[Mansão Kido, Japão]

— Senhorita Saori? - Chamou uma das serviçais batendo na porta do quarto da jovem herdeira da família Kido.

— Entre. - Respondeu Saori que estava sentada em uma elegante e confortável poltrona enquanto observava o céu pela janela do seu quarto.

— Trago-lhe notícias do senhor Tatsumi.

— Do Tatsumi? - Questionou Saori direcionando toda a sua atenção para a serviçal.

— Sim. Ele pediu que lhe informasse que tudo estava ocorrendo da melhor forma possível. Alguns acionistas e sócios no primeiro momento não gostaram da ideia, mas segundo o senhor Tatsumi ele conseguiu fazer eles se darem conta da repercussão positiva que poderia surgir com essa ação humanitária, e assim decidiram apoiar totalmente a causa. O governo Siciliano também agradeceu imensamente por nossa ajuda na evacuação da população.

Saori suspirou aliviada. Ela estava acompanhando os jornais e usou a rede de informação da Fundação Graad para ficar a par de tudo que estava acontecendo, ao menos tudo que estava acontecendo do lado cívil.

— Fico feliz em poder usar a Fundação para salvar e ajudar tantas pessoas. Isso é tudo?

— Não, senhorita. Ele também me pediu para que a lembrasse de responder ao convite dos Solos. - Disse ela entregando o convite. - O senhor Tatsumi pediu para que a senhorita não perdesse a chance de reatar os laços com a Família Solo.

— Isso não é importante no momento. - Disse Saori colocando o convite sobre o colo sem sequer olhar para ele.

— Mas senhorita… - Insistiu a serva fazendo uma cara de choro. Ela não queria ser repreendida por Tatsumi. Todos os servos da mansão tinham medo dele, por ser um homem arrogante, rude e extremamente severo, pelo menos com aqueles que estavam abaixo dele.

— Não se preocupe. - Disse Saori percebendo o desespero da jovem. - Se ele perguntar sobre o convite, diga apenas que eu prometi não me esquecer dos meus compromissos importantes. - Respondeu Saori sorrindo para ela.

— Está bem, senhorita. - Respondeu a serviçal suspirando. - Então senhorita, com a sua licença. - A jovem fez reverência e se retirou do quarto.

— Eu já me despedi dessa vida. Saori Kido não existe mais. - Sussurrou Saori com um semblante triste, mas ao mesmo tempo ela já estava conformada com seu destino.

Atena se levanta e coloca o convite sobre o assento da sua poltrona e fica de frente para a janela observando o horizonte.

— Até agora o Mestre Ancião não entrou em contato… e eu consigo sentir daqui os cosmo se enfrentando, contudo, não entendo o que está acontecendo… e não vai adiantar pedir ao Aiolia para que ele interfira na batalha, ele já disse que não vai abandonar o seu posto de forma alguma… entretanto, momentos atrás tive a impressão que um dos cosmo se apagou e agora outro está prestes a sumir… e tenho certeza que eu também senti o cosmo do Shun… - Pensava Atena angustiada.

— Atena, não se preocupe, confie em seus cavaleiros. - Disse uma voz feminina familiar ressoando na cabeça de Saori, que automaticamente começou a olhar para os lados procurando de onde aquela voz estava vindo. - Eu não consigo me acostumar com isso. - Resmungou.

— É natural, já que você foi criada fora do Santuário, mas com o tempo você irá se acostumar.

— É você, Niké?

— Sim, Atena.

— Já faz algum tempo.

— De fato, por ter passado tantas eras assumindo a forma do seu báculo ou repousando como uma estátua, a minha consciência acaba entrando em um estado de dormência profunda involuntariamente. Perdoe-me por ficar ausente, mas assim que você despertar completamente minha consciência responderá a sua presença.

— Não tem problema, afinal você sempre esteve ao meu lado de uma forma ou de outra. Niké eu tenho uma dúvida. Dizem que você concede a vitória a quem lhe possuir… isso é mesmo verdade?

— Sim e não. Eu carrego o título de Deusa da Vitória pois consigo mostrar e guiar aqueles que estão sob a minha proteção para a vitória, porém, tudo dependerá da sua própria força de vontade, chegando ao ponto de conseguir realizar um milagre.

— Foi assim nas 12 casas, não é? Claramente eu podia sentir você agindo junto com os cavaleiros de bronze.

— Sim, mas foram os cavaleiros de bronze que realizaram um milagre, eu só mostrei o caminho.

— E dessa vez, teremos uma nova vitória? - Indagou Atena preocupada.

— Como eu disse antes, confie em seus cavaleiros, pois os sacrifícios deles irão garantir a vitória.

— Sacrifícios... - Repetiu Saori preocupada. - Se eu pudesse evitar… Mesmo que fosse necessário me sacrificar… assim como você sacrificou o seu próprio corpo em prol de algo maior…

— Não Saori Kido. - Interrompeu a deusa, sua voz que antes era leve e calma, deu lugar a um timbre amargurado, parecia pesar uma tonelada. - Meu corpo foi sacrificado em prol de uma estratégia de guerra, ele foi tomado de mim.

— Do que você está falando? - Questionou Saori, confusa com aquelas palavras. - Nã-não foi isso que me foi dito.

A Deusa Niké permaneceu em silêncio por alguns instantes. - Saori Kido… essa conversa é cansativa… e repetitiva…

— Como assim repetitiva… - Saori então arregalou os seus olhos ao perceber o que Niké queria dizer. - Você está dizendo que toda vez que reencarno nós temos essa conversa?

— Sim, nós já tivemos essa conversa diversas vezes. E ter essa conversa com você, mesmo que ainda não tenha despertado completamente como a deusa da guerra, é desconfortável e desgastante.

— Niké… Por favor, me conte a verdade… - Pediu Saori visivelmente abalada.

— Escute criança, a história que lhe foi contada foi drasticamente suavizada pelas gerações posteriores de Grandes Mestres, já que seria contraditório que a deusa defensora do amor e a justiça fosse tão cruel, principalmente com uma aliada. Eu não abandonei meu corpo original em prol de algo maior, eu fui forçada a isso. Ainda na era mitológica, o todo poderoso Zeus me ofertou à Atena, como forma simbólica de outorgar a ela o posto de Deusa Patrona da terra. Em seguida Zeus subiu aos céus e desapareceu, presumidamente junto aos meus irmãos e irmã. Depois das primeiras Guerras Santas, Atena julgou que seria perigoso que se por algum motivo eu ficasse fora do seu alcance, outros deuses poderiam tentar me usar. Então para me manter sempre ao seu lado ela decidiu me transformar em sua arma pessoal e a partir desse momento eu passei a conceder mais vantagens em batalha. Além do mais, roubar a arma de um deus é um tabu entre os deuses e outros seres divinos. A única forma de obter arma de outro deus é vencendo-o em combate ou ela sendo entregue voluntariamente.

Saori ficou em silêncio, mas em seu rosto era possível ver a sua desolação. A Jovem caminhou até a sua poltrona, pegou o convite dos Solos e o jogou sem muita cerimônia em cima da sua cama. Ela sentou pesadamente em sua poltrona, tentando digerir tudo que havia acabado de ouvir.

— Sin-sinto muito Niké... Eu não concordo com esse tipo de método, assim como também não concordo em usar esses jovens como cavaleiros… mas ao mesmo tempo me parece que não há outra forma… e que esses sacrifícios são necessários… E isso me faz sentir tão culpada… que chega a doer em meu coração…

— Minha criança… - Falou Niké com um tom um pouco mais suave. - Isso acontece porque ao reencarnar você adquire, mesmo que de forma involuntária, uma consciência humana, que com o tempo começa a entrar em conflito com a alma divina. E por mais que Atena seja uma deusa diplomática, nem sempre uma guerra pode ser vencida com diplomacia, em uma guerra sempre existirá sangue e brutalidade, seja contra os aliados ou contra os inimigos. E é esse pesar que sua consciência e coração humano carregam. Ele é o fardo eterno que Atena tomou para si.

Do lado de fora da Mansão Kido, Aiolia de Leão fazia vigília. Ainda assim, ele também podia sentir o confronto de cosmos que ocorria a mais de 9700 quilômetros dali.

— O cosmo de Atena está melancólico. Possivelmente ela está observando a batalha contra os Gigas. Eu gostaria de atender ao seu pedido e intervir nesta batalha, mas as ordens do Mestre Ancião são para manter o meu posto e proteger Atena, já que ela pode ser atacada por algum Gigas. E se a previsão do Mestre Ancião estiver mesmo certa, essa batalha não deve tomar proporções problemáticas e deve ser encerrada em breve, os cosmos mais agressivos já desapareceram, possivelmente dois Gigas pereceram, só falta mais um... - Pensou o leonino encostando-se em uma árvore, voltando a sua atenção à luta que estava acontecendo.

[Monte Etna, Grupo do Mei]

— Me-mei… o que você fez? - Perguntou Shun confuso enquanto era deitado cuidadosamente no chão.

— Eu tentei restaurar os pontos estelares da Spezzia usando o meu cosmo. Mas sinceramente não sei se apenas isso será o suficiente para que ela sobreviva. Não sou tão habilidoso assim. - Disse Mei agachando ao lado de Shun.

Shun finalmente respirou aliviado e relaxou o corpo. - Entendi. Mas ela foi incrível, tenho certeza que ela ficará bem. Agora você precisa se apressar… - Disse Shun se levantando e sentando. - Vá ajudar o grupo da Yuri.

— Ajudar? - Questionou Mei desacreditado. - Eu não pude fazer nada por vocês…

— Mei… não sou eu que deveria dizer esse tipo de coisa isso… qualquer outro teria mais credibilidade do que eu… mas no momento não podemos nos dar ao luxo de desanimar… precisamos proteger o selo… seja lutando ou dando suporte… não podemos deixar que esses monstros se libertem e continuem matando inocentes… - Falou Shun com seu costumeiro semblante gentil, porém Mei conseguia sentir a determinação que emanava do bronzeado.

— Shun… você realmente mudou… - Disse Mei sorrindo ao ficar de pé. - Cuide da Spezzia por mim… E até breve… meu irmão… - Finalizou o aspirante que saiu correndo em seguida.

[Monte Etna, Grupo da Yuri]

O corpo de Keyser caiu sem vida, ensanguentado todo o chão. Seu peitoral havia sido destroçado e perfurado pelo punho do Gigas. Serge furioso lançou o seu Cajado de prata contra o monstro, o cajado avançou ferozmente como uma lança prateada. Por sua vez, o Gigas estendeu o mesmo punho que havia acabado de ceifar a vida da amazona de bronze e deteve o ataque do prateado.

O punho do Gigas rechaçou com bastante facilidade o cajado de Serge o devolvendo para o prateado, que estendendo a mão facilmente o controlou. Em seguida, ao ter seu cajado em mãos, usou-o para lançar várias estocadas contra o monstro, que dessa vez foi forçado a esquivar das investidas.

Enquanto o Gigas era afastado dali por Serge, Jamian se aproximou e checou os sinais vitais de Keyser e confirmou que a amazona estava morta, o prateado olhou para Yuri e balançou a cabeça negativamente passando a triste notícia. Jamian se levantou, correu e saltou, subindo dezenas de metros no ar.

— Morra desgraçado! *Black Star!— Gritou o prateado furioso. A sua cosmo energia se elevou e depois se concentrou na ponta do seu pé, que rapidamente se transformou em uma esfera negra, em seguida o prateado desceu em parafuso na direção do Gigas.

Serge saltou para o lado, segundos antes de Jamian surgir em suas costas. Então Jamian acertou seu poderoso chute no monstro que bloqueou o ataque, porém foi empurrado para trás por alguns metros.

— Não acredito! Nenhum arranhão!? - Gritou o Corvo frustrado.

— Seus ratos insignificantes! Nunca conseguiram arranhar a minha Adamas com essa força ridícula! - Bradou o Gigas, que avançou em seguida contra Jamian. - *Punho Esmagador!

— Que velocidade! - Pensou Jamian que não teve tempo para tentar escapar, então cruzou os braços para se defender.

O impacto do punho do Gigas não só o lançou o corvo para longe, como também destroçou ambas as proteções dos seus braços.

— Não! - Gritou Serge que avançou contra o Gigas mais uma vez usando seu cajado como uma lança curta.

O monstro desviava dos ataques do prateado com imensa facilidade. Enquanto isso o cavaleiro de corvo atingiu uma base rochosa do Etna, a força do choque foi tamanha que além de trincar várias partes da armadura de prata, criou uma vasta cratera na parede, fazendo Jamian ficar preso na rocha.

— Pa-parecia que não só meus braços… ma-mas todo o meu corpo ia ser esmagado. - Falou o prateado com dificuldade e ao tentar se soltar, sangue começa a escorrer da sua cabeça e sua visão ficou meio turva. - Tsc… Ao menos parece que meus braços ainda estão no lugar… mas tenho certeza que todos os ossos estão todos trincados.

Nesse momento um vulto apareceu em sua frente e o ajudou a sair da parede. Alguém tentava falar com o prateado, mas Jamian estava confuso, não conseguia ouvir direito nem compreender o que aquela voz dizia, para ele era um som completamente distorcido. Entretanto, depois de alguns minutos ele começou a reconhecer aquela voz e a compreender o que ela dizia.

— Corvo… você está bem? Vamos, não desista!

— Yuri…

— Vamos… o cavaleiro de Boieiro precisa da sua ajuda… - Disse a aspirante apoiando o prateado em seu ombro.

— Eu sei… mas preciso de uns minutinhos… - Disse o prateado tentando se recompor.

— Mas nós não temos uns minutinhos… - Rebateu Yuri. - Concentre seu cosmo em seus braços e tente recuperar a sua força…

— Tsc… eu sei… é que… - Jamian olhou para Yuri e por mais que a aspirante estivesse tentando se manter calma e racional, mas o seu cosmo estava dizendo outra coisa. - É que o Grande Jamian precisa pensar em uma entrada triunfal… - Continuou Jamian que em seguida sorriu com a cara toda ensanguentada.

Depois de alguns minutos lutando contra o Gigas, Serge já estava bastante machucado e sua armadura bastante avariada.

— Isso é tudo que pode fazer, cão de Atena? Aquela cachorra deveria devorar os filhotes tão fracos! - Falou o Gigas caindo na gargalhada.

— Monstro desgraçado! Tome isso! *Lance Tueur!— Serge avançou contra o monstro e o seu cajado aumentou de comprimento ao ser envolvida com o cosmo do prateado.

O cavaleiro de Boieiro começou a lançar centenas de estocadas contra o Gigas que de alguma forma conseguia desviar dos ataques mesmo com aquele corpanzil e quando não conseguia usava seus punhos para bloquear a lança de Serge. Toda vez que o punho do Gigas e a lança do prateado se chocavam, milhares de faíscas voavam.

— Yuri! - Gritou Mei feliz em ver que a sua companheira de treinamento estava viva.

— Mei! Que bom que você está vivo!

— Esse sangue todo… - Perguntou ele preocupado olhando para a amiga.

— É do cavaleiro de Corvo. - Explicou ela.

— Desculpe por isso. Mei, se você está aqui… quer dizer que o seu grupo foi…

— Sim… nós também fomos atacados… mas Shun e Spezzia estão a salvo… ao menos por enquan… o que é aquilo? - Perguntou Mei espantado ao ver um vislumbre do Gigas.

— Ele disse que se chamava Ágrios, a Força Bruta. - Respondeu Yuri.

A Adamas de Ágrios era de um azul sombrio. Seu design era bastante bruto, o que dava a sensação de ser pesada. Ela tinha vários espinhos por toda a sua superfície, simbolizando claramente a natureza agressiva do Gigas. O elmo tinha dois grandes chifres e vários pequenos espinhos.

Ágrios possuía um sorriso malicioso, longos cabelos prateados e uma altura surpreendente, muito maior do que os seus irmãos, ele atingia quase três metros. Ele era extremamente veloz e possuía uma força física avassaladora.

— Ele parece ser enorme, talvez ele seja ainda maior do que os outros dois. - Comentou Mei. - Ele está agindo sozinho?

— Não sabemos. Desde que ele apareceu nós ficamos bastante ocupados. - Respondeu Jamian. - Porém os tremores pararam e se o seu grupo conseguiu vencer dois Gigas, talvez esse seja o último.

— Entendo, mas devemos ficar em alerta… Aquele alí é o cavaleiro de Boieiro, não é? - Perguntou Mei tentando acompanhar a luta.

— Sim, ele assumiu a luta no lugar do Corvo. - Respondeu Yuri.

— E onde está a amazona de Peixe-Voador?

Jamian desviou o olhar, mas era possível ver a frustração em seu rosto, Yuri então fez um sinal negativo com a cabeça como resposta.