Ruptura escrita por Sweet Winter


Capítulo 6
Onde não há mais humanidade


Notas iniciais do capítulo

Olá!!

Dessa vez estou chegando mais cedo para o novo capítulo, como nesse sábado eu vou viajar decidi postar agora xD

Espero que curtam esse capítulo que, por sinal, foi o que mais me diverti escrevendo por enquanto.

Boa leitura!!



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Na calada da noite, Alexia ouviu um chamado. Era um pedido de socorro.

Ela correu desenfreada atrás daquela voz, antes que desaparecesse. Mas era tarde demais, quando percebeu Alexia caiu na escuridão, com um baque profundo no final.

E foi assim que ela acordou, com uma horrível dor de cabeça e tentando se lembrar o que diabos havia sonhado naquela noite. Ao que parece, continuaria sendo um mistério para ela, já que quando tentava puxar na memória, via apenas cenas escuras.

Não era um jeito agradável de começar o dia.

— Nix, acenda as luzes — ordenou em voz alta. Como sempre, a inteligência artificial é eficiente em atender seus pedidos.

A senhorita gostaria de ouvir as notícias do dia? Ou gostaria de iniciar com o cronograma?

— O cronograma, por favor — disse enquanto calçava os chinelos e andava meio sonolenta até o banheiro. — Tô sem saco pra ouvir notícia dos outros — murmurou.

Como a senhorita acordou 9 minutos atrasada, o café da manhã estará pronto às 7:44. Desse modo, se a senhorita comer mais rápido, ainda poderá dirigir na mesma velocidade de 40 km/h e chegar no horário certo ao trabalho. Tudo dentro das leis de trânsito.

— Incrível — resmungou com sarcasmo.

Depois de preencher todos os papéis que estão na mesa do seu escritório, a senhorita terá que comparecer à uma reunião marcada com seu chefe às 9:00.

— Espera, eu marquei uma reunião com meu chefe?! — Alexia quase se engasgou com a pasta de dente.

Não, mas ele marcou.

Alexia soltou um bufo irritado. Às vezes sentia que os outros mandavam na sua vida mais do que ela mesma.

Às 9:30 seu parceiro estará te esperando, vocês ainda têm que resolver o caso de agressão em uma loja de roupas.

Quando ouviu aquilo, Alexia sentiu vontade de imediatamente voltar para a sua cama e dormir pelo resto do dia. Ao menos, seria um tempo melhor gasto.

— Como eles chamam isso de agressão? Duas mulheres se estapeando por uma blusa ridícula é agressão?

De acordo com o código de cond…

— Não responda! Foi uma pergunta retórica — exclamou.

Quando entrou para a polícia, Alexia fez com o intuito de procurar mais emoção para sua vida, adrenalina de verdade. O que não esperava era que passaria o resto de seus dias preenchendo pilhas intermináveis de papéis que não entendia e resolvendo pequenos “crimes”, se é que podia chamar assim. Ao invés de tornar sua vida mais interessante, aconteceu exatamente o reverso.

Quando a senhorita voltar do trabalho, às 18:00 terá uma lista de exercícios físicos para preencher. Às 19:00 poderá tomar banho, às 19:30 seu jantar será preparado e ficará pronto às 20:00, quando poderá comer ao mesmo tempo em que assiste ao Brilliant Talk Show.

— Eu odeio esse programa — disse Alexia enquanto se sentava à mesa de café da manhã e pegava a sua torrada. — Odeio do fundo do meu coração.

Sinto muito, senhorita, esse é o horário das 20:00. Às 21:00 irá começar o filme mais recen…

— Nix, cale a boca — mandou sem paciência. Não se importava de ser rude, não era uma pessoa real mesmo. — Não quero ouvir mais nada, esse cronograma é uma merda.

Sim, senhorita.

Se Alexia pudesse, ela se jogaria da janela do seu apartamento no 11° andar. Uma pena que isso era impossível, já que todas as janelas e sacadas de prédios eram projetadas com um programa anti-suicídio.

Quando terminou de comer, decidiu que era melhor parar de resmungar pelos cantos e apenas se arrumar para ir trabalhar. Sua roupa já estava na cama, organizada e muito bem passada por Nix, que era muito eficiente em seus horários.

Tirou o carro da garagem para “dirigir” até o trabalho. Entre aspas porque não era Alexia quem realmente dirigia, e sim Nix, ela apenas apreciava a vista.

Na rua, passavam outros carros, todos andando na mesma velocidade, sem se desviar de cada objetivo e, principalmente, respeitando as leis de trânsito. Na calçada haviam poucos pedestres passando e os prédios eram o que integrava maioritariamente a vista. Na verdade, raramente podia se ver alguma construção com menos do que o equivalente a cinco andares.

A cidade inteira era monocromática, com tons que variavam entre o azul e o cinza. Além dos telões de propaganda que se viam em cada quadra, o mais colorido da cidade eram as árvores, que eram plantadas a exatos 10 metros uma da outra e sempre tinham uma coloração de verde vívido.

Alexia achava as árvores interessantes. Às vezes sentava na calçada que nem uma maluca e ficava por vários minutos observando qualquer árvore que estivesse por perto, acompanhando o movimento de suas folhas, fascinada pela sua forma e cor.

Claro que era chamada de volta para dentro de seu prédio por Nix, já que estava quebrando seu cronograma fazendo isso.

Depois de terminar toda a papelada e conversar com seu chefe, do qual ela não ouvia uma palavra do que dizia, ela foi na maldita loja resolver o problema de “agressão”. Escutou todos os relatos, fez todas as investigações necessárias, tudo até chegar ao ponto de se frustrar.

“Eu só queria que pelo menos alguém fosse assassinado, só isso, só um homicídio, é tudo o que eu peço”, implorava em pensamento, quase formando uma reza com suas palavras.

Bem, talvez Alexia devesse tomar mais cuidado com o que desejava.

Um estouro alto seguido de um grito foi ouvido na rua próxima de onde estava. A primeira reação de Alexia foi parar, tentando raciocinar o que estava acontecendo. A segunda foi correr em direção ao barulho e puxar a arma, alertando à multidão que se reunia de que era policial e iria resolver o caso.

Havia uma mulher histérica com um homem que aparentemente tentava atacar ela e que estava sendo segurado por outras pessoas. Não demorou para que viaturas chegassem para deter o homem que parecia estar maluco.

Ele gritava e batia em todos que estivessem por perto, isso enquanto a mulher ainda chorava e gritava, alegando que ele tentou agredi-la.

Alexia algemou ele, recitando em voz alta todos os seus direitos e toda aquela burocracia que detestava.

De repente, ele fixou os olhos nela e pareceu espantado.

— Você! É você! — gritou, parecendo se referir a Alexia que franziu o cenho.

— Eu nunca vi esse cara na minha vida — murmurou para o seu parceiro.

— É você sim! Meus olhos não me enganam. — Ele soltou uma risada alta que fez as pessoas recuarem de medo mais ainda. — Eu sabia que você estragaria tudo. Eu sabia. Eu alertei e ninguém me ouviu. Ninguém!

Alexia pensou que ele devia estar sob efeito de alguma droga ou que talvez tivesse alguma doença mental, mas definitivamente não estava em seu juízo perfeito. Então era melhor só ficar quieta e deixar a investigação seguir em frente.

— Foi essa garota! Se quiserem culpar alguém, culpem ela. É tudo culpa dela. — gritava enquanto era posto para dentro da viatura.

Quando ouviu aquilo, Alexia virou para trás, um “o quê?” saindo inconsciente de seus lábios. Por um momento, tentou considerar o que ele estava tentando dizer, mas a voz de Nix interrompeu seus pensamentos:

Senhorita, o fim de seu expediente irá chegar. Precisa voltar ao escritório para arrumar as suas coisas.

Apenas assentiu, logo fazendo o que foi dito e esquecendo do homem com problemas mentais.

Quando voltou para casa, depois de terminar seus exercícios e de tomar um banho, Alexia sentou à mesa de jantar, sozinha como sempre, e se sentiu reflexiva. Sobre o que, exatamente, não sabia, mas estava muito aérea.

Senhorita, seu jantar baseado em um cardápio elaborado pelo estudo do nutricionismo está pronto.

— Que monte de palavras bonitas para descrever isopor comestível — resmungou Alexia.

Sinto muito, senhorita. Quer que eu adicione mais sabor na próxima vez?

— Eu não quero nada, pode servir o isopor. Eu como qualquer coisa mesmo — disse Alexia sem se importar muito. Porém, logo voltou ao estado reflexivo e, sem perceber, deu a ordem: — Nix, pesquise sobre o significado dos sonhos.

Sonhos são experiências de imaginação do inconsciente durante o período de sono. Os sonhos ocorrem durante a fase de REM do sono. Deseja saber mais sobre as fases do sono?

— Não, não, eu quero saber por que eu sonho.

Segundo o estudo da psicanálise, os sonhos são frutos de desejos reprimidos. Deseja saber mais sob…

— Não, não! — Era a terceira vez que interrompia Nix naquele dia, estava verdadeiramente frustrada e nem sabia por que. — Esquece, você não entende porra nenhuma mesmo.

Senhorita, sinto muito, mas suponho que meu sistema não esteja qualificado para responder suas dúvidas.

— Tudo bem, apenas cale a boca. — Soltou o ar com força. — Quero ficar sozinha e em silêncio.

Tentava forçar seu cérebro a lembrar do que aconteceu enquanto dormia, mas a única coisa de que se recordava era da escuridão, de uma voz a chamando e de cair. Apenas.

“Desejos reprimidos, será que é isso?”, pensou. Mas não fazia sentido, por que diabos iria desejar cair no escuro?

— Porra de psicanálise, não me responde nada — remsungou sozinha. Mas, do nada, uma ideia brotou na sua cabeça, fazendo-a parar no lugar.

E se não foi um sonho?

Com vários pensamentos se conectando e tomando forma, Alexia correu até o quarto para pegar um casaco e em seguida para a garagem, destrancando o carro.

Senhorita, o que está fazendo? Está quebrando o cronograma.

— Foda-se o cronograma, me leve até a delegacia — ordenou, sem paciência para discutir.

Senhorita, não pode quebr…

— Eu estou mandando! Nix, me leve para a delegacia.

O sistema não respondeu mais, apenas ligou o carro e partiu pelas ruas que, apesar de já ser noite, estavam iluminadas pelas inúmeras luzes da cidade.

Alexia solicitou um interrogatório com o preso daquele dia. Depois de umas conversas aqui e acolá eles finalmente permitiram que ela falasse com ele, claro que ainda precisou esperar alguns minutos, mas isso era o de menos.

Com o coração acelerado, ela entrou na sala de interrogatório, encontrando o homem com problemas mentais sentado na cadeira e algemado, esperando como uma criança que foi posta de castigo pela professora da creche.

Alexia se sentou na outra cadeira e, sem enrolar muito, já perguntou:

— De onde você me conhece?

O homem ficou quieto, encarando seu rosto como se estivesse vidrado. Alexia bateu a mão na mesa e gritou:

— Vamos logo! Você estava gritando bobagens para mim na rua e agora fica quieto! Eu quero saber de onde me conhece.

Ele permaneceu em silêncio por mais tempo e Alexia estava prestes a levantar para agredi-lo quando disse, em voz baixa:

— Você se parece muito com ela.

— Quê? — Ela recuou surpresa.

— Você se parece tanto com ela que eu até achei que fosse ela, mas, olhando melhor agora, você não é ela.

Alexia suspirou, voltando aos pensamentos de que ele tinha alguma doença mental ou estava drogado. Mas abusou um pouco mais de sua própria paciência e perguntou:

— Quem é ela? E por que agora você diz que eu não sou ela?

Ele deu uma risada abafada.

— Ela é muito mais corajosa que você. Muito mais forte também. É, definitivamente, você não é ela.

Alexia fechou os olhos com força, sentindo uma pontada na cabeça. Percebeu que ele não responderia todas as suas perguntas e que era um caso perdido insistir, então apenas partiu para outra:

— Era você no meu sonho? Você tinha me dito que me conhecia, mas eu nunca te vi na vida, então pensei que talvez tivéssemos nos encontrado no sonho. — Enquanto falava Alexia percebia o quão ridículo aquilo parecia em voz alta, estava óbvio que aquele cara apenas havia a confundido com outra pessoa e começou a gritar por ela que nem maluco, mas ela precisava perguntar logo antes que explodisse com suas próprias dúvidas.

O homem pareceu ficar sério de repente.

— Que sonho?

— Não é nada demais, quer saber, isso é uma besteira. — Ela se levantou, arrependida de ir até ali por causa de um surto.

— Espere! Espere! — ele chamou. — O que é esse sonho? O que você sonhou?

— Pura idiotice — disse passando a mão nos cabelos, demonstrando o cansaço. Mas algo naquele olhar insistente do homem a fez falar: — Eu não faço ideia de onde eu estava, na verdade estava tudo escuro e tinham alguém me chamando. Eu segui a voz e caí. Foi isso.

— Era uma voz feminina? — O homem parecia cada vez mais preocupado.

Ela parou para pensar um pouco e, com surpresa na voz, respondeu:

— Sim, era uma voz feminina. Como você sabia disso?

Ele arregalou os olhos.

— Nós vamos morrer. Vamos todos morrer. Chegou o nosso fim! — Ele se levantou bruscamente enquanto gritava, se aproximando muito rápido de Alexia que recuou assustada. — Escute, menina, você precisa achar um lugar seguro. Se você sonhou com ela, significa que nós vamos todos morrer. Você precisa fazer algo!

Não ouviu muito da ladainha, já que policiais entraram na sala para conter o homem descontrolado. Alexia permaneceu no lugar, em estado de choque, sem entender bulhufas do que havia acontecido.

Havia ido até lá para buscar respostas e, no entanto, voltou com mais perguntas.

Quando percebeu, estava de volta ao seu apartamento, sem saber como havia chegado lá. Apenas reparou quando já estava se preparando para ir dormir.

De repente largou a escova de dentes como se tivesse levado um choque com ela, a soltando na pia de maneira porca.

— O que eu estou fazendo? Não posso dormir agora, preciso investigar.

Estava prestes a sair do banheiro quando uma voz a parou:

Senhorita, são 23:00, é hora de dormir.

— Cale a boca, Nix, não quero saber do cronograma.

Senhorita, vá para a sua cama dormir.

— Nix, o cronograma está cancelado, me ouviu? Can-ce-la-do!

Senhorita, não aja assim.

Quando tentou abrir a porta, ela continuou no mesmo lugar. Puxou a maçaneta várias vezes, tentando forçá-la, mas estava trancada. Com um som de descrença, ela disse:

— O que está fazendo? Não pode me trancar aqui.

Senhorita, é para o seu próprio bem.

— Protocolo de emergência, desativar o programa de inteligência artificial Nix — pronunciou em voz alta. Nada aconteceu. — Eu disse protocolo de emergên…

A senhorita não pode me desativar.

— O quê? — Alexia estava verdadeiramente começando a ficar com medo.

A senhorita não tem poder para isso. Fique no seu apartamento até que todo o processo acabe e seja seguro sair.

O coração de Alexia falhava várias batidas, ao ponto de que ela achou que teria uma parada cardíaca a qualquer momento.

— Que processo? Do que está falando?

Senhorita, é para o seu próprio bem.

— Não deboche de mim desse jeito! Eu quero sair daqui! — Puxou a maçaneta mais algumas vezes, com mais força e desespero. Mas sabia que não adiantava, a porta não abriria, era programada com um sistema anti-roubos, ou seja, uma pessoa normal não conseguiria arrombar ela facilmente. — Se eu ao menos tivesse a minha arma… — murmurou.

Andou de um lado para o outro no pequeno espaço do banheiro, tentando pensar em alguma solução. Não conseguia acreditar em como as coisas haviam acabado assim, podia se arrepender de quantas vezes reclamou da sua vida chata e monótona.

— Pensa, Alexia, eu sei que você consegue pensar em algo… — dizia para si mesma em voz baixa. — Quem pode me ajudar a sair dessa? Quem?

De repente foi como se uma luz clareasse a mente de Alexia, que se lembrou do homem falando sobre alguém mais forte e corajosa do que ela.

— Se for a mesma pessoa do meu sonho… — titubeou. Sem pensar mais no assunto, sendo a única solução que encontrou, Alexia deitou no chão do banheiro mesmo e fechou os olhos.

Seria uma tarefa difícil, mas precisava se lembrar de todas as aulas de relaxamento que teve e buscar sua paz interior para dormir naquele momento de adrenalina.

“Pense em coisas boas, pense em coisas boas”, repetia para si mesma. “Pense nas árvores”.

Se lembrou das vezes em que parava para observar uma árvore na calçada, com seu verde verdejante, as folhas balançando calmamente de acordo com a direção do vento. Se lembrou do barulho sutil que ela fazia e de como era hipnotizante observá-la, as folhas se movendo, às vezes para a esquerda, às vezes para a direita…

Antes que percebesse, voltou para a escuridão. Mas dessa vez estava bem consciente do que acontecia, encarando com firmeza o seu outro eu.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Mais mistérios surgindo na história.

A próxima garota será a última e vai ser a mais especial de todas, o que será que vem aí?

Críticas são sempre bem-vindas ♥

Até!!

=^.^=



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