Úrsula e Herculano - Flor do Sertão escrita por Lashippadora


Capítulo 11
A Duquesa de Seráfia




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 Flor do Sertão

Passo pra mais de mês em alto mar pensando naquela diaba e no filho que ela diz tá carregando na barriga, à essa altura eu sei que a diaba já chegou em Seráfia eu só não consigo entender o que ela quer com essa volta, essa é só mais uma de minhas perguntas que ela vai ter que me responder.  Nas tardes que parecem infinitas eu fico na proa do navio pra mode ver o amarelado do sol, só desse jeito mato a saudade do meu sertão e penso no que eu tô fazendo, na besteira de largar o cangaço pra ir atrás da Duquesa. Pra meu sossego, a viagem termina  e o navio atraca no porto, corro os olhos no tanto de terra estranha que tá à minha frente, a boca fica seca e me perco no meio do mar de gente que anda pra cima e pra baixo, eu noto que do outro lado do mundo as pessoas são diferentes e  nessa correria maldita eu não tô acostumado, por isso preciso de ajuda pra mode orientar meu juízo e achar o castelo do Rei.      

     Chego nos jardins reais e fico cismado com o tanto de planta bonita que não tem no meu Nordeste, é cada flor vermelha, cada botão de rosa que a gente fica é doido com tanta  beleza, e o cheiro não dá nem pra explicar, agora sei porque a Duquesa é tão perfumosa, chega a cabeça do homem gira. Sigo meu caminho até os grandes portões do palácio, nessa hora penso se meu filho Jesuíno é feliz, eu sei que ele ama Açucena mas é difícil arrancar o sertão das veias, tem um dizer que diz que o sertanejo leva o sertão plantado no peito, pra onde ele for o sertão vai junto.  Sou atendido por um cabra arrumadinho feito o mordomo da Duquesa e ele me leva para dentro de uma sala muito grande pra mode esperar enquanto  avisa minha chegada.  Tem quadro de retrato espalhados por tudo que é parede então eu aproveito para conhecer aquela gente de Jesuíno, nessa hora escuto a voz de Rei Augusto , eu me viro e vejo meus amigos mais meu filho.

— Capitão Herculano!!! – O Rei parece assombrado. Eu imagino que ele sabe de meus motivos.

— Meu pai. – Jesuíno me abraça e depois abraço sua esposa, deixo por último Rei Augusto e Maria Cesária. Depois da prosa amigável eu falo abertamente sobre a Duquesa e pergunto o que foi feito dela, pergunto sem rodeio, direto feito bala, pra mode ninguém me engabelar.

— Meu pai a Duquesa tá aqui sim. – Nesse instante sinto o medo de escutar o resto de suas palavras, tenho medo de descobrir que a Duquesa foi mandada para uma masmorra pra morrer de fome e de sede.

— Capitão a gente precisa conversar. – A gente saiu do salão bonito e se trancou numa saleta pouco menor mas muito bonita também e muito da inventada. Só que nesse aperreio o luxo que me cerca não encanta meus olhos pois meu interesse mermo é sabe de minha diaba.

— Aonde está a Duquesa? – Insisto. Jesuíno olha pra Rei Augusto , em seguida o Rei abre uma gaveta e me mostra um documento.

— Capitão esta é a carta do perdão concedido à Úrsula.

— O que? – Eu não entendo  mais é nada, tá tudo é bagunçado por isso fico atarantado sem saber o que responder, então vendo meu estado de aperreio, Rei Augusto continua a me contar o resto da história que ficou faltando.  Ele me entrega o documento pra que eu mermo leia o que tá escrito, todo mundo fica quieto pra mode me deixar ler sossegado. Quando termino continuo sem entender as coisas, então Rei Augusto me explica do jeito dele.

— Capitão, Úrsula chegou aqui para se entregar. – Essa parte ainda não entendi. – Mas antes de seu julgamento oficial, ela apresentou o pedido de perdão, é um direito concedido aos nossos prisioneiros . – Eu escuto com muito interesse. -  A Úrsula sabe disso, ela sabe também que o pedido só pode ser emitido e julgado por nossa Corte se estiver devidamente carimbado pelo anel de alguém que tenha título na realeza, um dos nobres de Seráfia que possa e interceda por ela.

— Um nobre?? – Pergunto e me lembro do Conde.

— O Capitão deve se lembrar do dia em que Úrsula envenenou Aurora para me obrigar a lhe dar a carta do perdão. – Afirmo que sim, pois eu me lembro da desgraceira que a diaba fez naquele dia, do rosário de suas maldades.

—  Não sei como, mas ela conseguiu a ajuda do Conde Patrício. E mais uma vez a Úrsula consegue o que quer!

— Oxente, que história mais torta é essa?

— Meu pai o  pedido da Duquesa foi aceito.

— Úrsula tá livre.

— Se a Duquesa sabia de tudo isso  caso de que ela não fez isso antes??

— Por orgulho. Úrsula se recusava pedir perdão. – Eu fico triste, penso que a Duquesa me traiu de verdade.

— Mas ela lhe salvou, não foi meu pai? O senhor achava que a Duquesa tava morta quando na verdade ela tava era mais do que viva.

— Aquela peste!!!! – Tenho amargura no tom de minha voz e baixo minha cabeça pra mode esconder minha magoa.

— Não fale dessa forma, Capitão. Eu nunca pensei que um dia falaria isso, mas Úrsula mudou. – Então quando escuto essas palavaras levanto a vista pra mode entender se escutei direito mermo.

— Meu pai a Duquesa não só emitiu a carta como também se ajoelhou na frente de toda Seráfia e pediu perdão pra Rei Augusto, pra Açucena mais eu e pra todo o povo. Eu também não acreditei no que tava acontecendo diante de mim, mas verdade seja dita, desde que lhe salvou a  Duquesa não é mais a merma não.

— O que tu tá dizendo Jesuíno???

— Isso mermo que meu pai ouviu, custou mas eu acho que ela se endireitou. – Será que eu tô é sonhando?? Então era verdade quando ela me dizia que mudou?? Eu confesso que não acreditei na Duquesa mas amava tanto aquela mulher que eu tava disposto a viver mais ela mermo correndo o risco de ser enredado de novo. Em pensar que eu desconfiei do Conde.

— Aonde a Duquesa tá?? – Pergunto agoniado, doido pra mode ver minha branca, descubro que a Duquesa tá repousando no quarto que foi dela mais do marido. 

— O Capitão pode subir para falar com ela, claro, se assim o senhor achar conveniente. – Aceito subir até o quarto da Duquesa pra gente acertar tudo de uma vez e parar de viver feito cachorro e gato. Então Jesuíno chama o mordomo e pede pra ele me levar até os aposentos da Duquesa, sigo ele com pressa, subo os mais de 30 degraus daquela escada sem fim e caço as palavras certas pra começar aquela prosa. A gente passa por longo corredor , lá também vejo outro tanto de retrato , descubro o luxo que cercou a Duquesa e acho que entendo os motivos dela, pois o castelo é maior do que Brogodó inteirinha e cada coisinha reluz muito mais do que o bando consegue juntar nos assaltos. Compreendo que quando uma pessoa passa a vida toda de um jeito é difícil mudar os gostos. Eu me apaixonei por uma Dona mermo sabendo que ela é da riqueza enquanto meu reinado é feito de barro do chão que a gente pisa, me envolvi mas sempre soube que um dia ela podia ir simbora, então nessa hora o pensamento me abandona pois estamos na frente da porta dela. Peço pro cabra deixar eu mermo abrir, quero estar sozinho quando a Duquesa abrir a porta e me ver.

— Meu Padim Ciço me ajude nessa peleja! – Então bato na porta mas quem abre é o irmão do Rei.

— Petrus, quem é?? – Escuto a voz da Duquesa e acho que vou exigir uma explicação antes de malouquecer de vez.

— Oxente, que diabos tá acontecendo aqui? – Arregaço a porta com o braço e afasto o cabra do meio. A Duquesa tá de pé e tem  nas mãos uma escova de pentear cabelos. Ela tá semi-despida, com as meias e o corpete aparecendo, o robe desatada voando por trás do corpo e os cabelos jogados, eu fico louco.

— Herculano?? – Ela se assusta quando me ver.

— Peste!

— Capitão não sei o que o senhor tá fazendo aqui!

— Cale sua boca que minha conversa é mais a Duquesa. – Eu grito e aponto o dedo pra mode Petrus fechar a matraca antes que aconteça o pior.

— Calma Herculano, não é nada do que você está pensando, e antes que eu te explique, o que você tá fazendo em Seráfia?? Eu te pedi para não vim atrás de mim.

— Então foi pra isso que tu fugiu, não foi??

— Não Capitão, Úrsula e eu

— Já lhe disse pra calar sua boca. – estou cego de ciúmes. A Duquesa fecha o robe e amarra laçando as tiras em volta da cintura e deixa a escova na penteadeira, em seguida desatina a falar pra me convencer que meu pensamento tá enganado, que ela mais Petrus não passaram a noite juntos.  Estou afobado, tenho dificuldades pra acreditar naquele enredo, só que eu procuro manter a calma enquanto me explica a presença do irmão do Rei ali, trancado no quarto mais a Duquesa naqueles trazes.

— Eu não tenho mais nada com a Úrsula, entre a gente só ficou nossa filha e o perdão de um mal que só nos fez sofrer.

— Petrus está aqui porque eu chamei.

— A Duquesa costuma receber as visitas vestida assim?? – ela desce os olhos para se auto-reparar e me dá razão, não devia, mas Petrus chegou rápido, não deu tempo de se trocar.

— Não pensei que ele fosse aparecer tão furtivamente, esperava acabar meu banho primeiro.

— Acho melhor deixar vocês sozinhos, com licença. – O Irmão do Rei nos deixa no quarto, então dou algumas passadas para perto da janela e reparo que do dia já foi simbora, coço minha barba e nesse momento os braços da Duquesa me viram para que eu lhe olhe na cara, ela está sorrindo mas ainda tá com medo da minha reação, ousa me abraçar e coloca a cabeça no meu peito. Estou morto de saudade, também quero abraçar mas tem outra coisa que me impede de continuar aquele momento pois me lembro de nosso filho e então empurro a diaba para longe e prendo os pulsos dela com as palmas de minhas mãos.

— Por que tu me largou no estado que a Dona tá??

— Eu não escondi nosso filho de você.

— Mermo assim tu fugiu.

— Acho que agora o Capitão já sabe os meus motivos, espero que também compreenda.

— Disso tudo eu já sei de cor e salteado.

— Então, Herculano, acho que essa é a prova definitiva do meu amor por você. Eu pretendia voltar.

— Mas e se teu pedido fosse recusado??

— Então eu suplicaria Augusto para te entregar meu filho.

— Oxe, o que a Duquesa fez foi loucura, não faça mais isso, vici??

— Uma loucura que me devolveu a paz de espírito. – Então a Duquesa me contou que no dia que ela escapou do tiro que Zoio Furado disparou contra mim, foi pra cidade pra se proteger e ficar longe das vistas dos conhecidos. Conta que pensou muito no que ia fazer com a vida e se arrependeu dos erros, então escreveu várias cartas para o Conde Patrício de Seráfia porque o cabra é seu tio distante, pois seu falecido pai tinha sido Conde mais sua mãe, então ele era sua única esperança. Sem a intercessão do Conde a Duquesa seria para sempre uma fugitiva e a pena pros crimes que a Dona cometeu é a morte. Um tempo depois a Duquesa recebeu a resposta, o Conde não tinha ficado satisfeito com a conduta da meia parenta mas devia favores ao seu pai.

— Tá vendo, Capitão, parte da Lei do cangaço também se aplica em Seráfia.

— Gratidão é uma lei que sempre voga, Duquesa. – ela continua a me contar por onde andou e o que fez no ano que deixou todo mundo acreditar que estava morta. Me diz que certa vez, andando pela cidade viu na vitrine de uma livraria um livro com o nome dela, diz que se surpreendeu quando soube que o autor era Nicolau, aquele frouxo metido a sabichão. A Duquesa não fazia ideia do sucesso das vendas do bendito livro então precisou se esconder melhor pra continuar despercebida na multidão. Ela me jura que não me tirou dos pensamentos nem por 2 segundos, chega o peito apertava quando ia dormir se lembrando de nós dois.

— Mas meu Capitão pensava que eu não existia mais.

— Tu tava tão perto, como eu ia imaginar?? - O Conde lhe ajudava  a se manter na Corte até achar uma oportunidade de vim para o Brasil e levá-la junto.  - Se a Duquesa sabia que ia voltar pra Seráfia por que se meteu a besta voltando pra Brogodó??

— Eu já disse, precisava te ver de qualquer maneira, só não esperava que você fosse me descobrir. Quando você me prendeu no acampamento eu perdi o contato com o Conde, fiquei desesperada.

— Mas ele deu um jeito de lhe encontrar, não foi?? – A Duquesa me conta que queria apenas me ver de longe de lá de dentro do carro, ela não queria ser descoberta mas eu inteceptei o seu comboio e ai estraguei seu plano ardiloso.

— Quando você me prendeu no acampamento eu pensei que estava tudo perdido, eu não esperava ver o Capitão com outra mulher.

  -  A Duquesa sentiu ciúmes?

— Não!! - aposto que nessa parte a Duquesa tava mentindo. - Mas não conseguia dormir tranquilamente sabendo que você estava tão perto , há poucos metros de distância de mim, com a cangaceira.

— Por que tu não fugiu??

— Porque eu não suportava ver meu Capitão desconfiar do meu amor, só por isso eu fiquei, Herculano, pra te mostrar o quanto eu te amo. Sempre vou te amar!!

— Mermo assim a Duquesa fugiu depois, não foi??

— Eu não tive escolhas, com o Conde no Brasil tudo estava finalmente dando certo, eu precisava ir até o fim para recuperar a minha vida e tudo que me importa . – A Duquesa me conta que pretende criar lady Cecília, que aceita ser mulher de cangaceiro e também não ver a hora de ter nosso filho nos braaços. Vejo verdade na fala dela e por isso aceito seus motivos e compreendo tudo que ela fez.  – Eu ia voltar para você, Herculano, você precisa acreditar em mim.

— Eu acredito! – Falo com toda sinceridade que tá dentro do peito, por uma fração de tempo ela fica surpresa quando lhe digo que acredito em tudo de sua fala, depois abre o sorriso jeitoso cheio do feitiço que só existe nela. Ela encosta seu rosto no meu e cheira minha barba, nessa hora  ela passa a mão nos meus cabelos e desliza seu nariz perto do meu,  eu já tô embriagado pelo cheiro daquela mulher, minha diaba tava tão linda e perfumosa  por isso prendo minhas mãos na curva da cintura dela e deixo que sugue minha boca, deixo e gosto.


 

 


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