Andava solitária e vazia pelas ruas de Nova Iorque, procurando um motivo para sorrir ou algo para conquistar. Desde muito nova aprendi alguns instrumentos, mas minha paixão real era pela guitarra, aos 15 me matriculei em uma academia de música barata e desde então o que eu faço é trabalhar com música, agora em 1975 montei uma banda com alguns amigos cujo gênero é hard rock ou o famoso metal farofa, nossa meta é ser como Kiss ou Guns. Às vezes me pego pensando se realmente é possível conseguir uma fama ou é só sorte de algumas pessoas. Enquanto caminhava lembrei que meu colega de banda Josh me deu um ingresso para um show do Kiss que aconteceria hoje à noite. Sempre é uma honra poder acompanhar bandas superestimadas, até então eu nunca havia visto eles tocarem pessoalmente, apenas escutei nas rádios locais, queria ter certeza de que a qualidade é tão boa quanto o que parece. 

    Adentrei meu apartamento após uma longa caminhada pelo caos de sempre, tive ensaio da banda e combinei com meu amigo Josh de encontrá-lo na porta do local onde ocorreria o show, descobri também que é o último show deles mais recente na cidade antes de eles saírem em turnê. Deve ser uma sensação única saber que a cada local que você vá milhares de pessoas estão te esperando, é esse tipo de coisa que minha banda sonha em conquistar. Apreciando o sol se pôr com meu café em mãos notei que faltava apenas duas horas para o show, decidi virar o café em um gole só e tomar um banho, gosto de manter minha pontualidade.  

    Cheguei meia hora antes do combinado no local do show, recostei-me em um muro esperando que o tempo passasse até meu amigo chegar. Conforme os minutos passavam uma vontade de tomar uma cerveja preenchia minha mente cada vez mais, decidi então entrar para comprar algo no bar.  A caminho do bar acabei esbarrando em alguém que bebia uma cerveja de garrafa que acabou caindo e quebrando em cima dos meus pés, minha sorte era estar calçando botas 

    - Caramba garota seus pés devem estar com sede – o dono da garrafa gargalhava enquanto eu estava abaixada recolhendo os cacos que se formaram. Após levantar pude observar melhor em quem eu havia esbarrado e por ironia do destino Ace Frehley era o dono da risada escandalosa e da cerveja que agora se espalhava pelo chão 

  - Ace Frehley olha que ironia não? Você não deveria estar se aquecendo para o show? - Perguntei intrigada com a situação que acabara de ocorrer. 

   - E eu estou, cerveja é meu aquecimento - riu enquanto me ajudava com os cacos que eu segurava - Aliás a quem devo as honras? - disse aproximando mais perto de meu ouvido 

   - Myae é meu nome artístico, apenas isso já basta – apertei suas mãos como modo de cumprimento. 

  - Se me permite princesa eu tenho que me retirar para me ajeitar no palco já que meu aquecimento foi escorrendo para lá - apontava para o resto de cerveja que restou escorrendo em busca de um esgoto 

  - Bom show Spaceman, alias é esse seu apelido na banda né? - assentiu positivamente com a cabeça - Não me decepcione, paguei caro para ver vocês tocarem – dei um leve riso e me retirei. 

        Essa conversa me fez esquecer que eu precisava encontrar o Josh na porta. Dei meia volta e fui procurá-lo do lado de fora. Cinco minutos depois acenei de longe e o vi vindo em minha direção  

    - Caramba Mari eu pensei que você fosse pontual, onde esteve? -. 

    - Longa história Josh, mas em minha defesa conheci o Ace e acabei entretida conversando com ele, falando em pontualidade cheguei trinta minutos antes se isso melhora a situação -. 

    - Não brinca que você conheceu o guitarrista do Kiss, sua filha da mãe nem pra me chamar também - ria enquanto caminhávamos para o centro do local mais perto do palco.  

     O show estava prestes a começar, a agitação era grande enquanto um som de baixo percorria os amplificadores instalados no local, não era um espaço grande, mas estava mais lotado do que a capacidade máxima, as cortinas se abriram revelando os rostos dos membros sob a fumaça que se expandia por todo o palco. De lá pude observar como o Ace se portava como guitarrista em um show. De fato, eles eram realmente bons, um show cheio de energia eu diria, fãs loucos por cada música que tocava. 

      Após o show finalizar com Gene cuspindo sangue em seu solo de baixo todos começaram a se retirar e o lugar foi ficando mais vazio e calmo, alguns fãs tentavam falar com os membros da banda. Josh havia saído para comprar cigarro, eu permaneci sozinha no mesmo espaço onde eu estava vendo o show, me perguntava se teria outra oportunidade de falar com Ace de novo, mas a mesma sorte duas vezes é meio complicado. Decidi comprar uma bebida destilada para ele já que o acidente da cerveja havia acontecido. Saindo do bar com uma garrafa de uísque me dirigi ao local onde outras pessoas estavam entrando e diversas groupies sem reuniam em busca de uma noite com uma estrela do rock, algumas me olhavam estranhamente como se me odiassem, outras arrumavam a roupa para que o corpo ficasse mais visível, acho que na intenção de atrair os olhares dos membros, eu só conseguia sentir pena delas, se eu estivesse no lugar delas me sentiria tão vazia a ponto de injetar heroína. 

     Por sorte consegui interceptar Ace antes que saísse com alguma delas, se isso acontecesse acho que nunca mais veria ele de novo.  

      - Hey Spaceman, trouxe isso pra compensar sua cerveja – levantei a garrafa para que ele conseguisse visualizar bem 

      - Olha só quem me encontrou, a garota misteriosa da cerveja – se aproximou até chegar do meu lado 

       - Peter vai adorar isso! - pegou a garrafa da minha mão - aliás você tem que conhecer os membros da banda – me guiou puxando pela mão. 

       - Ei gatinho! Ace! Você não ia me levar para sair agora? – disse uma garota dos cabelos castanhos penteados com volume e olhos escuros que me fitavam com ódio 

       - Mudanças de planos querida, qual seu nome mesmo? - Se dirigiu a ela com cara de dúvida 

       - Aí esquece seu merda, existem outros caras de banda igual você mesmo, azar o seu – saiu batendo os pés com raiva 

       - É sempre assim com as groupies? - perguntei com ar de dúvida 

       - Talvez, mas quando alguém me intriga prefiro conhecer essa pessoa melhor – soltou um sorriso sedutor. 

         Segui Ace até uma sala que parecia como um camarim, mas estava cheio de garotas como a que abordou Ace a pouco tempo atrás. Passei por elas e consegui entrar até onde Ace tinha me puxado 

    - Myae, correto? - concordei com a cabeça - Esse é o Gene o baixista, Paul o vocalista e guitarrista e Peter o baterista. 

    Eles me cumprimentaram, Gene olhou me julgando, mas foi gentil e se retirou para sair com as garotas que esperavam, Paul me abraçou docemente e foi atrás de Gene, Peter deu um sorriso acenando enquanto mascava seu chiclete.  

    - Já que Paul e Gene vão sair porque não aproveitamos essa maravilhosa garrafa de uísque trazida por nossa querida Myae – Ace dizia com emoção para o vento e Peter, enquanto ria  

    - Estou sedento por uma bebida forte, pode crer – Peter levantou grudando seu chiclete na parede. Entregou um copo para mim e para o Ace 

    - Então gatinha me conta mais sobre você, quero desvendar mais esse ar misterioso que você emana – disse Ace após dar um gole em sua bebida 

    - Bom meu nome é um segredo por enquanto – dei uma piscada – Tenho uma banda de hard rock, aliás sou guitarrista também, somos underground ainda ninguém conhece muito, quem sabe um dia. Tenho 20 anos, moro aqui mesmo e sobrevivo trabalhando numa gravadora – bebi um pouco do uísque e sorri. 

    - Quer dizer que a gata misteriosa também toca guitarra como eu, olha só um ponto em comum – se aproximou e sussurrou no meu ouvido - será que eu posso sentir esse ar misterioso na minha cama? – soltou uma risada lerda e se afastou  

    - Calma lá Spaceman o mistério também inclui essa parte, seu espertinho – apenas dei uma risada séria 

    - Estou sentindo uma tensão sexual por aqui acho que vou catar a bebida e me retirar – Peter riu enquanto se levantava com a garrafa de uísque rumo a porta 

    - Espera aí Peter esse uísque é meu, dado pela minha dama pode deixá-lo aí - Ace se levantou indo atrás do uísque 

    - Por que você não me acompanha no bar Ace, lá tem muito mais podemos ficar bêbados e eu ainda tenho que buscar aquela parada – deu uma piscada  

   - Bom já que vocês têm planos importantes eu vou me retirar e procurar meu amigo se me permitem, até logo – Levantei atrás deles – Spaceman pega meu número para tentar desvendar o mistério algum dia – entreguei um pequeno papel com o telefone da minha casa 

   - Poxa gatinha tá tão cedo para você ir, mas preciso ajudar o Peter, então até logo, lembre-se nunca é um adeus – piscou enquanto seguia Peter e guardava o papel no bolso. 

      Já caminhando nas ruas uma hora após a conversa com Ace, passei na frente de um bar que ficava ao lado de um beco e escutei uma briga peculiar.  

      - Me devolve essa droga aí cara, você sabe quem eu sou, não me desafie – falava uma voz um tanto quanto familiar 

      - Não vou devolver, achei agora é minha, se aproximar eu te corto com essa faca – indagou uma voz desconhecida 

      - Vem Ace a gente pega mais de novo, não briga por isso, você está bêbado - disse alguém que parecia com Peter 

       Cheguei mais perto do beco, o cara foi para cima de Ace com uma faca e acabou cortando a mão dele.  

     - Merda seu desgraçado, cortou minha mão, Peter! Está sangrando muito, me ajuda! Merda estou ficando tonto – logo em seguida vi Ace desmaiar e o outro bêbado fugir 

     - Peter o que houve? - exclamei chegando mais perto 

     - Ace foi esfaqueado enquanto brigava por um pó de heroína e ele tem pavor de sangue, então desmaiou – fez uma cara de lerdo 

     - Vem me ajuda a levar ele para o meu apartamento que fica aqui perto – falei levantando o Ace e apoiando –o em meu ombro