diz, fazendo pose para a câmera.

Os olhos de Musa brilham violetas, olhando para a loira desconfiada, e Stella estala os dedos, desligando o feixe de luz ao seu lado.

“Quê?” a loira questiona para Musa.

“Seu rosto está calmo, mas está cheia de culpa” Musa acusa. Olho para ela impressionada.

“É uma fada da mente” Aisha constata, surpresa.

“Fada da mente?” Uma voz surge no quarto, e Terra aparece. “Qual é sua conexão? Memórias…”

“Agora não é uma boa hora” Musa interrompe, impaciente. 

"Está tudo bem?” A fada da terra questiona preocupada.

“Não” Aisha responde, olhando para Stella. “Estou procurando Bloom, e Stella sente culpa por isso.”

“Pode deixar todo o drama para o teatro?” Stella debocha, ainda no sofá. 

“Ela não estava falando com Sky?” Terra questiona, provavelmente tendo visto Bloom e Sky juntos.

“E daí?” Stella questiona, defensivamente.

“E daí que eu sei o que acontece com as garotas que falam com Sky” intervenho, ameaçadoramente. “Eu sou uma delas, e eu bem sei do que você é capaz. Eu estava aqui ano passado, lembra?”

Stella olha-me com desdém, balançando a cabeça.

“Stella, onde está Bloom?” Terra questiona, também sabendo o que aconteceu com Ricki.

“Ela estava com saudade de casa, então fui legal e emprestei meu anel pra ela voltar para o Primeiro Mundo” Stella finalmente diz, e arregalo os olhos.

“Não funciona só fora da barreira?” Terra questiona, preocupada.

“Sim, e tem um portal no cemitério velho” A loira responde, dando de ombros.

“Isso é no meio da floresta, Stella!” digo, exasperada. As meninas têm olhares preocupados nos rostos.

“Precisamos falar com a Diretora Dowling” Aisha diz, e hesito. Terra e Musa olham para mim.

“Vamos” digo, começando a andar para fora em direção à diretoria. Deus, o ano letivo mal acabou de começar e os problemas já surgiram.

“Emma? Está tudo bem?” Minha madrinha questiona quando invado seu escritório. Ela está sentada atrás de sua mesa de carvalho, e se levanta quando nota as outras fadas atrás de mim. “O que está acontecendo?”

“Stella deu seu anel para Bloom voltar para o Primeiro Mundo” vomito a informação com raiva.

“O quê?” A diretora questiona, incrédula. 

“Precisamos ajudá-la” continuo, preocupada. “O portal é no cemitério no meio da floresta, do outro lado da barreira.”

“Venham” A diretora diz, já caminhando em nossa direção firmemente e tomando a dianteira. 

Caminhamos apressadas em direção à floresta aos arredores de Alfea, e passo rapidamente pela barreira, enquanto as outras meninas hesitam atrás de mim. 

“Vamos!” Encorajo-as, e elas finalmente passam, o ar tremeluzindo em azul quando elas atravessam a barreira mágica. As garotas olham apreensivas a floresta escura.

Diretora Dowling segue na frente, e em alguns minutos atingimos o cemitério antigo no meio da floresta. Paramos em frente à construção, e sons horríveis passam pelas portas fechadas. Sinto que há algo errado, e minha pele pinica, como se as sombras de repente estivessem alguns graus mais quentes.

“Fiquem aqui” ordena a diretora, forçando-me a parar alguns passos da porta em sua frente.

“Mas…” começo a protestar.

“Emma” Farah interrompe, olhando-me firmemente. Fecho a boca, e ela passa pela porta, fechando-a. Ouço gritos e ruídos animalescos, e controlo meu impulso de ir atrás de minha madrinha. Eu não posso perder minha única família.

De repente, a porta se abre, e Bloom corre desesperadamente em nossa direção. Ofego quando vejo uma figura humanoide do outro lado do barracão, de pé contra a luz, ao lado de minha madrinha. Dou alguns passos para frente, e uma mão segura-a a minha, impedindo-me de entrar. A porta se fecha novamente, e ouço novos gritos e rugidos.

Bloom está ofegante, e olho para trás para notar que foi Musa que me impediu. Ela solta minha mão rapidamente, desviando o olhar para a garota ruiva assustada à nossa frente.

“Está tudo bem?” Aisha pergunta para Bloom, preocupada.

“Sim, acho que estou” ela responde, hesitante, respirando com dificuldade. “O que é aquela coisa?”

“Chamam de Queimado” Terra responde, e olho desesperada para a porta fechada, onde minha madrinha ainda está dentro. Lutando contra a porra de um Queimado.

“Espere, onde está Stella?” Bloom questiona, nervosa.

“Na escola, por quê?” Aisha diz, confusa.

“Aquela coisa pegou o anel” A ruiva engole em seco. Olhamos uma para as outras, preocupadas. Ótimo, agora o Queimado tem um anel que pode levá-lo ao Primeiro Mundo. 

▼△▼

“A diretora vai cuidar do Queimado. Ela não irá deixá-lo ir para o Primeiro Mundo.” Aisha diz, quando entramos no nosso quarto. Ela olha para Bloom à nossa frente, claramente abalada. “Não se preocupe. Seus pais estão seguros.”

Bloom se vira para nós, forçando um sorriso, antes de dizer: “Obrigada”, e se voltar para seu dormitório. Ficamos olhando-a se afastar, com evidente preocupação.

Então, viro-me de costas e começo a caminhar novamente em direção à porta.

“Aonde você vai?” Aisha questiona, notando meu movimento.

“Sair” digo evasivamente. Musa me encara preocupada. Dou um sorriso leve para elas antes de mergulhar no corredor escuro.

Caminho pela escola, e ouço vozes se aproximando. Uso meus poderes para ficar invisível nas sombras, e Farah e Silva passam por mim apreensivos e apressados. Sinto-me aliviada por ver minha madrinha bem, e assim que eles somem, volto a ficar visível. Continuo andando, até encontrar a figura que estou procurando encostada nas sombras de uma coluna próxima ao saguão. Havia mandado uma mensagem a ele perguntando onde diabos ele se meteu, que ele respondeu há alguns minutos.

“Me dá um trago” ordeno, aproximando-me de Riven. Ele levanta as sobrancelhas, mas dá o cigarro de maconha para mim. Dou uma tragada profunda, apreciando a sensação da fumaça quente na minha garganta. Meus ombros tensos relaxam na mesma hora. Obviamente, minha madrinha não pode nem desconfiar dos meus hábitos nada ortodoxos.

“Obrigada por me ajudar mais cedo, aliás” Riven diz, sorrindo torto. “É sempre bom ser amigo de fadas fodidamente poderosas que causam medo em todo mundo.”

“Você é um idiota, mas não gosto quando machucam meus amigos” Dou de ombros, sorrindo, enquanto dou mais um trago.

Riven se apruma quando uma garota bonita carregando livros vem em nossa direção. Seus lábios estão pintados com um batom roxo, os cabelos ruivos escuros presos atrás da cabeça, e suas roupas são todas pretas. Solto a fumaça pelos meus lábios, e seus olhos escuros piscam sobre mim.

“Varando a noite estudando?” Riven questiona quando ela se aproxima, e a garota para na nossa frente.

“Pilhada de Ritalina, na verdade” ela retruca, e olha para o cigarro na minha mão. “Mas terei que dormir em algum momento.” Ofereço a ela o cigarro, mas ela sorri maliciosamente. “Tenho mãos ocupadas.”

Arqueio as sobrancelhas, um sorriso torto em meu rosto, mas Riven puxa o cigarro dos meus dedos apressadamente e dá uma tragada profunda. Ele se inclina na direção do rosto da garota, assoprando a fumaça em direção aos seus lábios carnudos. Observo a cena em silêncio.

“Você é caloura” Riven aponta, inclinando-se para longe da garota.

“Sou muitas coisas” a garota diz misteriosamente, olhando para mim, antes de se afastar. 

“Deus, ela é gostosa” Riven diz, olhando para sua figura caminhando para longe.

“Pare de ser um adolescente emocionado” digo, pegando o cigarro de suas mãos. Dou mais um trago profundo, e ele me olha maliciosamente. Reviro os olhos, devolvendo o cigarro para ele. “Tenho que ir.”

Volto correndo para o dormitório, e noto que as meninas já estão se preparando para dormir. Stella não está aqui, e sei que ela provavelmente está no quarto de Sky. Deus, pior casal de Alfea. Sem sombra de dúvidas.

Entro no meu quarto, e Terra já está de pijamas, regando suas plantas. Provavelmente, terei que regar minha suculenta em breve. Eu prometi não deixá-la morrer, e será péssimo para nossa amizade frágil se eu não cumprir isso. Musa não está aqui, e imagino que esteja no banheiro.

Arranco meus coturnos, chutando-os para debaixo da cama, e puxo meu vestido por cima da cabeça. Terra olha pelo canto do olho meu corpo pequeno e magro demais coberto apenas por um sutiã e uma calcinha de renda preta, e corro para puxar meu pijama para cima da cabeça. Musa chega nesse momento, e seus olhos disparam para meu corpo seminu, antes de correr para sua cama, tentando não chamar atenção de Terra. Ela está com um short curto listrado e camiseta lilás, e tento não encarar demais suas pernas nuas.

Porém, a estratégia da morena não funciona, e Terra aponta para os fones de Musa. A garota os tira hesitantemente, enquanto termino de vestir meu pijama, que consiste em uma camiseta e short azul.

“Sei que você quer ouvir sua música e eu entendo, mas vamos ter que conviver um tempo, por isso…” Terra se vira para pegar uma caixinha preta na escrivaninha atrás de si, estendendo-a com um sorriso para Musa, que olha confusa o objeto. “Peguei com meu irmão. É um alto falante. Não precisamos conversar. Pode ficar no seu mundo, só… não vai ficar sozinha.”

Musa encara a garota loira por alguns segundos, franzindo os lábios.

“Ou não. Não é nada demais” Terra desiste, vendo a hesitação da morena. Observo Musa sentar-se na cama, afastando as cobertas de cima do corpo.

“Não fique brava” a morena suplica, culpada.

“Não estou” Terra mente.

“Pode parar com o fingimento por um segundo?” Musa pede, impaciente.

“Sou uma pessoa feliz!” A loira exclama de repente, segurando o aguador.

“E eu sou empática” Musa devolve. “Consigo sentir tudo que você sente, a ansiedade perto de mim, a insegurança perto de Stella, o medo de Emma e a raiva agora, tudo, até mais do que você.” Franzo os lábios. “É meu dom, se dá pra chamar assim. Eu coloco meus fones para dar um tempo das emoções dos outros e me concentrar nas minhas.” Olho para Musa, percebendo como é realmente difícil ser uma fada da mente. Deus, eu mal aguento minhas próprias emoções.

“Se quer mesmo saber como me sinto…” A morena pega seu celular, e uma melodia melancólica e profunda invade o quarto.

“Adoro essa música” murmuro, reconhecendo os acordes de Alt J.

“Eu também” Musa diz, encarando-me profundamente.

Terra não parece gostar tanto, mas está satisfeita por Musa finalmente ter falado com ela. 

Levanto-me da cama, indo até a parte do quarto de Terra, e ela arregala os olhos quando me vê aproximando. Faço uma careta com sua reação.

“Você pode me emprestar o aguador, por favor?" peço, olhando para o objeto em suas mãos. Ela estende ele para mim com uma rapidez exagerada.

Pego-o e vou até minha cabeceira, deixando uma quantidade de água molhar minha suculenta. Terra observa a cena, e sei que Musa também.

“Desculpe por enforcar seu amigo mais cedo” Terra diz, e Musa ergue as sobrancelhas com a informação. Certamente não é a coisa mais comum que uma colega de quarto pode dizer à outra.

“Tudo bem, ele é um idiota” digo, aproximando-me novamente para devolver o objeto de Terra. “Mas não faça isso novamente” alerto ameaçadoramente, olhando em seus olhos verdes, e a loira encolhe-se visivelmente sob meu olhar. 

Imediatamente me arrependo por tê-la assustado, e abaixo os olhos, voltando para minha cama quase correndo. Mergulho debaixo das minhas cobertas, cobrindo-me até o pescoço, enquanto fecho os olhos com força. Porra, por que eu não posso ser normal e educada?

Sinto olhos sobre mim, e vejo Musa do outro lado do quarto me olhando quando abro os olhos. Quando nossos olhares se cruzam, ela rapidamente desvia seus olhos, virando-se de costas para mim. 

Suspiro, e imediatamente meus pensamentos se voltam para Bloom. Aisha disse que ela é uma trocada. Isso não acontece há séculos, e não posso culpá-la por ter aceitado o anel de Stella para ir ao Primeiro Mundo, visitar os pais que descobriu não serem biológicos. 

Eu nunca conheci meus pais. Não faço ideia de quem sejam, ou se sequer estão vivos. Esse é um tópico proibido. Farah uma vez disse que ela não sabe quem são eles, e que isso não importa, pois ela garantirá minha segurança. Nunca mais a questionei, apesar de frequentemente pensar sobre isso. O sentimento de rejeição nunca me permitiu esquecer.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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