Os seis genins chegaram à vila da Folha quando o sol começava a se pôr, apresentaram os documentos e entraram pelo portão principal.

O comando de Amegakure já havia reservado quartos ladeados no mesmo corredor em uma pensão modesta na periferia da cidade para que os gennins se acomodassem. 

Ahmya era a única que recebeu um dormitório individual. Os outros foram divididos em dois quartos para meninos e meninas.

A primeira etapa do exame chuunin aconteceria na manhã do dia seguinte. Todos estavam com tempo livre até lá.

Depois de se instalarem, o time um, saiu em direção a um bosque com o propósito de treinar. 

Ahmya achou a atitude tola. Era certo que as vilas que participariam do evento teriam seus espiões. E ela não estava interessada em expor os segredos de suas técnicas. Ainda não.

Já os membros de seu próprio time rumaram para o centro da cidade. 

Koji e Makoto saíram animados, conversando entre si sobre explorar a culinária local. Mas não convidaram a menor.

Ahmya não se importou que os outros se interessassem por suas próprias atividades e a deixassem para trás. 

Na verdade, ela estava torcendo para que isso acontecesse. Até porque, a Uzumaki já tinha seus próprios planos.

Assim que os colegas saíram, ela pôs-se ao trabalho. 

Com as mãos em posição de hitsuji, Ahmya não levou nem um minuto para encontrá-lo. 

O que fez seu entusiasmo assumir um tom de espanto. 

‘Eles são tantos!’

Shisui também estava na periferia, mas do outro lado da cidade. 

Embora o irmão soubesse que ela se formaria logo, eles não se viam desde antes do ritual de formatura. 

De modo que o novo protetor orgulhosamente preso à testa da caçula também seria uma surpresa.

Ahmya controlou seu chakra e contornou a cidade pelo bosque. Quanto mais se aproximava, mais rápido e forte seu coração batia.

Ela chegou a um complexo cercado por muros altos e saltou para uma árvore um pouco distante do portão de entrada. 

Os muros e portão eram ornamentados com entalhes e pinturas de uma espécie de leque que a menina já sabia se tratar do brasão dos Uchiha.

Por alguns minutos ela observou do alto, pelo lado de fora. 

O lugar parecia agradável, era formado por casas e pequenos prédios de arquitetura tradicional bastante elegantes. 

O sol já tinha se posto, então as luzes e postes estavam acesos e algumas pessoas caminhavam pelas ruas. Outras tantas paradas conversando cordialmente entre si. 

Todos eram Uchiha.

Aquele distrito parecia ser o lar de todo o clã. 

Ahmya não entendeu porque o bairro se localizava tão longe do centro da cidade e era cercado por muros tão altos. Mas isso não importava, Shisui estava lá dentro.

“Aqui não” o chakra do irmão veio da árvore atrás de suas costas. Ele surgiu e desapareceu tão rápido que a irmã mais nova quase não conseguiu sentir. 

Se dependesse dos olhos, a kunoichi não teria percebido a presença fugaz do outro.

Pouco depois o chakra de Shisui estava parado a alguns quilômetros de distância seguindo por dentro do bosque. 

Foi para lá que Ahmya se dirigiu.

Ela se deslocou pelo chão para não ser identificada. Enquanto corria, se arrependia por estar ali. 

Sua empolgação imatura a levou a fazer besteira mais uma vez. Ela foi invasiva. Deveria ter contado antes ao irmão que estaria na vila dele.

Ahmya estava certa de que seria recebia com um sermão. E seria um sermão merecido.

Quando se posicionou de pé na frente Shisui, as bochechas da menina estavam rosadas e os olhos baixos. 

Eles estavam no topo de uma colina, sob os pés da qual corria um grande e volumoso rio.

Ahmya conhecia a geografia internacional, então sabia que aquele era o rio Nakano. Um dos maiores do mundo que cortava todo o país do Fogo, até desembocar no Vale do Fim.

“Me desculpe por não deixá-la entrar” Shisui falou parecendo constrangido, a região abaixo de seus olhos estava levemente avermelhada.

Ao ouvir essas palavras do irmão, os olhos da mais nova se arregalaram com a surpresa.

“O clã Uchiha é… complicado. Eu não quero que você se envolva com problemas que você poderia simplesmente dispensar” ele explicou alguma tristeza, talvez, um sentimento de culpa em sua voz.

“Nii-san!” Ahmya não se importava com o clã e se moveu rapidamente abraçando o irmão.

Quando se desfizeram do abraço a reação de Shisui foi ainda melhor do que a mais nova imaginava.

“Parabéns pela formatura. E.. exame chunin, hein?!” ele sorria.

O coração de Ahmya se encheu de calor com as palavras do irmão, mas ela ainda protestou. 

“Como você sabe?! Era pra ser uma surpresa.” 

“Eu sou um jounin da Folha. É claro que eu saberia quem são os candidatos.” 

O Uchiha tinha um tom convencido, mas logo se recompôs “E como são seus companheiros de time? Eu nem sabia que você tinha um, então isso é uma surpresa”

Shisui era superprotetor. Toda vez que dizia algo sério, amenizava o tom de voz e concluía com uma frase que ele sabia que agradaria a irmã. E foi exatamente isso que aconteceu.

Ambos caminharam alguns passos e sentaram-se na borda da colina, com os pares de pés pendurados sobre o precipício, acima do rio. Eles continuaram a conversa.

“Bom… eu não tinha mesmo um time. Os outros gennins foram enviados de Ame para me acompanhar no exame chuunin. Tem outro time também. Somos o time dois.” 

Enquanto falava a menina coçava a nuca, já antecipando que os detalhes da informação eram confusos até para ela mesma.

“O que seu sei é que, quando os papéis da minha formatura voltaram, havia uma recomendação dos líderes da Chuva para que eu fizesse o exame chunin”

Shisui tinha um olhar desconfiado e a irmã compartilhava desse sentimento.

“Dizem que a pessoa a quem chamam de anjo me recomendou pessoalmente. Também foram os chefes da capital que montaram os times e me colocaram como capitã.”

Antes de continuar, Ahmya dirigiu ao irmão um olhar de orgulho próprio. Como o de quem fez a lição de casa.

“Meus colegas são bons. Eu estudei o perfil e as técnicas deles, não foi difícil bolar um plano de ação conjunta. Na verdade, as habilidades deles são surpreendentemente complementares às minhas.”

“Como esperado da minha irmãzinha.” a irmã adorava essa frase e Shisui queria que ela se sentisse tranquila “Você vai se sair bem. Não pense demais sobre isso.” 

Mas aquela situação era mesmo muito suspeita. 

O Uchiha havia acompanhado com muita atenção todas as mudanças do país da Chuva durante os últimos anos. 

Ele já sabia da guerra civil e do novo poder. Até ir visitar a irmã tinha se tornado um pouco mais trabalhoso, dada a vigilância na fronteira.

A princípio, as transformações do país chegaram a Shisui com algum otimismo. 

Apesar de todo o mistério em torno do líder, o tal ‘Deus’ parecia estar realmente empenhado no desenvolvimento de um sistema de governo sólido. 

O que, como consequência, fortalecia a segurança de Ahmya.

Mas tinha aquela bizarrice de o líder ser tratado como um Deus. E, agora, o interesse por sua irmã era evidente. 

Era óbvio que o time da menina foi montado especificamente para levá-la até a final. 

Shisui nem se espantaria se descobrisse que o outro time na verdade servia como apoio para o time de Ahmya. 

‘O que eles querem com ela?!’

“Shisui-niisan” a voz doce de Ahmya trouxe o irmão à realidade. 

“Hm?”

“Eu… eu preciso ir. Tenho que terminar de revisar os detalhes da prova de amanhã e.. não quero que meu time perceba que eu saí” a voz de Ahmya era relutante.

Ela não queria deixar a companhia do irmão. Mas também tinha suas próprias responsabilidades.

Shisui sorriu abertamente demonstrando um gentileza e afeto que, em todo o mundo, apenas ele era capaz de expressar “Certo. Dê o seu melhor!”