Se perguntassem á Itadori quando ele começou a ver a Jennifer Lawrence como seu tipo de mulher, ele não saberia dizer exatamente; "desde sempre eu acho" seria a resposta que ele daria ao curioso, com um sorrisinho besta e um olhar inocente. Bom, ter uma atriz talentosa e bonita como seu tipo de interesse amoroso, ou como ele diria, mulheres altas com um bundão, não era algo incomum, então ninguém achava aquilo estranho. E mesmo depois que Yuuji começou a namorar seu amigo e colega de classe, Fushiguro Megumi, ele nunca deixou de dizer que a Jennifer Lawrence era seu tipo de mulher, mas depois ele sorria bobo e apontava para o outro e dizia algo como "mas o Fushiguro é meu tipo de cara, não a toa que eu namoro com ele, sortudo eu né?" e isso sempre resultava no usuário de shikigami dando um pescotapa no outro, tentando esconder o constrangimento.

Para dizer a verdade, Fushiguro nunca se incomodou com o crush do namorado pela dita atriz hollywoodiana, ele admitia que a mesma era muito bonita e uma grande atriz, no entanto, ele não poderia imaginar que isso seria algo "problemático" futuramente...

Era um dia sem muito o que fazer; não tinham maldições para exorcizar e nem aulas para verem - Gojou estava fora também, então deixou seus "pimpolhos" a deriva - então os alunos dos três anos estavam aproveitando essa folga. Panda decidiu ficar em seu quarto na escola; Inumaki ia de loja em loja provando tipos diferentes de onigiris; Maki e Nobara estavam fazendo compras; e o casal Fushiguro e Itadori estavam em um encontro...se é que poderíamos chamar assim. Em poucas palavras, eles estavam andando por Tóquio aproveitando um tempo juntos e sozinhos, já que se estivessem com a colega ruiva, ela iria ficar bufando e dizendo que não queria ficar de vela e que era pra eles ficarem de "boiolagem" longe dela, mesmo que apenas estivessem trocando olhares por alguns segundos. Homofóbica? Eles não sabiam dizer, não parecia o caso, apenas de alguém que tinha inveja de estar solteira e não ter coragem de se declarar para sua senpai.

Como nem Megumi e nem Yuuji tinham experiência na questão de namoro, eles mais pareciam dois amigos que estavam dando um rolê do que namorados em um "encontro"; não que isso fosse ruim, eles até estavam querendo levar as coisas em um ritmo mais lento - embora em outros fossem apressados, que o primeiro beijo deles que o diga. Enquanto ficar de mãos dadas ainda fosse uma coisa vergonhosa, toques mais afoitos em meio aos beijos não parecia ser algo para se constranger; eles não faziam sentido pois, como Gojou dizia, xamãs são meio doidinhos e não fazem sentido por si só.

Enfim.

Eles estavam andando por um bairro bem movimentado depois de comprar pobás, já que o dia estava quente, e se não fosse a insistência do possuído, o outro rapaz estaria todo vestido de preto e de manga comprida; ter um namorado "emo" - como Nobara vivia dizendo - as vezes era difícil. Mas isso não vem ao caso exatamente. Itadori falava sobre um filme que havia estreado recentemente e que eles deveriam ir ver; chamar os senpais e o sensei e curtirem juntos, já que não era algo que eles podiam fazer muito, ter uma vida normal. Embora Megumi estivesse quieto a maior parte do tempo, ele estava claramente prestando atenção no que o parceiro falava e vez ou outra fazia um breve comentário, tirando um muxoxo do outro, que reclamava que o mesmo era frio e outras coisas, mas no fim acabavam rindo um do outro.

Em determinado momento enquanto conversavam, Fushiguro percebeu que Itadori do nada ficou quieto e quando deu conta, estava a alguns metros a frente, e que o outro ficou para trás, parado, enquanto olhava a vitrine de uma loja. Quando voltou, perguntou o que foi, e quando seguiu o olhar para o que poderia ser que tomou a atenção do namorado, ele ficou surpreso com o que viu. Aquilo era...

—...uma dakimakura da Jennifer Lawrence? — Megumi disse confuso e curioso ao mesmo tempo.

— Uma dakimakura da Jennifer Lawrence! — Yuuji, por outro lado, quase gritou com euforia, os olhos brilhando e quase grudando a cara no vidro da loja, atraindo a atenção das pessoas que estavam por perto. Ai que vergonha alheia...

Fushiguro cobria os olhos em uma carranca e sequer notou o olhar que Itadori lhe dava, mas quando o fez...oh não! Ele sabia o que era aquela cara. A feição que o namorado fazia sempre que queria muito alguma coisa e iria fazer algum tipo de chantagem emocional para consegui-la; olhos do gato do Shrek, era como o rapaz chamava.

— Fu-shi-gu-ro-kun~ — o garoto mais baixo - mas nem tanto - dos dois começou, serpenteando para perto do parceiro, aquela carinha de cachorro perdido no rosto. — Eu já te disse o quanto te amo? O quanto você é incrível? O quanto eu admiro você? — e lá estava! Os elogios intermináveis para amolecer Megumi. — Eu sei que posso ser chato e irritante na maior parte do tempo...e mesmo assim você me atura e fica comigo. — Yuuji segurou as mãos do outro rapaz. — Então...você compraria essa dakimakura pra mim?

Fushiguro sabia! Mas foi impossível não fechar a cara com o pedido.

— Por favor Fushiguro. Eu juro que farei o que você quiser por uma semana. Não! Por um mês! Pu favô — e o possuído começou a agir como uma criança querendo pedir algo para os pais. Megumi só pode suspirar. Ele sabia que deveria negar, que mimar o companheiro não era algo bom, mas mesmo assim...

— Certo. — disse somente e sem emoção, mas o sorriso largo e brilhante de Itadori quase o cegou e o deixou feliz internamente.

— Obrigado obrigado obrigado Megumi-chan! — o rapaz o abraçou e o levantou, girando-o no ar umas três vezes até o pôr no chão novamente. — Eu te amo tanto. — e começou a dar beijinhos em sua bochecha, o que fez Fushiguro corar e tentar disfarçar as bochechas rosadas, especialmente por notar que algumas pessoas em volta estavam observando eles, então empurrou o outro.

— Ok ok, pare. — ele tentou parecer irritado, mas não deu certo. — Deixa eu ver quanto custa essa coisa.

O usuário de shikigami olhou a vitrine mais de perto e percebeu como aquele travesseiro era caro - dakimakuras sempre custaram tanto assim? — e depois conferiu sua carteira; é, ele não tinha o necessário, e seu cartão de crédito muito menos. Olhando para trás, constatou que Itadori estava com uma expressão animada e ansiosa, com um sorrisinho feliz e um olhar brilhante. Droga, ele não poderia dizer que não conseguiria comprar por agora. Então ele teria de recorrer a um método mais radical. Pegando o celular, ele ligou para Gojou-sensei, se preparando para fazer o pedido.

— Moshi moshi Megumi, o que foi?~ — a voz de Satoru se fez presente depois de três toques, tão preguiçosa quanto sempre.

— Gojou-sensei, eu preciso de um favor. — disse sem rodeios, tentando não parecer nervoso ou algo do tipo.

— Oh? Que novidade, você não é do tipo que me faz tantos pedidos assim. O que foi?

— Eu estou querendo comprar uma certa coisa, mas eu não tenho o dinheiro que preciso, nem físico nem no cartão, então queria que transferisse o que falta para mim...se puder. — por enquanto ele estava levando aquilo bem, mas a risadinha do mais velho o deixou ansioso.

— Deixa eu adivinhar...vai comprar um presente para o Itadori? — como Megumi odiava a facilidade de seu professor de compreender as coisas de forma tão simples. — Acertei, não é? — ele apenas suspirou e concordou. — Bom...claro! Me diga quanto precisa e eu transfiro.

— Tão fácil assim? Você é do tipo que iria me pedir algo em troca. — Fushiguro não poderia deixar de se sentir que tem algo por trás das ações do outro.

— Nossa, você falando assim parece que eu sou um interesseiro. — a voz dramática e falsamente tristonha chegava a ser irritante. — Não se preocupe com coisas assim Megumi, estou fazendo isso de coração. — mas ele não conseguia acreditar. — E então, quanto precisa?

Ele disse o quanto faltava e não muito depois, recebeu uma notificação no celular indicando a transferência do dinheiro para sua conta. Ele agradeceu á Gojou por isso e o mesmo apenas fez uma piadinha e depois desligou. Agora era comprar a dakimakura...ugh. Inspirando fundo, Megumi entrou na loja e, em alguns minutos, saiu com sua compra em mãos, embalada de forma que as pessoas não conseguiam saber o que era - pois estava dentro de uma caixa retangular comprida e com um enfeite, clássico para presentear alguém. Quando chegou perto do namorado, ele apenas entregou a caixa ao mesmo, virando o rosto para disfarçar o constrangimento por conta de Yuuji ter feito a expressão mais adorável que o rapaz viu do outro. Depois disso, Itadori passou a mimá-lo o resto do encontro - sendo um tanto grudento, mas não foi tão ruim - até que ficou tarde e precisaram voltar para a escola.

Quando estavam de volta em seus dormitórios, Yuuji disse que queria ficar um pouco mais com o namorado, que ele não tinha agradecido ele o suficiente pelo maravilhoso presente. Oh, Fushiguro sabia no que aquilo ia terminar...em algumas carícias mais "picantes", pois eles ainda eram envergonhados pra tentar ir mais a fundo na relação, mas aquilo seria bom.

Seria bom, se no final não acabasse com eles dormindo lado a lado na cama não muito grande de Megumi, com ele emburrado com uma carranca no rosto enquanto o rapaz ao seu lado estava abraçado com a dakimakura que havia comprado para ele. Porque isso não o surpreendia de fato? Óbvio que Yuuji iria dormir agarrado com aquele travesseiro com o corpo da Jennifer Lawrence estampando ele. E de jeito nenhum ele estava com ciúmes de um travesseiro com a cara de uma atriz nele; ele não estava!