Úrsula e Herculano - Flor do Sertão escrita por Lashippadora


Capítulo 13
The end




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Flor do Sertão

( passa um ano )

Chegou o inverno no Sertão, é o tempo  mais bonito pro povo que pena na lida o ano todo, porque tudo que a gente planta nasce, nasce também a flor de mandacaru que é bonito demais pra mode da vista apreciar,  é a flor do Sertão formosa e ruiva feito a minha Duquesa, a mãe de meu filho João, o menino nasceu feito eu forte e com saúde, ele vai ser Capitão e Rei do Cangaço pois Jesuíno prefere não seguir os passos do pai, tudo bem eu até entendo, porque não foi criado mais eu, só que mais João vai ser diferente porque eu vou tá perto dele pra mode ver crescer e ensinar a vida que lhe espera. No dia do nascimento eu pensei que ia endoidar , a Duquesa me acordou no meio da noite pra me avisar que nosso filho tava nascendo. Sento ela na cama e grito por minha mãe, Severina mais Xita também vem ajudar a bota o futuro Rei do Cangaço no mundo. Enquanto a Duquesa grita de dor eu me aperreio  e estalo todos os meus dedos enquanto zanzo pra lá e pra cá, minha danação é tanta que faz Dona Cândida me pedir pra se retirar e esperar lá fora, então eu saio e continuo zanzando lá fora mermo. Bel mais os outros cabras se achegam pra mode esperar a Duquesa parar de sofrer , não sei o que se passa dentro da tenda, então escuto minha mãe pedindo pra minha mulher botar mais força e empurrar, estou nervoso, muito nervoso.

— Calma Capitão, o senhor já viu foi coisa pior, vici??

— Oxe, Bel, e eu não sei, mas furada de faca ou rombo de tiro o cabra se acostuma.

   Passa quase 10 minutos depois que deixei as mulheres sozinhas mais a Duquesa, não sei se me sento ou se fico sentado, Bel está encostado num tronco seco de madeira e continua me olhando com os zoi redondo que Deus lhe deu, então escuto um grito mais alto da Duquesa e o choro do recém-nascido.

— Capitão teu filho nasceu!!! – me fala Belarmino como se eu não tivesse assuntado. Nesse momento sai Dona Cândida de dentro da tenda .

— Herculano, é um menino macho! – Oxente, corro pra mode conhecer meu menino e encontro ele deitado no peito da Duquesa, o rosto dela tá suado, os cabelos pregados na testa , no lençol  vejo uma mancha de sangue. No canto tá Severina juntando a trouxa dos panos pra lavar , Xita tá cuidando do cordão umbilical que minha mãe cortou. Então me aproximo, estou com os olhos rasos dágua, a boca treme pois é a primeira vez que vejo um filho meu nascer, Benvinda me negou essa alegria, felizmente com a Duquesa a história é outra. Me sento na beiradinha da cama, minha branca olha pra mim e me dá um sorriso desses que desmantela meu juízo e corta fundo na garganta, passo a mão na cabeça dela e afasto uma tira de cabelo que tá grudado perto dos olhos, ajudo minha Duquesa a segurar nossa criança.

— Vou botar o nome dele de João, o Capitão tá de acordo?? – afirmo que sim, estou emocionado demais pra falar, passa tanta coisa na minha cabeça que perco o tino de onde estou então me apercebo que não tô sonhando, tudo tá acontecendo mermo, então peço pra segurar João em meus braços, a Duquesa apoia a cabecinha dele na palma da mão e me entrega pra mode espiar seus olhos que ainda estão fechados, aproveito pra ninar sacudindo lentamente o corpo. Daquele dia em diante passo minhas noites assim, colocando meu filho pra dormir no colo, as vezes acordo na calada da noite só pra mode balançar a rede de João e fazer ele dormir sossegado até o dia amanhecer. Um ano mudou muita coisa, só não muda nunca o jeito da Duquesa, acho que ela nunca vai se curar das frescuras que aprendeu lá em Seráfia, pois não me acompanha nos assaltos e prefere se guardar do sol pra mode proteger a alvura da pele, gasta metade da riqueza que a gente ajunta com perfumes e roupas caras , mermo assim eu gosto do jeito dela pois foi por essa mulher que eu me encantei , se ela se tornar  uma cangaceira de verdade acho que perderia o feitiço que a diaba carrega. Quero e faço gosto de minha Duquesa do jeitinho que sempre foi, aprecio voltar das pelejas e encontrar minha flor do Sertão perfumosa, sempre arrumada. Nem a maternidade mudou certas qualidades que tanto aprecio nela, vici??

   Lady Cecília passa as férias no acampamento pois a Duquesa fez um acordo mais General Baldini e Rei Augusto aceitou que a menina  seja criada perto da mãe, então ela estuda em Seráfia mas passa 2 vezes por ano  um mês do nosso lado, faço gosto da convivência mais ela, oxe, a menina é doida pelo irmão e eu mais ainda por ela, crio Lady Cecília feito filha minha, vici?? Jesuíno mais Açucena também passam maior parte do tempo na Vila São Miguel, só vão pra Seráfia nas datas importantes , Rei Augusto e Maria Cesária são quem estão no trono porque todos acharam melhor a vida seguir por esse caminho. Bel continua enrabixado pela jornalista mas segue no bando esperando as visitas da moça que escreveu dizendo que vinha por isso o cabra tá que não se aguenta, ele não para de falar na sua branquinha.

   Hoje termino minha lida mais cedo e volto ligeiro pro acampamento que chamo de casa, ainda do meio do mato já perto de pear o cavalo, ouço o choro de João e a voz da mãe dele acalmando , então espio por riba das folhas e vejo a Duquesa banhando nossa cria na tina, assovio pra mode o bicho parar e continuo espiando o  resto do banho, espio como a Duquesa é jeitosa com crianças mermo sabendo de suas maldades com os filhos. Vejo ela passar o sabonete com suas mão delicadas, ela brinca com a espuma enquanto tira a água dos olhos dele, seus  cachos não estão soltos e a sua longa saia tá quase beijando o chão, não está trajando roupas finas como antes mas continua arrumada ,  então reparo na felicidade que me espera , por isso não demoro mais pra me mostrar , quando escuta o casco do cavalo pisando o chão , a Duquesa vira o rosto pra mode me ver.

— Papai!! – João chora e me chama pra mode acudir ele do banho, mas a mãe é firme. Desço do cavalo e amarro as redeas no tronco mas deixo o laço solto,  chego perto de minha família e  beijo os dois, beijo de novo a boca de minha Duquesa e ela afaga minha barba, depois peço pra João ser bonzinho e obedecer a mamãe.  Em seguida entro na tenda pra mode descansar o corpo, afadigado eu tiro o jibão, coloco o chapeu em riba da mesa e o colete das balas no braço da cadeira, estou pensando que o resto da tarde vai ser tranquilo porque tá tudo certo, a Volante tá bem longe de Brogodó, Doralice apoia a causa dos cangaceiros, minha família tá perto deu e

— Capitão, oh Capitão. – escuto a voz de Belarmino me chamando lá fora.

— Oxente, mas que danação é essa homem?? – boto a cabeça pra fora pra mode assuntar e vejo os cabras tudo com as espingardas na mão, de jibão e faca amolada. – Que tá acontecendo aqui?? – Pergunto pra mode Bel me responder. Nessa hora a Duquesa passa mais João nos braços e  protejo eles atrás de mim.

— Herculano tá acontecendo alguma coisa? – A Duquesa tem faro bom pra desgraceira, a diaba não é cangaceira nascida mas tem o sangue da peste correndo nas veias, mermo assim eu prefiro que tudo permaneça como está, sem ela se arriscando mais eu nas pelejas mundo afora, então eu viro a cara e levo as mãos pra segurar a cabeça dela enquanto lhe peço pra entrar na tenda e cuidar de nosso filho enquanto cuido desse novo aperreio.

— É Rouxinol, meu Capitão!! - Diz Belarmino branco feito farinha. – O filho do cão não morreu não, Capitão!!

— Diacho de conversa é essa?

— A gente viu ele lá nas entocas!! Tá todo mundo achando que ele vai querer acertar o fio solto mais o senhor.

— Tu viu mermo, Bel??

— Tô dizendo, Capitão!! O homem é feito gato igual a Duquesa.

— Deixe a Duquesa de fora.

— Oxente, é que ela também voltou dos mortos, vici??!

— Pois da próxima vez eu deixo ele bem morto, mas morto mermo pra mode não ressuscitar mais!!

   Segue a vida no cangaço, mas agora eu tenho outras motivações pra liderar o bando.

                                 

       FIM 


 

 

 


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