Love is blue escrita por Lola


Capítulo 5
Capítulo 5 - Las Vegas, 2000


Notas iniciais do capítulo

Oi povo bonito!
Obrigada pelos comentários do cap anterior. Ainda não consegui responder individualmente, mas fiquei muito feliz com cada um deles.

Esse cap é baseado no primeiro episódio da série. Bem introdutório. Espero que gostem.

xoxo



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Capítulo 5 – Las Vegas, 2000.

 

"...a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.

mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar..."

Mia Couto, in “Vagas e Lumes”.

 

 

Luzes por todos os lados, preenchendo gradativamente cada pedacinho de cidade que a noite escura buscasse encobrir. Diversas eram suas cores, quanto mais chamativas melhor, quanto mais pessoas atraíssem para dentro de seus grandes prédios, melhor. E nesse ritmo de substituição, o denso sol que queimava as ruas de Las Vegas foi dando lugar aos rotineiros sons vindos das máquinas de apostas – o som de quem procura a sorte, ou de quem a perde completamente. No horizonte alaranjado, já era possível encontrar pontos claros de estrelas para uma noite fresca e sem repentinas tempestades. O denso preto da noite refletiu-se nos olhos de Grissom através das janelas de seu carro, enquanto o mesmo se perdia na visão do sol que se punha atrás dos imensos edifícios que compunham a cidade. “Mais um dia”, pensou ele, soltando um sorrisinho frouxo, buscando ignorar que, junto da noite, sempre vinham também inúmeros casos que exemplificavam o pior lado do comportamento humano.

            Mas agora as coisas seriam um pouco mais complicadas. O sorriso caiu de seus lábios tão rápido quanto apareceu. As responsabilidades mudaram, tão velozes quanto uma piscada de olhos, e ainda não havia tido tempo de digerir todas elas completamente. Em uma mesma noite uma integrante de seu time havia sido gravemente ferida em uma cena de crime, e por consequência foi promovido a supervisor geral do turno da noite responsável por toda a unidade, vendo seu amigo Brass ser rebaixado de função, enquanto assumia responsabilidades sobre os casos que ele e sua equipe resolviam todos os dias. Aquilo não fazia exatamente parte de seus planos profissionais – pilhas e mais pilhas de papéis, encontros políticos com os “cabeças” do laboratório, reuniões e coordenar pessoas.

Sem perceber, ou se quer projetar o que aqueles últimos acontecimentos poderiam refletir em sua vida, Grissom não se deu conta de como tais “novos compromissos” fariam com que sua leveza em viver e se relacionar, pesassem para lados completamente opostos. Sorrisos leves e frouxos, olhares de carinho e compaixão, identificação empática demonstrável, tudo isso e mais, acabariam sendo postas em um local muito reservado de seu peito, deixando predominante às ações de suas impecáveis faculdades mentais. 

//

“Embarcando, capitão”

Não pode evitar o sorriso largo que seus lábios desenharam.

— Alguém especial?

Grissom levantou os olhos de seu celular, sem entender o questionamento de Mandy, uma das várias analistas do laboratório de Las Vegas.

— Uma amiga está chegando, vai trabalhar conosco por um tempo.

— Hum – a mulher olhou um pouco desconfiada para a mão de Grissom, que ainda segurava o celular. Aquele primeiro sorriso se encontrava no canto dos lábios do homem como um fantasma – e sorrir daquele jeito não era algo comum para o mais novo supervisor noturno.

— O que? – fingiu desentendimento perante os olhos desconfiados da mulher.

— Nada – Mandy se virou, voltando sua atenção para o que estava fazendo – mas vou adorar conhecer essa “amiga” que te fez sorrir tão fácil.

— Estou sempre sorrindo.

A mulher de cabelos levemente desgrenhados e bastante corpulenta, virou-se para o perito, e com sua melhor expressão de ironia, arqueou suas sobrancelhas – Claro, sempre.

Ainda sorrindo, o homem de olhos azuis deu de ombros, erguendo as duas mãos em sinal de rendição, retirando-se rapidamente da sala que estava. Caminhou em passadas largas pelos corredores do laboratório, indo diretamente para sua sala. Já tão acostumado com sua decoração incomum, todos os vidros com espécimes dentro eram pequenos lembretes de todos os anos de pesquisa e experimentos que o ajudaram a chegar onde estava agora. Sentou-se atrás de sua mesa, e por um momento decidiu ignorar as várias pilhas de papéis que agora eram sua responsabilidade.

Retirando o celular do bolso, discou uma mensagem rápida: “Aguardo ansioso”. Em um flash de pensamentos, cogitou o peso do que significava afirmar estar ansioso pela chegada de Sara – mas no mesmo instante, revirou os olhos em repreensão a si mesmo, pois aquilo não passava de um cuidado e atenção para uma velha amiga. Após ter voltado de San Francisco, eles mantiveram um contato bastante ativo. Haviam trocado telefones e depois arrumaram os emails, e com isso passaram a manter um contato quase semanal com troca de informações e reflexões, em sua maioria sobre trabalho, mas que serviram para colocar em um cantinho escuro da mente a forma como terminará o último encontro deles antes da volta de Grissom para Las Vegas. Todos os acontecimentos envolvendo o quase beijo ficou “esquecido”, deixando-se sobressair acima de qualquer flerte, suas figuras profissionais.

            Lembrava-se bem das várias demonstrações de conhecimento apresentadas pela perita, e logo suas suspeitas sobre um bom trabalho feito pela mesma foram confirmadas tanto pelas longas conversas pelo email, quanto pelos responsáveis do laboratório onde ela trabalhava. Nos últimos tempos várias tentativas foram realizadas em contratar um novo CSI que fosse capaz de lidar com todos os atributos da profissão – alguém experiente, inteligente, de estômago forte. Infelizmente Holly havia sido tirada de sua função de maneira triste e brusca, e o futuro de sua vaga como criminalista ainda se encontrava nas mãos de um parecer médico. E como agora Grissom era o responsável, nada melhor do que alguém de confiança para ajudá-lo em situação tão delicada. Chamar Sara para Las Vegas, mesmo que provisoriamente, seria um certo contrapeso para suas várias preocupações extras naquele momento. Ele sabia que poderia confiar completamente nela.

//

— Eu nem preciso me virar, Sara Sidle!

As palavras escorreram facilmente pelos lábios de Grissom, puxando em cada letra um pouquinho mais do sorriso que nasceu ao se virar e ver Sara olhando igualmente sorridente para ele.

A jovem estava radiante, os cabelos mais curtos do que se lembrava de vê-la da última vez, soltos acima do ombro lhe dando um ar de naturalidade e paz, enquanto seus olhos permaneciam os mesmos marrons penetrantes acompanhados de um sorriso de dentes levemente separados que marcou sua memória. Ali estava ela, uma amiga de cinco dias que finalmente pode se juntar a ele, para quem sabe, um pouco mais do que apenas esse curto período de tempo.

Facilmente deram curso a uma conversa leve e descontraída sobre seus modos de fazer ciência, que mesmo após tantos anos, ainda envolviam a prática direta e nada de simulações virtuais. Mas aquilo não era o real motivo pelo qual a morena havia viajado quase 1000 quilômetros de São Francisco a Las Vegas.

— Como está a garota? – questionou Sara, mudando o tom descontraído da conversa anterior, para algo mais sério e profissional.

— Ainda está na cirurgia, não está nada bem.

A nova perita acenou em concordância triste – É uma pena...

— Deus, Sara... Tenho várias perguntas sem respostas – Grissom tinha os olhos distantes, aparentando realmente como toda aquela história do acidente de Holly e Warrick o incomodava.

— Há só uma pergunta que conta agora: porque Warrick Brown deixou o local?

— E espero que você possa me ajudar a reponde-la o mais rápido possível – Grissom sorriu levemente – não quero essa história dando mais problemas.

— Ok, conte comigo.

— Hey, Grissom! – era Nick, que acabara de descer do topo do prédio para verificar seu experimento – parece que nosso cara foi empurrado...

— Sim, Nick – o perito falou em tom de satisfação pela observação e seu aprendiz.

— Bom... – o jovem perito então percebeu que havia mais alguém junto de Grissom – ouw, e você deve ser, Sara! – lhe sorriu abertamente, esticando uma mão para um aperto receptivo.

— Yeah, e você?

— Nick Stokes – Sara apertou a mão do homem a sua frente, sentindo-se bem pela recepção que o mesmo a dirigiu. Pareceu ser um cara incrível.

— Sara estará trabalhando com a gente por um tempo, Nick.

— Ótimo, estávamos mesmo precisando de um novo membro na família.

A mulher achou graça do comentário do rapaz, mas sentiu um calorzinho tomar seu coração. A palavra família, palavra de grande peso para Sara.

— Fico feliz.

— Nick, vamos recolher estes bonecos e procurar o responsável pelos vídeos de segurança.

— Certo, chefe – ele acenou brevemente para Sara, entendendo o recado de que a conversa fiada havia se encerrado.

— Sara, você pode ir até o laboratório se encontrar com Catherine, ela é a responsável pelo caso Gribbs, e vai poder te atualizar melhor.

— Certo, e Warrick?

— Ele está de licença, mas provavelmente Catherine saberá te dizer onde ele está – Grissom colocou seu óculos escuros novamente – Tenho certeza que ele não vai conseguir se manter distante do caso ou do laboratório por muito tempo.

Sara ficou encarando Grissom por alguns segundos, enquanto ele pegava sua maleta e observava Nick organizar o local do experimento. Então aquele era o seu amigo no “modus operandi”. Completamente focado, diria ela – ok, até mais tarde.

— Oh, Sara... – ele se aproximou – depois vamos tomar um café, você ainda precisa se instalar, certo?

— Bom, eu não pensei muito sobre isso ainda, já que não sei quanto tempo tudo isso aqui pode durar...

O supervisor fez um leve bico com os lábios, pensativo – Ok, nos vemos mais tarde – virou-se e começou a seguir Nick para dentro do grande cassino.

Sara ficou olhando enquanto ele se afastava, sem conseguir que alguns questionamentos voltassem para ela. Grissom tê-la chamado para trabalhar com ele, mesmo que brevemente, foi uma grande surpresa. Eles haviam se falado bastante nos últimos dois anos, e mesmo que um contato estritamente profissional, havia um sentimento que não sabia explicar quando pensava no homem. “Ok, Grissom. Vamos ver aonde isso vai nos levar.” A confusão ainda se encontrava pairando sobre sua mente.

//

Tudo que se seguiu, aconteceu em um fluxo de tempo muito intenso. Ao mesmo tempo em que as horas voaram diante os olhos de todos da equipe, elas também foram trazendo junto de si punhaladas no peito de cada um. Holly Gribbs estava morta. E aquela pequena frase não era capaz de se dissipar tão fácil quanto os CSI’s gostariam. Um misto de sentimentos os assombrava, enquanto a realidade de que aquelas memórias estariam sempre ali para lembrá-los, de como um pequeno erro se tornou uma grande tragédia.

Warrick Brown havia deixado que sua super confiança ultrapassa-se os limites, e o peso veio tão forte sobre si como jamais calculou ser possível. Nunca fora sua intenção que Holly se machucasse ou morresse – havia falhado pela falta de paciência em ensinar a jovem que estava começando, sem pensar que um dia ele esteve na mesma posição. Quase perdeu seu emprego em meio a tudo isso, além de que ficava cada vez mais evidente que havia um problema crescente entre si e os jogos de azar. Se não fosse por Grissom estar na chefia, e ter lhe concedido um voto de confiança, com certeza não seria mais um integrante do laboratório criminal.

— Bom, parece que terminamos mais cedo do que esperado...

— Catherine é uma ótima profissional – comentou Sara.

— Você também – contrapôs Grissom – obrigado pela ajuda com Warrick – ele fez uma pausa, parecia que as palavras eram difíceis de escolher – manter os últimos acontecimentos em segredo é a melhor decisão.

Após terem terminado o turno duplo que os arrastou por um precipício de emoções, os peritos se dispensaram, indo cada um buscar uma maneira de continuar seguindo seus dias após uma tragédia. Grissom e Sara foram em uma pequena lanchonete perto do trabalho para tomar um café.

— Bom, o importante é o que vem de agora pra frente.

— Sobre isso... – Grissom tinha suas mão sobre a mesa, mexendo com as pontas dos dedos em gestos rítmicos e meio ansiosos – O que achou sobre trabalhar aqui? Quero dizer, você comentou sobre um pequeno estranhamento entre você e Warrick, e que a princípio Catherine não esteve muito aberta, mas...

— Eu gostei – interrompeu ela, notando a dificuldade que o homem a sua frente parecia estar tendo em colocar em palavras os seus pensamentos pessoais – no final eu era a intrusa aqui...

— E caso não fosse para ser...

— Como assim?

— A vaga da Holly está em aberto, e estamos precisando de mais um integrante para compor o turno.

— De alguma forma isso é uma oferta de emprego? – a morena arqueou as sobrancelhas, parecendo confusa com aquela conversa inesperada.

Grissom sorriu suavemente para a amiga. Aquele seria seu primeiro gesto de tranquilidade em horas, pois toda a tensão dos últimos acontecimentos haviam destruído seus nervos. Por um instante ficou claro o motivo de ter trago Sara para Las Vegas ao invés de qualquer ouro CSI que conhecesse. A confiança e sensação de paz que ela havia trago em seu coração na época de São Francisco eram os motivadores. Mesmo que seus ombros doessem de tensão pelos dois turnos seguidos, ou que a simples lembrança da pilha de relatórios que o aguardava em seu escritório assombrassem sua mente, estar naquele café com Sara o deixava um pouco mais feliz.

— Apenas se você disser sim.

— Nossa... – a mulher se permitiu sorrir, evidenciando a pequena separação de seus dentes, e como aquele gesto fazia seus olhos brilharem um pouco mais – Eu não vim exatamente preparada pra isso.

— Não se preocupe, toda a burocracia é por minha conta – Grissom bebeu um pouco de seu café, olhando sobre a xícara para a morena a sua frente, que se encontrava genuinamente surpresa – os outros detalhes nós vamos dando um jeito com o tempo.

Sara amava San Francisco, amava o laboratório que estava trabalhando, e devia muito do que aprendeu nos últimos tempos as experiências que teve com o pessoal de lá. Mas o que a impedia de mudar um pouco as coisas? Ela não tinha exatamente algo que a prendesse naquela cidade – havia sua mãe, mas o relacionamento delas estava muito longe de ser algo agradável e constante. Não havia um relacionamento, poucas amizades. Trabalhar no laboratório de Las Vegas era a oportunidade de trabalho sonhada por qualquer perito, pois ele era o melhor laboratório do país. Pensando dessa maneira, tomar uma decisão não seria muito difícil. E tinha Grissom.

— Sim!

— Sim? – ele se animou.

— Sim! – Sara confirmou, estando levemente consciente das várias coisas que precisaria arrumar em sua vida de agora para frente.

Las Vegas, a cidade que nunca dorme, agora seria seu novo lar.

 

 

 

Quem falou de primavera

sem ter visto o teu sorriso

falou sem saber o que era

Cecília Meireles, in "Antologia Poética"


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