Prólogo  

Minha vida de verdade  

Droga, droga, droga, estou atrasada de novo, eu não devia ter ficado até tarde vendo Netflix. Não consigo achar minha bolsa.   

—Alice, você viu minha bolsa?   

Alice é minha colega de quarto, nos conhecemos na faculdade em uma festa para os calouros, eu estava em um canto sozinha e Alice veio toda saltitante ao meu encontro e desde nossa primeira conversa soube que seriamos grandes amigas.  

— A azul marinho? - Pergunta Alice gritando de seu quarto, e pelo barulhão que ela estava fazendo com certeza tinha mais alguém atrasada.  

—Essa mesma. - Eu respondo.  

—Está dentro do seu guarda-roupa na parte de baixo. - Alice responde colocando apenas a cabeça pra dentro do meu quarto. - Inclusive você ta precisando dar uma faxina no seu guarda-roupa.  

Abri meu guarda roupa e realmente estava lá dentro. Olho pra ver se meus cadernos estão todos dentro da mochila. E corro pra cozinha, Alice está comendo desesperadamente uma torrada e tomando goles de seu chá estranho de cor duvidosa, que acredito que seja pra emagrecer. Alice é magra, porém cismou que precisa emagrecer, e todo dia ela tenta métodos alternativos, que eu tenho certeza que ela e eu sabemos que não funciona, mas ela tenta mesmo assim.   

—Seus pais ligaram de novo. - Alice diz entre uma golada e outra do seu chá, eu não consegui reprimir uma careta. - Disseram que era urgente. 

— Pros meu pais tudo é urgente. - Eu revirei os olhos.  - Depois eu ligo pra eles. 

Não é que eu não ame os meus pais, é só que eles querem que eu seja algo que eu não sou. Meu pai é dono de uma empresa de investimentos, uma das melhores do país, e o sonho deles é que eu herdasse e toma-se conta de tudo, mas eu não quero isso. Meu sonho é trabalhar com a arte, a fotografia é minha vocação. Mesmo eu não querendo tomar a frente da empresa, meus pais me pressionam pra que eu assuma, ou me case com alguém que eles querem pra que o meu "marido" assuma. Eu ainda estou na metade do meu curso de artes, acabei de conquistar minha liberdade e estou descobrindo a vida, a última coisa que eu quero agora é me casar. Mas eles não entendem isso. 

— Okay, okay. Deixando isso de lado. Eu consegui dos ingressos pro concerto do Edward  Cullen e os lugares são ótimos. - Alice balança dois ingressos entusiasmada.  

—Quem é esse?  

— Como você pode se dizer uma aluna de artes e apaixonada por música e não ouvir falar dele. 
 

— Fala logo quem é. 

—Ele é o mais lindo e mais maravilhoso pianista de todo o século. Ele é... - Eu ergo uma sobrancelha pra ela. - Ele é um excelente pianista, acredita que ele estudava na nossa faculdade, mas conseguiu uma bolsa e foi estudar música na Europa, recentemente ele ganhou vários prémios em competições e audições por lá, e está voltando pra casa e esse é o primeiro show dele aqui. - Alice fala de uma vez, quase ficando sem folego.   

—  Eu não sei se to afim de ver mais um dos seus ídolos narcisistas que se acham os donos do mundo e nem são tudo isso que acham.  

—Ahhh vai Bella por favor, vai então só pra me fazer companhia. - Alice suplica com as mãos juntas.  - Por favorzinho, você sabe que é minha única amiga, e se eu não for com você terei de ir sozinha... - Alice diz fazendo uma carinha de cachorro que caiu da mudança. 

—Ta bom, ta bom. Eu vou. - Eu me rendo. -Mas agora precisamos correr porque tenho menos de vinte minutos pra atravessar o campus até minha aula de história da música. - Digo olhando pro meu relógio de pulso.  

Alice arregala os olhos se dando conta de que horas são, largamos a louça na pia, e saímos correndo com nossas bolsas, em direção ao campus.