Eu não sei o que é, mas já está no meu quarto.

Meus olhos, já miseráveis em sua função diurna, lutam para formar uma imagem coerente em meio as sombras. Em vez da minha visão, os sentidos tipicamente subutilizados se tornam predominantes na observação do ambiente.

Na observação do que está ali.

O cheiro é rançoso. Na névoa desorientada, a minha mente procura as palavras apropriadas para descrever o cheiro avassalador. O inconfundível cheiro de lixo apodrecendo é o primeiro e único pensamento que se passa com clareza em minha cabeça. O ácido do meu estômago desliza pela minha garganta. Tento vomitar, expulsar o veneno ardente que surgiu na minha boca, mas não consigo me mexer.

Por que não consigo me mexer?

Concentro minha atenção em minhas mãos e pés, tentando usar meu senso de toque. A única coisa que consigo sentir é o peso dessa criatura desconhecida ao meu lado, pairando sobre mim — a sensação é fraca, como se sua presença ali fosse questionável, mas o peso em meu corpo é esmagador e eu começo a sentir o ar dos meus pulmões ficarem presos em uma respiração e meus pensamentos voam em todas as direções em puro pânico.

Essa sensação pode ser apenas algo da minha cabeça, um produto da minha imaginação enquanto procuro por algo nas sombras. Se eu ao menos conseguisse movimentar meu corpo. Meus olhos continuam falhando em sua função. Só posso olhar para a criatura e ver seus olhos sujos me encarando de volta.

Está me observando.

Eu quero gritar. Finalmente tenho o bom senso de gritar, mas não consigo.

Não sei por que gritaria. Para pedir ajuda? Para assustar seja lá o que isso seja? Apenas para ceder ao instinto de gritar? Não consigo pensar em nada. A pressão em meu corpo se intensifica. O ar parece denso, feito de lama e por um momento eu penso que vou morrer. Esmagado pela pressão, sufocado pela falta de ar, consumido pela loucura. Uma dessas coisas vai me matar, ou todas elas ao mesmo tempo.

Meu coração está batendo muito rápido e sinto o nó se formando em minha garganta anunciando a vontade de chorar. Quero me debater e gritar todo o meu pânico, mas eu não posso. Não consigo.

De repente o quarto está muito quente. Muito pequeno.

Não sei quanto tempo se passou. Tudo o que sei é que está escuro lá fora.

E que ainda está ali. Me observando.

Meus olhos, em algum momento, começam a entender os traços na escuridão, mas não poderia me importar menos com isso no momento. Sua aparência era, no final das contas, não digna de nota. Apenas um emaranhado de sombras e vultos.

Os olhos, no entanto, são o que prende minha atenção.

Olhos arregalados, da cor do medo que parecia refletir minha alma. Eu odeio isso. Quero me mover, quero sair deste lugar, quero gritar, mas não posso. Só posso continuar desejando que o sol se erga no céu, eliminando todas as sombras presentes em meu quarto, enquanto silenciosamente ressinto seus olhos em mim.

Ainda está me observando.