Linked Together escrita por Ginty Mcfeatherfluffy


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

E nesse capítulo temos um pouco do POV de Diana Bishop!



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Depressa, retornei ao hall da casa, onde a deixamos; Deparei-me com Senhorita Kingsolver estirada no chão e, ao lado dela, um Battaglia ajoelhado. Não pude ver bem sua expressão, não saberia dizer se ele fizera algo a ela, ou se ele surgiu logo após ela ter caído. Não demorou muito até que Bishop se juntasse ao pequeno grupo, e tratou de apressar-se para junto da amiga, e logo o pescoço do italiano estava preso por minhas mãos. Nós dois emitíamos um ruído característico dos vampiros zangados, e o infeliz zombava de mim!

— O que fez a ela? – Demandei, furioso como há tempos não ficava.

— Eu não fiz nada. Acredite ou não. – Ele respondia, em pausas. É difícil mentir quando se está sufocando.

— Por que está aqui? O que aconteceu, patife?!

— Tenha calma, de Clermont, me solte! Quando cheguei, ela já estava aqui, vim justamente porque farejei perigo.

— Matthew, deixe ele, por favor.

Aos poucos, meus dedos foram abrindo-se, deixando marcas pela extensão do pescoço de meu camarada.

— Você não sairá daqui até que ela acorde, será que me fiz entender?

Assim que ele assentiu, afastei-me lentamente e tratei de colocar a ruiva no sofá. Diana não sairia de perto dela, e observei as duas por um instante; Depois que tornei-me vampiro, raras eram as pessoas – ou criaturas – que despertavam meu instinto protetor, até que elas apareceram em minha vida; Ainda tenho a oportunidade de fazer as coisas certas, peço a Deus que eu não a desperdice.

Passado um tempo, uma respiração mais ritmada fez-se ouvir, todos viramos para Joanne; de fato ela estava despertando. Diana olhou-me aliviada, e eu não pude evitar a sensação de consolo que abateu-se sobre mim. No entanto, ainda restava uma explicação, assim que o impertinente hóspede desse o fora dali. Quando já estava providenciando sua saída, a voz ainda rouca de Kingsolver impediu-me, fazendo-me unir as sobrancelhas em surpresa. – Matthew, não faça isso. Não podemos ser injustos, ele não me fez nada...

O italiano encarou-me com uma expressão de “Eu avisei”, enraivecendo-me ainda mais. – Então, diga logo o que aconteceu, Joanne. – Praticamente cuspi, e ao contrário do que imaginei, ela não fez o que pedi.

— O que tá acontecendo com vocês, afinal? Parecem crianças. Jo, conta pra mim o que a fez desmaiar?

 

Minha amiga iniciou seu relato: Mais cedo, ao avistar o quadro de Louisa – um retrato belo de alguém terrível – uma força invisível sugou suas forças e, então, apagou. Vê-la tão vulnerável, sem aquele brilho em seus olhos foi mais difícil do que eu jamais imaginei; A via como uma irmã, uma parte de mim, como se fôssemos separadas ao nascer e agora reconstituídas. Me sentia assim com Matthew também, era estranho como acabamos de nos conhecer e os dois cavaram seus lugares em meu coração, são minha família... Muito mais do que qualquer coven.

Eu a abracei, e dei uma espiada no vampiro, sua expressão amolecera diante da explicação de Joanne, mesmo assim, sua testa ainda estava vincada.

Abandonamos All Souls, depois dos ânimos calmos, e demos seguimento a nossas vidas. Matthew convidou-me para jantar, e eu, como uma adolescente apaixonada, aceitei. Será que vampiros comem verduras? Hum, pouco provável, mas podiam comer alimentos crus. Após uma gigantesca pesquisa gastronômica, saí da Biblioteca ao meio-dia, indo em direção ao mercado para comprar carne de veado fresca, carne de coelho e salmão escocês. Liguei para o departamento de zoologia a fim de conhecer os hábitos alimentares dos lobos, mais precisamente os cinzentos; Depois de tagarelar uma lista interminável dos “alimentos preferidos” dos mamíferos, a voz entediada do outro lado da linha acrescentou que eles também se alimentavam de nozes e de sementes e frutinhas vermelhas como amoras, framboesas e morangos.

— Mas é melhor não alimentá-los! – Disse a voz por fim. – Eles não são bichinhos domésticos!

— Muito obrigada pelo conselho – Agradeci reprimindo o riso.

Com um pedido de desculpas, o quitandeiro me vendeu as últimas groselhas do verão anterior e uma porção de morangos silvestres perfumados. Um saquinho de castanhas também encontrou guarida na minha sacola de compras. Depois fui à loja de vinhos, onde fiquei à mercê de um viticultor evangelizador que me perguntou se “o cavalheiro conhecia vinhos”. Minha intuição me fez replicar com um firme “Sim”, então ele me ofereceu um uma garrafa de vinho francês e outra de vinho alemão por um preço que pagaria o resgate de um rei. Depois ele me colocou dentro de um táxi para que eu me recuperasse durante o caminho de volta para casa.

Entrei no meu apartamento e recolhi os papéis espalhados em cima de uma velha mesa do século XVIII que servia como escrivaninha e mesa de jantar, e arrastei-a para perto da lareira. Caprichei na arrumação da mesa, colocando a porcelana antiga, a prataria que estava no armário da cozinha e as pesadas taças de cristal que provavelmente eram as últimas remanescentes de um conjunto eduardiano que um dia ocupara a sala dos professores. Minhas leais amigas cozinheiras me abasteceram com uma pilha de tecidos de mesa de linho branco composta de uma toalha e alguns guardanapos. Estendi a toalha na mesa, dispus dois guardanapos dobrados ao lado dos talheres de prata e, com os restantes, cobri a grande bandeja de madeira que levaria as coisas da cozinha para a sala. Comecei a preparar o jantar e logo ficou claro que cozinhar para um vampiro não exigia muito tempo. Na verdade, o que se cozinha é quase nada.

Lá pelas sete horas, a refeição estava pronta, e as velas acesas; só faltava me arrumar. Resolvi a questão vestindo uma de minhas melhores calças pretas, e uma camisa mais elegante, diferente das que uso para trabalhar, de cor azul-marinho.

Terminava de passar um pouco de maquiagem, e um toque na porta me fez dar um pulinho, dei os últimos retoques no visual e corri abrir a porta. No entanto, não era quem eu esperava.

— Saia do meu quarto.

— Você foge de nós e procura a companhia de um vampiro, e de uma Dissidente. Onde ela está?

— Joanne?

O brilho de reconhecimento no olhar de Knox deixou-me apavorada, por mim e por ela, entretanto, recusei-me a demonstrar fraqueza àquele monstro e apenas o encarei. Naquele mesmo momento, eis que Clairmont surge ao meu lado, um rosnado saindo de sua garganta como um aviso.

— Senhor Knox já estava saindo. – Enfatizei a palavra saindo, meu olhar colado no dele, o bruxo não teve outra escolha a não ser ir embora, com o “rabo entre as pernas”. 

— Viremos buscá-las. Você não poderá proteger as duas.

Enfim sós, tratamos de esquecer a presença maligna de Knox e degustamos a comida que preparei com tanto carinho; Matthew colocava a comida na boca com uma lentidão típica dos membros de sua espécie, me deixando completamente vidrada.

— Veado vermelho. Pelo sabor, um macho jovem das montanhas da Escócia. – Ele me relanceou, mostrando um sorriso humorado – Algumas histórias sobre nós são verdadeiras.

— E você pode voar? – Perguntei, sabendo a resposta. Ele bufou.

— É claro que não. Deixamos isso para as bruxas, já que vocês conseguem dominar os elementos. Mas somos fortes e rápidos. Os vampiros correm e saltam com tal velocidade que os humanos pensam que podemos voar. E também somos eficientes.

— Eficientes? – Abaixei o garfo, na dúvida se tinha ou não gostado da carne de veado.

— Nossos corpos não desperdiçam energia e, quando precisamos, a temos de sobra.

— Vocês não respiram muito – Comentei ao sabor de um gole de vinho.

— Não – ele disse. – Nosso coração não bate com muita frequência, e não precisamos comer regularmente. Nós temos uma temperatura fria, uma característica que desacelera grande parte dos processos corporais e também explica por que vivemos por tanto tempo. – A história do caixão! Vocês não são de dormir muito, mas quando dormem, dormem como mortos!

Definitivamente, os vampiros não gostavam de legumes e verduras, cheguei a essa conclusão ao constatar que apenas sobrara beterraba no prato de Clairmont.

— Você está fazendo algum tipo de teste com isso? – Matthew franziu a testa.

— De jeito nenhum – Respondi de pronto. – É que não estou acostumada a receber vampiros.

Pude perceber que minha réplica o deixara aliviado, talvez porque não confiava na própria espécie, pelo menos perto de uma bruxa. Levantei-me e fui a cozinha buscar um queijo, frutas vermelhas e castanhas enquanto nossa conversa rumou a Oxford, mas não parou lá. – Meu cheiro lembra o que?

Minha nossa, seu olhar dominou-me, deixando-me sem fala; emoções diversas eram depositadas nas minhas mãos, não pude conter o arrepio que nascia na barriga e reverberava por todo o corpo. Surpreendi-me ainda mais quando ele trouxe meu corpo mais para perto, me farejando... Melancólico, desejoso.

— Você cheira a seiva de salgueiro, mel de camomila. – Inspirou novamente, sua voz assumindo um tom quente e repleto de nostalgia. – Botões de hamamélis, madressilva e os primeiros narcisos da primavera. Sem falar que me faz lembrar de coisas antigas... Marroio branco, mirra, alquemila. Aromas que eu achava que já tinha esquecido.

Um desejo de salvá-lo daquela tristeza, ainda que tímida, abateu-se sobre mim; juntamente com uma vontade de conectar nossos lábios.

Virei-me de frente para ele, pude vislumbrar um pouco do que se passa em seus olhos, porém, sem sucesso ao decifrar; talvez se me fosse dado um pouco mais de tempo. – Obrigado pelo jantar.

 

 


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