The Hiker escrita por Gabrielus


Capítulo 3
Teatro




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Teatro

A chuva me traz memórias...

E a névoa mancha os vidros em silhueta.

Gostava das nossas histórias, e sabia todas as falas

Letra por letra.

Sem ler o roteiro clichê nas páginas amareladas.

 

Enquanto me permaneço inerte,

Um palco aguarda o ritmo do piano,

Para nos presentear com uma salva de palmas.

Mas essa peça não acaba ao fechar das cortinas,

Nem quando chegam os domingos cinzas.

Ela continua num quarto frio e pouco iluminado;

Em que as lâmpadas não nos focam, como no ato.

Elas se dispersam em um teto descascado.

Ouve-se as goteiras de uma chuva,

Que dura desde o outono passado.

 

Será que ao fundo sobe um cenário?

Há uma floresta, há fauna, há flora...

Afloram meus sentimentos de Hamlet à toda hora.

Será que devo estar ou não estar?

A questão chave na minha fala...

É de cerne quase esquecido nessa cena.

Em um décor ousado,

Surge uma donzela num guarda-chuva dourado;

A me explicar que só posso estar, mas não posso ser.

Onde eu devo estar? – As frases do enredo questionam;

Mas a donzela em seu fino vestido branco de cetim,

Parece apenas me ignorar com o olhar.

 

Como prosseguir sem ela para me guiar?

A chuva, caindo irregular, transborda poesia...

O palco, estarrecido, anuncia com expressões uma face em angústia.

Ao fundo, uma voz por detrás do cenário me indica...

Que a figura daquela donzela é conhecida, é amiga.

Pego-me entorpecido com o supetão da notícia...

E com linhas fracas, meu sorriso singelo desabrocha;

No palco, pareço aceso como uma vela em combustão.

Na janela, um desvairado perdido em desilusão.

Eis então, a epifania em vão...

 

A chuva que cai sob o céu noturno,

Espia-me entre as frestas das nuvens,

Enquanto repasso o texto da minha vida.

Quem era aquela menina,

Que contracenava comigo num teatro de boca de esquina?

E por que sua expressão tão desinteressada,

Frente minha franca agonia?

 

Cético o dia em que me pegaria pensando...

Nos motivos pelo qual liguei o toca-discos.

E ouvi, no piano, uma sinfonia muda,

Com a progressão sombria de uma vida vazia,

E uma voz, que dizia...

 

A consciência é a flor do espetáculo.

~Gabriel.


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