The One That Got Away escrita por Haru


Capítulo 3
The One That Got Away — Final




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The One That Got Away — Final

Naomi e Haru partiram e Sora não conseguiu contar aos dois que aquela era a última vez que estavam se vendo. Talvez porque ele mesmo não conseguisse acreditar. Ainda estava vivo em sua memória o dia em que conheceu Haru. O ruivinho não passava de um pirralho de dez anos, um metidinho a valentão que até era bom de briga, mas mais falava do que lutava. Sora tinha doze anos na ocasião, mas já havia matado mais que o dobro desse número de inimigos. Graças ao jeitão fanfarrão e desordeiro dos dois, não demorou muito para que, apesar da diferença de idade e de experiências, eles se tornassem amigos. Ambos também compartilhavam grandes ambições.

Conheceu Naomi numa ilha que os ajudou a salvar. De uma garota tímida e insegura que pouco falava, convivendo com eles Naomi se espelhou em Kin para tornar-se o que era atualmente: uma mulher forte e confiante. Falando na loira, Sora a conheceu um pouco depois de encontrar Haru. No começo não ia muito com a cara dela, não se davam muito bem, antipatia que vinha principalmente da parte de Kin porque ela, com razão, não o achava uma boa influência para Haru. Discutiram, se xingaram, se ameaçaram, se ajudaram, se salvaram... a amizade dos dois era uma verdadeira história de aventura. Também tinha Arashi, com quem se entrosou mais facilmente, e que, tanto quanto amigo, lhe serviu como mentor, exemplo.

Por último, mas a mais importante, teve Yue, que enquanto Sora pensava que nunca mais veria Haru, chegou nos arredores do lago e se aproximou dele. Ela cruzou os braços e, com os olhos alçados para o céu azul, parou ao seu lado sem dizer nada. Yue também não gostou muito dele quando se conheceram. Tinham a mesma idade, entretanto, história e personalidade muito diferentes — em especial a personalidade. Eram opostos, podia-se dizer. Com o passar dos anos, a doçura e a bondade de Yue abrandaram o temperamento dele, a luz dela o contagiou. Ele se tornou mais e mais semelhante a ela, conquistando o afeto dela quando, com o próprio dinheiro, as próprias mãos e o suor do próprio rosto, em um gesto inacreditável, reconstruiu a casa dela.

Aconteceu quando eles tinham dezesseis anos. Yue teve a casa destruída numa invasão e na luta que travou contra o invasor, sem dinheiro para nada, passou uns tempos morando com Kin e Haru. Até aí tudo bem. O problema foi que ela herdou dos pais a casa destruída. Deles, só lhe restou a residência. Dos destroços, usando o dinheiro e a cabeça, Sora fez o impossível: reconstruiu-a inteirinha, em segredo. Somente meses depois, através de Naomi, Yue descobriu que ele foi o responsável pela obra. Nesse dia, se tornaram amigos. Só que havia um porém: Sora estava apaixonado por ela. O verdadeiro amor desabrochara em seu coração, um sentimento tão poderoso que chegava a doer, uma vontade inigualável de vê-la segura e feliz.

Lógico que Yue demorou anos para sacar isso, ele era um mestre em esconder sentimentos profundos, seu segredo era agir como um babaca e irritar todo mundo, eventualmente. Não a merecia. Seu plano era protegê-la e ajudá-la até que alguém bom o suficiente para ela a encontrasse.

— Foi aqui que você convenceu um monte de turistas leigos de que esse lago realizava desejos caso eles jogassem moedas nele? — Yue rompeu o silêncio. Ele a olhou de canto de olho, ela sorriu.

— Foi. — Sora admitiu. — E você cortou o meu barato, contou pra eles que era mentira. Esses éramos nós.

Yue riu e colocou as mãos dentro bolsos do casaco roxo de capuz que veio usando. Por baixo estava o vestido vermelho de quando encontrou Kay.

— É o que eu faço, acabar com a alegria dos outros. — Desabafou a moça. Sora logo viu que havia algo de errado na fala e no tom de voz dela, a conhecia como ninguém.

— Captei um leve aroma de negatividade. Quer me contar o que houve?

A garota não demorou a responder:

— Meu namorado me pediu em casamento, eu disse "não". Nós terminamos.

— Isso... é surpreendente. — Ele quase não conseguiu conter a felicidade. Era o único que não sabia que Yue sabia de seus sentimentos por ela. Levou a farsa adiante, encarou o lago com confiança e mentiu: — Eu lamento.

— Tudo bem. Não era pra ser. — Ela retrucou, conformada.

Cada um deles tinha um pequeno comunicador preto equipado na orelha para o caso de precisarem de ajuda numa batalha e poderem contatar os outros, e já que Yue deixou o dela em casa para encontrar com Kay, o de Sora foi o único a apitar. Quem falava era Kin. A loira precisava deles imediatamente no centro do reino e o inimigo era tão intimidador que ela não conseguiu dar nem ao menos uma pista sobre ele, embora houvesse deixado subentendido que o conheciam.

Tratava-se de um antigo inimigo deles, um guerreiro chamado Santsuki Raikyuu. Antes de Kin chegar, ele fez uma verdadeira chacina no Reino de Áries, deixou pilhas e mais pilhas de cadáveres espalhadas por onde caminhava, além de um rastro desastroso de destruição. A loirinha foi capaz de atrasá-lo, mas graças ao tempo que ficou sem treinar, isso foi o máximo que ela conseguiu. Não era páreo para ele que, com sua espada eletrificada, andava vagarosamente na direção dela, a olhando prostrada e seriamente ferida.

A volta deles, os prédios destruídos tremiam, o céu era tomado pelo negro da fumaça dos incêndios. O cenário era catastrófico, apocalíptico. Gastando a última gota de energia que circulava por seu corpo, Kin ergueu a mão e atirou contra o rosto de Santsuki um de seus raios dourados de luz, mas ele tirou o rosto da frente do disparo como se fosse uma pedra lançada por uma criança. A jovem guerreira tossiu, pôs a mão no machucado que ele infligiu sobre seu abdômen e olhou seu agressor nos olhos com garra.

Santsuki riu, parou de andar e, só com a mão esquerda, fechou os botões de seu terno negro.

— Pelo menos isso restou em você. Essa confiança! Olha só pra esse reino, como está fraco. Está de dar pena. Não te deprime saber que o seu querido Arashi morreu por tão pouco? — E com essa última fala conseguiu tirá-la do sério de vez.

Kin, com muito esforço, se pôs de pé calada e retirou a mão da ferida.

— Não... se atreva a dizer o nome dele! Nunca mais! Eu mato você! — Ela bradava, correndo enfurecida na direção do engravatado.

Sem sair do lugar, Santsuki arremessou a espada certo de que a mataria. Ele não contava que, com o teletransporte, Sora fosse materializar-se na frente de Kin e servir de escudo contra a lâmina, que bateu no peito dele e simplesmente caiu. Os dois se olharam. Santsuki soube na hora que precisaria de muito mais para vencê-lo e animou-se, sorriu. Esperava que fizessem uma boa batalha. A mudança na atmosfera da arena foi perceptível para qualquer um, em instantes o mundo se transformaria no palco de um combate feroz.

Sora não veio sozinho, Yue estava com ele. Quando Kin caiu, ela ajudou a loira a ficar de pé.

— Leva ela pra um hospital. — Pediu Sora. Encarando Santsuki, disse: — Eu vou levar o lixo pra fora.

— Volto o mais rápido possível. — Yue avisou, apoiou Kin no ombro e rapidamente se afastou dali com ela.

Não houve conversa e nem troca de farpas, Sora estava doente e não podia sustentar uma luta por muito tempo, Santsuki estava ansioso para testá-lo. O confronto começou rápido, numa troca de socos na qual os dois lutadores eram igualmente ágeis e fortes. Um não conseguia acertar o outro. Sora agachou para desviar-se de um chute alto, ficou de pé, atacou com um cruzado de direita, Santsuki pôs a mão na frente do golpe, moveu o punho dele para baixo e desferiu mais um chute contra Sora, que protegeu-se dele com os braços.

Sora empurrou a perna dele, avançou, atacou-o com uma série de socos extremamente velozes, Santsuki esquivou-se de todos e contra-atacou com um gancho de esquerda. Sora prendeu o punho dele entre os braços, tirou o pé do chão e acertou uma joelhada no estômago de Santsuki. O engravatado voou longe, Sora carregou as mãos com energia elétrica, apontou-as para o alto e teria fulminado seu adversário com um raio se aquelas dores provenientes de sua doença cardíaca não tivessem retornado e o posto de joelhos. Merda, exclamou Sora em pensamentos, agarrando o próprio peito com as mãos, como se isso fosse extinguir as dores que o assolavam.

Santsuki saltou sobre ele com a espada para matá-lo, mas Yue surgiu na frente de Sora e salvou-lhe a vida ao pôr uma lâmina na frente da de Santsuki. O engravatado recuou quinze metros, empolgado. Ao olhar nos olhos vermelho carmesim do vilão, Yue soube que aquela ali não era como as outras vezes que o enfrentaram, que naquele dia ele estava ali para matar ou para morrer. Percebeu que, mais do que nunca, seu velho inimigo estava cansado da vida, entediado, que viver ou morrer não fazia diferença para ele e que, graças a isso, estava mais perigoso do que nunca. Por isso chamou Haru.

— Você está bem? Não se preocupe, esse desgraçado não passa de hoje, o Haru está vindo! — Exclamou Yue. Mal sabia ela que, devido a intensidade das dores que castigavam Sora, sua voz saiu toda distorcida aos ouvidos dele. Só transmitiu bem a última frase. — Só temos que mantê-lo ocupado!

O Haru está vindo, é?, Sora deu uma risada e, mesmo tonto de dor, ficou de pé. Enfrentaram o vilão com tudo de si, Sora, porém, devido ao sofrimento de que padecia, não foi de grande ajuda. Entretanto, como prometeu, contiveram Santsuki até Haru chegar voando e levá-lo para longe do Reino de Áries. Os dois se digladiavam nas alturas. Ao aceitar que não podia fazer mais nada, Sora andou vagarosamente até o destroço mais próximo e mais confortável, se sentou e apoiou as costas nele. Estava morto de exaustão.

Um sorriso estendeu-se nos lábios de Sora. Yue pousou ao seu lado.

— Rejeitei o pedido do Kay por uma razão. — Disse-lhe ela. — Eu amo você. Sempre foi você. É com você que eu quero ficar. Demorei pra aceitar isso porque via você com uma garota diferente em cada dia da semana, tive medo de não ser correspondida, então tentei seguir em frente. Mas não deu certo. Continua sendo você, Sora Raikyuu. — Declarou em alta voz o seu amor por ele, mas ao olhá-lo e vê-lo de olhos fechados, irritou-se por achar que ele dormiu no meio de seu discurso. — Idiota! Vai ter que falar mais bonito do que eu falei agora se quiser ficar comigo!

Infelizmente, Sora não havia adormecido. Ele estava morto. Yue se deu conta disso um pouco antes da luta entre Haru e Santsuki terminar, e quando o ruivinho aterrissou, ela chorava com a testa apoiada no peito do amor de sua vida e as mãos na mão esquerda dele. Haru, em estado de choque, andou a passos lentos e calmos até eles. Não pode ser, lutava para não acreditar. Sora...

Essas lembranças, reprimidas por tanto tempo, não fizeram nada bem a Yue de noventa anos, ela passou muito mal naquela noite e foi levada a um hospital às pressas. Ficou em coma por semanas, as notícias dos médicos não eram nada animadoras. Numa tarde de quinta feira absolutamente igual às outras, ela imprevisivelmente acordou enquanto Su chorava sentada na cadeira ao lado de sua confortável cama.

A jovem mão de Su estava sobre o ferro esquerdo do leito onde Yue descansava. Sem dizer nada, Yue repousou sua velha e enrugada mão sobre a dela e quando, emocionada, Su correu para anunciar que ela estava acordada, fez um gesto com a cabeça para que ela ficasse. Uma lágrima molhou a camisa social azul clara que a jovem trajava. Ela sabia que era a despedida.

— Me perdoe por não ter sido a mãe que você merecia. Diga às suas irmãs que eu sinto muito. Ao seu pai também. — Implorou, com a voz mais fraca do que nunca. — Não fui uma boa esposa, nem uma boa mãe, agi como se fosse indiferente a vocês... Deixei meus sofrimentos ditarem minha vida, mas vocês podem dar um rumo diferente para as suas. O dia do nascimento do meu neto, Su... foi a última vez que eu dei um sorriso genuíno. No de todas vocês. Eu amo vocês.

Su balançou a cabeça afirmativamente. As lágrimas que encheram seus olhos a impediam de ver, o choro a impedia de falar. Pela primeira vez desde que se tornou adulta acreditou nas palavras de sua mãe. Ela as amava e fez o melhor que podia, mas o mundo, infelizmente, deixou de ser seu lar há anos. A verdadeira Yue morreu junto com Kin, Arashi, Haru, Naomi, Saori e com Sora.

Fim.


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