Bordel

Neste cômodo um pouco apertado há...

Pelo menos quatorze tipos diferentes de bocas,

que eu adoraria provar.

Pelo menos uma dúzia de fragrâncias adocicadas,

que eu gostaria de cheirar.

Pelo menos dezenas de peles cálidas,

que eu desejaria tocar.

No badalar de uma música chata que ao fundo ressoa,

Pego-me inerte ao pensar.

Onde há aqui um lugar para eu comprar mais uma cerveja?

De onde surgiram essas luzes em ciano, tons pastéis e cereja?

Creio que o licor que bebi há pouco é o que me tonteia.

Sei que tomei uns goles a mais do que devia;

Sei também que estou onde não devia.

Mas a magia da lua negra me espia,

E uma estrela ao meu pecado expia.

Não sei se devo segui-la;

Há breu em sua trajetória vazia...

Deuses! Meu copo está vazio.

Talvez devesse ir a um lugar que

o preencheria.

Donzelas de uma noite lancinante me guiam,

ao ritmo das batidas.

Uma mordisca meu pescoço em euforia,

Outra sussurra-me palavras,

E alguma me conduz numa via.

É estranho eu notar o quanto esfria...

Estou pensativo sobre o que falta,

Mas não acho que deveria.

Afasto-me da folia para admirar a noite fria...

Quase acendo um cigarro, em sutil devoção;

Ainda não comecei a traga-los de verdade,

Mas começo a trazê-los.

Não vai demorar muito para sumir dos bolsos da minha jaqueta...

E começarem a preencher as gavetas do meu carro.

O isqueiro eu já trago, comigo, no bolso esquerdo.

Tateio com medo meu destino entre as constelações,

E me aproximo de uma verdade indecifrável.

Naquele pequeno cômodo apertado há...

Pelo menos centenas de mulheres,

para me conduzirem para longe.

Pelo menos quatorze quartos,

para me deitar com amantes.

Pelo menos milhares de conversas,

para me deixarem presente.

Porém, estou aqui do lado de fora...

Onde o frívolo sentimento do que é amor me aflora.

~Gabriel.