A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 21
Capítulo XX - O ataque


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu estou viva hahahahaha

Desculpem-me pela demora INFINITA, mas alguns capítulos atrás eu tinha avisado que meus capítulos semi-prontos estavam acabando e que eu iria precisar escrever novos do zero quando eles acabassem. Bem, foi o caso. E como minha vida está uma bagunça e uma correria, tive muito pouco tempo pra colocar isso tudo em ordem, mas, FINALMENTE, cá estou eu com o capítulo e com a minha cara de pau hahahaha

Enfim, espero muito que gostem Pode conter alguns errinhos, eu acabei de escrever e nem conferi ainda, mas resolvi postar logo porque vocês já esperaram demais. Ao longo da semana, eu vou revisar e corrigir o que for preciso.

Espero muito que gostem! Beijos!

(a tradução dos trechos em Mando'a estão nas Notas Finais!)



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— Muito a aprender, você ainda tem – a voz de mestre Yoda se perdiam em meio à vida que o Templo Jedi exalava durante o dia (inclusive, em meio ao bater ritmado de sua bengala contra o piso de pedra). – Paciência deve ter. E perseverança.

— Eu agradeço a lição, mestre – respondeu Qui-Gon, humildemente mantendo a cabeça baixa e sem olhar para o Grão-Mestre da Ordem Jedi enquanto os dois caminhavam em direção ao hangar. – Agora, refletindo sobre os últimos eventos, talvez eu ainda não esteja pronto para encontrar as respostas que busco. Foi uma tolice da minha parte acreditar que poderia chegar a elas sozinho.

— Tolice, jamais – rebateu Yoda no momento em que, ao chegarem a um metro de distância da porta do hangar, essa se abriu, revelando um imenso espaço com múltiplas naves dos mais variados tamanhos. – Inocência. E, necessariamente ruim, ela não é. Às vezes, é uma virtude. Como nesse caso foi. Mais uma das múltiplas virtudes que você tem, Qui-Gon.

Incrédulo com o que acabara de ouvir, Qui-Gon parou de caminhar por um instante.

— Virtuoso? – ele perguntou calmamente. – É isso o que pensa de mim? Até ontem pensei que estava sob a mira do Conselho e agora eu sou... virtuoso?

— O melhores Jedi mais difíceis de controlar são – mestre Yoda respondeu, quase em um tom de lamento. – Tão próximos da Força estão que, sobre seus mistérios, mais do que o Conselho conseguem compreender. Afinal, como Jedi, à Força primariamente servimos, não a um Conselho. Porque um Conselho é feito de pessoas, e falhas as pessoas são. A Força falha não é.

Qui-Gon refletiu inquieto por alguns segundos. Segundos nos quais mestre Yoda, finalmente, virou-se para olhá-lo diretamente.

— Isso significa...?

— Uma encenação seu teste em Mandalore é – assumiu mestre Yoda, quase que a contragosto. – Testar sua lealdade e habilidade nunca o objetivo do Conselho foi. Avaliar se ainda pode ser domesticado, nosso principal objetivo era. Um erro. Mas um erro necessário. E, vindo a Coruscant, mais uma vez você ao Conselho prova que domesticável nunca foi, Qui-Gon Jinn. E isso um Jedi melhor do que qualquer um de nós faz você.

Sem dizer mais uma palavra, mestre Yoda retomou, seu caminho, sendo seguido de um espantado Qui-Gon, até uma nave relativamente grande. Pelo menos, a maior que Qui-Gon já tivera a oportunidade de estar desde que partira de Mandalore.

— Agora, para a companhia de seu Padawan deve retornar – disse mestre Yoda, quando Qui-Gon parou ao seu lado novamente, enquanto a rampa era abaixada. – Sinto que algo ruim está para acontecer e mais aliviado eu vou me sentir se na presença dele e da Duquesa você estiver.

— Farei isso, mestre – respondeu Qui-Gon. – Que a Força esteja com você.

­– Que a Força esteja com você – Yoda respondeu.

Imediatamente, Qui-Gon se virou. Ele mal dera dois passos ao longo da rampa quando a curiosidade e fez parar e se virar novamente para mestre Yoda.

— Por que me contou tudo isso? – ele perguntou. – Por que me contou que o teste do Conselho não passava de uma forma de me domar?

— A dúvida um dos muitos caminhos para o Lado Sombrio é – respondeu mestre Yoda. – E, se no Templo Sith você estava, com certeza respostas buscava. A verdade prefiro que saiba do que conhecê-la pela interpretação de um Sith. Ainda mais um tão perigoso quanto Darth Nihilus.

Um aperto tomou conta do coração de Qui-Gon nesse momento. Será, que diante dos conflitos dele com o Conselho, mestre Yoda o considerava com um potencial Jedi caído? Como alguém com propensão a ceder às tentações do Lado Sombrio? Deveria se sentir mal por Yoda achá-lo fraco e manipulável a esse ponto ou deveria se sentir lisonjeado por Yodo o considerar tão sábio e poderoso a ponto de não o querer como inimigo?

Ele não precisou chegar a uma resposta, sendo retirado de seus pensamento no instante seguinte.

— Se assim desejar, de sua vinda a Coruscant, mestre Windu não saberá – completou Yoda.

Na voz do Grão-Mestre, havia um singelo traço de ironia.

Qui-Gon apenas sorriu em resposta antes de adentrar a nave.

 

Três batidas à porta.

Foi o suficiente para que Satine Kryze fosse tirada de seu sono, mas não o suficiente para que ela se incomodasse a ponto de sequer abrir os olhos. Seja lá quem fosse, não era minimamente digno de sua atenção. Pelo menos, àquela hora da manhã. Que horas eram, afinal de contas?

— Obi, você pode ver quem é? – ela sussurrou, virando na cama.

Perceber que não havia ninguém ao seu lado foi como receber um soco no estômago: o choque lhe subiu a cabeça e o ar lhe faltou por alguns segundos. Os lençóis ao seu lado não estavam nem sequer quentes, o que indicava que Obi-Wan havia deixado a cama há bastante tempo. Ela estava sozinha naquele quarto.

Claramente, aquilo era esperado. Obi-Wan, evidentemente mais responsável que ela, aproveitou algum momento em que acordou para reassumir a sua posição de guarda-costas e, assim, não denunciar a ninguém da corte de Mandalore que os dois estavam... tendo um caso. Aquela era a atitude mais certa e racional a ser tomada, mas, mesmo assim, Satine não deixou de se sentir terrivelmente abalada por ela.

Em silêncio, olhando para o teto por alguns segundos, uma memória começou a se formar em sua mente. Ela se lembrava, no momento em que o cricrilar dos grilos do lado de forma do quarto já eram mais altos do que o estalidos da lenha na fogueira (já quase totalmente transformada em cinzas), quando Obi-Wan apertou o seu abraço ao redor do abdome dela. Lembrava do beijo que ele deu em sua nuca... e depois em seu rosto... e depois em seu ombro. E lembrava dele dizer “Ni ganar at ba'slanar jii, cyar'ika”* e de ter feito uma nota mental para, em algum momento no futuro, elogiar o Mando’a dele. Mas não se lembrava de ele ter deixado a cama ou de vê-lo saindo do quarto.

Três batidas à porta.

Satine virou a cabeça rapidamente para o lado, finalmente se lembrando de que alguém queria entrar.

— Duquesa? – era a voz de Zaar.

— Pode entrar – ela resmungou, sentando-se na cama.

Imediatamente, o quarto, outrora escuro, foi invadido pela luz oriunda do corredor. O primeiro-ministro de Mandalore permaneceu parado na soleira por alguns instantes, perguntando-se se não estaria atrapalhando o sono da jovem, mas, ao mesmo tempo, ciente de que precisava acordá-la.

— Posso voltar mais tarde, quando estiver mais disposta, eu não quero atrapal...

— Não, Zaar, entre – Satine fez um gesto com a mão, orientado-o a entrar. – Você nunca me atrapalha.

O primeiro ministro de Mandalore não hesitou e adentrou o quarto da Duquesa enquanto ela se levantava.

— Ansiosa? – ele perguntou no momento em que a jovem se direcionou para atrás de um pequeno biombo para poder se trocar.

— Sim – Satine assumiu. – Mas achei que estaria mais, sabia? Digo, esse discurso tem potencial de resolver os meus problemas de uma vez por todas ou de piorá-los ainda mais. Ou de não surtir efeito algum no andamento das coisas. Eu estou um pouco confusa, na verdade.

— Sobre o quê?

— Sobre a importância disso tudo – foi a resposta. – Com tantas possibilidades sobre o que pode acontecer depois do discurso, eu venho me perguntando se é realmente importante eu falar essas coisas, sabe? Quero dizer... se nós tivéssemos certeza de que isso traria efeitos positivos, eu não teria dúvida alguma em gravar esse discurso. Mas, da forma como as coisas estão, esse nosso plano me parece mais um tiro no escuro do que qualquer outra coisa.

— Mas é o recurso que temos agora – insistiu Zaar. – Mesmo que não seja o melhor.

— Mesmo que não seja o melhor – Satine repetiu aos sussurros, quase que para si mesma.

Um silêncio melancólico imperou entre os dois. No auge de suas inseguranças, nenhum dos dois sabia ao certo o que pensar ou o que sentir. Era tudo incerto demais.

— Eu confio em você – disse Zaar, por fim, e, detrás do biombo, Satine podia sentir que o homem não se dirigia à Duquesa de Mandalore, mas à pequena Tine, que ele tinha como uma filha. – Sei que vai ser brilhante, como sempre foi. E isso já me dá esperança de um futuro melhor. Você me dá segurança disso.

Satine, enfim, saiu detrás do biombo, já vestida.

— Zaar, por favor, não diga uma coisa dessas – ela disse, quase rindo. – Sou eu quem se sente segura com você. Se você se sente seguro comigo, você precisa rever os seus conceitos.

O homem sorriu e Satine pôde vê-lo tentar esconder uma lágrima.

— Você não faz idéia de quanto você é uma inspiração para mim, Tine – confessou Zaar, no auge de sua emoção. – Talvez, você deva estar pensando que eu sou um velho idiota por pensar isso...

— E estou – zombou Satine, sorrindo.

— ... mas você é, pra mim, o maior exemplo do que é de verdade ser um mandaloriano – ele continuou. – Querer mudar uma forma inteira de pensar em nome do bem de seu povo, sem desmerecer a sua história. Esse é o maior legado que você está deixando e eu tenho certeza de que as gerações futuras vão olhar para o seu reinado com o mesmo respeito e admiração que eu te olho agora. O que me leva a outro assunto...

O sorriso no rosto de Satine morreu lentamente quando ela percebeu a hesitação na voz de Zaar. No rosto do homem, a expressão carinhosa de um pai zeloso havia sido substituída por uma postura série e intransigente (mas não totalmente sem emoção). Nesse momento, Satine sabia que falava, novamente, com o primeiro-ministro de Mandalore.

— E qual é?

— O Jedi – Zaar praticamente sussurrava. – Eu gostaria que fosse sincera comigo, Satine. Eu quero que me diga o que está acontecendo entre vocês dois e se já é sério o suficiente a ponto de eu precisar arrancar fora alguma parte do corpo dele pessoalmente.

Imediatamente, Satine corou.

Petrificada, pega de surpresa, Satine não sabia como reagir.

Zaar a estava interrogando, e aquilo era uma situação completamente nova para ela. Satine não sabia o que dizer. Imediatamente, ela pensou em negar. Negar até a morte! Mas aquilo não só era uma covardia, como era uma idiotice. Ela conhecia Zaar quase tão bem quanto a si mesma e sabia que ele não dava ponto sem nó. Ele sabia mais do que aparentava, ou não teria feito aquela acusação.

— Nenhuma parte de ninguém precisa ser arrancada – ela se limitou a dizer, segurando-se para não rir (de nervoso?).

— Ao menos você tem a decência de não negar que estão se envolvendo – Zaar rebateu, sério.

— Uma postura que aprendi com você.

— Não me bajule, isso não vai funcionar agora.

Zaar estava sério, quase como se prestes a lhe dar uma bronca.

— Como descobriu? – Satine questionou, envergonhada, sem conseguir olhar nos olhos do homem.

— Você se esquece que eu já tive a idade de vocês – Zaar respondeu. – E vocês dois não são nada discretos. Ele segurando a sua mão no elevador... Vocês dois achavam que ninguém estava notando, mas eu notei muito bem. E os olhares que vocês trocam... Tem que ser muito imbecil para não deduzir que existe algo acontecendo entre vocês dois. Pelo visto, vocês dois devem estar aproveitando muito bem a ausência do mestre Qui-Gon, não é?

Mais uma vez, Satine corou.

— E o que... o que você tem a ver com isso? – ela gaguejou.

— Infelizmente pra você, eu tenho tudo a ver com isso – foi a resposta do homem.

Satine pareceu, ao mesmo tempo, não entender e não gostar da resposta.

— Tine, tente se colocar no lugar do seu povo, por um minuto que seja – Zaar avançou, tentando se explicar. Mas ele falava calmamente, com a compaixão e o carinho que sempre tivera com ela. E isso era o que deixava Satine ainda mais desconfortável. Seria bem mais fácil se ele estivesse lhe dando uma bronca. – Por um bom motivo, mas você começou o seu reinado muito recentemente e já derrubou milhares de leis que validavam a nossa antiga cultura. Você virou o modo de pensar do seu povo do avesso da noite para o dia e mesmo aqueles que concordam totalmente com você vão precisar de muito tempo... meses, anos, décadas!... pra conseguirem realmente aplicar os seus ideais com naturalidade no dia-a-dia.

A jovem se manteve quieta. Sabia que Zaar dizia tudo aquilo apenas para contextualizar seu argumento principal, o qual ela já sabia qual era. E ela sabia que ele tinha razão.

— Mas ele é um Jedi – o homem prosseguiu. – Imagine você voltando para Mandalore ao lado dele publicamente. Isso vai ser mais um grande impacto no planeta e, somando às consequência de tudo o que já está acontecendo, eu não sei nem sequer o tipo de coisa que isso poderia causar.

— Você fala como se eu fosse me casar com ele! – rebateu Satine, na defensiva. – Ele é só...

— Um caso? – questionou Zaar. – Um romance de verão? Uma paixonite? Uma aventura Um brinquedinho?

— Sim – Satine confirmou, firmemente.

E, nesse momento, Satine sentiu um dor em seu peito. Um remorso por estar negando Obi-Wan apenas para se livrar da bronca extremamente justa e necessária que Zaar estava lhe aplicando, pois ela sabia o quanto estava errada. E, ao mesmo tempo, ela sentiu raiva de si mesma. Raiva por não ser forte o suficiente para impor a Zaar que ela estava sim tendo um envolvimento com um Jedi, fosse apenas um caso passageiro ou foge um romance.

— Você acha que consegue me enganar, mas não consegue – respondeu Zaar, um sorriso irônico em seu rosto. – Mas eu não vou entrar nesse mérito. Mesmo que ele fosse apenas um romance passageiro, você acha mesmo que é assim que as pessoas iriam ver? Um romance de uma noite e só? Você é um figura pública, Tine. A sua vida não pertence a você desde o dia em que aceitou a coroa. Aquela coroa é um compromisso que você assinou com Mandalore e com o seu povo e, como consequência, toda a sua privacidade se tornou um bem público. A Duquesa está doente? O povo sabe. A Duquesa vai viajar para Coruscant? O povo sabe. A Duquesa trocou as cortinas do palácio? O povo sabe. A Duquesa está dormindo com um Jedi? O povo sabe!

— Mas ninguém sabe de nada! – Satine insistiu.

— Ainda! – Zaar rebateu.

Com um nó na garganta, Satine apenas o olhou furiosa. E furiosa consigo mesmo, principalmente por saber que ele tinha razão em cada palavra do que falava.

— Imagine-se voltando para Mandalore daqui uns meses, quando tudo estiver mais calmo – explicou Zaar. – Quanto tempo você acha que vai demorar até que não vaze uma imagem sua com ele em algum jornal? Quanto tempo você acha que vai demorar até que seus inimigos usem essa foto para afirmarem que você é uma traidora? É o tipo de polêmica que só vai realimentar a situação que nós já vivemos. E sem contar que, com certeza, quando isso acontecer, o seu namoradinho vai ser expulso da Ordem Jedi. Pelo que eu conheço dos Jedi, eles não tem autorização para terem envolvimentos emocionais com outras pessoas e um relacionamento desses vai ser considerado uma falta grave. É isso que você quer, Tine?

— Não – foi só o que ela conseguiu dizer.

— Eu imaginei que não – emendou Zaar, visivelmente se sentindo vitorioso ao conseguir provar o seu ponto. – Então, um imagino que você saiba o que é o certo a ser feito agora, não é?

Satine permaneceu calado, pensativa. Zaar poderia ter estado ao lado dela em toda a sua vida. Podia ter sido um mestre, um professor, um guia. E podia ter razão em cada uma de suas palavras. Mas ela não iria deixar que aquele homem se envolvesse em questões tão pessoais assim, mesmo que ele tivesse total razão quando havia dito que Satine era um bem público de Mandalore: ela havia assumindo um compromisso com seu povo e, desde então, sua privacidade não era mais dela.

— Sei – ela respondeu, enfim, completamente ciente da imaturidade da sua resposta, incapaz de assumir que Zaar estava certo. – No momento, o certo é gravar um discurso. Não é pra isso que eu voltei?

Ela desviou o olhar de Zaar, avançando pelo seu quarto, abrindo a porta e saindo pelo corredor, deixando-o sozinho para trás.

 

Assim que adentrou a atmosfera de Draboon, Qui-Gon Jinn logo percebeu que aquele não era, nem de longe, o lugar mais aconchegante da galáxia. Um planetinha pequeno acinzentado, coberto por árvores retorcidas e retorcidas e por crateras que exalavam uma fumaça amarelada que poderia facilmente ser tóxica. Mesmo assim, Qui-Gon conseguiu encontrar um lugar para pousar, um pequeno campo próximo a um rio, onde sua nave ficaria protegida das intempéries da atmosfera local pelas copas secas das poucas árvores ao redor.

Se tivesse obedecido as suas ordens, Obi-Wan deveria estar naquele lugarzinho medíocre e abandonado pela Força. Os poucos dias que estiveram separados deve ter sido virtualmente longos num lugar tão isolado e remoto da galáxia assim. Afinal, pelo que sabia, Draboon se localizava na fronteira com as Regiões Desconhecidas, um dos últimos planetas antes de uma imensidão desconhecida da galáxia.

— Obi-Wan? – Jedi chamou pelo seu aprendiz em seu comunicador.

Qui-Gon esperou. Esperou muito. Mas, em resposta, houve apenas o silêncio.

— Obi-Wan? – ele tentou mais uma vez, embora sua consciência lhe dissesse que não obteria resposta alguma.

Mestre Yoda lhe dissera que pressentia que algo ruim estava para acontecer. Que deveria se reunir com seu Padawan. Mas, para quê? Para protegê-lo? Ou para impedi-lo? Não... Confiava em Obi-Wan. O rapaz podia ser impulsivo e desregrado, as vezes, mas não era irresponsável. Se Yoda dissera aquilo, com certeza Qui-Gon deveria encontra-lo para protegê-lo.

E a ausência dele e da Duquesa apenas lhe deixava ainda mais aflito. O que raios teria acontecido naquele planeta tão afastado e desabitado a ponto de eles terem ido embora? Isso é, é claro, se sequer haviam chegado. A dúvida assolou o coração de Qui-Gon, mas ele sabia que não podia ficar parado. Precisava começar a procurar, embora não soubesse exatamente por onde começar.

— R3 – chamou o homem. – Rastreie o sinal de vida sapiente mais próximo.

O droide bipou algumas vezes em protesto.

— Eu sei que não é a mesma coisa que rastrear uma máquina, mas eu sei muito bem que é possível – disse Qui-Gon. – Se não estiverem muito longe... – o Jedi completou, aos sussurros, olhando ao seu redor e imaginando se haveria qualquer forma de vida sapiente naquele planeta que não fosse ele.

Por alguns segundos, Qui-Gon seguiu o rio com os olhos até onde sua vista alcançava, localizando uma região mais elevada há alguns poucos quilómetros de distância que formava um pequeno desfiladeiro. Ele voltou o olhar, seguindo por outra direção e, forçando a vista ao máximo, conseguiu ver, no horizonte, que o rio desembocava em uma pequeno lago.

Retirado de seus pensamentos pelo bipe do droide, Qui-Gon se voltou para ele.

— Duas formas de vida?! – o Jedi se impressionou ao receber a resposta. Talvez, Obi-Wan e Satine não estivessem em apuros, afinal de contas. – Para oeste?

Quando R3 bipou em confirmação, Qui-Gon disparou em direção ao desfiladeiro, ansioso pelo que poderia encontrar. O droide havia lhe confirmado: eram duas formas de vida. Poderiam estar feridos? Sim. Mas pelo menos estavam vivos! E ele poderia ajudar... poderia salvá-los...

Seu ritmo diminuiu um pouco conforme o terreno se tornava mais acidentado. Com um pouco de esforço (e de tempo), o Jedi alcançou o tempo do desfiladeiro e, ali, algumas dezenas de metros acima do rio, ele se deparou com uma cena que o deixou ainda mais aflito.

No terreno à sua frente até a borda do penhasco, havia dezenas de carcaças de ácaros. Suas vísceras já haviam se decomposto, mas suas carcaças ainda estava preservadas. Preservadas, porém, não intactas. Qui-Gon se aproximou de uma delas e logo viu fragmentos finos e chamuscados, como se tivessem sido destruídas por algo extremamente quente.

O coração dele disparou quando reconheceu as marcas que um sabre de luz poderia deixar em insetos daquele tamanho. Ele fechou os olhos assustado e sentindo uma gota de suor frio ser produzida pela sua ansiedade e escorrer pela sua testa, quase conseguindo ver Obi-Wan lutando contra aquelas criaturas.

Haviam sido atacados.

Mas R3 havia sentido vida sapiente. Só podiam ser eles!

Feridos, desabrigados, vulneráveis... Mas, vivos!

Seu coração batia descompassadamente em seu peito, mas Qui-Gon conseguiu caminhar ainda mais rápido, mesmo estando cansado após precisar subir pelo desfiladeiro. Ele seguiu a trilha de carcaças destruídas, esperando que, em algum trecho, conseguisse encontrar sinais de Obi-Wan ou Satine.

Mas não havia nad...

Rapidamente, Qui-Gon precisou se esconder atrás de uma árvore. Havia uma nave ali, no meio de uma clareira, mas não era a nave que Qui-Gon havia deixado com Obi-Wan e Satine quando partiu de Naboo. Uma nave menor e melhor equipada com armamento.

Sem tirar os olhos da nave, o Jedi a rodeou, mantendo-se sempre atrás da orla da floresta, escondido pelas sombras, mas procurando sinal de vida. Qualquer que fosse. E, enfim, ele o encontrou e precisou se abaixar atrás de alguns arbustos.

Hoovar estava em pé ao lado da nave, olhando para o horizonte, na direção oposta ao penhasco de onde Qui-Gon viera. Ao seu lado, havia um menino adolescente, o qual Qui-Gon reconheceu como um de seus leais funcionários da extinta Guilda.

— Você disse que eles estariam aqui, Greef! – Hoovar parecia furioso.

— E estavam! – o rapaz respondeu, assustado, recuando. – O sinal... A mensagem que a Duquesa enviou para Mandalore... o sinal vem exatamente daqui! A nave deles devia estar pousada aqui! Veja...

Greef estendeu seu datapad para Hoovar para lhe provar de que não estava mentindo, mas não houve tempo para isso. Hoovar o atingiu com um tapa violento no rosto. O rapaz caiu sobre a relva seca e rolou por quase um metro quando o homem o chutou, irado.

Hoovar se afastou, respirando fundo enquanto tentava se acalmar e Greef se levantava (não se antes precisar cuspir o sangue que se acumulou em sua boca após o golpe).

— Então, a Duquesa enviou uma mensagem para Mandalore? – Hoovar perguntou, incrivelmente com um tom de voz mais calmo.

— Sim – Greef respondeu, resgatando seu datapad do chão (agora com a tela trincada).

­­– Então, é lá que nós vamos começar a procurar por ela – disse Hoovar, enfim. – De novo. Mas, antes, nós vamos nos encontrar com um conhecido meu. Eu tenho planos muito maiores do que só matar a Duquesa e, infelizmente, não vou conseguir coloca-los em prática sozinho.

Hoovar, enfim, voltou-se para a nave, sendo seguido de perto por um (ainda assustado) Greef. A rampa se fechou e, em poucos instantes, a nave se lançou ao ar, cortando a atmosfera de Draboon e retornando para o hiperespaço.

Então, Hoovar e Greef eram as duas formas de vida sapientes que R3 havia detectado...

E, mais importante do que isso, a Duquesa havia feito contato com Mandalore... a nave deles já esteve pousada naquele exato lugar... ao que tudo indicava, Obi-Wan e Satine haviam partido de Draboon. Nada indicava que haviam ido para Mandalore, mas, a depender do conteúdo da conversa entre a Duquesa e seus súditos, algo poderia ter feito com que o seu Padawan decidisse que arriscar levá-la para lá era uma opção a ser considerada.

Milhares de possibilidades se passavam na cabeça de Qui-Gon... algumas boas, outras ruins... mas uma coisa era certa. Se Obi-Wan e Satine estavam em Mandalore, ele precisava chegar lá antes de Hoovar.

Ótimo! Bastava apenas atravessar metade da galáxia...

 

Obi-Wan, Zaar, Myrcella e mais três soldados da guarda-real estiveram presentes dentro do quarto enquanto duas damas de companhia ajudavam Satine a se vestir, atrás de um biombo. Por fim, quando a Duquesa se revelou, vestida para o discurso, cada pelo do corpo do jovem Padawan se eriçou: não havia outra palavra para descrevê-la que não fosse “imponente”. Ou, talvez, “magnífica” pudesse ser uma candidata a altura.

Ela usava ombreiras feitas de beskar, muito semelhantes à das várias armaduras mandalorianas que Obi-Wan virá, no últimos meses, bem com o torso metálico dessa. Da ombreiras e do torso, pedaços de um tecido branco muito leve parecia escorrer para baixo, formando a manga e o seu vestido, esse terminando na altura de seus tornozelos, onde começavam sapatos de salto. Ao redor dos braços, desnudos desde os cotovelos, Satine usava dezenas de pulseiras de beskar, todas gravadas com runas de um Mando’a ancestral. Os cabelos loiros da Duquesa eram um show a parte: apesar de uma leve aparência desleixada, de forma que muitas pontas ficavam arrepiada, quase todas ela se encontravam em uma traça loira que caia por cima de uma capa esvoaçante, tão branca quanto o restante de seu vestido.

“Feche a boca, Jedi”, sussurrou Zaar. “Aqui não é lugar pra isso.”

E apenas nesse momento foi que Obi-Wan percebeu que estava de boca aberta olhando para Satine, prestes a começar a babar. Mas não porque aquela visão lhe despertava algum sentimento primal. Mas por que aquela visão era, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante. Aquela era uma Satine que ele jamais havia visto. Uma Satine trajada como um deusa mandaloriana, uma lenda viva. Uma mistura de paixão e fúria. Uma Satine que parecia ser capaz de tudo. De começar um guerra ou de terminar com todas elas.

Zaar, sorridente, aproximou-se de Satine, estendendo o braço para ela.

— Você está magnífica! – ele disse, sorrindo.

— Espero que seja um ponto positivo – ela desabafou, exalando um ar que demonstrava todo o seu nervosismo. – Vamos?

E, assim, Zaar conduziu Satine para fora do quarto e, então, por um longo corredor até a sala que seria utilizada como estúdio para a gravação; sua equipe de seguranças, logo atrás. A sala era grande e sem janelas. Um holograma simulava toda a varanda principal do palácio de Sundari, como se Satine estivesse dando o discurso pessoalmente: cada centímetro da sala não parecia ser feito de concreto, mas sim de metal e vidro, como o palácio. O holograma se estendia para todos os lados e a sensação que Obi-Wan tinha era de realmente estar no palácio de Sundari, não no de Kalevala.

— Quando estiver pronta, Duquesa – disse um pequeno homem (provavelmente, o diretor), indicando o centro da sala para Satine. – Vocês, por favor, fiquem atrás daquele vidro – ele se dirigiu aos seguranças, indicando uma parede de vidro ao fundo da sala que Obi-Wan quase não conseguiu ver por estarlogo atrás do holograma de uma das torres do palácio de Sundari.

Sem hesitar, todos da equipe de segurança obedeceram. As luzes se apagaram, deixando o holograma ainda mais nítido, de forma que a sensação de realidade se potencializou, de forma que Satine desapareceu atrás da grande porta que dava acesso à varanda. “Ação”, gritou o diretor e, seguindo o roteiro que havia lido dezenas de vezes, Satine avançou pela sala e, conforme caminhava, a porta-holograma se abriu, de forma que ela alcançou a varanda onde, em teoria, iria se dirigia para todo o povo de Mandalore.

“A evaar'la Manda'yaim at evaar'la Mando!”**, ela começou, usando um tom pomposo e imponente que fez a espinha do Padawan congelar por um segundo.

Obi-Wan sabia falar Mando’a. Não era a língua estrangeira com a qual era mais familiarizado, mas sabia o suficiente para evitar ser pego desprevenido. Mesmo assim, ainda inebriado pela visão imponente, ele demorou alguns segundos até reconhecer o idioma, o que o deixou ainda mais maravilhado. Afinal, aquilo era brilhante. Vestida com peças das armaduras mandalorianas e usando a sua língua-mãe, Satine remetia à cultura de seu povo e à valorizava; ao mesmo tempo, ao entrar em cena sem portar armas e vestida de branco, ela enaltecia suas crenças. Era uma Satine que se orgulhava da cultura de seu povo e que deixava uma mensagem clara, apenas pela sua atitude visual: respeitar e evoluir, jamais esquecer. Ela não queria anular a história de Mandalore até ela. Sabia do passado de glória que seu povo, bem ou mal, havia construído. Mas reconhecia que aquele era um novo momento e que esse passado já não tinha mais voz no presente.

O aprendiz tentou prestar atenção no discurso ao máximo, mas logo percebeu que Satine estava usando um Mando’a formal e arcaico ao qual ele pouco tinha conhecimento. Mesmo assim, conseguiu reconhecer algumas palavras e frases, como “honra” (essa, ela usou mais de cinco vezes), “um futuro digno para os nosso filhos”, “coragem”, “glória”, “criminosos indignos que tentam manchar o glorioso sangue de nosso povo de forma leviana e covarde” (essa, Obi-Wan achou excessivamente agressiva, mas sabia o impacto que algo assim poderia surtir) e “sua líder está com vocês, hoje e sempre”.

A própria Satine não havia percebido, mas, conforme falava, suas emoções se inflamavam. Em questões de minutos, ela parecia aos berros, mas ainda conseguindo manter a dicção de um rainha que se dirigia ao seu povo. Um discurso potente e inflamado que, em nenhum momento, foi interrompido pelo diretor. Quando Satine, finalmente, após quase dez minutos, se calou, o pequeno diretor ficou em silêncio antes de começar a bater palmas.

O som das palmas retiraram Satine de seu estado de estase, trazendo-a de volta para a realidade e, ao perceber o que havia acontecido, fazendo-a corar. No instante seguinte, o diretor avançou até ela, explicando que precisariam regravar alguns trechos. Mas não antes que três damas de companhia logo se adiantassem para retocar a maquiagem da Duquesa.

— Podemos conversar? – perguntou Zaar.

E apenas nesse momento Obi-Wan foi retirado do seu estado de transe. Até então, ele havia assistido Satine discursar quase como se estivesse hipnotizado. Olhando pela primeira vez em minutos para Zaar, o aprendiz percebeu pelas feições do Primeiro-Ministro que ele queria ter uma conversa séria. E, dado o comentário que o homem havia feito quando Obi-Wan vira Satine vestida daquela forma pela primeira vez, era uma conversa séria. Ele não ousaria negar.

O aprendiz fez que sim e seguiu Zaar para o corredor, que estava vazio em um silêncio sepulcral.

— Você tem um minuto para se explicar antes que eu faça alguma coisa que inicie um conflito diplomático entre Mandalore e os Jedi, de novo— Zaar parecia não estar com paciência alguma para tentar desenvolver uma conversa pacífica e amigável. – Eu posso ser velho, mas ainda sei lutar, Padawan. Não me subestime. Eu arrancaria os seus olhos em segundos.

— O que você quer que eu diga? – perguntou Obi-Wan, logo decidindo que não seria prudente se fazer de desentendido e fingir que não sabia do que Zaar estava falando. – Pelo visto, você já sabe muito bem o que está acontecendo. Quer que eu diga o quê? Que eu peça desculpas? Que eu me justifique? Ou que eu minta e digo que eu obriguei Satine, pra tentar eximir ela um pouco da culpa? Você bem que queria, não é? Mas, infelizmente, não vou poder te dar esse prazer, Zaar...

— “Primeiro-Ministro”, pra você – esbravejou Zaar. – Por acaso você não percebe o que vocês estão fazendo? Por acaso você não percebe o quanto isso é grave? O tamanho do problema que pode ser causado? Nada do que estamos fazendo aqui – Zaar apontou para a porta que levava à sala onde a gravação estava acontecendo – vai ter a menor importância, por mais bem-sucedido que seja, se vazar a notícia de que a Duquesa está se deitando com um Jedi! Você não liga pra isso?

A verdade escapou dos lábios de Obi-Wan quase que sem querer.

— Não – ele respondeu.

Instantaneamente, o rosto de Zaar se tornou vermelho. O Primeiro-Ministro avançou contra o Padawan, levando a mão ao cinto, de onde retirou um longo punhal. Instintivamente, Obi-Wan recuou, usando a Força para atrair seu sabre de luz até a sua mão, mas sem acioná-lo. O simples gesto, no entanto, pareceu fazer Zaar hesitar e parar.

— Você não teria coragem – o homem balbuciou, furioso. – Se encostar em mim, você não sai vivo desse prédio. E, se sair, vai ser perseguido pela galáxia inteira. Eu conheço soldados da Guarda Real que não iriam dormir até trazer a sua cabeça para Mandalore.

— Eu imagino que sim – Obi-Wan rebateu, mas não em tom de desafio. Ele realmente acreditava em cada uma das palavras de Zaar. – Mas isso não muda a minha resposta. Eu não ligo. Não ligo para o que isso pode acarretar. Já não ligo pra mais nada há muito tempo. Mas Satine me fez sentir vivo de novo. Vivo como há muito tempo eu não me sentia. Ela me faz feliz como eu jamais achei que seria e eu não ligo pra nada que aconteça nesse planeta ou pra dispensa vergonhosa que eu vou sofrer da minha Ordem. Tudo isso vai valer a pena se eu puder retribuir pra Satine uma fração do que bem que ela me faz.

Zaar permaneceu imóvel por alguns instantes. E, então, começou a rir. Uma gargalhada tão animada que ele, inclusive, deixou o punhal cair de sua mão ao chão, deixando claro não só o quanto zombava de Obi-Wan como também achava que o Padawan não lhe representava risco algum. Atordoado com o que estava acontecendo, o rapaz, até mesmo, abandonou a sua posição de guarda, mas sem devolver seu sabre de luz ao cinto.

— A coisa toda é muito pior do que eu esperava – disse Zaar, recuperando o fôlego. – Então, é isso? Você está... apaixonado?

Mas, antes que Obi-Wan pudesse responder, Zaar tornou a rir. Talvez, todos os sentimentos de Obi-Wan já estivessem expostos demais.

— Me desculpe, Obi-Wan – Zaar tentava recuperar a compostura, mas ainda deixava algumas risadas escaparem de seus lábios. – Mas eu te levei a mal, meu caro. Por um momento, eu achava que você estava brincando com os sentimentos da minha Tine, usando ela do jeito que queria, sem se importar com as consequências. Mas, agora, eu vejo que é o contrário.

— Você não sabe de nada! – rebateu Obi-Wan, na defensiva. – Não sabe nada do nosso relacionamento!

— Ah, seu sei.

E, nessa hora, Zaar voltou a assumir uma postura séria. De dentro do bolso de suas vestes, ele retirou um ojeto metálico preto, um gravador. Bastou ele apertar um botão na lateral, e a voz de Zaar, aos berros, saiu do aparelho. “Imagine você voltando para Mandalore ao lado dele publicamente. Isso vai ser mais um grande impacto no planeta e, somando às consequência de tudo o que já está acontecendo, eu não sei nem sequer o tipo de coisa que isso poderia causar”, dizia. “Você fala como se eu fosse me casar com ele! Ele é só”, respondeu uma Satine, furiosa. “Um caso? Um romance de verão? Uma paixonite? Uma aventura? Um brinquedinho?”, questionou Zaar, em tom de desafio. “Sim!”, uma Satine impaciente, respondeu.

E, nesse momento, Zaar desligou o gravador.

— Eu lamento, do fundo do meu coração¸ ter que ser eu a quebrar o seu coração, rapaz – ele começou. – Mas, pelo que parece, você está sendo feito de tonto. E nisso tudo, não só coloca o seu futuro pessoal dentro da Ordem Jedi... que ainda pode ser brilhante... como coloca em risco o futuro dessa nação. Você nasceu para essa vida, Obi-Wan Kenobi, sabe disso. Por quê, agora, no final de seu treinamento, prestes a se tornar aquele que pode ser um dos melhores Jedi que já existiram, você joga tudo para o alto em nome de uma pessoa que claramente não sente o mesmo por você? Que vai se aproveitar de você enquanto você for útil... em qualquer sentido que essa frase possa tomar... e depois te descartar sem remorso algum? Você merece mais do que isso, meu rapaz. Merece se tornar o Jedi que nasceu pra ser!

Obi-Wan não respondeu imediatamente.

O “Sim!” furioso e impaciente de Satine ecoava em cada canto de seu cérebro, sem perder força, fazendo seu peito doer e um nó se formar em sua garganta. Não conseguia acreditar... Nem que fora enganado tão fácil e ardilosamente por Satine, nem que estava se sentindo tão mal por algo dessa natureza. Realmente, ele era um péssimo Jedi. Se tivesse seguido seu treinamento à risca, sentimentos como esse jamais teriam lhe atormentado tanto como estavam naquele instante. Estava furioso, sentindo-se traído e humilhado.

— Vá – disse Zaar, estranhamento parecendo exibir alguma forma de compaixão em sua voz. – Vá para o seu quarto. – Tire o resto do dia de folga. Medite... ou seja lá o que vocês Jedi fazem... Reorganize os seu sentimentos. E, então, volte para o seu posto como segurança da Duquesa. A nave de vocês estará preparada para partir após o jantar.

Incapaz de responder, Obi-Wan deus as costas para o homem e caminhou pelo corredor lentamente, quase que sem rumo, incapaz de acreditar no que havia ouvido.

— Obi-Wan – chamou Zaar, mas o rapaz não seria virou ou sequer parou de andar (esmagado e sufocado pelos seus pensamentos, ele nem sequer havia ouvido ser chamado). – Eu lamento muito.

E Zaar realmente lamentava. Lamentava que tivesse que ser daquela forma. Lamentava que tivesse que devastar o coração daquele menino para que ele pudesse garantir que Mandalore retornasse a novos tempos de glória. Mas, infelizmente, era necessário. A imagem de Satine já estava manchada demais. Aquele romance entre os dois não traria nada de bom para a atual situação. Infelizmente, o romance dos dois era incondizente com um reinado glorioso para Satine e Zaar, como Primeiro-Ministro e tutor da Duquesa, não poderia ficar de braços cruzados vendo tudo aquilo desmoronar.

Infelizmente, tudo aquilo era necessário.

Com o coração partido pelo que acabara de fazer, Zaar voltou para dentro da sala, onde as damas de companhia terminavam de maquiar Satine, que parecia não ter percebido a ausência dos dois homens da sala durante aquele curto período de tempo.

Zaar, sorridente, aproximou-se dela e a abraçou.

— Você foi incrível, Tine – ele disse. – Tenho certeza de que vamos colher os frutos disso.

— Obrigada, Zaar – ela sorriu para ele, um pouco mais confiante de que aquele era o caminho certo a ser tomado. – Achei que não conseguiria.

— Não há nada que você não possa conseguir, meu amor – Zaar rebateu, imediatamente. – Agora, vamos regravar essas cenas?

Zaar piscou para ela e, imediatamente, virou-se, retomando sua posição atrás do vidro.

 

Os ânimos com a gravação estavam aflorados. Dezenas de pessoas comemorando uma filmagem que, se tudo desse certo, jamais seria transmitida. Um frenesi ao redor da perspectiva que criaram de que aquele vídeo patético seria suficiente para conter os avanços do Olho da Morte.

Em meio a tudo aquilo, ninguém percebeu a sua ausência. Momentânea, rápida. Pelo tempo suficiente para estabelecer contato.

“Sim?” questionou o holograma de Pre Vizsla no momento em que surgiu sobre o comunicador na mão do ministro Eldar.

— Lamento interromper sua agenda, governador – disse o ministro, com um tom de voz alegre que claramente indicava que ele não se lamentava da nada. – Mas achei que o senhor gostaria de saber que uma determinada Duquesa se encontra no palácio de Keldabe nesse exato instante.

Houve um rápido momento de silêncio no qual os olhos de Vizsla se arregalaram.

Era a oportunidade que precisava.

— Agradeço a informação – foi a resposta, pomposa. – Sua lealdade será recompensada. Agora, encontre um abrigo. O Olho da Morte logo fará uma visita ao palácio.

E, imediatamente, o holograma se desfez.

A informação fora transmitida.

Talvez, realmente fosse melhor encontrar logo um abrigo.

 

Como de costume, a porta estava aberta. Como sempre estivera para todos os seus visitantes e clientes. Mas havia algo de diferente, como se algo atrás dela – seja lá o que fosse – estivesse esperando por ele. E ele sabia exatamente o que era: a humilhação.

No momento em que Hoovar adentrou o bar no castelo de Maz Kanata, em Takodona, um silêncio constrangedor dominou o local. Em meio à estatisticidade do ambiente, o imroosiano conseguiu identificar algumas pessoas cochichando enquanto olhavam para ele.

O momento de vergonha e constrangimento durou apenas alguns poucos segundos: não demorou muito para que a banda voltasse a tocar e as conversas no bar voltassem a se desenvolver. Humilhado como jamais se sentira na vida (e sem poder algum para fazer qualquer coisa à respeito), ele se aproximou do balcão.

— Me traga uma cerveja – ele ordenou.

— Claro que sim – Maz Kanata respondeu de forma amistosa (e carregada de sarcasmo). – Sente-se onde quiser. Sinta-se em casa.

A dona do bar se afastou, deixando Hoovar e seu fiel escudeiro, Greef Karga, sozinhos naquele salão.

Após um breve momento de atenção, o caçador de recompensas descobriu o que é que o deixava tão ferido: a indiferença. Poucas semanas antes, sua presença seria tratada de forma totalmente diferente. Ele impunha respeito, era admirado, todos queriam trabalhar para ele. Mas, naquele momento, ele era apenas mais um anônimo. Não valia a atenção de ninguém por mais de alguns poucos segundos.

E não havia humilhação pior do que essa.

Cada segundo naquele lugar era um golpe no que restava de sua dignidade. E o que mais lhe doía era saber que ele merecia aquilo. Fora tolo em acreditar que era poderoso o suficiente para poder enganar, capturar e matar dois Jedi com um plano tão simples. Ele apostara todas as suas fichas em um plano infantil e, com isso, foi obrigado a ver o seu império ser destruído pela Ordem Jedi. Ele, que antes era respeitado e temido onde quer que fosse, não passava, agora, de um anônimo insignificante.

Mas toda aquela exposição... toda aquela humilhação... precisava valer a pena. E, em meio à multidão de clientes no bar instalado no térreo do castelo de Maz Kanata em Takodona, Hoovar encontrou aquele que ele acreditava que o ajudaria a restaurar seu império e, principalmente, a sua dignidade.

De cabeça baixa, o imroosiano atravessou o salão e se sentou à mesa que era ocupada apenas pelo caçador de recompensas de pele azule chapéu. Os dois se olharam por alguns instantes, trocando cumprimentos e palavras que não precisavam ser ditas.

— Eu imaginei que viria atrás de mim em algum momento, depois... do que aconteceu com você – disse Cad Bane, pousando sua bebida à mesa sem nem sequer se dar ao trabalho de olhar Hoovar nos olhos, deliciando-se com a situação. – Só não achei que fosse ser tão rápido assim. Você deve estar desesperado.

— Eu preciso de ajuda – Hoovar estava quase implorando.

— Para quê? – Cad Bane rebateu. – Você quer restaurar seu poder? Reconquistar o respeito que tinha antes? Lamento, mas nós dois sabemos muito bem que isso jamais vai acontecer. Você cometeu um erro muito amador e isso manchou a sua reputação de forma irreversível. Sua carreira acabou Hoovar. Quanto mais cedo aceitar isso, mais rapidamente vai se reerguer. Então, eu volto a perguntar? Você quer a minha ajuda pra quê?

Cad Bane não parecia querer gastar com seu acompanhante mais do que o mínimo de tempo necessário. Era como se Hoovar não valesse sequer uma conversa. Mas, apesar de terrivelmente ofendido pelas palavras de Hoovar, o imroosiano sabia que havia verdade em cada uma delas.

Jamais voltaria a ser quem era antes. Sua posição no submundo havia sido tirada dele. Era mais do que certo que dezenas de caçadores de recompensas se digladiariam entre si para tomar aquele lugar. Tão certo quanto Hoovar era apenas mais uma página virada da história da galáxia, fadado ao esquecimento.

Então, por que raios estava procurando a ajuda de Cad Bane?

— Eu quero vingança – Hoovar assumiu, em voz alta, pela primeira vez.

Cad Bane sorriu, feliz com a situação. Ele sabia que tinha poder ali, que poderia exigir qualquer coisa em troca.

— Nisso eu posso te ajudar – disse ele.

Em silêncio, Cad Bane se largou na cadeira. Quase como se estivesse pedindo para que Hoovar se jogasse aos seus pés e implorasse por uma explicação. Durante o curto momento de um silêncio constrangedor entre os dois (que deixou mais do que evidente que era Cad Bane quem tinha todo o domínio da situação), Maz serviu a cerveja de Hoovar e deu as costas sem dizer absolutamente nada.

— E o que vai querer de mim? – Hoovar perguntou, cedendo, enfim, aos caprichos do homem à sua frente.

— Tu-do – Cad Bane respondeu, pausadamente, extraindo o máximo de prazer de cada letra que pronunciava. – Seus serviços, sua lealdade, sua obediência. E lhe dou a sua vingança em troca da sua liberdade. Acha que meu preço é justo? Acha que sua vingança vale tudo isso? Se achar, eu estou disposto a te ajudar.

Valia?

Hoovar não tinha uma resposta. Mas, àquela altura, ele estava disposto a aceitar qualquer preço, e que se danem as consequências. Ter a cabeça dos dois Jedi e da Duquesa em sua mesa lhe traria satisfação pessoal suficiente para suportar sua nova vida como um funcionário... um subordinado... de Cad Bane.

Jamais voltaria a ser quem era, a ocupar o cargo que tinha antes... jamais voltaria a ser respeitado e temido como antes. Aquele Hoovar estava morto. Restava ao novo Hoovar lhe dar um enterro digno. Um fim apropriado para o líder do império que ele um dia governou.

— Vale – Hoovar respondeu.

Um sorriso de satisfação surgiu no rosto de Cad Bane. Um sorriso de quem sabia estar saindo vitorioso.

— Excelente – ele disse, enfim. – Então, termine logo a sua cerveja. Nós vamos atrás de um exército.

 

Talvez, “exausta” não fosse uma palavra forte o suficiente para descrever como Satine se sentia naquele momento. Realmente, estar diante de uma câmera e gravar algumas frases em um tom heróico não era algo fisicamente desgastante. Mas todo o contexto por trás, as horas editando cada linha daquele discurso e a pressão por trás de cada palavra que proferira haviam sido o suficiente para fazer a cabeça da Duquesa explodir. Mesmo diante do banquete disposto à sua frente, Satine mal conseguia prestar atenção em uma única palavra que era dirigida a ela. Tudo o que ela mais queria naquele momento era o conforto de sua cama e uma noite de sono reconfortante para se esquecer, momentaneamente, de todo o estresse que vivera nas últimas horas. Um estresse que, apesar de passado, ainda se fazia muito presente.

Em sua boca, nada do que provava naquele jantar parecia ter gosto algum. Estava tão nervosa... tão cansada... que tudo parecia amargo e sem sabor. Não que não estivesse sem apetite... sem estômago urrava por comida... mas nada do que lhe fora servido parecia lhe satisfazer. Ela, com toda a educação que os anos sendo educada na corte haviam lhe proporcionado, agradecia por tudo o que era servido, mas era incapaz de sentir um prazer genuíno com qualquer coisa que levasse à boca. Na verdade, tudo parecia lhe cair mal. Não havia um único prato à frente dela que, em sua boca, não possuísse um gosto metálico ou que lhe deixasse enjoada. Satine daria todo o beskar disponível para estar sozinha naquele momento. Tudo o que ela precisava era que aquele jantar acabasse de uma vez, embora ela soubesse que o seu término significaria a sua partida de Mandalore (novamente, sem uma previsão de retorno).

— Onde está Obi-Wan? – ela perguntou, aos sussurros, esperando que Zaar, logo à sua direita, não a ouvisse.

— Zaar me disse que ele não estava se sentindo bem – Almec respondeu, igualmente aos sussurros, sentado à esquerda da Duquesa. – Então ele o liberou para ir até os aposentos dele descansar um pouco.

Silenciosamente, Satine lamentou sua ausência. Talvez, com ele ao seu lado, todo aquele momento fosse ligeiramente mais suportável. Mas, no fundo, Satine se sentia imensamente culpada por se sentir daquela forma: passara meses longe de casa, longe das pessoas que amava, para, quando enfim as encontrou, querer que tudo aquilo acabasse logo.

Era uma sensação de perigo iminente. Como se, por mais bem equipada que fosse a guarda mandaloriana, ninguém no palácio estivesse realmente a salvo. E ela sabia que ninguém realmente estava a salvo e sabia que a culpa era sua. Pelo simples fato de ela estar ali. Satine tinha plena consciência de que, enquanto estivesse em Keldabe, ninguém naquele palácio estaria seguro.

Quase que como se ouvisse os pensamentos da Duquesa e estivesse esperando pelo momento mais cruel e ironicamente certo, o universo fez com que as sirenes de alerta do palácio tocassem. Todos à mesa se levantaram em um salto quase que imediatamente no exato instante em que o salão de jantar foi invadido por dezenas de soldados da Guarda Real. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Satine viu Myrcella ao seu lado, o rosto coberto por seu capacete, segurando um blaster em uma mão e a conduzindo (quase que a força) com a outra para fora de lá.

— Para o hangar! – orientou Zaar, aos gritos.

Estavam sendo atacados.

 

Obi-Wan podia não concordar inteiramente com todas as posturas e condutas de Qui-Gon. Não concordava com a maioria delas, na verdade. Mesmo assim, ele o admirava como um verdadeiro mestre, um mentor sábio e poderoso. Mas, em meio a tudo isso, não havia como negar que Qui-Gon era um verdadeiro gênio. Desde que Obi-Wan era um menino... mesmo antes de aprender a se comunicar, de fato, com a Força... o Jedi sempre o orientou a meditar quando estivesse em dúvida. “O silêncio e a reflexão podem não te levar a uma resposta, mas vão te fazer refletir”, ele sempre dizia.

E, mais uma vez, aquele conselho se provou verdadeiro. Era claro que ouvir aquelas coisas da própria boca de Satine não era fácil para ele. Mas Obi-Wan, após refletir, Obi-Wan conseguira entender o contexto: colocada contra a parede por um Zaar crítico e questionador, Satine não teria outra opção a não ser dizer aquilo. Mesmo que, em sua palavras, não pudesse haver um fundo de verdade.

Mas isso era um assunto para ser discutido com a própria Satine. Em outro momento. Em outro lugar.

Satisfeito (mas não menos magoado) com as conclusões que havia chegado, Obi-Wan abriu os olhos para se encontrar sentado no chão do quarto que lhe fora designado quando chegaram ao palácio de Keldabe. Ele respirou fundo e se levantou. Era hora de voltar à sua posição como guarda-costas da Duquesa.

O rapaz caminhou até a cama, onde havia deixado o seu robe, e o vestiu lentamente antes de sair do quarto. Àquela altura, Satine e sua comitiva deveriam estar no salão de jantar. Tendo estado no salão apenas algumas poucas vezes desde que haviam chegado, Obi-Wan ainda não havia decorado o caminho até, mas isso não era nada que algum soldado pelo caminho não pudesse lhe ajudar.

Seguindo as orientações de um deles, que vigiava o corredor, Obi-Wan desceu um lance de escadas, mas, quando estava no último degrau, um alarme soou, alto como se emanasse de cada parede ao seu redor. Seu coração disparou, crente de que seja lá o motivo de alguém tê-lo disparado, a única conclusão possível era de que Satine estava em perigo.

O Padawan disparou no corredor à sua frente, o sabre de luz em mãos. A lâmina de plasma azul foi ativada no exato momento em que ele adentrou o salão de jantar. Estava praticamente vazio, exceto por alguns corpos. A mês havia sido tombada e a comida estava espalhada por todo o chão. Marcas de blaster marcavam o piso e as paredes. Mas, em meio a tudo aquilo, havia alguém vivo.

— Almec! – Obi-Wan se aproximou, ajoelhando-se ao seu lado.

O auxiliar do primeiro ministro estava visivelmente ferido. Sangrava por um ferimento na perna que o impedia de andar e, na correria e no caos que devia ter ocorrido ali, havia sido deixado para trás. Felizmente, não parecia ser um ferimento muito profundo. Iria sobreviver.

— A Duquesa – ele balbuciou. – Foi para o hangar! Corra!

E Obi-Wan entendeu a mensagem imediatamente. Almec não queria ajuda, ele queria que Satine estivesse bem. Por mais que o homem estivesse ferido, Obi-Wan sabia que ele ficaria bem, mas era Satine que corria risco de vida. O Padawan se levantou e, sem olhar para trás, deixou o salão, percorrendo o caminho que, pelo que se lembrava, o levaria até o hangar.

Hangar onde, segundo o próprio Zaar, uma nave estaria pronta para os levar para fora de Keldabe assim que o jantar acabasse.

Conforme corria, Obi-Wan ficou satisfeito em conseguir ouvir os sons da batalha se tornando cada vez mais altos. Estava no caminho certo, mas não sabia se isso o deixava feliz ou ansioso. Feliz pois ainda poderia ter uma chance de salvar Satine, mas tinha medo de ter chego tarde demais.

Os tiros, explosões e gritos se tornaram nítidos e, no momento em que Obi-Wan desceu um largo lance de escadas, ele se viu em meio ao hangar.

Um massacre acontecia ali. A Guarda-Real lutava violentamente contra guerreiros mandalorianos trajando armaduras preguiçosamente pintadas de preto. Ao centro do local, Myrcella (já sem capacete) estava em duelo corpo a corpo contra um dos soldados, cuja armadura tinha pintada, nas costas, a figura de um olho. Logo em seguida, Obi-Wan localizou Satine, agachada atrás de um pilar, cercada por Zaar e mais três soldados da Guarda-Real.

— Obi! – ela gritou assim que o viu.

O Padawan terminou de descer os degraus faltantes, avançando pelo hangar e conseguindo defletir dois tiros de blaster enquanto caminhava. Estava há menos de dois metros de Satine quando foi atingido no peito por dois pés. O rapaz deslizou no chão quase até atingir a parede enquanto o seu agressor pousava: já sem capacete, Obi-Wan reconheceu Yarsek, que estava acompanhado de uma mulher.

— Pegue a Duquesa, Ursa – ele ordenou.

Sem dizer mais nada, a mulher fez que sim com a cabeça e avançou contra Satine. Os soldados da Guarda-Real avançaram, mas a mulher era boa o suficiente para lidar com eles sozinha: em instantes, dois deles estavam mortos e um, ferido, recuava, incapaz de andar.

— Não! – gritou Zaar, apontando a sua adaga para Ursa e se colocando entre ela e Satine.

— Me desculpe – disse Ursa, investindo contra o homem.

Surpreendentemente, Zaar era realmente ágil, conforme ele dissera ao ameaçar Obi-Wan quase uma hora antes. Apesar da idade, o homem se engajou em uma luta de igual para igual com Ursa Wren. Sua adaga atingindo diversas vezes a armadura da mulher, provocando ruídos metálicos estrondosos enquanto ela, inutilmente, tentava inutilizá-lo com socos e chutes.

Mas Obi-Wan não tinha tempo a perder, com Yarsek avançando em direção a ele. Nas mãos do ex-chefe da Guarda Real, havia um imenso machado feito de beskar, sendo brandido acima da sua cabeça.

O primeiro golpe quase atingiu Obi-Wan, que rolou para o lado e se levantou no mesmo movimento em que atraia seu sabre de luz, caído a alguns metros dele, até sua mão direita com a Força. A lâmina de plasma azul foi acionada em tempo suficiente para que o Padawan pudesse se proteger do segundo golpe do machado.

O beskar da armadura de Yarsek era pesado o suficiente para limitar um poucos seus movimentos, mas isso era facilmente compensado pela resistência do material: Obi-Wan em pouco tempo de combate havia conseguido atingi-lo duas vezes, mas seu sabre de luz pareceu não causar dano algum ao metal. Mas havia um ponto da armadura mandaloriana que Obi-Wan sabia não ser feito de beskar.

Em um movimento rápido, o Padawan bloqueou o ataque do machado e girou em seus calcanhares, passando ao lado de Yarsek e conseguido desferir um golpe profundo contra a jetpack em suas costas. Obi-Wan o chutou para o lado, asfatando-o de si no momento em que a jetpack explodiu, levando-o para ainda mais longe. Ele se virou a tempo de ver Zaar agarrar Ursa com as mãos e jogá-la contra a pilastra, onde Satine ainda se escondia.

Ursa bateu a testa contra o concreto e, imediatamente, caiu ao chão, inconsciente. Mas Zaar não havia saído intacto do combate: seu coração despedaçado por ter atacado Ursa era visível por detrás de seu olhar baixo e das escoriações em seu rosto. Mas isso não o impediu de continuar: sem dizer nada, ele estendeu a mão para Satine. Ainda precisavam chegar à nave.

Em meio ao combate no hangar, Obi-Wan localizou seu destino. Uma nave cargueira de pequeno porte se encontrava não muito longe deles e, diferenciando-se de todos os caças militares que estavam ali, o Padawan julgou que era ela que os levaria para fora de Keldabe.

O rapaz se juntou a Zaar e Satine em uma corrida pelo hangar, usando o sabre de luz para protegê-los de tiros de blasters que pareciam vir de todos os lados.

— Rápido – Zaar ajudou Satine a subir pela rampa, com Obi-Wan logo atrás.

— Venha comigo! – Satine, já dentro da nave, puxou a mão dele, em desespero.

A simples idéia de deixar Zaar naquele lugar caótico era impensável.

Mas, nos olhos do primeiro-ministro de Mandalore, havia apenas lágrimas.

— Eu não posso – ele disse, soltando a mão de Satine. – Eu tenho um dever a cumprir.

— Então, eu fico! – Satine tentou descer pela rampa, mas Obi-Wan a impediu, agarrando-a pela cintura e a puxando para trás com força. – Me solta! Não! Me solta, agora!

Zaar apertou um botão pela face interna da rampa e essa começou a ser levantada.

— Adeus, pequena Tine – ele murmurou.

— Zaar! – Satine urrava em completo pânico e desespero, debatendo-se nos braços de Obi-Wan, mas sem conseguir se soltar. – Zaar, por favor, não! Zaar!

Mas Zaar não se moveu.

— Cuide dela por mim, Obi-Wan – disse Zaar, usando um tom de voz muito diferente do que havia usado na última vez em que os dois estiveram à sós. Um tom de voz de quem fazia um pedido. Quase como se implorasse. – Ela é tudo o que eu tenho na vida.

Obi-Wan levantou Satine no ar, que continuava a se debater, afastando-a da rampa para impedir que ela tivesse sucesso em qualquer tentativa de abrir a rampa.

­– Me solta agora! – Obi-Wan conseguia ouvir Satine gritar, em meio às lágrimas, conforme a levava cada vez mais para o fundo da nave. Ele se debatia e esperneava, mas Obi-Wan não cedeu em nenhum momento. – É uma ordem.

— Eu lamento, Satine – ele respondeu.

Mas Obi-Wan não sabia ao certo do que estava se lamentando. De ter que agarrá-la à força daquela forma para a levar para longe do conflito? Ou de que, possivelmente, ela jamais veria Zaar com vida?

Antes que chegasse a uma conclusão, Obi-Wan atingiu o cockpit, mas apenas após conseguir fechar e travar a porta que dava acesso ao restante da nave foi que ele soltou Satine. Aos prantos, a Duquesa caiu ao chão, incapaz de se mover.

Mas Obi-Wan não podia perder tempo a consolando naquele momento. Satine ainda não estava em segurança.

O rapaz se sentou e ligou a nave. Em instante, estava voando para fora do hangar, deixando a batalha para trás.

— Volte! – gritou Satine, colocando-se ao seu lado e socando seu braço com força, tentando alcançar os controles da nave. – Volte agora!

Obi-Wan  segurou as mãos dela com força, afastando-as dos controles e a empurrando para o lado em um movimento que foi um pouco mais agressivo do que ele teve a intenção. Satine caiu para trás, sentada na poltrona vazia do cockpit. Mas, dessa vez, ela desistiu de insistir.

Derrotada, ela permaneceu naquela posição, chorando.

— Me desculpe – pediu Obi-Wan, quase aos sussurros. O coração partido por vê-la daquele jeito.

Mas algo o lembrou, novamente, que ainda não estava seguros.

No céu à sua frente, dois soldados do Olho da Morte voavam ao redor da nave, seguindo-os desde o hangar. Ao vê-los, Obi-Wan atirou, tentando atingi-los. Mas, com suas jetpacks, os dois eram muito mais ágeis do que a nave: eles se desviaram dos disparos e pousaram em cima da nave.

— O que foi isso? – Satine perguntou, preocupada, sentando-se no assento, logo após ouvir o impacto dos soldados pousando no teto.

— Temos companhia – Obi-Wan respondeu.

Imediatamente, múltiplos disparos de blasters se tornaram audíveis. No instante seguinte, um alarma na nave soou, com todos os painéis à frente deles piscando em vermelho, enquanto os controles tremiam sobre as mãos de Obi-Wan e a nave perdia altitude, se aproximando rápida e velozmente da selva de Keldabe.

Estavam caindo.

 

Viagens pelo hiperespaço nunca eram a parto do dia que Qui-Gon se sentia mais confortável. Afinal, ele sempre se sentia um pouco enjoado durante todo o tempo (mesmo tendo quase total certeza de que se tratava de um sintoma puramente psicológico). De qualquer forma, quando isso acontecia, apenas se movimentar pela nave o ajudava a se sentir melhor. Mas, naquela situação, crente que seu Padawan e a Duquesa podiam estar em perigo, nem mesmo isso o ajudava.

— Não, R3, eu não vou tentar dormir – ele disse, irritado com o droide que bipava insistentemente o mesmo conselho há quase uma hora. – Até porque acho que não vou conseguir... – ele completou para si mesmo.

“Qui-Gon?”, uma voz conhecida o chamou.

Não era Obi-Wan, mas ele disparou ao reconhecer quem era.

Ao chegar ao cockpit, ele viu o holograma do rosto de Maz Kanata se projetando sobre o painel.

— Que surpresa agradável – ele disse, sentando-se no assento em frente ao holograma.

“Mas lamento não trazer as melhores notícias”, disse a mulher. “Embora, acho que eu tenha uma solução”.

Qui-Gon permaneceu em silêncio e Maz entendeu que deveria prosseguir.

“Cerca de duas horas atrás, um conhecido de nós dois veio tomar uma cerveja no meu bar”, ela disse.

— Hoovar – Qui-Gon arriscou.

Algo na Força lhe dizia que o caçador de recompensas ainda iria lhe dar muito trabalho.

Maz confirmou com a cabeça.

“Já ouviu falar de Cad Bane?”, ela perguntou.

— Com certeza – o Jedi respondeu. – Um caçador de recompensas. Tem feito alguns trabalhos pequenos na Orla Exterior e já deu um certo trabalho para a Ordem uma vez ou outras. Mas ouvi dizer que ele está expandindo os seus negócios.

“Exatamente”, Maz continuou. “E os dois se encontraram aqui. Não consegui ouvir a conversa delas, mas um dos meus droides, sim. E ele me confirmou que os dois parecem estar se ajudando. Achei que gostaria de saber.”

— Com certeza – Qui-Gon respondeu.

“E... acredito que já saiba sobre o que aconteceu em Keldabe, não?”

Os olhos de Qui-Gon se esbugalharam imediatamente. Sua pele ficou pálida e uma gota de suor frio escorreu pela sua testa. Por alguns instantes, Qui-Gon acreditou que Maz conseguia ver as suas mãos tremerem.

“Aparentemente, a Duquesa estava por lá”, ela comentou. “O palácio foi atacado pelo Olho da Morte, houve uma batalha horrível. Dezenas de mortos e feridos. Obi-Wan e Satine estão desaparecidos.”

Quase que imediatamente, o Jedi sentiu o mundo rodar ao seu redor.

E Maz percebeu isso.

“Qui-Gon, se acalme”, ela o instruiu. “Pense comigo... Se a Duquesa estivesse morta, o Olho da Morte já estaria exibindo a cabeça dela como troféu. Então, se ela não está morta, é muito possível que Obi-Wan também não esteja.”

— Você tem razão, Maz – Qui-Gon respondeu. – Obrigado. Estou a caminho do sistema Mandalora nesse exato momento, mas acho que ainda vou demorar muito para chegar.

“Isso não é problema”, disse Maz. “Uma amiga está em um sistema vizinha... Weyland... já entrei em contato com ela. Ela está indo agora mesmo para Mandalore e me garantiu que vai manter Obi-Wan e a Duquesa em segurança até que alguém da Ordem Jedi apareça.”

Qui-Gon riu, não se sentindo muito aliviado.

— Eu tenho medo dessas suas amizades, Maz – ele foi sincero. – Lembre-se que Hoovar era seu amigo até algumas semanas atrás.

“E você também é meu amigo”, Maz piscou para ele.

Nervoso, Qui-Gon apenas conseguiu sorrir, mas sem imaginar quais seriam seus próximos passos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Comentem, meus amores ♥

Beijinhos e até o próximo!

Tradução
*Ni ganar at ba'slanar jii, cyar'ika = Eu tenho que ir agora, minha querida
**A evaar'la Manda'yaim at evaar'la Mando = Uma nova Mandalore para novos Mandalorianos!



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