Lua e Sol escrita por Srta Agnoletto


Capítulo 1
Lua e Sol - One Shot




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No verão, depois do ensino médio, no nosso primeiro encontro,

Nós nos beijamos no meu Mustang ouvindo raidohead

E no nosso aniversário de 18 anos, fizemos tatuagens iguais.

 

Ele levantou da cama, mesmo que não tivesse vontade de fazê-lo naquela manhã, tinha virado rotina evitar aquele tipo de pensamento, evitar pensar nela. Em tudo que foram um para o outro e como resultado pensar também em tudo o que não eram mais. Mas infelizmente existiam dias como aquele, quando mesmo que ele não quisesse, Sakura invadia os sonhos dele, em forma de lembranças.

Ele lembrava tão bem de tudo que chegava a ser doloroso. Lembrava-se da pele arrepiada e quente da sua nuca quando ele segurou ali ao beija-la pela primeira vez, naquele carro depois da formatura do ensino médio, do hálito quente contra os lábios dele e o sorriso que ela deu após o beijo. A verdade é que se ele fechasse os olhos conseguia lembrar nitidamente cada detalhe daquele rosto, pelo menos de como era na época em que ele podia chama-la de dele.

Lembrava também daquele dia, a loucura de dois adolescentes que se achavam maduros o suficiente para tomar aquele tipo de decisão, marcar a pele, “Para sempre.” Foi o que disseram um ao outro na ocasião, enquanto ela segurava a mão dele e assistia ele fazer primeiro a tatuagem, para em seguida ser a sua vez.

Ele sentou-se à mesa da cozinha, olhando para o próprio pulso e vendo ali o sol desenhado, passou os dedos sobre a figura, parecia até que ele conseguia ainda ouvir a voz dela dizendo “Porque você é minha lua, sabe? Que trás a luz mesmo em meio à escuridão.” E ele podia se ouvir respondendo “E você é o meu sol, fonte de todo calor e luz da minha vida” . Porque mesmo fazendo tanto tempo, ele se lembrava tão bem?

Costumávamos roubar licor dos seus pais e subir para o telhado.

Falar sobre o nosso futuro como se soubéssemos de algo.

Mas nunca planejei que um dia eu perderia você.

 

Ele terminou de tomar café da manhã e foi para sala, vendo o bar que tinha no canto, em seguida olhando para o relógio e vendo que não marcava mais do que nove da manhã, mas do que importava? Ninguém estava ali para julgá-lo ou mandar pegar leve. Foi até o bar e pegou a primeira garrafa que apareceu, em seguida procurando um copo e se servindo, rindo sem humor ao observar a bebida no copo de vidro, licor. Droga, realmente parecia tudo estar conspirando para que as suas lembranças viessem a tona.

Antes que pudesse se controlar ele estava revivendo mais um momento com ela, deitados no telhado, juntos, fazendo planos de um futuro juntos.

 Será que ela ainda lembrava os nomes que tinham escolhido para os filhos que teriam juntos? Muito provavelmente não, ele fingia não lembrar também. Se naquela época ele soubesse o quanto as decisões dele estariam erradas, ele nunca teria te perdido.

Em uma outra vida, você seria minha garota.

Nós manteríamos todas as nossas promessas.

Seriamos nós contra o mundo.

Se ele pudesse ter uma outra vida, ele sabia que a encontraria nela também, porque ela era o destino dele, hoje ele conseguia entender isso. Se ele pudesse ao menos voltar atrás... Ele escolheria manter a promessa que tinha feito. Ele nunca teria priorizado as coisas erradas, tão jovem e tão estúpido. Se ele pudesse voltar no tempo e dar um conselho para o seu eu do passado, o conselho seria “Faz ela ficar”.

Em uma outra vida, eu faria você ficar.

Então eu não teria que dizer que você foi aquela que foi embora.

 

Ele conseguia lembrar com exatidão o pior dia da sua vida, o dia em que Sakura saiu por aquela mesma porta que agora ele encarava enquanto sentia o licor descer rasgando pela garganta.

Mais uma vez brigavam, novamente pelo mesmo motivo, a vida superficial que ele levava. As festas, as bebidas, os olhares maliciosos, os gastos, toda aquela vida que como ela costumava falar “Não faz parte dos planos”. Ele achava que ela só não entendia, era o sonho dele se realizando, a fama, o reconhecimento, tudo, era o que ele tinha batalhado para conseguir, o que podia ser mais importante do que aquilo? Bom, quando ela saiu por aquela porta, prometendo nunca mais voltar, ou melhor, quando ela cumpriu essa promessa, ele descobriu o que mais era importante. Sakura.

Aquela que foi embora.

 

Mas é como diz o ditado “Você só dá valor quando perde.” E por mais clichê que isso pudesse soar, ele tinha comprovado o quanto essas palavras eram verdadeiras.

Você era June eu era seu Jhonny Cash, nunca um sem o outro.

Nós fizemos um pacto

ás vezes quando sinto a sua falta eu coloco nossas músicas para tocar.

Ele sentiu a garganta apertar e sabia que dessa vez a causa não era a bebida, sabia muito bem que a causa era ela, ou melhor, a falta que fazia.

Seguiu até o quarto indo para o chuveiro e se enfiando embaixo da água gelada, lembrando do primeiro banho juntos que tinham tomado, a timidez, mesmo que ele já tivesse visto e tocado todo aquele corpo, ela nunca abandonava totalmente aquela timidez, que ele particularmente achava linda. Foi naquele chuveiro, embaixo daquela mesma água, que eles fizeram aquele pacto, o pacto de nunca deixar nada interferir na relação dos dois, mas lógico, aquela era só mais uma das promessas não cumpridas.

Ele saiu do banho o mais rápido que pode, era como mesmo depois de todo aquele tempo, tudo ali ainda transpirasse ela e talvez esse fosse o motivo de que algumas vezes ele chegava a pensar que ficaria louco. Colocou uma roupa de caminhada, pegando o ipod em cima da cama e selecionou as músicas para ouvir enquanto corria, com um sorriso amargo ele refletiu, talvez fosse ele que se recusasse a deixar as lembranças partirem e com essa conclusão ele saiu pela porta em direção ao parque para correr, dando play na música, na música de deles, mas ainda tinham uma música?

Alguém me disse que você removeu a sua tatuagem

E te vi no centro, cantando blues.

É hora de encarar a música e que eu não sou mais a sua inspiração.

 

Ele no fundo sabia porque hoje estava sendo tão mais difícil que os outros dias, no dia anterior o irmão o tinha ligado, em meio a conversa de sempre ele revelou que tinha visto Sakura, que tinha quase certeza que não tinha visto a tatuagem que os dois tinham feito juntos, que ela não estava sozinha. E merda, mesmo que ele não quisesse admitir, aquilo o tinha afetado, aquilo o machucava mais do que ele se permitia sentir.

Mas era de se esperar, o que ele queria? Que ela passasse a vida inteira esperando ele cansar de ser um imbecil? Claro que não, ele não era mais nada, ele não representava mais nada na sua vida.

Em uma outra vida, você seria minha garota.

Nós manteríamos todas as nossas promessas.

Seriamos nós contra o mundo.

 

Ele corria sem saber ao certo para onde, só queria poder esquecer tudo, tirar todos aqueles pensamentos da cabeça, mas era impossível não pensar que se ele pudesse ter uma outra vida, ele trocaria tudo o que tinha, só para poder a ter nos braços mais uma vez, para ouvir a sua risada sabendo que ele era o causador daquele som que era melhor do que música boa aos ouvidos dele. Ele queria apenas mais uma chance.

Em uma outra vida, eu faria você ficar.

Então eu não teria que dizer que você foi aquela que foi embora.

Naquela noite ele deveria ter a impedido de sair, devia ter caído de joelhos e dito que nunca mais seria tão idiota, que ele iria sim seguir os planos, que nada ficaria entre os dois. Nunca. Mas ele não o fez.

Aquela que foi embora.

 

E ela se tornou aquela que foi embora, mas porra, porque ele não conseguia a expulsar também do coração dele? Dali ela nunca tinha ido embora, ali ela ainda permanecia e tudo por culpa dele.

Todo esse dinheiro não pode me comprar uma máquina do tempo, não.

Não posso te substituir com um milhão de anéis, não.

 

Ainda enquanto corria, ele lembrou, da caixinha com o anel jogada no fundo do guarda roupa, anel que era para estar no dedo dela, isso se ele não tivesse sido tão idiota, se ele não tivesse estragado tudo.

Eu deveria ter te dito o que você significava para mim

Porque agora eu pago o preço.

 

Ele parou, sentindo o peito queimar com a falta de ar, sentou no banco mais próximo que tinha, segurando a cabeça entre as mãos, a mantendo abaixada, sugando o ar para dentro dos pulmões com desespero, o mesmo desespero que parecia tomar conta do seu ser, porque mesmo depois de tanto tempo parecia que a cada segundo ele continuava a perdendo aos poucos? Será que existiria um dia que ele nem sequer poderia mais lembrar com exatidão do rosto dela? Será que até isso seria roubado dele com o tempo?

Mas em uma outra vida, você seria minha garota.

Nós manteríamos todas as nossas promessas, seriamos nós contra o mundo.

Em uma outra vida, eu faria você ficar.

Então eu não teria que dizer que você foi aquela que foi embora.

Ele sentiu alguém sentar ao lado dele, mas não fez questão de levantar a cabeça, naquele momento nada importava, ele só queria um pouco de paz, mas acho que o mais assustador é que ele não via uma forma com a qual alcançar essa paz, a paz dele tinha ido embora, atravessando a porta cheia de magoas e decidida em não voltar.

— Hey Sasuke, quanto tempo, não? – Ele sentiu o sangue esfriar ao ouvir aquela voz tão conhecida, por um instante ele pensou que estivesse imaginando coisas, continuou sem coragem de levantar a cabeça e encarar quem era ali ao seu lado, talvez por medo de se decepcionar.

Aquela que foi embora.

Mas quando ele abriu os olhos, apenas inclinando um pouco o rosto para o lado, ele pôde ver a lua. Então uma esperança se ascendeu. Será que aquele era o dia do novo eclipse?


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