A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 4
Capítulo III - Duquesa Satine, do clã Kryze


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos e queridas!

Venho com mais um capítulo pra vocês e espero muito que gostem.

Por favor, peço que leiam as Notas Finais. É importante ♥



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A nave saiu do hiperespaço e, em apenas um instante, toda luz ao seu redor foi substituída pela escuridão pontualmente cintilante da galáxia. À sua frente, no entanto, encontrava-se um planeta de aspecto visivelmente arenoso e quente.

— Não me lembro de ter lido sobre Mandalore ser um planeta desértico – comentou Obi-Wan.

— E não era – interveio Qui-Gon, parando ao lado de seu aprendiz. – Sempre foi um planeta com grandes florestas e com algumas das paisagens mais estonteantes da galáxia. Os próprios mandalorianos transformaram o planeta nesse caos – imediatamente, o Jedi curvou-se para o copiloto da nave. – Por favor, contacte Sundari.

— Sim, senhor – foi a resposta.

A nave que levava os dois Jedi adentrou a atmosfera de Mandalore e, em instantes, os dois perceberam que estavam chegando ao planeta no meio da madrugada. Conforme se aproximavam da capital, no entanto, uma nuvem de fumaça lhes chamava a atenção, grande o suficiente para ser vista mesmo durante a noite. Uma nuvem de fumaça que se aproximava cada vez mais, conforme eles ficavam mais próximos à Sundari.

Antes que qualquer um dos dois tivesse uma visão mais ampla do que estava acontecendo, um holograma se formou no painel da nave. Um homem alto, terrivelmente magro, careca, um pouco mais velho que Qui-Gon e com olheiras profundas de dar pena.

— Saudações, Jedi – disse o homem no holograma, com um tom de voz amistoso, estampando um amigável sorriso em seu rosto. – Sou Zaar Wren, primeiro-ministro de Mandalore, e venho lhes dar as boas vindas em nome da Duquesa Satine. Vocês são muito aguardados.

— Muito agradecido – respondeu Qui-Gon. – Sou Qui-Gon Jinn e esse é meu aprendiz Padawan, Obi-Wan Kenobi. Quando saímos de Coruscant, um dos conselheiros me informou que precisaríamos vestir armaduras mandalorianas para que nossa presença passasse despercebida. Pode me informar como devemos proceder ao chegarmos a Sundari quanto a isso?

— Ah, sim – começou Zaar. – Esse era o plano, inicialmente... Mas já não vai ser mais necessário. Um transporte estará esperando por vocês assim que pousarem na plataforma. Ele irá levá-los diretamente até o palácio, onde se encontrarão comigo e com a Duquesa.

— Então, até breve.

Imediatamente, Zaar cortou a transmissão.

O rápido instante de silêncio que se seguiu após o fim da conversa foi interrompido no momento em que Obi-Wan se adiantou até a vidraça do cockpit da nave.

— Mestre, olhe isso... – disse o jovem, visivelmente impactado.

Qui-Gon, curioso, avançou, forçando os olhos para conseguir enxergar a paisagem noturna de Mandalore. Em meio a fumaça (que agora atravessavam), havia restos de naves, rastros de explosões e... corpos. Era mais do que claro que a área externa de Sundari havia sido palco de um violento conflito a poucas horas.

— Eu estou com um mal pressentimento sobre isso... – Qui-Gon murmurou para si mesmo, sem perceber que Obi-Wan havia escutado e sem a intenção de que a sua insegurança causasse um arrepio no rapaz.

 

A porta lateral da sala do trono do palácio de Sundari se abriu, e os dois Jedi foram conduzidos para diante do trono pelo próprio Zaar, que fora lhes receber na entrada do palácio. Sentada no trono, estava uma mulher. Pela pouca idade, podia-se, facilmente, assumir que era ingênua e inocente. Mas, em seu rosto, havia a máscara da fúria e do poder, que lhe caia tão bem quanto o vestido roxo que usava, decorado de tal forma que, de longe, mais parecia uma armadura mandaloriana do que um vestido. Em seu olhar, olheiras que nem mesmo toda a maquiagem que usava conseguia esconder. O cabelo loiro amarrado atrás da cabeça com um arranjo de flores dava, ao conjunto, uma imagem difícil de traduzir.

— Duquesa Satine, eu lhe apresento o cavaleiro Jedi Qui-Gon Jinn e seu aprendiz, Obi-Wan Kenobi.

Imediatamente, mestre e aprendiz pararam ao lado de Zaar, à uma distância razoável do trono, e fizeram uma pomposa reverência à mulher. A mulher, então, levantou-se do trono e caminhou até eles, mas parando a poucos passos do degrau que separava o trono propriamente dito do restante da sala, mantendo-se a pouco centímetros acime de todos os presentes.

— Espero que tenham feito uma boa viagem – foram as primeiras palavras de Satine para os dois.

— Já fizemos viagens mais perigosas, Duquesa – respondeu Qui-Gon. – Mas confesso que o que vi ao chegar em Sundari me deixou bastante surpreso.

— Infelizmente, a sua presença em terras mandalorianas é uma notícia já muito conhecida em todo o planeta – disse Satine. – Mantendo-os escondidos em armaduras seria a minha tentativa de evitar o combate de hoje de manhã, mas, quando a informação sobre a sua chegada vazou, alguns rebeldes acreditaram que esse era o momento certo para se levantar contra mim. Eu não tive escolha, mestre Jedi. Precisei cumprir o meu dever.

Da forma como Satine falava, ela parecia estar se defendendo. Como se Qui-Gon a tivesse acusado de algo bárbaro.

— Compreendo perfeitamente, Duquesa – disse o Jedi. – E, pelo visto, nossa presença se faz mais do que necessária nesse momento. Afinal, é evidente que, se uma guerra acontecer, a senhora irá precisar de apoio e proteção. E é isso que o Conselho Jedi lhe oferecesse.

— Apenas isso? – perguntou Satine. – Apoio e proteção?

Não havia desdém em sua voz. Mas a falta de gratidão pelos serviços dos Jedi ferveu o sangue de Obi-Wan. Ele ameaçou dar um passo a frente, com palavras em sua boca que exporiam isso diretamente (da forma mais polida que conseguia pensar para se dirigir a uma líder, obviamente), mas a voz de seu mestre, ecoando em sua cabeça, o impediu. “Nem pense nisso.”

— Eu entendo que a senhora gostaria que fizéssemos mais por você – Qui-Gon tentou se explicar. – Entendo que gostaria que nós liderássemos as investigações e até que conduzíssemos uma caçada policial ativamente. Mas esse não é o propósito de um Jedi, Duquesa. Assim como a senhora, somos muito adeptos do pacifismo, e realizar esse tipo de tarefa nos forçaria a agir ativamente em um conflito.

— Se são tão pacifistas como dizem, então qual o motivo de suas armas? – questionou Satine.

E, pela primeira vez, enquanto ela lançava um olhar sorrateiro para os sabres de luz dos dois homens, presos aos seus cintos, Satine usava um tom de voz ríspido e ameaçador. Como se tivesse colocado Qui-Gon em uma encruzilhada, de onde ele seria incapaz de sair sem assumir a sua evidente má-vontade em fazer mais por ela do que apenas proteção.

— Apesar de sermos fãs do pacifismo e utilizarmos dele como via sempre que possível, há situações em que precisamos agir como pacificadores, Duquesa – respondeu o cavaleiro. – Esse é o porquê das nossas armas.

— E se a minha proteção for dependente da velocidade das investigações? Ou da resolução desse conflito pela via mais rápida possível? – Satine rebateu.

— Nesse caso, espero fazer um excelente trabalho em grupo com o Serviço Secreto Mandaloriano – a resposta de Qui-Gon foi imediata. – Mas participar ativamente do conflito ainda não é a prerrogativa de um Jedi. Sei que esperava mais de nossa presença aqui, e lamento desapontá-la nesse quesito, mas espero que o pouco que possamos oferecer lhe seja útil.

— Mais do que útil, eu espero que seja suficiente – Satine teria a palavra final naquela discussão custe o que custar.

Como um primeiro encontro podia ter chego naquele nível?

Para Obi-Wan, no entanto, a Duquesa havia cruzado um ponto muito delicado. Apesar dos protestos mentais de Qui-Gon, o rapaz avançou alguns passos à frente.

— Eu peço perdão, Duquesa – ele disse. – Mas não somos seus súditos. Muito menos, seus servos. A você estamos oferecendo o que podemos. Mas se as necessidades da Corte de Mandalore forem tão altas, assim, talvez, nossa presença aqui seja mais um estorvo do que um apoio. Nesse caso, podemos nos retirar do planeta, se assim preferir.

De olhos fechados, Qui-Gon inspirou fundo, pensando em como consertaria aquela barbaridade sem que ele e Obi-Wan precisassem pedir auxílio a uma missão diplomática de todo o Conselho Jedi até Mandalore. Em silêncio, Zaar olhava de Satine para Obi-Wan, sem nem mesmo saber como reagir ou o que fazer a respeito.

Mas Satine estava imóvel. Ela observava Obi-Wan com serenidade e paz, como se suas palavras não simbolizassem nada para ela. Como se fosse apenas uma criança birrenta tentando chamar a atenção (e isso o estava irritando por dentro). Por fim, a Duquesa se voltou novamente para Qui-Gon.

— Não sabia que aprendizes tinham a permissão de se manifestar – disse ela.

— Obi-Wan pode ser um aprendiz, mas faz parte da Ordem Jedi como qualquer outro Jedi – disse Qui-Gon, começando a ver uma luz no fim do túnel, um caminho para consertar a reação explosiva de seu Padawan e, ainda, sobrejulgar a Duquesa. – E está há pouco tempo de ser nomeado cavaleiro, como eu. Portanto, ele tem os mesmos direitos e deveres de qualquer outro Jedi, inclusive o direito de se manifestar, o qual você não pode retirar dele pois, como ele bem pontuou, ele não é seu súdito ou seu servo. E, à fim de discussão, ele tem toda razão. Se nossos serviços não são bem vindos em Mandalore, é nosso dever nos retirar para que nossa presença seja um estorvo pelo menor tempo possível.

A sala do trono foi tomada por um silêncio sepulcral. Quase era possível ouvir tudo o que se passava no palácio e fora dele. Dito isso, Qui-Gon fez uma nova reverência para Satine.

— Foi um prazer inenarrável conhecê-la, Duquesa – disse o Jedi.

Por fim, Qui-Gon se virou, voltando pelo mesmo caminho que viera, deixando a sala do trono e seguido por Obi-Wan (que, ao contrário de seu mestre, não fez uma reverência para Satine ao se virar). No fundo, Qui-Gon queria se virar e olhar diretamente no rosto da Duquesa. Queria ver o choque estampado em suas feições. Mas não foi preciso. O que aconteceu em seguida lhe deu a mesma sensação de satisfação e vitória.

— Mestre Jedi, por favor, espere! – disse a Duquesa.

Qui-Gon parou de andar. “Meus parabéns”, ele sussurrou para Obi-Wan e os dois trocaram um sorriso antes de se virarem para encarar a Duquesa, assumindo suas feições sérias ao fazê-lo. Satine vinha em direção a eles, já tendo descido os degraus que separavam o trono do restante da sala.

— Talvez, tenhamos começado com o pé esquerdo – disse a Duquesa. – Seus serviços são muito admirados e vocês são muito bem vindos em Mandalore – ela lançou um olhar congelante para Obi-Wan antes de se voltar, novamente, ao cavaleiro Jedi. – Peço que fiquem. Zaar irá mostrar suas acomodações e espero que possamos discutir com mais calma pela manhã. Tenho certeza de que poderemos chegar a um denominador comum se todos dormirmos bem e tivermos uma boa refeição pela manhã. O que acham?

Qui-Gon se manteve em silêncio por alguns instantes. Apenas um joguinho... fazendo-se de difícil... fazendo com que a Duquesa se sentisse rastejando e implorando pela sua ajuda. Por fim, ele lhe sorriu amigavelmente.

— Acho uma idéia maravilhosa, Duquesa.

Imediatamente, Satine respirou aliviada.

 

— Eu peço que perdoem a Duquesa – disse Zaar, enquanto conduzia Qui-Gon e Obi-Wan pelos corredores do palácio de Sundari. – Depois do combate, ela não teve o melhor dos dias do seu reinado. Espero que entendam o estresse e a pressão do momento.

— Perfeitamente – respondeu Qui-Gon.

Por fim, os três homens chegaram à metade de um corredor. Obviamente, aquela era a ala onde ficavam os quartos dos funcionários, mas, mesmo assim, ainda guardava todo o luxo do restante do palácio. Zaar, então, parou ao lado de uma porta, apertando o botão ao seu lado e fazendo com que ela deslizasse, revelando um quarto.

— Espero que fiquem à vontade – disse o primeiro-ministro. – Vocês irão tomar o café da manhã com a Duquesa amanhã às oito horas. Se precisarem de qualquer coisa, apertem o botão vermelho ao lado da porta e alguém virá pra lhes servir.

— Muito obrigado pela hospitalidade – Qui-Gon lhe lançou um sorriso e, então Zaar se afastou pelo corredor.

Os dois Jedi entraram no quarto e, imediatamente, os dois se sentiram desconfortáveis. O ambiente era amplo e com dezenas de móveis feitos em metal. Um imenso lustre pendia no teto, oprimindo-os contra o imenso vão restante. Um lugar luxuoso demais para os padrões dos dois, acostumados com as acomodações simples e discretas que ocupavam no Templo Jedi de Coruscant.

Ao fundo, o quarto terminava em uma imensa varanda, para a qual os dois se dirigiram. Apoiados no guarda-corpo, mestre e aprendiz observaram as ruas de Sundari em silêncio por alguns instantes, seus pensamentos muito longe daquele quarto. Ao fundo, conseguiam ver soldados estabelecendo um perímetro que impedia qualquer pessoa de se aproximar do palácio; àquela hora, obviamente, os soldados não tinham muito trabalho à fazer.

— Acha que agi mal? – perguntou Obi-Wan.

— Foi impulsivo – Qui-Gon não hesitou em dizer o que pensava. – Impulsivo, tolo e imprudente. Agiu de acordo com as suas emoções e poderia ter causada o colapso da missão e, talvez, uma crise diplomática. Mas funcionou, então eu só posso lhe dar meus parabéns.

— Me desculpe, mestre – Obi-Wan continuou. – Nós já servimos a outros governantes antes, mas eu nunca tinha visto tamanha ingratidão. Mesmo do mais mesquinho deles. Aquilo me deixou furioso.

— Me deixou furioso também, Obi-Wan – o cavaleiro assumiu.

Imediatamente, Obi-Wan o olhou surpreso.

— Mas você parecia tão calmo! – ele disse, impressionado.

— Porque eu controlo as minhas emoções – Qui-Gon rebateu. – Você se exaltou um pouco, é claro, mas graças ao que você fez, eu consegui contornar a situação. Poderia ter sido um desastre, mas funcionou. Inclusive, obrigado.

Imediatamente, Obi-Wan o olhou, como se não tivesse entendido o que ele havia dito.

— Pelo quê, mestre? – ele perguntou.

— Por ter me defendido – foi a resposta. – Seja sincero, Obi-Wan, você não fez aquilo porque queria defender a honra dos Jedi. Você queria me defender. Então, muito obrigado por isso.

— Por nada, mestre – Obi-Wan voltou a olhar para as ruas de Sundari.

Por alguns instantes, os dois permaneceram imóveis, olhando o horizonte da cidade e sentido a brisa que soprava sobre eles, diretamente dos ductos de ventilação que saiam do alto da redoma que cobria a cidade, filtrando o ar venenoso e poluído de seu exterior.

— Mestre?

— Uhm?

— Você acha que pode haver mesmo uma guerra?

Qui-Gon não respondeu imediatamente. Ele permaneceu calado por alguns rápidos segundos, ponderando suas palavras.

— Conhecendo os mandalorianos, a probabilidade é alta – ele disse, por fim. – Mas algo me diz que pode não haver uma guerra em si, mas um conflito menor. Eu só não sei se sou eu querendo acreditar em uma possibilidade melhor do que um conflito entre mandalorianos ou se, realmente, a Força está tentando me dizer alguma coisa. O que você sente?

— Eu não sei ao certo, mestre – o jovem respondeu. – Está tudo muito confuso pra mim. Mas eu sinto que estamos nos metendo em algo muito maior do que parece.

Compartilhando da mesma sensação, Qui-Gon suspirou.

— Bem, eu vou tentar não me estressar com isso agora – disse o cavaleiro, voltando para o interior do quarto. – Eu vou tomar um banho e ir dormir. Nenhum mandaloriano vai tirar a minha paz durante esse fim de noite. Nem mesmo a Duquesa, seus problemas ou sua ingratidão.

 

A nave cruzou o céu noturno de Mandalore, aproximando-se cada vez mais das ruínas de Keldabe. Obviamente, ainda restavam algumas pessoas morando por lá, mas em quantidade tão insignificante que a presença da nave passaria despercebida facilmente. Na periferia da cidade, em uma pista de pouso abandonada de uma antiga oficina, o homem aguardava os recém-chegados, vestido como sempre o fazia quando precisava se comunicar com eles: com sua túnica e seu capuz, mantendo-se escondido, na segurança do anonimato.

Quando a nave pousou, o homem se aproximou. A portinhola se abriu e a rampa foi baixada, revelando um grupo de pessoas que, finalmente, após horas de viagem, desciam em solo mandaloriano. Um wookie de pelagem enegrecida, um rodiano e um humano adolescente. Os três seguindo seu chefe, aquele por quem o homem encapuzado conhecia pelo nome de Hoovar.

— Eu entendo a Duquesa ter construído uma nova capital – disse Hoovar, aproximando-se de seu anfitrião e olhando ao redor, para as ruínas de Keldabe. – Isso aqui está um caos. Vocês, mandalorianos, nunca ouviram falar em reforma, não? Se fizessem com uma certa regularidade, nunca teriam chegado nesse estado...

— Bem vindo à Mandalore, Hoovar – disse o homem, aproximando-se dele. – Vejo que trouxe companhia.

— Você me contrata para matar a Duquesa e espera que eu consiga fazer isso sozinho, Vizsla? – Hoovar questionou, finalmente olhando para o homem. – E mais estão a caminho, todos membros da Guilda. Mas você não precisa se preocupar nada. O pagamento deles está sendo negociado diretamente comigo. É claro, para isso, eu estou considerando que vá honrar a sua parte no nosso acordo...

— Você é bem direto – disse Pre Vizsla. – A primeira metade do seu pagamento está em baús na minha antiga sala. O restante será pago quando a cabeça da Duquesa for entregue a mim.

— Excelente! – a voz de Hoovar era animada. – Venha, Vizsla – ele segurou o homem pelo punho. – Quero que conheça meus funcionários. Este é Black Krrsantan – ele indicou o wookie, que emitiu um som grotesco, o qual Vizsla não sabia ser um cumprimento ou uma ameaça. – E esse é Lerriun, um dos meus melhores caçadores de recompensas – ele apontou o rodiano, que mal parecia se importar com a presença de Vizsla. – E esse – Hoovar se adiantou para o humano – é Greef Karga.

Vizsla olhou para o menino de cima a baixo, não entendendo o que alguém tão novo estava fazendo envolvido em algo tão perigoso quanto o trabalho para o qual ele havia contrato a Guilda.

— Um adolescente? – ele questionou. – Ele tem quantos anos? Catorze? Quinze?

— Greef não é um adolescente comum, Vizsla – Hoovar parecia ter satisfação. – Greef é um menino prodígio. Definitivamente, o meu melhor caçador de recompensas em campo – nesse momento, Hoovar se aproximou de Vizsla e sussurrou em seu ouvido – e, se tudo ocorrer como eu planejo, algum dia ele ainda vai me substituir na liderança da Guilda. Pode apostar. Não há ninguém mais em quem eu confie para essa tarefa.

Vizsla não mudou sua expressão a olhar para Greef, que o encarava em resposta com feições sérias de desaprovação.

— Pouco me importa – disse Vizsla, por fim. – Desde que você cumpra com o seu trabalho, eu não ligo se usar crianças como bucha de canhão. Eu apenas quero a Duquesa morta. O mais rapidamente possível. Me entendeu?

— Perfeitamente – disse Hoovar. – Agora, se não se importa, eu gostaria de ver a minha primeira metade do pagamento, sim?

Vizsla revirou os olhos nas órbitas.

Lidar com caçadores de recompensas era cansativo demais.

 

Qui-Gon acordou na manhã seguinte impaciente com os hábitos de toda e qualquer realeza da galáxia de não colocarem cortinas nas janelas. A luz do sol adentrava o quarto em que estava e o iluminava quase como se fosse meio-dia (mesmo ainda faltando horas para isso) e caia em seu rosto tão impertinentemente quando um mosquito zumbido em sua orelha ao adormecer. Era simplesmente impossível continuar dormindo numa condição como aquela. “Pelo menos, não vou perder o horário para o café da manhã com a Duquesa”, pensou, tentando encontrar algo positivo naquela situação.

Ainda atordoado com a claridade, ele se sentou no colchão (dessa vez, feliz pelo bom gosto da nobreza por colchões, bem diferente do velho e molenga em que ele dormia no Templo Jedi), e começou a calçar suas botas. Olhando para a frente, na cama ao lado, ele revirou os olhos ao ver Obi-Wan dormindo tão pacificamente que nem mesmo toda aquela luz parecia lhe incomodar. Como era possível que os jovens tivessem tanto sono e tanta fome?

— Obi-Wan? – ele o chamou. – Levante-se.

O rapaz não se mexeu.

— Obi-Wan! – Qui-Gon falou um pouco mais alto.

O Padawan resmungou alguma coisa em um idioma que o Jedi não conseguiu compreender e girou na cama, dando as costas para Qui-Gon. Impaciente, o cavaleiro arremessou o travesseiro nas costas de seu aprendiz, acordando-o repentinamente e o fazendo se virar para seu agressor.

— Pra que isso? – Obi-Wan perguntou, incapaz de acreditar que precisaria sair da cama àquela hora.

— Levante-se – Qui-Gon disse calmamente. – Não quer perder hora com a Duquesa, quer? Não depois de ontem, eu imagino. E, por favor, eu mantenho minha gratidão pelo que fez ontem, mas espero que aquilo não se repita. Não quero que minha cabeça e meu corpo retornem separados para Coruscant.

Mesmo com o rapaz se movendo lentamente, os dois estavam fora do quarto em poucos minutos, resolvendo seguir até a sala do trono, onde esperavam encontrar alguém que os orientasse. Felizmente, uma jovem estava lá no momento em que chegaram. Alta de cabelos castanho e encaracolados que pendiam em frente aos seus ombros e uma pele pálida de alguém que não comia a semanas, trajando um vestido roxo muito semelhante ao que a própria Satine usara na noite anterior, mas muito menos detalhado.

— Vocês devem ser os Jedi – ela se adiantou. – Sou Imkra, dama de companhia de Duquesa. Por favor, queiram me acompanhar.

A jovem conduziu os dois para fora da sala do trono pela porta lateral, descendo vários lances de escadas até chegarem a um imenso salão, onde uma imensa mesa circular continha toda a forma de alimento que se pudesse imaginar. Pães, bolos, ovos, sucos, geléias, trufas... Era quase incontável a quantidade de alimento presente.

— Eu vou avisar a Duquesa que chegaram – disse Imkra, retirando-se em seguida.

Os dois permaneceram em silêncio por um tempo. Qui-Gon caminhava lentamente ao redor da mesa. Não a observando, mas observando todo o ambiente ao seu redor. Atento a cada detalhe que o salão pudesse lhe oferecer. Obi-Wan, no entanto, caminhou até a imensa janela, de onde passou a observar Sundari. Muito mais bonita e movimentada durante o dia do que durante a noite.

Passos retiraram os dois de seu silêncio.

Seguida de Zaar e de outros dois homens, Satine descia os últimos degraus em direção ao salão. Mas, diferentemente da noite anterior, ela já não tinha mais o olhar cansado de um dia interior enfrentando as consequências políticas de uma batalha às portas de sua nova capital recém-inaugurada. No entanto, ainda conservava suas olheiras. Atrás do grupo, cinco soldados fortemente armados os acompanhavam.

— Bom dia – ela disse, aproximando-se deles. – Espero que suas acomodações tenham sido de seu agrado.

— Com certeza, foi, Duquesa – Qui-Gon fez uma reverência quando ela chegou ao seu lado.

— Por favor, sentem-se – Satine indicou a mesa.

Qui-Gon e Obi-Wan ocuparam cadeiras próximas, quase lado a lado. No extremo oposto da mesa, Satine se sentou com Zaar ao seu lado direito e os dois outros homens ao seu lado.

— Esse é Pre Vizsla – disse Satine, indicando o homem mais próximo dela, calvo, alto e muito magro – governador de Concordia, nossa principal lua. E esse – ela indiciou o homem careca com tapa-olho – é Yarsek, o chefe de minha guarda.

— É um prazer conhecê-los – respondeu Qui-Gon, forçadamente sorridente em uma tentativa quase desesperada de evitar que a conversa tomasse os mesmos rumos da desenvolvida na noite anterior.

Imediatamente, serviçais surgiram do alto da escada, circundando a mesa e oferecendo seus itens aos presentes. Incapazes de responder simultaneamente aos múltiplos serviçais que lhes ofereciam comida, Qui-Gon e Obi-Wan logo viram seus pratos tão cheios que duvidavam conseguir comer tudo aquilo em apenas uma refeição.

— Antes de mais nada, eu gostaria de me desculpar por ontem a noite – começou a Duquesa. – Eu estava cansada e mau-humorada depois de um dos dias mais trabalhosos da minha vida, mas isso não é desculpa. Eu fui desrespeitosa e ingrata, e peço o perdão de vocês. E espero que a primeira impressão que deixei ontem a noite não seja a que tenha ficado. Eu sou muito mais sociável e fácil de conversar do que a Satine que vocês conheceram.

— Se vamos começar a nos desculpar, eu também gostaria de participar – Obi-Wan tomou as rédeas da conversa antes que seu mestre se manifestasse. – Não me arrependo do teor de minhas palavras ontem à noite, Duquesa, mas peço perdão pelo modo como me dirigi à você. Eu me exaltei e sei que errei. Peço desculpas por isso.

Surpresa pela reação do aprendiz, Satine o olhou confusa, uma expressão que logo foi substituída por um sorriso amistoso.

— Desculpas aceitas, Padawan.

Claro, ela não poderia perder a oportunidade de deixar claro a hierarquia existente naquela mesa.

— Bem, fico feliz que tenhamos chegado a um acordo quanto aos eventos da última noite – disse Zaar. – Agora, acho que podemos tratar de negócios.

— Eu adoraria – rebateu Qui-Gon. – E, para começar, acho que seria interessante se pudessem nos colocar a par do que realmente está acontecendo em Mandalore. Em detalhes.

Silêncio. É claro... O estrangeiro pedindo por informações sigilosas não era algo que eles esperavam em um primeiro encontro (ou, pelo menos, em um primeiro encontro civilizado). Mas, se realmente iria trabalhar juntos, infelizmente esse era o tipo de coisa que precisaria ser compartilhada.

— Talvez muito do que está acontecendo seja facilmente resumido pela fama que os mandalorianos tem na galáxia – começou Satine. – Brutamontes violentos e inflexíveis. E, no caso, incapazes de aceitar que o passado, às vezes, deve permanecer no passado.

— Acredito que tenham sido informados sobre os atentados à vida da Duquesa – começou Zaar, e Qui-Gon confirmou com a cabeça. – Com o primeiro atentado, passamos a suspeitar que mandalorianos poderiam estar se articulando, individual ou coletivamente, para matar a Duquesa. Alguns elementos do segundo ataque nos reforçaram ainda mais a idéia de que poderia se tratar de um movimento articulado. Com o combate que ocorreu na manhã anterior, tivemos a certeza.

— E o que, exatamente, aconteceu ontem? – perguntou Qui-Gon.

— Um grupo de vinte pessoas vestindo armaduras mandalorianas marcharam contra a cúpula que reveste Sundari – explicou Yarsek. – Eles explodiram um posto de segurança e mataram sete dos nossos soldados. Nós reagimos em seguida. Alguns deles foram mortos e, quando recolhemos os corpos, conseguimos identificar um deles como pertencente ao clã Mudhorn. O Serviço Secreto está investigando o clã quanto a envolvimento com atividades ilícitas ou compra de armas não regularizadas, mas, até o momento, não temos novas informações quanto a isso.

— A única informação nova que temos nos foi trazida durante a madrugada – continuou Zaar. – O Serviço Secreto identificou o agente infiltrado que tentou assassinar a Duquesa três semanas atrás. Trata-se de um soldado que lutou contra o Estado na última guerra civil. Ele recebeu perdão parcial por sua atuação e foi exilado em uma de nossas colônias próximas, Phindar. Já temos agentes investigando atividades suspeitas por lá, mas nenhuma informação relevante nos foi enviada até agora.

Qui-Gon permaneceu em silêncio por alguns instantes, processando as informações que recebera.

— E quanto à segurança da Duquesa? – perguntou o Jedi.

— Tenho cinco homens acompanhando a Duquesa aonde quer que ela vá – Yarsek respondeu, ao que Qui-Gon e Obi-Wan direcionaram seus olhares aos cinco soldados que acompanhavam o grupo ao salão. – Vinte dos meus mais confiáveis e leais funcionários estão se revezando nessa tarefa dia e noite. Um droide sentinela foi colocado no quarto da Duquesa e permanece lá o dia todo, sendo capaz de reconhecer e informar qualquer movimento que ocorra em seu interior. Tenho uma equipe vasculhando o palácio inteiro durante todo o dia e outra equipe vasculhando qualquer lugar da cidade que a Duquesa precise estar com dez horas de antecedência de sua chegada. Além disso, um perímetro ao redor do palácio foi estabelecido. Ninguém sem vínculo com o palácio pode se aproximar daqui em um raio de duzentos metros e todos os funcionários tem seus pertences revistados quando chegam de manhã para trabalhar.

— Excelente – disse Qui-Gon, após terminar de engolir um pedaço de torradas. – Nesse quesito, acho que eu e Obi-Wan podemos contribuir. Faremos turnos de dezoito horas cada um, sempre acompanhando a Duquesa, junto com os outros soldados envolvidos na segurança. Quem de nós não estiver escalado para o turno estará descansando ou auxiliando a vasculhar o palácio – nesse momento, Qui-Gon se voltou para Satine. – Mas, infelizmente, Duquesa, investigações criminais não fazem parte de nossa alçada, espero que entenda. A situação pode mudar, é claro, se houver um novo atentado contra vocês. Nesse caso, a investigação exclusiva do atentado também fará parte de nossas funções. Mas é o limite de onde estou autorizado a agir, por hora. Espero que compreenda.

Satine acenou com a cabeça amigavelmente para Qui-Gon.

— Eu entendo perfeitamente, mestre Jedi – ela respondeu, sorrindo-lhe policiticamente. – E agradeço imensamente pelos seus serviços.

— E, se não for pedir muito, acho que precisaremos de alguma autoridade sobre os soldados – disse Qui-Gon. – Não quero, de forma alguma, desrespeitar ou desmoralizar o seu trabalho, Yarsek – ele, rapidamente, virou-se para o chefe da guarda-real. – Mas acredito que, se tivermos alguma autoridade sobre as tropas, poderemos agir de forma mais organizada, se for necessário.

Um silêncio constrangedor se instalou na mesa. Todos os presentes se entreolharam. Claramente, diante do orgulho mandaloriano, um pedido desses era uma ofensa para Yarsek. Ter que ceder parte de sua autoridade para recém-chegados era um absurdo. Ter que ceder parte de sua autoridade para estrangeiros, no entanto, era quase uma heresia. E Satine sabia bem disso.

Colocada em uma encruzilhada, ela não sabia o que decidir. Zaar a olhava com seriedade, como se tentasse lhe comunicar seus pensamentos por telepatia (obviamente, ele, muito mais velho e experiente, sabia muito bem como conduzir aquela situação sem atritar ainda mais as partes envolvidas). O coração de Satine disparava e ela rezava para que ninguém conseguisse ver as gotas de suor gélido que escorriam em suas têmporas. As pontas de seus dedos formigavam e ser o alvo dos olhares de todos na mesa não ajudava em nada em acalmar suas conflitantes emoções.

— Vocês dois dividirão autoridade com Yarsek – ela, por fim, anunciou sua decisão. – Nem mais, nem menos. Todas as decisões devem ser tomadas em comum acordo e, caso um acordo não seja possível, Zaar irá dar o voto-de-minerva.

— Fico agradecido pela confiança, Duquesa – respondeu Qui-Gon. – Prometo não te decepcionar.

Apesar da resposta conciliadora de Satine, a tensão se manteve por alguns instantes. Era evidente no rosto de Yarsek que ele repudiava a decisão em gênero, número e grau, mas, infelizmente, não podia fazer nada a respeito. Satine, envergonhada, mas, ao mesmo tempo, sem conseguir pensar em uma solução melhor, evitava olhar o chefe de sua guarda-real nos olhos.

Dando por encerrada a conversa, Satine se levantou. Todos na mesa repetiram o gesto imediatamente.

— Eu e Obi-Wan vamos nos organizar – disse Qui-Gon. – Em alguns minutos, um de nós já estará em seus sua companhia para o primeiro turno.

— Obrigada, mestre Jedi – disse Satine e, então voltou-se para Obi-Wan. – Você permaneceu muito calado.

— Desculpe, Duquesa – o rapaz respondeu. – Mas vi como a minha manifestação ontem foi bem mal recebida pela senhora. Achei melhor me manter quieto dessa vez.

Mantendo a expressão séria, Satine o olhou de baixo para cima.

— Como eu já disse, você está perdoado por ontem, aprendiz – ela disse, as linhas rígidas em seu rosto impedindo que qualquer um dos Jedi dissesse se ela estava tentando quebrar o gelo ou ser intimidadora. – Você tem permissão para se manifestar na minha presença. Eu não vou mandar executarem você.

Sem dizer absolutamente mais nada, a Duquesa se virou, dando às costas aos Jedi e sendo acompanhada para fora do salão por seus amigos políticos e por seus soldados.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam desse primeiro encontro dos Jedi com a Satine? Podem comentar, meus amores ♥ Eu tentei me aventurar com os elementos mais novos do cânone. Posso estar dando um tiro no meu pé com isso, mas eu achei uma oportunidade perfeita pra explorar tudo isso. Espero que não tenha sido só eu a achar isso hahahaha

Vamos lá... A parte importante hahaha

Hoje eu fui aprovada em um prova e, a partir de março, eu vou começar um curso de especialização dentro da minha área. Mas, para isso eu vou precisar mudar de cidade e quem já passou por isso sabe como é uma experiência cansativa, que toma tempo e etc. Tem toda a questão de encontrar uma casa com preço acessível, tem o trabalho do meu noivo aqui em Campinas e 1001 coisas que a gente precisa ponderar e trabalhar. O que quero dizer é... por causa de tuuuuuuuuuuuuuuuudo isso, eu posso ficar um tempinho sem postar, 3 ou 4 semanas, talvez, até que tudo esteja acertado e eu tenha onde morar pelos próximos 2 anos. Mas juro que vai passar rapidinho e, antes que vocês percebam, eu vou estar de volta com mais um capítulo fresquinho! Só peço que esperem um tiquinho até eu consegui dar um jeito na minha vida. OK?

Eu agradeço demais o apoio!

Muito obrigada a todos ♥



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