Play with Fate escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 2
Uma menina na floresta




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Depois que minha filha conseguiu derrotar Shinnok, ela sempre foi convidada a participar de cerimônias e programas de Talk Show. Sem querer, ela se tornou uma estrela, mas eu podia ver que ela não queria isso. Eu a incentivava apenas para não pegar a fama da mãe emburrada.
Mas, sinceramente, sentia que mesmo com a derrota daquele deus velhaco, a minha felicidade não estava completa. A maioria dos meus amigos que combateram comigo há vinte e cinco anos não estavam em vida e aquilo corroía meu coração. Pelo menos uma vez por semana, eu tinha quase o mesmo pesadelo: Eles rodeavam minha casa, com os rostos corroídos pela decomposição, murmurando uma música que me dava arrepios de tanto pavor. Acordava angustiado e ia para a cozinha fazer um chá, olhava o céu escuro pela janela e conseguia ver a lua. Não sei se o sono fazia isso comigo, mas às vezes eu via dois luzeiros amarelado em minha direção, como se algum dos espectros de meus amigos me vigiava. Mas depois de muito custo, eu acabava indo dormir.
Até que resolvi ir ao Sky Temple fazer uma visitinha ao Raiden. Não era de se surpreender de eu ver Bo Rai Cho tomando um dos seus saquês na entrada do templo. O aroma de álcool pairava próximo a ele e era meio estranho quando eu o encontrava perfumado. Ele olhava para uma tempestade que estava próxima a chegar e murmurava algo inaudível. De repente, olhou para mim e disse apontando para onde vinham os trovões:
– Os céus anunciaram sua visita.
– Que modo mais barulhento de me anunciar. – falei em tom de galhofa.
– Deve ser algo muito importante para fazer você vir aqui. – disse Bo Rai Cho se aproximando de mim.
– Preciso falar com Raiden.
– Não sei se te falaram – disse Bo depois de um arroto – Raiden ficara afastado por algum tempo para se purificar no Jin Sei.
– Caramba, eu sempre esqueço de que ele ficou corrompido.
– Corrompido acho que não seria adequada, mas acho que contaminado seria melhor. Mas dependendo, eu ou Fujin podemos lhe ajudar.
Em seguida ele me chamou para sentar em um banco de madeira, que estava próximo a nós. Fui e sentei-me com ele. De onde estávamos eu podia ver uma vista incrível. Eu sorria e me sentia grato profundamente por ter meus olhos para ver tal beleza da natureza. Respirei fundo e contei dos pesadelos frequentes que eu estava tendo. Bo Rai Cho ouvia-me atentamente e pelo seu olhar tentava decifrar o significado do sonho.
Quando terminei, ele me olhou e disse:
– Johnny, eu percebo a tamanha vontade que você tem de tê-los de volta em nosso convívio. Uma vez, Kenshi me disse que havia lido sua mente e viu o tanto de vezes que você se culpa pela morte dos guerreiros. Você diz que devia ter feito algo para salvá-los, mas se sente covarde. Acho que você precisa aceitar o que aconteceu e seguir em frente. Veja, sua filha conseguiu derrotar um deus ancestral, ela está sendo reconhecida no mundo inteiro. Você se reconciliou com Sonya, algo que era seu sonho.
Recostei no banco e fiquei refletindo por alguns instantes cada palavra que Bo Rai Cho dissera. Sei que aquele sentimento que eu nutria não fazia bem para mim, mas eu sentia a necessidade de me mostrar útil pelo menos mais uma vez nessa vida. E salvando meus amigos tirando-os da maldição do falecido Quan Chi já estava de bom tamanho. Mais uma vez a necessidade de ser reconhecido pulsava em minhas veias.
– Mas e esses espectros que vi a noite...
Bo Rai Cho pousou a mão sobre o meu ombro e disse:
– Esses fantasmas são formados pela culpa que está presa em sua mente. Ela que faz você criar isso em sua cabeça. Saiba que a morte deles não foi por sua culpa. Era para eles terem morrido, aceite.
Saí do Sky Temple tentando tirar da minha cabeça a responsabilidade que eu mesmo tinha colocado sobre meus ombros. Mas era uma missão difícil, demoraria dias, meses e quiçá anos para isso acontecer.
Eu caminhava na floresta dos mortos em direção ao avião que me levaria para a base das F.E., próxima de Hong Kong. Olhei para o lado e ouvia apenas o cantar triste de alguns pássaros, que ousavam a voar por ali. De repente, me deparei com uma menina que aparentava ter uns doze anos de idade, encostada em um toco de uma árvore podre, comendo algumas raízes. Chamou-me atenção o colar com uma linda pedra verde que pendia de seu pescoço. Mas não dei muita importância. Aproximei-me dela e perguntei:
– O que uma menina como você faz por aqui sozinha num lugar tão... estranho?
Ela voltou o olhar para mim e respondeu:
– Estou esperando meu irmão voltar de uma caçada.
– Mas é perigoso ficar aqui sozinha.
– Eu sei me virar por aqui. – ela se levantou guardando o resto de raízes em uma sacola de tecido que carregava.
Essa menina me olhou como se quisesse aprontar alguma coisa. Deu um sorriso matreiro e perguntou:
– Você tem um olhar muito preocupado. Aconteceu alguma coisa?
– Não é nada.
– Conheço o senhor. Vi você na TV com sua filha. Você estava falando de seus amigos que perderam suas vidas numa batalha.
– E você tem TV em casa?
– Eu vi na casa de uma tia que mora na cidade. Mas eu queria te dizer que eu tenho como trazer seus amigos de volta.
Naquele momento eu me animei ao ouvir aquela proposta tentadora. Não me importava com sua idade, eu só queria desvendar o segredo que ela havia descoberto. Abaixei-me ao nível dela e pedi que ela me dissesse como eu traria meus amigos de volta.
– Voltando no tempo – ela respondeu como algo bem simples.
– Você deve estar brincando com a minha cara, não é? – falei me levantando já com uma leve irritação.
– Mas é sério o que estou dizendo. Aqui nessa floresta existe um portal chamado fenda do tempo. Você pode entrar nela e voltar no exato momento que você desejar. Quem sabe assim você não consegue consertar esse erro que fez com que seus amigos morressem.
Aquilo era o que eu mais procurava naquele momento e seria o modo mais fácil. Olhei para ela e pedi para que ela me levasse até lá. E fomos. Caminhamos mais ou menos uma hora e daí veio a preocupação de o irmão dela notar seu sumiço:
– Seu irmão não irá te procurar?
– Ele vai pensar que já voltei para casa.
Continuamos até chegar em um lugar onde realmente tinha uma fenda esverdeada. Ali a pedra que ela usava ficava mais brilhante, mas aquilo não importava mais, eu queria entrar na fenda. Eu estava eufórico em ter a oportunidade de mudar tudo e salvar os meus amigos.
– É só entrar? – perguntei afoito.
– Apenas isso e toda sua história será refeita.
Eu sei que poderia ter consequências drásticas com a minha decisão, mas era isso o que mais queria na vida. Apenas acenei para a menina sem ao menos saber seu nome e me despedi.
Acabei entrando na fenda.


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