Darkness In The Light escrita por MinervaV


Capítulo 2
Prólogo - Polarize-me


Notas iniciais do capítulo

Oii ^-^'

Trago para vocês o iniciozinho dessa jornada a qual me propus a descrever e trazer quem sabe até um bom final para este personagem que eu tanto amo e que achei ter sido exageradamente massacrado na série sem propósitos verdadeiros além do necessário.
— Os títulos da história serão baseados e derivados de algum modo na música Animate da banda Rush.
— A personagem original é totalmente minha e não aceitarei plágios ou adaptações de sua personalidade.



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Târgoviște, România.

“Disseram-me que as nossas vidas não valem grande coisa
Elas passam em um instante, assim como murcham as rosas
Disseram-me que o tempo que passa é um desgraçado
Que, do nosso sofrimento, ele faz seus casacos.”

A noite caia em seu esplendor frígido típico do final de uma estação, os últimos raios de um dia de sol sendo obscurecido pela passagem estreita e visivelmente pouco frequentada pelos viajantes. Entre árvores altas e retorcidas daquele pedaço ermo de floresta sem qualquer direção demarcada, os passos apressados revezavam-se, ora correndo, ora caminhando em um ritmo desenfreado quase como se estivesse fugindo de algo. Suas pequenas e pálidas mãos seguravam suas vestes com força o suficiente para embranquecer seus nós dos dedos enquanto ouvia com clareza ao longe o fremir grave e lamuriento dos lobos que sabia que não tardariam a lhe encontrar se não fosse rápida o suficiente em sua empreitada no mínimo mortal.

Sua sanidade talvez estivesse sendo testada a cada minuto.

Seus pais a apoiaram em sua empreitada nada cativante mesmo que “temerosos” em por sua “preciosa vida em risco” naquela viagem até o castelo onde as lendas e os temores cresciam conforme o caminhar dos anos. Precisava ajudar sua avó que a cada dia piorava com sintomas que nenhuma daquelas curandeiras charlatonas puderam curar com suas tripas e orações falsas que somente pioravam tudo. No entanto, os mais próximos ao ouvirem tamanho desajuízo da jovem em sua última alternativa desesperada de buscar por conhecimento que pudesse sanar o problema, logo se puseram a colocar-lhe como uma provável possessa pelo demônio, quiçá o próprio satã. Como uma bruxa em busca do seu senhor das trevas sem ao menos deixá-la explicar que seu único azo para ir de encontro aquele antro de famigerada má fama, era que sabia que ali poderia aprender bem mais sobre a medicina da época do que era conhecido. Métodos e conhecimentos que ajudariam ao seu povo ingrato mesmo que não merecessem. Aprenderia longe da igreja e seus preceitos inventados, pois sentia em seu âmago que o criador não toleraria tais condutas reproduzidas por tal.

Mas ali, com seus pés fatigados em suas sandálias rotas, suja e faminta, ajuizava ter sido impetuosa demais em sua decisão, ou talvez tomada por algum desejo oculto que não pudera reprimir com cautela e racionalidade antes de leva-lo a cabo. Sua busca por conhecimento e aprendizado verdadeiros, porém, não a deixaria desistir tão fácil, pois ao longe naquele cenário de infinita beleza e temor, as torres pontiagudas daquela edificação despontavam negras e imponentes pelo céu. Seu destino por muito pouco não sendo sentido com um ânimo de temor.

Os uivos cessaram em seu todo em um ponto adverso daquele caminho que se afunilava, e mesmo que isso pudesse significar certa segurança para prosseguir, não deixou de forçar seus pés para frente impulsionando-se com velocidade em uma corrida desenfreada para chegar logo. Tropeçara inúmeras vezes em alguns galhos secos a serem quebrados debaixo de seus pés na escuridão quase absoluta, caindo vez ou outra sem se dar conta das reentrâncias do solo, até dar de cara com a totalidade da fortaleza que lhe recebia com uma escadaria quase infinita até os portões em um arco de assombroso tamanho e espessura.

Nunca havia imaginado aproximar-se tanto daquele lugar que muito se falava e não se encontrava, mas respirou fundo o quanto podia. Recuperou a pouca coragem que ainda lhe restava e sentindo a brisa gélida tocar-lhe a face de modo amedrontador empreendeu a sua subida, ora pulando degraus que ameaçavam derrubar-lhe pelas suas fendas em falso, ora de um por um até que minutos depois se achasse frente a frente com aquele portão, cujas aldravas de prata se empoeiravam perante a intempérie das estações. Cogitou usá-las notando que uma fresta singela se fazia entrever com um longo e fino filete de luz amarelada a atravessar-lhe como se a presença de pessoas ali fosse tão impossível que não se precisasse ter cuidado algum.

Pudera.

Pela fraca luz podia ver os restos dos corpos que ali tinham sido deixados, empalados para que ninguém ousasse achar que seria uma boa ideia estar próxima aquela entrada que tão logo poderia se tornar o seu fim. O tecido escurecido pelo sangue ao redor dos esqueletos tremulava ao vento como uma flâmula fúnebre. Segurou uma das aldravas e empurrou-a contra a madeira com força o suficiente para que o barulho fosse ouvido.

Seu coração martelava mediante a loucura que agora lhe parecia mostrar, mas já era tarde demais para recuar, precisava fazer aquilo pelo bem da sua parente e confidente de tantos problemas sofridos. Os portões por sua vez, rangeram em resposta entreabrindo-se apenas mais um pouco para que deixasse-a ver que estava de fato aberto. Testou seus pequenos dedos pela passagem de luz e usando seu corpo como peso empurrou um pouco mais e com certo esforço conseguiu espaço suficiente para se esgueirar, o que o fez sem muito pensar ou dar ouvidos as suas falações internas. Estava convicta do que desejava ali, e apenas temia que pudesse ter sido uma ideia ruim caso fosse negada.

Sua respiração por alguns segundos falhou ao se deparar com tamanha beleza naquele hall de entrada que apesar da penumbra e das ruínas a banhá-lo não retirava o ar majestoso do espaço onde a soberba o definia com requinte nunca antes visto por seus olhos acostumados a realidade pobre e campestre de seu vilarejo desbotado e sem cor. Não havia perigo algum que lhe instigasse a vontade de fugir apesar daquela velha sensação que a mandava correr o que de pronto ignorou.

Estava acostumada as superstições do seu povoado que citavam e aumentavam a existência de monstros e espectros demoníacos de dantesco poder que ali viviam e que destroçariam qualquer um que ousasse ultrapassar os limites do lugar. Fato este que não se confirmou em primeiro momento, pois nada lhe tinha acontecido até a sua entrada e se considerava segura.

Ou melhor, ainda.

Caminhou suavemente pelo piso brilhante deixando suas pesadas e surradas saias caírem sobre seus pés machucados e esfolados pela caminhada de horas a fio, deixando que suas mãos já doloridas pela pressão exercida descansassem ao lado de seu corpo frágil e esguio. Sentia-se talvez como uma criança a ver algo que nunca lhe tinha sido comunicado, explorando com curiosidade as paredes do recinto e seus entalhes notando o quanto seus vitrais por dentro pareciam bem mais extraordinários.

A porta às suas costas fechara-se em um baque ruidoso aproveitando do momento em que a jovem deixava-se levar por meros detalhes. Em um pequeno pulo, pensou em chamar pelos moradores do lugar mesmo achando aquilo um tanto quanto ridículo já que teriam a ouvido bater e talvez planejassem às escuras algo que sua mente se recusava a confessar a si mesma, mas assustara-se com veemência ao notar a aproximação sorrateira da figura de imponente e sobrenatural beleza pelo mezanino que se estendia ao fundo por onde se chegaria facilmente pelas escadarias recobertas por um belo e luxuoso tapete.

Engoliu em seco ao ouvir aquela voz suave, mas ao mesmo tempo rouca e sem emoção a reverberar pelas paredes alcançando-a com uma seriedade quase aterradora. Sentira sua coluna gelar ao sentir atingida por aquela entonação profunda.

— Receio que este não seja um bom lugar para que venha buscar abrigo viajante. – Afirmara observando a curiosa figura feminina a sua frente com certa descrença. Já fazia alguns meses que não vira mais humanos, e após os últimos fatos regozijava-se por aquilo. Encarou sem vontade as feições delicadas e de altivez comedida que se encontravam sujas pela poeira dada viagem e pelos restos das vegetações que se grudavam em seu cabelo negro como o mais puro breu noturno preso em longas e grossas tranças a cair-lhe pelas costas.

— Não... – Sua voz de suavidade pura falhou por um breve momento em que se recuperava da visão daquele ser louro a sua frente que mais se semelhava a imagem sacra e abençoada dos anjos, apesar de imaginar internamente que não o era. –... não vim abrigar-me. Venho em busca de conhecimento. - Completou com coragem.

—... – O silêncio era como uma resposta negativa.

— Sei que deve estar achando isso absurdo depois de todas as coisas que vieram a ocorrer neste espaço de tempo e peço perdão com todo coração pela invasão e por ocupar seu tempo nesse horário inconveniente. – Desculpou-se com genuína sinceridade recuperando uma chama intensa de determinação que fazia seus olhos brilharem com moderação. – Mas ouvi falar entre os menos ignorantes que neste lugar se poderia aprender bem mais sobre o mundo e como funciona a ciência do que em vilarejos cheios de suas próprias regras e superstições a tolher os olhos do senso. Contaram-me que antes de tudo havia uma curandeira de extremo valor, uma exímia médica. Lisa de Lupus e que ...

A jovem garota mal pode terminar sua sentença quando pode ouvir o retinir da lâmina a vibrar pelo ar. Aquele homem que antes permanecera tão longe de si – se é que o era –, agora estava a míseros centímetros encostando a frieza do gume em seu pescoço fino e que facilmente seria cortado se assim ele o quisesse. Havia uma comoção exasperadamente inexplicável naqueles terríveis olhos dourados a cravar-se nos dela. A expressão séria denotando uma tristeza e mágoa enraizadas para além do que ela entenderia.

— Acusada de bruxaria? – Indagou ainda calmo se antecipando em uma irritação não antes vista de sua parte sempre tão tranquila e sem precedentes de raivas imediatas. As miríades de emoções lutando em suas írises de ouro. – Se é isto que queria dizer talvez não seja eu que vá...

— Não! – Exclamou tornando-se pálida em sua culpa, o medo de ter a garganta cortada congelando-a como uma estátua. – Queria dizer que ela era uma grande médica. E que como ela gostaria de aprender a lidar melhor com a cura e a medicina... Não tive intenção de ofender. –Respirou quando sua voz se tornou um fiapo de som. Havia súplica em seus olhos e medo em seu corpo a retesar seus músculos.

— E por que a ajudaria estranha humana? O que lhe diferencia dos que encontrei até hoje? – Indagou em uma exasperação que o incapacitava estranhamente de pensar melhor. – Sempre estão em busca de algo que não o têm e causando ruínas ao final.

— Eu preciso. – Balbuciou tentando evitar que seus olhos marejassem de maneira ridícula. – Não estaria aqui... Se não precisasse ajudar a minha família, não venho em intenção somente própria, mas por que necessito. Caso não possa me ajudar eu irei embora e buscarei em outro lugar uma salvação...

— Acha mesmo que é isso que ofereço? Salvação? – Questionou um pouco menos rude, notando o quanto a garota parecia iniciar uma crise de tremores, apesar de isso lhe custar muito dada sua inimizade recente.

— Sim...

Ele compreendera suas intenções e a sua própria ação de ímpeto emocional mesmo que não pudesse sondar de maneira correta o que se passava dentro de seu âmago, arrependendo-se de certa forma pela rudeza a qual atendera a pobre jovem que visivelmente tencionava-se de receio em resposta a lâmina mesmo que aquilo já não o enganasse mais. Já havia declinado da sua própria tolerância a humanidade e tudo o que advinha dela, no entanto, havia algo de estranho nela. Algo de esquisito não se encaixava. A citação da medicina relembrando-o tudo o que aquela grande mulher o dissera em seus momentos de morte e que guardava com um zelo quase devocional.

Ou ainda achava fazê-lo?

Guardou sua espada liberando-a da tensão apesar de ainda permanecer próximo demais a ela, testando-a.

— E o que me daria em troca? – Indagou em um tom que beirava uma tentativa de recompensar sua primeira impressão, mesmo não entendendo bem o por que fazia aquilo. Suas intensas digladiações sobre a natureza humana ainda o deixavam a beira de momentos de oposição.

— Qualquer coisa... Se... For possível e não o cause nenhuma perturbação. Permanecerei apenas o suficiente para que possa aprender e o deixarei em paz.

— Interessante.

O dhampir assentira em uma concordância um tanto quanto suspensa da realidade que costumava cogitar incapaz de ser perturbada ou mudada após ter tomado suas últimas decisões, mal sabendo no que aquela convivência poderia gerar num futuro não tão distante. 


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Notas finais do capítulo

- Dhampir - Palavra utilizada para definir um vampiro mestiço, metade humano metade vampiro. O título também é utilizado no Light Novel - Vampire Hunter D do Hideyuki Kikuchi publicado pela primeira vez em 1983.



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