A Song of Kyber and Beskar escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 12
Capítulo XI - Funcionários e espiões pela galáxia inteira


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! Voltei!

E voltei com o capítulo que vai ser o mais bafônico de todos até agora (segundo o meu noivo, vai ser só "dedo no c* e gritaria" hahahaha). Vai ter muita treta e eu espero DEMAIS que vocês gostem do caos que está se formando hahahaha Estamos nos encaminhando para o final da primeira parte da fic e eu espero que esse capítulo cumpra com o seu propósito de deixar vocês pilhados hahahaha

Beijinhos ♥



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O terraço da torre mais alta do castelo de Maz Kanata era um lugar perfeito para um momento de paz e isolamento. Durante o dia, o local permitia uma vista em trezentos e sessenta graus da área ao redor, desde o lago até a floresta; durante a noite, a luz da luz dava a tudo isso um aspecto místico e hipnotizante enquanto era refletida na superfície da água, não perdendo nem um pouco de sua magia pelas luzes de uma cidade próxima, fracamente visíveis no horizonte.

Definitivamente, o local perfeito para meditar. Ao menos, para Obi-Wan. Ele não conseguia entender como seu mestre não gostava daquele terraço e preferia meditar nas catacumbas do castelo, onde dezenas de Jedi estavam enterrados. Aquelas catacumbas eram frias, úmidas e mofadas e todo o ambiente tinha um uma aura espectral que fazia a espinha do Padawan congelar toda vez que descia até lá. Definitivamente, o último local do castelo em que ele gostaria de estar para ficar a sós com seus pensamentos.

Pensamentos sobre coisas que ele tentava entender. Dúvidas, medos e inseguranças. Coisas que o atormentavam e que o consumiam de dentro para fora e que ele não entendia. Exatamente o tipo de pensamento que não deveria percorrer a mente de alguém em meio a corpos. Por isso, mais do que nunca, o alto da torre do castelo de Maz parecia o lugar perfeito.

Mas havia algo que o impedia de se concentrar totalmente: o frio. Por debaixo das roupas, Obi-Wan sentia como se sua pele estivesse sendo alvejada por rajadas do vento gélido que soprava por Takodona. Mestre Qui-Gon sempre dizia que, em estágios muito profundos de meditação, as sensações físicas poderiam ser suprimidas. Obi-Wan mesmo já conseguira atingir esse estágio algumas vezes. Mas, definitivamente, aquele não era o caso. Estava quase desistindo de tentar quando ele ouviu a porta do alçapão, logo atrás dele, sendo aberta.

Assustado, ele olhou para trás a tempo de ver Satine surgindo com duas xícaras de chá na mão, um bule na outra e um cobertor pendendo no braço.

— Achei que pudesse estar com frio – ela disse, finalmente, como se lesse os pensamentos dele.

— Achou certo, então – Obi-Wan respondeu, completamente grato pela chegada dela.

Satine se sentou ao lado dele, depositando um bule e as xícaras no chão à sua frente antes de estender o cobertor sobre as costas dela e de Obi-Wan.

O gesto podia parecer inocente, é claro. Mas não era. Havia sido meticulosamente calculado pela própria Satine muitos minutos antes. Ela não sabia ao certo por que fazia isso. Mas estar perto do aprendiz lhe fazia bem. Uma sensação de segurança inexplicável, associada ao cheiro mentolado de seus cabelos, faziam a Duquesa agir por impulso, quase como uma adolescente.

Ao sentar ao chão, o joelho dela tocou o dele. Aquele único instante em que os dois se tocaram foi suficiente para que ele soubesse porque fazia tudo aquilo. Seu corpo todo vibrou com aquele toque. Uma sensação de um prazer diferente. Como se só a companhia dele já não bastasse.

— Obrigado – disse Obi-Wan, ao aceitar a xícara que Satine encheu.

— Antes de mais nada, eu queria te agradecer – disse Satine, enchendo a própria xícara. – De novo. Já agradeci mestre Qui-Gon pelo que fizeram em Corellia, mas eu devo um agradecimento a mais a você.

— Por quê? – quis saber Obi-Wan.

Satine engoliu em seco antes de responder.

— Porque você se feriu me protegendo – ela respondeu. – O que me leva ao mais importante... Um pedido de desculpas. Isso só aconteceu por minha culpa. Eu tive a chance de evitar tudo isso e hesitei. Não foi proposital, juro! Eu só... só... eu não consegui. E você quase morreu. Teria morrido se mestre Qui-Gon não estivesse lá pra te ajudar e a culpa seria minha e...

Imediatamente, Obi-Wan levantou a mão, fazendo um sinal polido para que ela se calasse. Apenas nesse momento, Satine percebeu que praticamente vomitava todas essas palavras de uma vez e que Obi-Wan estava quase rindo da situação.

— Desculpas aceitas – disse o rapaz, tranquilizando-a.

Satine sorriu envergonhada e, apenas então, assumiu uma posição mais confortável no chão.

—Aqui é lindo – murmurou Satine, bebendo o primeiro gole de seu chá, olhando para frente, para o lago ao redor do castelo. – Faz mais do que sentido você vir até aqui pra meditar, mesmo com esse frio todo.

— É uma opinião muito particular, mas eu acho a vista daqui uma das mais bonitas da galáxia – o rapaz disse em resposta. – Digo, das que eu já tive a oportunidade de ver, não é? Principalmente, na primavera. Pela Força, você precisa ver isso na primavera...

Satine olhou para frente, tentando imaginar o local na primavera. Mas a sua referência quanto às estações do ano era completamente deturpada pela sua própria experiência de vida: no deserto em que Mandalore se tornara, as estações do ano eram sempre iguais. Mortas e inalteradas.

— Descreva pra mim – ela pediu, por fim.

Obi-Wan engoliu em seco e, então, apontou para frente.

— Imagine o céu azul, não cinza como está agora – ele começou. – O céu mais azul que você conseguir. E o lago, da mesma cor. E as árvores... Imagine as árvores sem toda essa neve. Um tapete verde que se estende até o horizonte, além daquelas luzes das cidades – Obi-Wan apontou para o horizonte. – Consegue?

Satine respondeu com um “Uhum” e, então, se aproximou ainda mais dele.

A Duquesa apoiara suas costas sobre Obi-Wan e isso arrepiou cada pelo do corpo do rapaz. Sentindo a sua voz começar a falhar, ele demorou alguns segundos antes de voltar a falar. Com as mãos tremendo e sentindo uma gota de suor (mais gélida que o ar de Takodona) escorrendo pela sua têmpora, o rapaz a abraçou.

— E tem... as flores – ele gaguejou após beber mais um gole do chá, em uma tentativa inútil de limpar a garganta e recuperar o dom da fala. – Muitas cores... na margem do lago... e o perfume... doce... suave...

“Como o seu”, Obi-Wan estava tão nervoso que não sabia se havia dito ou apenas pensado isso.

O fato era que, logo em seguida, Satine olhou para ele.

O nervosismo deu lugar ao terror no coração de Obi-Wan. Ele não conseguia ler o que via nas retinas da moça, o espelho da alma indecifrável da Duquesa. Ela, por sua vez, via nos olhos dele o que queria: o mesmo desejo que sentia. Um desejo tão intenso que a cegava para tudo ao seu redor. Como se nada mais existisse. Mandalore, caçadores de recompensas, a República ou a Takodona primaveril que Obi-Wan acabara de descrever. Era como se nada daquilo importasse mais.

Os corações dos dois pulavam em seus peitos como dois animais. Obi-Wan sentia sua boca seca, mais árida, do que um deserto, e Satine sentia as pontas de seus dedos tremerem (e ela sabia que não era o frio do alto daquela torre o responsável por isso). Seus rostos estavam a poucos centímetros um do outro, avançando lentamente e com cuidado.

Satine sentiu o dorso da mão de Obi-Wan deslizando pelo seu rosto, provocando-lhe uma sensação como se estivesse queimando a sua pele com ferro, um calor que a fazia estremecer. Ele, por sua vez, colocou o rosto ao lado do dela, aproximando-se de seus cabelos e sentindo os cabelos dela roçarem a sua pele enquanto ele sentia o perfume dele, um aroma que o deixava... louco.

A barba que nascia no rosto do rapaz era tão curta que não se podia ver, mas Satine sentia cada fio pinicando a sua pele. Obi-Wan deslizou seu rosto contra o dela, fazendo com que um calafrio percorresse a coluna da Duquesa de ponta a ponta. Ela queria mais...

— Obi... – ela sussurrou.

O que estava acontecendo? Aquilo era impensável. Ele era um Jedi! Não podia se envolver com alguém, ela sabia muito bem. E ela, uma mandaloriana, não podia ser envolver com um deles. Se chamar os Jedi até Mandalore já havia causado uma batalha às portas de Sundari, quais consequências aquilo teria para ela?

Mas Satine não queria saber a resposta para aquilo.

Ela apenas se aproximou dele, abraçando-o. Obi-Wan retribui o gesto, permitindo que os dedos de uma mão se perdessem em meio aos cabelos loiros da Duquesa enquanto a outra mão pousou firmemente em sua cintura, arrancando dela um suspiro.

— Eu... – ele murmurou, incapaz de continuar, engolindo em seco.

— Diga... – ela respondeu.

Mas Obi-Wan não disse nada.

Como se tomado por um impulso, Obi-Wan avançou. No instante seguinte, os lábios dos dois se tocavam. Ele sentiu a respiração quente dela sobre a sua pele enquanto seus lábios se acostumavam com o toque dos dela. O Padawan não soube dizer quanto tempo depois... alguns segundos ou milênios depois... mas houve um momento em que o simples toque dos lábios dos dois se transformou em um beijo. Um beijo que ele não queria que acabasse. Um beijo que ele queria que durasse para sempre.

Não!

O que raios estava fazendo?

Imediatamente, como se tomado por um surto de consciência, Obi-Wan se afastou, chocado com seus próprios atos e sem conseguir tirar da cabeça quantas regras do Código Jedi havia acabado de infringir.

— O que foi? – perguntou Satine.

— Eu... – ele gaguejou. – Eu não posso...

Quase que imediatamente, Obi-Wan se levantou e se afastou. Ainda sentindo todo o seu corpo pulsar de prazer, nervosismo e culpa.

— Obi...

— Eu não posso... – ele repetiu. – Isso é um erro... Me... me desculpe, Satine... E obrigado pelo chá...

Sem entender o que havia acabado de acontecer, mas se sentindo completamente culpado por tudo, o rapaz avançou até o alçapão, deixando Satine no alto da torre.

 

“Concentre-se”, a voz de Qui-Gon ecoava na mente do Padawan, como se fosse um sussurro distante.

Obi-Wan, obedientemente, esvaziou completamente a sua mente (ou, pelo menos, tentou), permitindo que tudo ao seu redor se fizesse sentir. Mesmo na completa escuridão de seus olhos fechados, o rapaz conseguia sentir todo o ambiente a seu redor, quase como se os objetos lhe dissessem onde estavam.

“Agora me diga... Quantas pessoas estão presentes no bar da Maz?”

— Dezessete – a resposta foi imediata.

“Muito bem”, Qui-Gon parecia feliz. “Meus parabéns. Agora me diga... Qual a cor da única nave aterrissada do lado de fora do castelo?”

— Vermelha – Obi-Wan respondeu.

“Ótimo... E quantas pessoas estão dentro dela?”

— Duas.

“Abra os olhos.”

Obi-Wan obedeceu. Mas, ao contrário do que esperava, Qui-Gon não parecia satisfeito. Havia impaciência em seu olhar e Obi-Wan sabia muito bem que uma bronca estava a caminho.

— Dezessete pessoa no bar – começou o Jedi. – Isso, você acertou. Mas a nave é lilás e não há ninguém dentro dela, só um droide.

— Me desculpe, mestre – disse Obi-Wan, imediatamente, evitando contato visual.

Mas, mesmo sem olhar para Qui-Gon, o aprendiz sabia que ele o encarava. Conhecia aquele gesto de seu mestre: um misto de frustração, mas, principalmente, preocupação.

— O que está acontecendo com você, Obi-Wan? – perguntou Qui-Gon. – Você progrediu bastante desde a nossa conversa em Serenno, mas parece que está estagnando de novo. O que está te incomodando agora?

— Eu não sei, mestre.

Apenas nesse momento, o rapaz se atreveu a olhar para o homem à sua frente. Mas já não via em seu rosto a frustração e a preocupação de antes. No rosto de Qui-Gon, agora, dominavam a raiva e a impaciência. E Obi-Wan sabia que a bronca se tornaria ainda mais séria.

— Mentira! – Qui-Gon acusou, apontando o dedo para ele.

— Eu não estou mentindo, mestre! – Obi-Wan se levantou, tentando se defender.

— Mentira, de novo! – Qui-Gon protestou, ainda mais agressivo. – Você acha que eu sou imbecil, Obi-Wan? Quantos anos acha que eu tenho?

Chocado com o modo de agir de seu mestre, Obi-Wan até tentou responder, mas apenas conseguiu gaguejar antes de ser interrompido.

— Você acha que eu não estou vendo o que está acontecendo? – continuou Qui-Gon. – Seus passeios com a Duquesa no jardim, em Serenno... ao redor do lago, em Alderaan...

— Eu estava só fazendo a segurança dela – Obi-Wan tentou se defender, mas percebendo o quão idiota aquela justificativa realmente era apenas no momento em que a verbalizou.

— Acha que não sei o que aconteceu entre vocês dois ontem? – Qui-Gon rebateu.

Imediatamente, Obi-Wan corou, incapaz de acreditar que aquele momento tão... privado... da noite anterior tivesse sido compartilhado por outra pessoa.

— Isso é particular – disse o rapaz.

— Não... pra... mim! – vociferou Qui-Gon. – O que você acha que está fazendo? Onde está com a cabeça? Onde acha que isso vai te levar?

— Eu não sei! – Obi-Wan quase vomitou as palavras em um grito. – Eu...

— “Eu” o quê? – Qui-Gon emendou, impaciente, quando Obi-Wan hesitou.

O aprendiz não respondeu imediatamente. Ele mesmo tinha dificuldade de mentalizar aquela idéia. Dizê-la em voz alta era ainda mais difícil. Mas ele não conseguia descrever de outra forma. Com certeza, havia outra forma. Ele apenas não sabia as palavras certas.

— Eu acho que eu am...

— Não diga isso! – Qui-Gon voltou a apontar o dedo para ele, bradando furiosamente. Tão furiosamente quanto Obi-Wan jamais o vira na vida. – Não se atreva a dizer uma mentira dessas!

Até aquele momento, Obi-Wan sabia que a bronca era merecida. Mas ser acusado de estar mentindo sobre aquilo foi uma ofensa grande demais para ela. Ele mesmo tinha dificuldades em aceitar aquilo e ser acusado daquela forma era algo que ele não deixaria sem resposta.

— Você não sabe o que estou sentindo para dizer alguma coisa sobre isso – o rapaz rebateu.

— Você não ama a Satine – Qui-Gon respondeu, usando um tom de voz que parecia estar zombando de Obi-Wan. – Você conheceu ela há algumas semanas! Apenas! Mas o que você sabe sobre ela? Hein? Sabe que tipo de música ela gosta de ouvir? Sabe qual a comida favorita dela? Que tipo de histórias era gosta de ler antes de dormir? Sabe alguma coisa sobre ela?

Diante do interrogatório, Obi-Wan apenas pôde baixar a guarda e murmurar um “Não” para cada pergunta feita. Qui-Gon, então, havia provado o seu ponto. Ver Obi-Wan mentindo para ele daquela forma lhe deixava furioso, mas ao menos ele tivera a decência de voltar a ser verdadeiro e assumir que não conhecia nada sobre Satine.

— Você não ama ela! – Qui-Gon continuou. – O que você está sentindo não é amor! Você está atraído por ela. Ela é bonita, eu não te culpo... Mas é só isso o que você está sentindo. E, diante de tudo isso, você só está agindo como um adolescente cheio de hormônios, confundindo seus desejos com sentimentos – novamente, Obi-Wan corou, incapaz de responder. – Pare de se comportar feito um adolescente, porque você não é! Eu não vou perder mais um Padawan... Não porque ele não soube se conter dentro das próprias calças... Um motivo vergonhoso demais pra ter que encarar o Conselho depois...

Houve um curto momento de silêncio entre os dois. Um momento no qual, Obi-Wan entendeu aonde seu mestre queria chegar com todo aquele sermão. E um momento no qual, apenas tardiamente, Qui-Gon percebeu que havia falado coisas que não devia.

— Então é isso? – questionou Obi-Wan, incapaz de deixar claro em sua voz o quanto estava frustrado e com raiva. – Você só não quer ter que se justificar pro Conselho sobre mim? É isso? E mesmo assim você ainda teve a coragem de me dizer, lá em Serenno, que eu não tenho que me preocupar com como os resultados dos meus Testes vão respingar em você? Você está mais preocupado em não precisar ter que encarar o Conselho, isso sim – dessa vez, era Obi-Wan quem fazia acusações, apontando o dedo para ele. – Você ao menos acredita em alguma palavra que disse pra mim agora?

Qui-Gon não respondeu de imediato. Sua cabeça parecia girar e ele, ansioso, não sabia como rebater as acusações de Obi-Wan. Não, ele não estava só preocupado em encarar o Conselho. Isso era apenas a ponta de um iceberg imenso. Mas que ele não tinha que explicar. Não para seu aprendiz.

— Não tem nada a ver com isso – disse Qui-Gon, por fim.

O Jedi, então, virou-se e seguiu seu caminho, deixando Obi-Wan para trás.

Mas o rapaz não se daria por vencido: imediatamente, ele se pôs a seguir o seu mestre para fora da sala que ocupavam.

— Tem sim! – Obi-Wan protestou. – Você me acusa de mentir, mas você faz o mesmo! Diz que não tem medo dos mestres do Conselho, mas a simples idéia de ter que prestar contas pra eles fazem você dar esse escândalo todo! Você não é ninguém para me julgar. Nem sobre a mentira. Nem sobre Satine! – nesse momento, Qui-Gon se virou, encarando Obi-Wan com uma expressão de choque enquanto o rapaz terminava de percorrer os últimos passos que o separavam de seu mestre. – Acha que eu não sei sobre o seu caso com a Tahl? Acha que eu não sei sobre a Kara?

A reação de Qui-Gon foi imediata.

Em um instante, os dois homens se encaravam. No instante seguinte, Obi-Wan sentia o lado esquerdo de seu rosto ardendo como se tivesse entrado em contato com ferro em brasa. Qui-Gon nunca havia lhe acertado um tapa antes e o rapaz não imaginava que pudesse ser tão forte. Ainda em choque e sentindo gosto de sangue na boca, Obi-Wan olhou para seu mestre, que lhe apontava o dedo a poucos centímetros do rosto.

Os dois se encararam por alguns segundos. Segundos no qual Qui-Gon fora incapaz de dizer qualquer coisa. Seu coração partido pelo gesto tomado em um momento de descontrole. Mas estava feito. E nada na galáxia poderia fazer o tempo voltar atrás.

— Nunca mais se atreva a usar elas contra mim – ele disse, por fim, calma e pausadamente. – Entendeu?

Ainda em choque com o que acabara de acontecer, Obi-Wan fez que sim com a cabeça e, então, observou Qui-Gon se afastar no corredor, até que desaparecesse.

 

— Fique à vontade, Duquesa – disse Maz, entrando na sala. – Esse ambiente é protegido pelo sistema de segurança mais moderno que você pode imaginar. Pode mandar mensagens para a galáxia inteira e nem mesmo o melhor espião da República irá conseguir te rastrear. Daqui, vai poder falar com sua casa em paz.

— Obrigada, Maz – agradeceu Satine. – Mais uma vez, eu não tenho como agradecer a sua ajuda.

— Sua companhia em minha casa já é mais do que um pagamento à altura – foi a resposta e, então, as duas mulheres sorriram uma para a outra. – Agora, fique à vontade. Deve ter muita saudade nesse coraçãozinho e eu não quero atrapalhar.

A sala era pequena. Pequena a ponto de conter apenas um sofá, uma escrivaninha e um projetor central. Pequena a ponto de a Duquesa se sentir que a ausência de Maz havia esvaziado uma boa parte de seu espaço. Era realmente um lugar contido e modesto. Mas, se era tão seguro quanto Maz havia descrito, então ele lhe seria mais do que útil.

Claramente, Satine não ficou nem um pouco surpresa quando, ao contactar o palácio de Sundari, o holograma de Zaar ter sido o primeiro que ela viu. E havia um sorriso genuíno nos olhos do homem, como se estivesse vendo a própria filha após anos de separação. O amor dele por Satine era tão óbvio que muitos em Mandalore arriscariam dizer que ele amava mais a Duquesa do que os próprios filhos. Um boato que ele nunca se deu ao trabalho de negar.

— Você não sabe como te ver me faz feliz – Zaar disse, com os olhos lacrimejando. – Saber que está viva e que está bem é muito mais do que eu poderia pedir nas minhas orações mais fervorosas. Onde você está, minha querida?

— Infelizmente, não posso falar – Satine lamentou. – Não sabemos onde essa transmissão pode chegar.

Zaar suspirou fundo e Satine pode ver que os olhos do homem já não eram os mesmos olhos brilhosos, alegres e paternais que ela conhecia. Eram os olhos de alguém cansado com o trabalho de governar um planeta inteiro sem a devida legitimidade para isso, mas, principalmente, eram os olhos de alguém com saudades.

— Eu apenas posso rezar para que você esteja bem, minha querida – ele disse, por fim.

— Apenas estarei completamente bem quando estiver em casa – ela lhe respondeu. – Mas, sim. Dentro dos limites do possível, eu estou bem.

— E você não sabe como isso me acalma – Zaar ensaiou um discreto sorriso para ela.

Por alguns instantes, Satine o encarou. Instantes nos quais ela percebeu o quanto Zaar gostava dela. O quanto o homem se afeiçoara a ela. Ele a defenderia com a própria vida, se fosse preciso. Já se colocara entre ela e um assassino uma vez e Satine sabia que Zaar faria muito mais.  Era um amor que Satine não compreendia, que nascera e crescera com os anos, a partir de um momento incerto no tempo, como se sempre estivesse lá, apenas sendo cultivado. Zaar era um segundo pai para ela e Satine também morreria por ele sem pensar duas vezes.

— Como estão as coisas por ai? – ela quis saber.

— Nada fáceis – assumiu Zaar, o pesar e o desgosto surgindo em cada uma das rugas de seu rosto. – Tenho algumas notícias para te dar e não acho que você vai gostar delas.

 

O rosto do Padawan ainda ardia devido ao tapa, mas o peso de toda aquela briga lhe era ainda mais doloroso do que a agressão em si. Porque, no fim das contas, Qui-Gon deixara claro quais eram seus medos e seus métodos. Ele dissera para Obi-Wan que o rapaz não tinha que se responsabilizar pela relação dele com o Conselho. Mentira! E, ainda por cima, tinha coragem de chamar Obi-Wan de mentiroso quando ele tentava ser sincero com seu mestre. Desonra! E tudo isso enquanto tentava dar a ele um sermão sobre algo que ele mesmo havia feito de errado. Hipocrisia!

Mas, talvez, no fundo, Qui-Gon realmente estivesse certo... “Sabe que tipo de música ela gosta de ouvir? Sabe qual a comida favorita dela? Que tipo de histórias era gosta de ler antes de dormir? Sabe alguma coisa sobre ela?”. As palavras do Jedi ecoavam na mente do aprendiz e, apesar de ele saber que, nesse ponto, seu mestre tinha total razão, Obi-Wan não queria assumir. Preferia se deixar ser consumido pela raiva que sentia de Qui-Gon. Tantos anos juntos, tantos anos de lealdade a ele... E Qui-Gon nem mesmo lhe dera a chance de se explicar. Qui-Gon, que sempre se oferecera para ouvir Obi-Wan nos seus momentos de maior necessidade, fora o primeiro a lhe apontar o dedo quando o rapaz queria apenas pedir ajuda... um conselho... qualquer coisa que fosse.

E a simples idéia de que Qui-Gon pudesse estar certo não só deixava Obi-Wan com raiva de seu mestre como com raiva de si mesmo. Porque, depois de tantos anos de treinamento, ele finalmente tinha a consciência de que estava longe de estar pronto para ser um Jedi. Afinal, se Qui-Gon estivesse certo, ele ainda era indisciplinado demais. Indisciplinado a ponto de ceder a um desejo tão carnal como aquele. Como podia ser tão fraco assim? Como?!

Ao virar no corredor, no entanto, seus pensamentos cessaram por um instante.

Saindo de uma sala, ele viu Satine. Os olhares dos dois se encontraram antes que ela pudesse fechar a porta da sala a qual saia. Um silêncio sepulcral se instalou no corredor durante um momento em que nenhum dos dois soube o que fazer. Conforme o tempo avançava, Obi-Wan sentia sua boca secar e seu coração acelerar. Até que, por fim, uma palavra se formou em sua cabeça.

“Dane-se.”

Ele avançou até Satine, pressionando-a contra o batente da porta e lhe beijando os lábios de forma animalesca enquanto seus dedos se enroscavam nos cabelos loiros dela. Obi-Wan não soube dizer se estava surpreso ou não quando percebeu que Satine retribuiu seu beijo e seus gestos, abraçando-o e deixando que ele a levantasse no ar, presa entre o seu corpo e o batente da porta.

Que se dane os Jedi e seus ensinamentos. Que se dane Qui-Gon e seu falso moralismo. Se ele era um Padawan tão falho assim, mesmo depois de anos de treinamento, o que raios ele tinha a perder? A pessoa pela qual mais tinha carinho em toda a galáxia havia acabado de chamá-lo de mentiroso e ele havia perdido toda a confiança em suas próprias habilidades. Não havia mais nada a perder. Absolutamente nada! Ceder àquilo (fosse amor ou apenas desejo, pouco lhe importava) era a última coisa que lhe podia dar algum tipo de prazer. Ou qualquer sensação que fosse.

Juntos, Obi-Wan e Satine avançaram para dentro da sala sem nem saber o que estavam fazendo ao certo. Ele fechou a porta ao entrar enquanto sentia as mãos dela afastando as laterais de suas vestes, quase o deixando nu da cintura pra cima enquanto ele mesmo beijava o pescoço da Duquesa, arrancando-lhe suspiros e gemidos que o deixavam ainda mais inebriado de prazer. Gestos recíprocos que intensificavam os gestos do outro, como uma bola de neve se formava, destruindo tudo pelo seu caminho.

No escuro, os dois trombaram com o sofá. Aproveitando o movimento, Obi-Wan forçou Satine para trás, deitando sobre ela quando a Duquesa caiu nas almofadas. As mãos dela passavam por dentro de sua camisa, o toque dos dedos dela com a sua pele provocando arrepios por todo o seu corpo. Ele queria mais... muito mais... Como se lesse a mente dele, Satine o laçou pela cintura com uma perna e ele sentiu todo o seu corpo pulsar de prazer, tirando-lhe o ar por uma fração de segundo.

Mas, nesse momento, Satine enrijeceu, e Obi-Wan sentiu que ela o empurrava.

— Pare... – ela pediu.

Parar? Pela Força, não! Não agora...

— Pare, por favor... – Satine disse mais uma vez, desviando o rosto.

Mas Obi-Wan buscou os lábios dela com os seus.

— Pare! – ela urrou por entre os beijos.

No instante seguinte, Obi-Wan rolou do sofá para o chão, levando a mãos ao lábio inferior mordido enquanto começava a sentir o gosto de sangue dentro da sua boca.

— O que deu em você? – gritou Satine, levantando-se e se afastando de Obi-Wan, dirigindo-se ao extremo oposto da sala.

— Oguedheuemvochê? – ele rebateu, tentando falar enquanto ainda sentia seu lábio pulsar de dor.

— Quem você acha que eu sou?! – ela gritou, furiosa. – Ontem à noite naquela maldita torre, eu era um erro, mas agora não? Eu não sou mulher pra ser erro de homem nenhum!

— Eu nunca disse que você era um erro! – rebateu Obi-Wan, levantando-se e, no escuro, tentando olhar para o sangue na própria mão.

— Então porque ontem não e agora sim? – Satine urrava, enquanto arrumava as roupas e o cabelo. – O que mudou de ontem pra hoje pra você mudar de idéia? Pra você jogar o seu maldito Código no lixo e vir correndo pra cima de mim como se fosse um animal?

— Você fala como se fosse só eu, mas você estava adorando isso tudo! – ele gritou, apontando para o sofá.

— Como se atreve?! – Satine parecia pessoalmente ofendida, mas estava sem palavras, sem um argumento efetivo que pudesse atirar contra ele. – Você precisa se pôr no seu lugar, Padawan!

Sem dizer mais uma palavra, Satine se virou e abriu a porta da sala. Mas, antes que pudesse sair, Obi-Wan a agarrou pelo pulso. Da boca do aprendiz, ela ouviu o seu próprio nome. Mas ele não falava com raiva. Era um tom manso, quase como se implorasse para que ela ficasse.

Mas Satine não lhe daria isso.

O movimento da Duquesa foi rápido. No escuro, ela se virou velozmente. E, pela segunda vez naquele dia, Obi-Wan teve o rosto estapeado. Logo em seguida, menos de um segundo após, o joelho de Satine o atingiu no meio das pernas. Imediatamente, ele soltou Satine a cambaleou alguns passos para trás, caindo sentado no chão, sem mal conseguir respirar. Antes que pudesse se recompor, ele percebeu que já estava sozinho na sala.

 

O mestre Jedi conhecia muito bem os corredores do castelo de Takodona. Sendo Maz uma amiga tão antiga, cada centímetro daquele lugar já era quase como uma segunda casa para Qui-Gon. Estando tão familiarizado assim, ele percorreu o castelo quase instintivamente, sem sequer se preocupar para onde ia, enquanto apenas conseguia sentir o rosto de Obi-Wan queimando na palma de sua mão. E, com isso, o remorso.

Talvez nunca se arrependeria tão profundamente de algo como se arrependia daquele tapa. Qui-Gon percebera isso no momento em que desferira seu golpe, mas já era tarde demais para volta atrás. Sua incapacidade de se controlar explodira com a força de uma bomba e ele não sabia nem por onde começar a conversar com seu aprendiz. Quem devia desculpas a quem? Claramente, os dois... Mas quem deveria começar? Obi-Wan, pela sua insolência, arrogância e falta de respeito? Ou ele, por ser a figura mais velha no conflito, a figura de quem se esperava mais racionalidade e compassividade e a figura que claramente não havia conseguido desempenhar esse papel para que uma discussão saudável pudesse ter se desenrolado?

Antes que pudesse se dar conta do que estava fazendo, o Jedi percebeu que se encontrava no centro do bar de Maz Kanata. Ali, em meio a todas as vozes e brindes que não conseguiam ensurdecer seus pensamentos e a sua culpa, ele era apenas um anônimo. Ele era mais uma pessoa em meio a dezenas. Não era o homem impulsivo que desobedecia às leis de sua antiga ordem monástica com o objetivo de garantir a segurança e o bem-estar de um planeta. Não era o cavaleiro que precisava provar a sua lealdade e a sua boa vontade aos seus superiores. E não era o mestre desequilibrado que agrediu seu próprio aprendiz quando percebera o quão gravemente havia falhado com ele.

Qui-Gon chacoalhou a cabeça, tentando tirar esses pensamentos de sua mente. Mas, claro, ele havia falhado nisso também. Rodeado por um mar de culpa e de remorso, o mestre Jedi avançou, deixando o bar e ultrapassando a porta de pedra, cegado pelos seus sentimentos, incapaz de perceber que, em seu anonimato, ele atraíra olhares de dois dos presentes. O Jedi atravessou o pátio, passando pela imensa estátua central da própria Maz e pelas sombras de inúmeras bandeiras pendurada acima, caminhando em direção à floresta que rodeava o castelo, onde ele esperava, por fim, ter um pouco de paz.

Por entre as árvores, o homem avançou indiscriminadamente, desejando caminhar pelo terreno irregular da floresta até que a exaustão o deixasse desacordado. Talvez, assim, seus pensamentos poderiam lhe deixar em paz por alguns minutos. Talvez, assim, poderia se esquecer de que tudo aquilo havia acontecido. Talvez, assim...

O som de um galho se partindo o retirou de seus pensamentos. Qui-Gon se virou e olhou para trás. Sob a luz do sol, ele apenas conseguia ver a sombra das árvores se formando sobre o tapete de neve que cobria o chão da floresta. Tudo isso imerso em um silêncio sepulcral que apenas a paz daquele ambiente poderia proporcionar. Talvez, fosse apenas sua mente lhe enganando. Não seria a primeira vez...

Ao se virar novamente, contudo, o homem foi atingido por algo na cabeça. Qui-Gon sentiu o sangue escorrer pelo seu pescoço e manchar as suas vestes antes mesmo de cair sobre a neve.

Sua cabeça pulsava e o mundo rodava ao seu redor. Sua vista começava a embaçar e ele mal tinha controle de seus movimentos. Assustado, ele ainda tentou alcançar seu sabre de luz, mas fora em vão: seu agressor surgira em seu campo de visão. Uma figura alta e corpulenta que se abaixou e pegou a arma de seu cinto antes que o Jedi conseguisse alcançá-la.

E havia mais alguém. Uma figura menor que surgia logo atrás da primeira.

“Avise o mestre”, Qui-Gon ouviu a primeira voz dizer.

O menor dos presentes, então, obedeceu, retirando um comunicador do bolso. Em instantes, um holograma pequeno se formou. Com a sua vista falhando, Qui-Gon não pode ver o rosto do tal “mestre”, mas ele reconheceu aquela voz imediatamente e um calafrio percorreu a sua espinha.

“O que foi?”, perguntou Hoovar.

“Mestre, estávamos voltando daquela nossa missão em Dosuun”, disse o homem mais baixo, claramente ansioso. “Resolvemos parar em Takodona pra beber um pouco e...”

“Ouvimos falar que você está atuando pessoalmente no caso da Duquesa de Mandalore”, homem mais alto o interrompeu. “E ouvimos dizer que o senhor está atrás de um Jedi. Bem, acredito que capturamos um. Por acaso é ele, mestre?”

O holograma de Hoovar se virou.

O imroosiano encarou Qui-Gon por alguns rápidos segundos antes de dar uma resposta.

“Amarrem ele”, disse Hoovar. “Estarei ai o mais rápido possível.”

 

Obi-Wan passara mais tempo em seu quarto no castelo do que julgava ser normal ou até mesmo saudável. Mas o silêncio daquele pequeno cômodo lhe trazia paz. Estar longe de Satine e de Qui-Gon lhe trazia paz. Paz para estar a sós com seus pensamentos e para conseguir se responsabilizar pelos seus atos.

Onde estava com a cabeça quando disse aquelas coisas para Qui-Gon? Como tivera coragem de ser tão insolente assim? Como pudera colocar seu mestre contra a parede daquela forma? Justamente Qui-Gon, que a vida toda nunca lhe negara ajuda em nada e sempre demonstrara um amor e uma preocupação para com ele muito além do que era permitido pelo Código.

A culpa esmagava o coração do jovem aprendiz dentro de seu peito e o nó em sua garganta parecia sufocá-lo. Entenderia perfeitamente se, depois disso tudo, Qui-Gon o abandonasse. Não era comum mestres desistirem de treinarem seus aprendizes. Na verdade, era muito raro. Mas havia precedentes. E, em todos os casos, um histórico de indisciplina e rebeldia por parte dos Padawans.

Enquanto pensar nas coisas horríveis e indesculpáveis que dissera a Qui-Gon lhe trazia culpa, pensar em seu futuro sem um mestre lhe trazia pânico? Seria aceito por outro Jedi para terminar seu treinamento? Ou seria enviado de volta para Bandomeer onde, finalmente, encontraria seu inevitável e recorrente destino? Ou será que Qui-Gon algum dia seria capaz de lhe perdoar e o seu arrependimento e sua vida em Badomeer ficariam apenas no passado, com os dois seguindo seus caminhos juntos, como mestre e aprendiz, tal qual o fizeram durante tantos anos?

E Satine... Onde estava com a cabeça quando... Ah, pela Força! Com certeza, não estava com a cabeça no lugar... O que tinha feito? Como havia se deixado levar daquela forma? Aquilo era errado em tantos níveis... Uma ofensa ao Código, um ataque à honra de Satine... Como? Mais uma vez, ele entendia (e, inclusive, apoiaria) se Satine não quisesse olhar em seu rosto nunca mais em sua vida.

Mas havia algo que Qui-Gon havia dito que martelava insistentemente o fundo da mente do rapaz. O quanto ele conhecia Satine? Quase nada. Qui-Gon deixara mais do que claro isso durante a discussão. Mas isso o impedia de amar a Duquesa? Ou, realmente, o fato de não a conhecer completamente lhe permitia apenas sentir uma atração física por ela?

Afinal, era realmente possível conhecer completamente alguém? Obi-Wan concluiu que não. Acreditava piamente que Qui-Gon jamais poderia lhe agredir, mas veja só em que situação estava, pensando em um futuro no qual seu mestre o abandonava.

Independentemente de quais fosse as condições e de como Qui-Gon procederia, Obi-Wan sabia que só havia uma coisa a se fazer: pedir desculpas. Não só porque aquilo lhe traria um mínimo de paz, mas porque era o certo a ser feito. Para Qui-Gon e Satine. Havia se comportado feito um adolescente idiota com os dois e, portanto, os dois mereciam seus pedidos de desculpas, muito embora não fossem obrigados a aceitar (Obi-Wan, mesmo, não acreditava que aceitaria, se as posições fossem inversas). Mas era o que precisava ser feito, e toda a humilhação que poderia receber durante o processo era algo que ele merecia.

Obi-Wan se levantou do chão, onde tentava inutilmente meditar, e se dirigiu à porta de seu quarto. Ao abri-la, algo lhe chamou a atenção: um som. Vozes conversando mais alto do que de costume no bar. Apenas após alguns segundos, o Padawan percebeu que não era uma conversa qualquer: era uma discussão. Curioso, ele desceu as escadas, parando atrás da porta que separava o bar das áreas privadas do castelo.

Ele abriu discretamente a porta, permitindo-se observar o salão. Maz Kanata estava em pé em cima do balcão, arfando furiosamente enquanto encarava um homem. Um imroosiano vestido completamente com roupas de couro e acompanhado de um Wookie de pelo preto com mais de dois metros de altura.

— Maz, eu entendo o quanto você é fiel aos seus amigos e clientes, mas eu também sou – disse uma voz masculina, em um tom calmo e cordial. – E, no momento, eu tenho um contrato para cumprir.

— Não no meu bar, Hoovar! – vociferou Maz. – Por centenas de anos, esse tem sido um lugar de paz de confraternização, e eu pretendo que continue assim. Você é muito bem vindo aqui se não tiver a intenção de quebrar com essa condição. Caso contrário, eu peço que vá embora.

— Eu lamento, mas preciso insistir – disse o homem, avançando um passo em direção a Maz.

A reação dos presentes, no entanto, foi imediata. Em um som único de múltiplos arrastares de cadeiras, todos os outros clientes do bar estavam em pé, apontando seus blasters para Hoovar e para o wookie. A mensagem era clara: ninguém quebraria as regras de Maz, e todos os presentes estavam dispostos à quebrá-las para evitar isso, por mais irônico e contraditório que fosse.

Hoovar sorriu para Maz, finalmente ciente de que aquela era uma batalha perdida.

— Eu imaginei que isso pudesse acontecer – ele disse, retirando um comunicador de seu bolso e o estendendo para a dona do bar. – Pode me fazer um favor, então, Maz, minha querida? Entregue isso para o Padawan, por favor. É do interesse dele.

Maz encarou o comunicador por alguns segundos antes de tomá-lo em suas mãos.

— Até mais, minha querida amiga – disse Hoovar, por fim, dando meia volta e deixando o bar.

Por poucos instantes, o salão parecia congelado. Um a um, os outros clientes começaram a se sentar. Os músicos voltaram a tocar e, então, tão repentinamente quanto havia acabado, o ar festivo voltou a tomar conta do lugar. Maz, então, se voltou para trás, e seu olhar encontrou o de Obi-Wan pela fresta da porta.

A mulher avançou até o aprendiz, fechando a porta ao passar por ela e a trancando.

— Eu não tenho um bom pressentimento – ela disse, entregando o comunicador ao rapaz.

Com as mãos tremendo, ele segurou o comunicador em suas mãos, temendo pelo que encontraria ao apertar o botão lateral. Afinal, compartilhava do mesmo sentimento de Maz.

Um holograma se formou acima do comunicador. Era Hoovar e havia alguém ajoelhado ao seu lado. Obi-Wan não conseguia identificar exatamente quem era, mas a pessoa parecia ferida e sem conseguir se mover.

“Olá, Obi-Wan Kenobi”, começou Hoovar, usando um tom de voz alegre. “Eu vou ser bem breve no que tenho para te dizer. Estarei esperando você em Veruna, a lua vulcânica de Nevarro. Você virá desarmado e irá me entregar a Duquesa. Você tem três dias. Caso contrário, ele morre.”

Imediatamente, Hoovar puxou os cabelos da pessoa ajoelhada, revelando-a. Com o rosto manchado pelo sangue que escorria de sua têmpora direita e pelas suas narinas, Qui-Gon parecia ferido demais para sequer conseguir pensar em reagir e se defender. Estava fraco demais para isso.

“Eu sempre consigo o que eu quero”, continuou Hoovar. “Já matei Jedi antes. Vários de vocês. Mas, ao contrário do que você deve estar pensando, eu não gosto disso. Cada morte pela qual fui responsável foi uma morte necessária. Não gosto de desperdiçar vidas quando não há necessidade. Mas existe a necessidade de uma certa Duquesa estar morta. Uma certa urgência, para falar a verdade. E eu vou ter a Duquesa morta, me entende? Eu adoraria fazer isso sem ter que matar ninguém além dela, mas, eu vou matar quantas pessoas forem necessárias se eu não tiver alternativa. E, no momento, eu estou te dando a chance de me permitir uma alternativa mais pacífica para a situação. Me entregue a Duquesa, e seu mestre não precisará morrer com ela. Você tem três dias.”

O holograma se desfez. E, nesse momento, mais um sentimento havia se misturado à culpa que Obi-Wan sentia. E não era o horror, o medo de perder seu mestre para sempre de uma forma ainda mais trágica do que a que imaginava poucos minutos antes.

Era a raiva.

 

Aquela era, com certeza, uma cilada. Umas das piores ciladas em que já estivera em sua vida. Claramente, Obi-Wan não podia entregar Satine para Hoovar, uma coisa dessas não era nem sequer uma alternativa a ser pensada. Um resgate era a única coisa em mente. A única opção viável em meio àquele caos.

Mas, como?

Sozinho? Não haveria absolutamente a menor chance de isso dar certo. Acabaria capturado ou, na pior das hipóteses, morto. Pedir ajuda do Conselho? Uma alternativa quase tão improvável quanto entregar Satine. Que incrível seria se o Conselho, em seu papel de avaliar a lealdade e a eficiência de Qui-Gon durante aquela missão, fosse contactado para dar início a uma operação de resgate. Com certeza, isso estaria muito bem descrito nos relatórios finais da operação, pesando contra o Jedi.

Claro que Obi-Wan chamaria o Conselho e pediria por ajuda... em último caso. Porque, naquele momento, ele ainda tinha uma opção em mente. Uma opção com um potencial gigantesco de resultar em uma catástrofe ainda maior (e ele nem sequer queria imaginar como se explicaria ao Conselho se aquele fosse o caso). Mas era a única opção que conseguia visualizar antes de ter que expor a verdade aos seus superiores e causar um desastre de proporções inimagináveis.

Com o coração batendo em seu peito sem ritmo algum e com gotas de suor gélido escorrendo pelo rosto, o jovem aprendiz retirou o próprio comunicador do bolso enquanto pensava no quanto poderia se arrepender por acreditar que ele seria uma boa opção.

Poucos instantes depois, um holograma se formou à sua frente, revelando o rosto de um homem kiffar. Obi-Wan se arrependeu de tê-lo contactado no momento que o viu. Mas já era tarde demais.

— Que surpresa – murmurou Quinlan-Vos ao ver quem o chamava. – Posso ajudar em alguma coisa?

— Mestre Vos, por favor, eu não sei mais a quem pedir ajuda – Obi-Wan praticamente implorava.

— Eu imaginei – respondeu o Jedi, sarcástico. – Você não recorreria a mim se não fosse o caso.


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Notas finais do capítulo

Quero muito ver os comentários de vocês hahaha

Beijinhos e até o próximo!



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