Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 36
Capítulo XXXV - Ato de coragem


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Átila, como de costume, havia ido conferir se os membros dos times estavam treinando e se animou ao saber que haviam jogado praticamente a tarde inteira e ainda jogavam, animados, naquele início de noite.

 

O treinador estava tão focado no jogo de vôlei que sequer deu falta de dois alunos, um jogador do time de futebol e sua capitã. Os dois estavam no vestiário trocando um beijo saudoso, estava cada vez mais difícil fugirem da mira de Átila, dos funcionários e dos demais membros do time.

 

Tikara beijava os lábios de Milena com fervor e era retribuído com igual intensidade. Desde que ele chegara, não havia tido um minuto livre com ela, então, quando tiveram a oportunidade, decidiram aproveitar. A moça se afastou do beijo para falar algo e ele continuou beijando seu rosto.

 

"Tika… tenho uma boa notícia pra você!" ela falou em meio aos vários selinhos que ele roubava.

 

"Ham!" incentivou que falasse, sem soltá-la.

 

"Falei com Átila mais cedo o interescolar foi adiantado. Ou seja… em pouquíssimo tempo não vou ser mais sua capitã!" a cacheada revelou e o rapaz parou o beijo para olhá-la.

 

"Sério? Isso é muito bom, Mi! Mas muito ruim também. Eu gosto de ter você como capitã, além de fazer um ótimo trabalho, é muito mais bonita que o Cascão." ele comentou e ela riu.

 

"Para com isso, ele é seu capitão! Enfim, logo mais Átila sai do meu pé e a gente…" falou e não soube completar. E, pelo silêncio, nem ele.

 

Os dois se olharam sem saber ao certo o que viria depois. Depois daquela frase, depois do interescolar, depois de tudo. Não sabiam se iriam assumir algo, não sabiam sequer o que existia entre eles. Ao passo que Tikara não a via apenas como ficante, também não era uma namorada; já Milena, após suas decepções amorosas, não sabia ao certo se devia rotular o que tinham.

 

Diante disso, ela passou as mãos nos cabelos e ele suspirou antes de abraçá-la afetuosamente. Nenhum dos dois disse nada, e nem precisaram já que ouviram um "opa". Era Toni.

 

"Eu tenho que ir, pedi pro Nik me esperar e talvez tenha demorado. Tchau, Mi." falou beijando a testa da moça e saiu rapidamente.

 

Milena suspirou com as mãos na cintura e olhou para o loiro, que sorria.

 

"O quê? Só tem este vestiário aberto." ela respondeu.

 

"Sabia que vocês se pegavam!" o loiro comentou e a moça o encarou séria.

 

"Tá muito na cara?" perguntou e ele negou.

 

"Pro time, eu acho que não. Todo mundo pode ver o Tikara babando por você, mas eles têm tanta certeza que ele vai ser só mais um rejeitado que não percebem que você devolve as olhadas." o rapaz confessou e ela suspirou.

 

"E como você percebeu?" a morena perguntou.

 

"Eu não sou do time, então o Átila me tirou bem rápido e eu fiquei meio entediado e olhando em volta. Mas relaxa, não vou falar pra ele." respondeu e ela sorriu.

 

"Obrigada, Toni." agradeceu e ele deu de ombros.

 

"Você foi legal em sugerir o jogo, eu 'tava com saudades de jogar." o rapaz comentou.

 

Milena sorriu.

 

"Agradeça à Gabi, ela que me disse que você merecia uma segunda chance e de fato merece. E vendo vocês dois… acho que ela gosta de você." falou e Toni arregalou os olhos.

 

"Gosta de mim?" perguntou e a moça olhou maliciosa.

 

"Eu tinha dito no sentido de amizade, agora se você pensou outra coisa… não posso fazer nada, talvez shippar." ela comentou rindo e saindo em seguida enquanto o rapaz, também rindo, foi jogar água no rosto.

 

                                             *

Na área verde, Nikolas esperava Tikara ao lado de Penha, que esperava sua mãe. A fala de Timóteo ainda incomodava Penha e o namorado percebeu, mas só naquele momento decidiu comentar.

 

"Penha, desde que o Titi veio falar com a gente você 'tá meio estranha. O que aconteceu?" Nik perguntou.

 

A moça até pensou em ignorar mais, mas decidiu sincera.

 

"Titi pode ser um idiota, mas o que disse faz sentido. A gente te fez abandonar o hobby que você amava, Nikolas! Eu sei que você não esqueceu isso, e não querro que isso seja um problema pra gente." confessou.

 

O rapaz suspirou.

 

"Jogar é um hobby que eu nunca abandonei, só parei com o canal. Eu não esqueci o que aconteceu, nunca vou esquecer, mas eu segui em frente do jeito que achei melhor! Tanto que desculpei o Cebola quando ele veio falar comigo." explicou e ela o encarou.

 

"Mas… ainda sim você nunca voltou com o canal! E você gostava dele!" a moça ressaltou e ele segurou carinhosamente em seu queixo.

 

"Penha, eu realmente tive muita raiva do seu grupo por muito tempo, mas muita coisa aconteceu pra fazer com que eu deixasse isso de lado. Uma dessas coisas foi você!" falou e ela sorriu.

 

"Se eu quiser voltar com meu canal, eu volto! Eu que não quero agora. Aulas, testes, monitoria e estudos avançados me ocupam a semana toda, no fim de semana quero jogar sem ter que editar vídeo depois ou passar um tempo enchendo o saco de alguém. " falou e ela sorriu.

 

"Que alguém?" ela perguntou brincalhona.

 

"Xaveco e Tikara, é claro!"  o rapaz brincou e ela fez falsa feição de brava.

 

"Vai lá pedir pra eles te beijarrem então." falou e o namorado riu enquanto a abraçava.

 

"Você eu não encho só o saco, Penhazinha. Eu te encho de beijo também." falou beijando seu rosto e a moça riu alto.

 

"Nossa! 'Tá todo romântico e ousado, ele. Lembra quando você me disse que se me colocasse contra a parrede me deixava perdidinha? Ainda 'tá de pé essa proposta?" Penha perguntou subindo e descendo as sobrancelhas.

 

Antes que Nikolas fizesse alguma coisa, duas pessoas se aproximaram deles. Eram Xaveco e Nimbus.

 

"Olha pra eles, Nimbus. Pouquíssimo tempo de namoro e já 'tão de saliência." o loiro brincou e o outro negou com a cabeça.

 

"Safadeza… achava que você era certinho, monitor de matemática." o moreno brincou.

 

Nikolas riu.

 

"Não estamos fazendo nada, vocês que 'tão maliciando." falou.

 

"Vão ficar no IL também?" Xaveco perguntou olhando para o casal.

 

Penha forçou um riso.

 

"Eu ficarria se o Nik ficasse, mas seu amiguinho não quer ficar aqui comigo. Me trocando por vídeo game, acredita?" brincou.

 

"Acredito. Mas o mais engraçado é que ainda assim perde pra mim." o loiro disse risonho.

 

Nikolas balançou a cabeça.

 

"Aquele dia eu deixei você ganhar porque era visita." confessou e os demais riram.

 

"Vocês vão na casa um do outro?" Nimbus perguntou.

 

"Sim, nossas mães viraram amigas. Ou seja, um pode caguetar o outro, e é isso que vou fazer. Sua mãe vai adorar saber que tu vem pro IL pra ficar de saliência, senhor Nikolas ." Xaveco brincou.

 

"Cala a boca, Xavier! Aposto que você veio pro IL só pra se pegar com alguém!" Penha exclamou e ele umedeceu os lábios.

 

"Hum... 'tá até defendendo." Nimbus zombou subindo e descendo as sobrancelhas para Nikolas, que riu negando com a cabeça.

 

"Eu só vim pra sair do tédio e estudar!" Xaveco mentiu e a moça riu.

 

"Eu duvido! Ninguém sai do tédio em um internato." ela disse.

 

"Aí depende do que você faz no internato, Penha. Nossa, bateu uma fome agora… acho que vou ver se as tias da cozinha têm alguma maçã." Nimbus falou lançando um olhar para Xavier ao fim, fazendo com que ele risse.

 

Nikolas os observou.

 

"É impressão minha ou 'tá rolando alguma piada interna aqui?" perguntou apontando para os dois.

 

Xaveco negou com a cabeça.

 

"Não é nada, não. O que você ainda 'tá fazendo por aqui já que ia embora? 'Cê não mora tão pertinho assim." mudou de assunto.

 

"Esperando o Tikara. Ele 'tava com a… com uma garota e o idiota aqui topou esperar." respondeu.

 

Nimbus riu.

 

"Relaxa, eu sei que ele e Milena 'tão de rolo." revelou.

 

Nikolas olhou feio para o amigo.

 

"Xaveco! Não era pra espalhar!" repreendeu.

 

O loiro deu de ombros.

 

"Foi um deslize meu. Mas a gente pode confiar no Nimbus! Não é como se ele fosse falar pro Átila ou pro resto do time." argumentou.

 

"Podem confiar! Adoro a Mi!" Nimbus garantiu.

 

"Eu nunca converso com ela… eu deverria me aproximar da ficante do meu amigo Tikarra?" Penha perguntou.

 

"Ela é legal." Nikolas comentou e a namorada o olhou.

 

"Não sabia que vocês erram amigos." comentou e o loiro riu cutucando Nimbus.

 

"Alá! 'Tá com ciúmes!" o loiro comentou e o outro riu.

 

"Não 'tô, não. Querrido, Nik sempre fica na biblioteca igual ela. Não acha que se ele quisesse alguma coisa, já não terria ido atrás?" a moça falou despreocupada.

 

"Levando em consideração que Nik demorou meio século pra chegar em você e naquela outra pessoa..." Xaveco zombou.

 

"Não sei se vocês perceberam, mas eu ainda 'tô aqui! E muito decepcionado." o dono dos dreads lembrou fingindo decepção com a mão no peito.

 

"Tô zoando com você, bobo. Sabe que te amo, mesmo que você seja um péssimo jogador às vezes." o cacheado falou risonho, recebendo em resposta o dedo médio de Nikolas levantado em sua direção.

 

"Fica triste, não, amor. É inveja deles." Penha disse dando um beijo na bochecha do namorado.

 

No mesmo instante, Tikara apareceu.

 

"Finalmente te achei, Nikolas! E ai, Nimbus." falou e outro assentiu.

 

"Só 'tá o Nimbus aqui?" Penha perguntou.

 

Tikara olhou para ela e para Xavier.

 

"Já vi vocês dois hoje. O Nimbus não, o cara sumiu do treino quando eu cheguei. Bora, Nik." falou e Nimbus riu junto de Xavier.

 

"Tchau pra vocês. Te envio mensagem depois." Nik se despediu dos rapazes com um aceno e beijou a namorada.

 

"Assim que chegar em casa!" ela pediu e os dois morenos saíram.

 

Nimbus se espreguiçou.

 

"Vou comer alguma coisa. Vocês vêm?" perguntou.

 

Os dois negaram.

 

"Não, eu 'tô precisando de um banho. A gente se vê depois!" Xaveco falou e o mais velho sorriu antes de sair.

 

Penha se virou para o amigo.

 

"Tá trocando os meninos pelo Nimbus?" perguntou.

 

"O quê? Claro que não! Eu só 'tô expandindo meu leque." ele respondeu e ela riu.

 

"Falando em novos contatos… quem é o contatinho que te fez ficar aqui no IL, hein?" perguntou curiosa e ele desviou o olhar.

 

"Nenhum! Eu já disse que vim pra sair do tédio lá de casa!" Xaveco exclamou e ela riu.

 

"E eu não acredito nisso, Xavier! Se fosse pra sair do tédio, você provavelmente terria ido pra casa de um dos meninos e ajudado a gente na festa da minha mãe. Serria mil vezes mais divertido." Penha observou e ele riu lembrando de sua tarde perto de Nimbus.

 

"Não sei. Mas ainda ganho direito a um pedaço de bolo?" perguntou e ela assentiu.

 

"Ganha, só não espalha." ela respondeu e ele riu.

 

"O quê? Que você 'tá sendo legal ou que vou comer bolo?" perguntou e a amiga deu de ombros.

 

"Que vai comer bolo, ué. Eu sou uma pessoa legal! Tanto que namorro o mais do legal do grupo!" ela disse.

 

"Você achar o Nik o mais bonito tudo bem, agora o mais legal? Com toda certeza sou eu." brincou a fim de irritá-la, e ela riu alto.

 

"Vai sonhando! Vai tomar seu banho, 'tá fedendo." falou apertando o nariz.

 

"Quer dar um abraço no amiguinho?" Xaveco perguntou abrindo os braços e ela se afastou.

 

"Cê 'tá louco!" exclamou saindo em seguida e ele foi rindo para o dormitório.

 

                                            *

Na quadra, Gabriela guardava a rede com a ajuda de Toni, ela havia liberado todos os colegas e ficado lá para arrumar tudo.

 

"Me surpreendi com a Milena hoje. Sempre vi você e ela como chatas, mas parece que eu 'tava enganado." ele comentou enquanto tirava a última haste da rede.

 

"Só percebeu isso agora? Somos as pessoas mais legais do internato." ela disse e ele riu.

 

"Não exagera também." Toni falou.

 

"Tá, somos legais! Mas o que você falou com ela? Queria voltar pro time?" a moça perguntou.

 

"Seria legal, mas sei que não tem chance! Foi por acaso que nos falamos, eu meio que flagrei ela com… um cara." revelou.

 

"Acho bom não falar isso pra ninguém!" Gabriela alertou.

 

"Ninguém? O Átila eu até entendo, o cara é um pé no saco, mas ninguém? Isso tudo é vergonha? Aqueles dois? Que nem são tímidos?" perguntou e a loira negou jogando a rede na arquibancada.

 

"Não é por isso, ela é capitã dele. Isso dá merda com o time. É como se eu fosse sua capitã e ficasse com você, o resto do time iria achar que eu não saberia separar as coisas e por qualquer bobagem iam encher o saco." ela explicou e o rapaz assentiu enquanto colocava a haste junto da outra.

 

"Entendi. O que fez vocês virarem amigas? Por serem novatas? Problemas parecidos?" perguntou e ela riu enquanto se sentava na arquibancada, já haviam acabado de arrumar.

 

"Mais ou menos. O único problema comum que temos é o de precisar se esforçar por causa da bolsa, de resto… é muito diferente. O time de futebol em um todo gosta muito dela e meio que confiam na liderança dela; no meu caso, boa parte do time de vôlei me acha incapaz e queriam que o Felipe voltasse a ser capitão." começou e ele cruzou as pernas ao lado dela.

 

"A família dela vive fazendo comparações; a minha vive me dizendo que eu devia relaxar um pouco. Ela estuda bastante, mas sempre procura se divertir também, tanto que ela que me animou entrar pro esporte; já eu… tive que fazer um acordo com você pra tentar me divertir mais." falou rindo ao fim e ele também riu.

 

"E 'tá funcionando!" exclamou e ela assentiu.

 

"Tá funcionando! O que aproximou nós duas não foi só essa questão da bolsa, mas também ter que lidar com um grupinho filho da puta que tinha aqui no internato que além de fazer trote, enchia nosso saco de várias maneiras." completou e ele abaixou a cabeça por um instante.

 

"É… a gente pegou um pouco pesado algumas vezes." Toni comentou e ela riu.

 

"Um pouco? Às vezes? Meu filho… vocês infernizaram a vida de meio mundo aqui! Mas, pra ser justa, é muito bom ver as tentativas de mudanças." ela falou e ele assentiu.

 

"Só a minha?" perguntou e ela deu de ombros.

 

"Não tenho muito contato com o resto, mas você… Como eu posso dizer? Você teve um diferencial. Ninguém ficou do seu lado, então seria até mais difícil de ter forças pra continuar tentando melhorar. Mas você continuou, e isso é muito bom." a moça respondeu.

 

Toni sorriu enquanto colocava os cabelos para trás.

 

"É aí que você se engana, dona Gabriela." falou e ela franziu o cenho.

 

"Hã?" a loira perguntou.

 

"Eu não fiquei sozinho. Eu tinha você, fosse como Aurora, fosse como Gabi." respondeu e ela arregalou os olhos surpresa enquanto sentia suas bochechas esquentarem.

 

O loiro olhou nos olhos da cacheada.

 

"E isso me trouxe forças." concluiu e ela sorriu envergonhada, o olhar fixo de Toni às vezes era diferente.

 

"Para de falar assim! Eu só… eu só fiz o que achei certo." falou desviando o olhar enquanto brincava com um fio de cabelo.

 

Toni riu.

 

"Ainda é um pouco estranho ouvir 'coisa certa' quando falam de mim." confessou e ela riu sentindo o clima mudar.

 

"Ah, para! Você não é esse menininho completamente mau. Você me ensinou a conduzir, me incentivou a relaxar mais e até salvou uma peça de teatro que todo mundo só queria que acabasse. Você tem camadas boas!" falou e ele riu.

 

"Já você, tem camadas más. Não esqueci daquela guarda-chuvada que levei por sua culpa." lembrou e ela deu de ombros.

 

"Você não sabe correr e a culpa é minha? Você foi expulso do time, mas ainda podia jogar periodicamente com os meninos, você que moscou!" ela rebateu e os dois riram da resposta.

 

Os dois não falaram muito mais já que o zelador apareceu.

 

"Já arrumaram tudo? Tenho que fechar a quadra." ele falou.

 

Os dois levantaram.

 

"Já sim! Bora, Toni!" ela exclamou e deixaram a quadra.

 

Os dois saíram em silêncio, mas divertidos pela conversa. Assim que chegaram no refeitório, os caminhos mudariam, ela iria para seu dormitório e ele para o dele.

 

"A gente se vê depois." ela disse e ele assentiu.

 

"Não cheguei a dizer, mas… valeu. Foi legal voltar a conversar com gente do time." ele disse e ela sorriu.

 

"Quem sabe algum dia você não volta pro banco?" Gabriela disse e logo saiu.

 

Toni sorriu e foi para seu quarto.

 

                                            *

Enquanto isso, no dormitório 226B, Ramona estava deitada em sua cama ouvindo música enquanto várias lembranças da praia a rodeavam. Milena também estava no quarto e com o pensamento distante. Por mais que as duas fossem amigas, uma sequer viu a outra.

 

A porta do quarto se abriu e de lá passou Sofia, que olhou para as duas e levantou a sobrancelha.

 

"O que aconteceu com vocês?" perguntou e as duas olharam.

 

"Nada." responderam em uníssono e olharam na direção uma da outra, só naquele momento se viram.

 

A outra cruzou os braços.

 

"É mesmo? Então que caras de derrota são essas? Vamos desabafar com a tia Sofia?" falou e as duas deram um riso e decidiram falar com a colega de quarto, a animação dela era contagiante.

 

Não era a primeira vez que conversavam com Sofia, os fins de semana no internato somados às participações no grupo de música propiciavam conversas entre elas. As três se sentaram no chão e Sofia bateu em cada uma de suas coxas indicando que cada uma deitasse a cabeça ali.

 

"Quem começa?" Sofia perguntou olhando para cada uma.

 

"Começa você, Mi. Que minha situação 'tá foda!" Ramona falou desanimada.

 

Milena suspirou.

 

"Minha situação também 'tá foda, Mona. Tem a proximidade do interescolar que me deixa nervosa e minha relação com o Tikara." começou.

 

"Vamos começar pelo interescolar. O que te deixa nervosa?" Sofia perguntou.

 

A cacheada suspirou.

 

"E se a gente perder? Cascão confiou em mim pra ajudar ele a treinar os meninos! Átila e os próprios meninos do time também. Eu não quero que dê errado, sabe?" desabafou.

 

"Uou, Milena! Eu vejo você treinando os meninos e você manda muito bem! Relaxa, vai dar certo! E mesmo que não dê, você deu o seu melhor!" Sofia exclamou e a morena sorriu.

 

"Sofia tem razão! Você é ótima no que faz!" Ramona completou.

 

"Vocês são uns amores, meninas." a de cabelos maiores falou.

 

"E o lance com o Tikara?" a de cabelos castanhos perguntou.

 

"Depois do interescolar, eu vou poder ficar com ele sem medo do que o resto do time vai falar. E é aí que 'tá! Eu não sei o que fazer! Não sei se vamos assumir algo, se não vamos, se a parte legal do nosso lance é ser escondido…" Milena falou.

 

"Espera aí, você se importa com o que os idiotas do time vão falar de você com o Tikara?" Sofia perguntou.

 

"Sou co-capitã do time, lembra? Se eu fizer alguma coisa que favoreça o Tika, mesmo que ele mereça, pode parecer que 'tô fazendo isso porque fico com ele. Fora que o Átila proibiu, este ano ele 'tá pegando mesmo no pé!" a outra explicou.

 

"Mas isso é dor de cotovelo desses meninos! Só porque eles não conseguiram ficar com você. Sabemos que muitos tentaram." Sofia comentou e a morena deu de ombros.

 

"O que fez você negar todos, Mi? Nenhum era interessante?" Ramona perguntou curiosa.

 

"Até tinha, mas eu me decepcionei com o Cebola, depois com o Felipe e… não queria sofrer mais uma vez! Mas aí veio aquele amante de gel de cabelo e conseguiu quebrar minha muralha." respondeu e as outras duas sorriram.

 

"Algo me diz que você sabe o que fazer com o Tikara depois do interescolar…" Ramona comentou e Sofia riu.

 

"Concordo com ela." disse e a morena sorriu.

 

"Agora você, Ramoninha." Sofia disse e a ruiva suspirou.

 

"Milena sabe que eu saí hoje pra ver as tartarugas." começou.

 

"Sim, e você acabou nem falando como foi." a cacheada falou.

 

"Foi ótimo, mas depois de uma coisa que o Do Contra me disse… eu fiquei meio… mal." revelou.

 

"O que ele disse?" a outra perguntou.

 

Ramona suspirou.

 

"Que não trocaria nossa amizade por nada." disse e as outras fizeram caretas.

 

"É uma situação bem complicada…" Sofia comentou.

 

"Sim, eu fiquei meio triste com isso, mas não sei se deveria. A gente é amigo, mas eu…" falava até respirar fundo e soltar o ar pela boca.

 

"Eu gosto dele! Eu também amo nossa amizade, mas eu sinto que… que eu quero mais que isso! Faz um tempo que eu tenho visto ele de um jeito diferente e tento a todo custo ignorar isso, mas não dá! A cada dia que se passa, eu me sinto mais e mais livre pra ser eu mesma com ele e isso… me deixa muito bem e atraída." confessou.

 

As outras duas sorriram.

 

"Ramona, isso é lindo! Por que você não fala pra ele?" Sofia perguntou.

 

Ramona deu de ombros.

 

"Eu não sei! Acho que eu tenho medo de… de ele dizer não e nossa amizade acabar." confessou e a cacheada se sentou.

 

"Ramona, eu olho pra vocês dois juntos o tempo todo e vejo o quanto ele parece gostar de você! Sei o quanto esse medo do não é doloroso, mas… às vezes vale a pena arriscar." Milena falou.

 

Ramona encarou o teto em silêncio e pensou em momentos de antes de conhecer Do Contra e aqueles depois de conhecê-lo, eram diferentes.

 

"Eu vou pensar um pouco mais, mas obrigada por me ouvirem, meninas! Eu nunca falei essas coisas em voz alta." falou se sentando.

 

"Também agradeço por me ouvirem. É libertador!" Milena falou.

 

Sofia se levantou.

 

"Então meu trabalho aqui está acabado." comentou.

 

"Não 'tá, não. Você ouviu a gente, mas não ouvimos você. Como você 'tá, Sofia?" Milena perguntou e Ramona assentiu.

 

Sofia riu e se sentou novamente.

 

"Bem! Diferente de vocês que 'tão se apaixonando por alguém, eu venho tentando… 'me apaixonar' por mim mesma. Ficou estranho! Eu quero me conhecer, sabe? Ver o que eu gosto, o que eu não gosto… eu passei muito tempo de mal comigo mesma, e agora eu quero fazer as pazes, e pra isso, eu preciso me conhecer." respondeu.

 

"E como tem sido?" Ramona perguntou.

 

"Um desafio! É muito difícil você mudar a maneira de se ver depois de anos ouvindo e acreditando em tudo que diziam sobre você. Acho que tudo começou quando saí do grupo dos populares, foi um momento que eu me coloquei na frente. E mesmo com todos os problemas que vieram depois, eu não me arrependo disso, de ter me dado voz." falou e as duas sorriam.

 

"Uau, Sofia! Isso é forte! Denise e Jeremias devem estar orgulhosos da melhor amiga!" Milena comentou.

 

"Eles tiveram um papel importante nisso. O Jeremias me fez repensar sobre onde eu 'tava e por que eu 'tava. E a Denise é minha melhor amiga há muito tempo, ainda no grupo ela fez questão de ser minha amiga, e não só uma colega de popularidade. Mas não foram só eles, teve mais gente que me fez ver as coisas de um jeito diferente, inclusive vocês duas. Eu queria ter tomado essa atitude antes, mas é difícil a gente dar voz à coragem. Agora quando dá… as coisas mudam!" exclamou.

 

O celular dela vibrou.

 

"Meninas, tenho que ir ver uns amigos. Espero que estejam mais calmas!" falou e logo saiu.

 

"Acho que a gente devia falar com ela mais vezes!" Milena exclamou e a outra riu assentindo.

 

"Sim! Eu 'tô com uma fome… vamos comer alguma coisa?" Ramona alou e as duas saíram.

 

                                               *

No dormitório 226A, Do Contra estava deitado com o corpo na cama e a cabeça próxima do chão. Estava zangado consigo mesmo pelo que falou à Ramona, por mais que de fato amasse sua amizade, não era só isso que sentia a respeito dela.

 

"Eu sou um idiota!" exclamou negando com a cabeça.

 

Toni, que até então tomava banho, saiu do banheiro e franziu o cenho enquanto olhava para o moreno, que estava de ponta cabeça.

 

"Por que você 'tá deitado assim?" perguntou.

 

"Tô pensando na vida." Do Contra respondeu.

 

"Jogando esse tanto de sangue pra cabeça, devia pensar em outra coisa." o outro comentou secando os cabelos com a toalha.

 

Do Contra se sentou normalmente.

 

"Acredito que você já tenha se arrependido de alguma coisa que disse." falou de repente e o loiro o olhou surpreso, não conversavam muito.

 

"Você sabe que sim. Mas do que você se arrependeu? De falar sobre música? Ou de falar alguma estranheza?" perguntou e o outro negou.

 

Do Contra ponderou se falava ou não para Toni, mas queria ouvir alguma opinião e talvez o loiro poderia ajudar.

 

"Não. Eu meio que joguei alguém na friendzone sem querer." respondeu e o outro franziu o cenho.

 

"Hã? Como se joga alguém na friendzone sem querer? Se você sabe que existe uma, não foi sem querer." Toni falou.

 

"Eu dei uma resposta sem pensar direito. Deu a entender que eu não me interesso por ela, mas não é isso que acontece." Do Contra confessou.

 

Toni olhou entediado enquanto cruzava os braços.

 

"Vocês dois 'tão sempre juntos, é só falar com ela. Aposto que vocês dois têm muita intimidade pra isso." sugeriu e o moreno olhou surpreso.

 

"Pera aí, você sabe de quem eu 'tô falando?" perguntou.

 

"Da Ramona." Toni respondeu simples e o outro encarou boquiaberto.

 

"Não sabia que 'tava na cara." comentou e o loiro riu alto.

 

"Ah, para, Maurício! Todo mundo sabe disso! Se for ver, até ela. Você não é o todo corajoso que foi contra o Carlito pelo levante? O que te impede de falar pra ela o que sente?" perguntou e o moreno riu.

 

"Com o levante eu não tinha nada a perder. Agora com a Ramona… ela é muito importante na minha vida." Do Contra explicou, era a primeira vez que falava aquilo a alguém, e nunca imaginaria que seria com Toni.

 

O loiro olhou surpreso.

 

"Em outro momento, eu falaria pra você só ir atrás de outra, o IL tem muita mina bonita. Mas… dá pra ver que você gosta muito dela, então devia ouvir seu coração." recomendou sincero e o moreno olhou surpreso.

 

"Nossa, você fala coisas mais profundas do eu imaginava!" confessou e o loiro deu de ombros.

 

"Sou um cara de camadas, só não espalha por aí e vai atrás dela, Romeu." falou e o outro riu antes de levantar.

 

Do Contra já ia sair quando se virou.

 

"Sabe, Toni. Essa sua metamorfose pode até ter sido dura, mas te transformou em uma grande borboleta." comentou com um riso que fez o outro bufar.

 

"Sai daqui!" exclamou e o outro saiu rindo.

 

Toni negou com a cabeça.

 

"Borboleta… idiota!" balbuciou enquanto ria.

 

O loiro se sentou em sua cama e viu a porta se abrir, de lá passou Xaveco, que parecia animado. Assim que o cacheado viu Toni, suspirou.

 

"É mesmo. Você fica aqui aos fins de semana. Jeremias ou Do Contra 'tão aqui no internato, né?" perguntou e o outro revirou os olhos.

 

"Nossa, quanto ódio gratuito." comentou e Xaveco riu.

 

"Gratuito? Aqui mesmo nesse dormitório você me deu um soco! Sem contar das outras vezes que me enchia o saco!" lembrou.

 

Toni olhou para Xaveco e lembrou do que Do Contra disse sobre metamorfose, era perceptível que cacheado havia passado por uma fazia um tempo, e o veterano sabia que também precisava passar por mais uma.

 

"Xavier, foi mal! De verdade. Muita coisa aconteceu e me arrependo de muita coisa, inclusive de ter sido tão filho da puta com você. Sei que só um pedido de desculpas pode não adiantar de nada, mas… eu realmente sinto muito." desculpou-se sincero.

 

Xaveco não escondeu a surpresa ao ouvir as palavras de Toni. Por um momento achou que era apenas uma brincadeira de mau gosto ou bajulação, mas, ao olhá-lo bem, percebeu que não era falsidade, e também sabia que de um tempo para cá Toni estava diferente.

 

"Eu te desculpo. Mas tenho que saber... Por que você pegava tanto no meu pé? Só porque me acha fraco?" perguntou.

 

O de cabelos lisos tombou com a cabeça.

 

"Não exatamente. Eu era muito parecido com você quando era mais novo, e sofri por causa disso. Então me irritava te ver e lembrar de mim mesmo." explicou.

 

Xaveco negou com a cabeça.

 

"Isso é uma coisa séria." comentou.

 

"Relaxa, 'tô trabalhando nisso." Toni disse e o outro assentiu.

 

"Bom saber que quer melhorar. Não posso dizer que vou ser seu amigo, mas… boa sorte com essa sua mudança de vida." falou com um sorriso e se deitou com o celular em mãos.

 

Toni assentiu enquanto sentia um peso deixar suas costas.

 

                                          *

Fora do internato, o quarteto assistia a outro filme de terror quando, de repente, a televisão se apagou, assim como uma das luzes que estava acesa.

 

"Caramba! Acho que a força acabou." Mônica comentou iluminando com seu celular.

 

"Ou será uma maldição do filme?" Cebola comentou rindo para Cascão, que negou com a cabeça.

 

"Babaca." xingou.

 

Magali estralou os dedos após ter uma ideia.

 

"Gente, vamos aproveitar que não estamos fazendo nada e nos conhecer melhor!" sugeriu.

 

"Nos conhecer melhor? Mas a gente já se conhece!" Cebola falou.

 

"Ah, é? Então o que eu costumo fazer fora do IL?" perguntou.

 

Cebola deu de ombros.

 

"Aí já é coisa íntima demais, não acha?" ele comentou.

 

"Eu acho interessante! Não sabemos tanto assim sobre nossas vidas de fora do IL ou de antes de nos conhecermos." Mônica falou animada.

 

"Fechou! Quem começa?" Cascão perguntou enquanto se deitava.

 

"Pode ser você, Mô! A novata!" Magali sugeriu.

 

Mônica cruzou as pernas.

 

"Ah, fora do IL eu não tinha uma vida tão agitada assim. Muita gente me enchia por causa dos meus dentes e como eu não deixava barato, me chamavam de esquentadinha. Mas quando um ficante veio com aquele papo que vocês sabem, eu explodi mais ainda e não me arrependo. Acho que hoje em dia eu 'tô mais de boa, mas é porque ninguém vem me encher." revelou.

 

"Nem a Penha? Que vocês dividem o dormitório e já brigaram." Cascão comentou e Mônica riu.

 

"A Penha me deixou completamente em paz já faz um tempo. Eu nem falo com ela, na verdade." revelou.

 

"Lembra de quando você jogou um suco de abacaxi em mim por causa de uma treta entre vocês?" Cebola lembrou com riso.

 

"Lembro! Naquela época eu nem sonhava que me apaixonaria por um chato que nem você." ela disse risonha.

 

"Eu nunca imaginei que o Cebola era uma pessoa legal. Se Mônica não tivesse batido na tecla de você usar uma máscara, até hoje eu acharia que você era um idiota. Não que não seja, mas você entendeu." Magali falou e ele riu.

 

"Obrigado, eu acho. E também vi que a filha do diretor não era como eu imaginava. Muito pelo contrário." ele falou e ela sorriu.

 

"Tive ajuda de duas pessoas!" Magali disse olhando para Cascão e Mônica.

 

"Foi só um empurrãozinho." Cascão falou.

 

"Acho que todos nos empurramos em algum momento. Mas e você, Cascão? Como era antes do IL?" Mônica perguntou.

 

"Mais feliz. Falei disso com Magali uma vez, eu tinha uma vida bem agitada fora do internato e era bem mais divertido. Pra um cara que gosta de sair ser aprisionado no IL, que tem regra pra caramba, é foda." respondeu.

 

"Você disse uma vez que foi pro IL por causa de 'possíveis más influências'. Você chegou a… 'cê sabe… experimentar?" Mônica perguntou e o amigo negou.

 

"Não." respondeu.

 

"E nunca teve vontade?" Cebola perguntou curioso.

 

"Não, eu conheço muita gente que teve problema com isso, começar é fácil, agora parar é difícil. Mas eu ter escolhido ficar longe não impediu que achassem que eu 'tava no meio, foi outro motivo de eu ir pro internato." confessou.

 

"Sério? Mas você não fazia nada!" Magali comentou.

 

"É, mas tem os julgamentos, né? Não que não role no IL, porque eu ando com a filha do diretor e com um ex popular." falou com um riso e Mônica riu também.

 

"Cada coisa que acontece lá… mas e quando você entrou no internato? As pessoas achavam que você era vida loka?" Mônica perguntou e ele riu.

 

"Vida loka eu não sei, agora foi eu começar a jogar que fiquei famosão. Fugi até de trote!" revelou e os amigos riram.

 

"Eu lembro de quando você entrou pra revolucionar o time de futebol do IL. Confesso que te achei bonitinho, mas achava que era inacessível, mesmo você falando comigo de vez em quando." Magali confessou e ele riu.

 

"Inacessível? Por quê?" ele perguntou.

 

"Ninguém gostava de mim e sei que já te falaram pra manter distância da X9 do IL. Mas não passava pela minha cabeça que você nunca deu a mínima pra isso." Magali explicou.

 

"Esse é o problema no IL, galera segue demais o que ouve e nem tenta ver se é real. Odiava o jornal por isso." Cascão falou.

 

"Só depois de aparecer no jornal que eu vi que era pesado. Antes eu achava que era drama o povo se isolando e arrumando um milhão de coisa pra fazer, mas, cara… é ruim!" Cebola exclamou.

 

"Quando a pimenta é no seu olho, as coisas mudam. E você, Cebola? Como é sua vida fora do IL?" Magali perguntou.

 

"Chata. Meus pais são exigentes, minha irmã tem que estudar muito, mesmo tendo só sete anos, e eu tenho que ser muito perfeitinho." Respondeu.

 

"Você tem irmã?!" a de cabelos longos questionou surpresa.

 

"Tenho. Ela é um dos únicos motivos de eu ir embora aos fins de semana, porque sinceramente… lá em casa é cansativo. Mas a sua deve ser mais, Carlito é chato!" respondeu.

 

Magali riu.

 

"Ele é um diretor ruim, mas até que é um bom pai. Ser o diretor do internato trouxe mudanças, não é tão fácil assim mexer com aquilo. Minha mãe odeia o IL e meu pai quando não 'tá falando de lá, descansa um pouco. Vocês sabiam que o IL tem mais problemas do que imaginamos?" ela disse.

 

"Por que será, hein? Cascão, sai do celular! Estamos nos conhecendo melhor aqui!" Mônica disse repreendendo o amigo que lia algo em seu celular.

 

"Não, é que só agora vi uma mensagem da Milena. O interescolar foi adiantado!" exclamou com a voz surpresa, que também mostrava nervosismo.

 

"Isso é bom, vocês dois vão poder se pegar sem medo de nada." Mônica comentou subindo e descendo as sobrancelhas para Magali e Cascão.

 

"Não é bem assim. O Átila vai largar do nosso pé, mas ainda tem os inspetores." Cascão lembrou enquanto digitava.

 

"Mas se o time de futebol ganhar, eles vão puxar seu saco. Acho bom ganhar, hein? Me tiraram do time e tem dois capitães! Se perder, fica feio pra vocês." Cebola brincou levando um tapa de Mônica.

 

"Para, Cebola!" repreendeu.

 

"Sei que vocês vão dar o melhor!" Magali disse alisando as costas de Cascão.

 

O rapaz forçou um sorriso.

 

"Sim, a gente vai! Vamos fazer outra coisa além de falar da vida?" ele perguntou a fim de mudar de assunto.

 

"Sim. Vamos jogar gato mia. Mas nem precisa vendar, 'tá escuro mesmo." Cebola falou direcionando seu olhar à namorada, que sorriu.

 

Os outros dois perceberam a troca de olhares.

 

"Começa com você então." Mônica falou já levantando e saindo.

 

"Eu 'tô procurando minha gata! Cadê minha gata?" Cebola falou indo atrás dela.

 

Cascão e Magali riram.

 

"Eles acham que a gente é otário. 'Tá na cara que eles vão se pegar." ele disse e a moça assentiu.

 

"Cascão, você 'tá bem com a chegada do interescolar? Pareceu meio nervoso." ela disse e ele suspirou.

 

"Eu não sei. A Milena também 'tá nervosa com isso e eu disse pra ela ficar na paz, mas, Magá… muita gente pensa igual o Cebola! Tem dois capitães fodas, um time foda e a gente precisa ganhar!" confessou.

 

"Seria bom se vocês ganhassem, mas o legal mesmo é competir." ela disse e ele a encarou sério a fazendo rir.

 

"Tá, o legal é ganhar. Mas a emoção 'tá na competição e vocês treinam duro, mesmo se não ganharem, têm do que se orgulhar. E olha que nem 'tô falando de a Milena também ser capitã de um time de um esporte visto como masculino e nem de você ter colocado novatos ou ter aplicado as regras sem distinções." Magali disse e ele riu.

 

"Valeu, Magá! Prometo tentar fazer um gol pra você." comentou e ela riu.

 

"Vou cobrar, hein?" Falou antes de juntar seus lábios aos dele.

 

                                          X

Enquanto isso, no quarto, Cebola e Mônica também se beijavam, mas, diferente dos amigos, o beijo era mais fervoroso. Cebola subia e descia seus lábios pelo pescoço da namorada que ofegava enquanto suas mãos passeavam pelos cabelos dele.

 

Como se fosse automático, algumas peças de roupas deslizavam de seus corpos quentes enquanto as bocas ora se tocavam ora entravam em contato com a pele do outro.

 

Quando os dois se viram seminus, Mônica teve um lapso de consciência e parou. A moça olhou para o namorado e vários questionamentos surgiram em sua cabeça, tanto que a deixaram assustada.

 

"Cebola, eu sou virgem!" alertou e ele assentiu.

 

"E você… quer transar?" perguntou e a namorada suspirou.

 

"Eu… não sei. Por um lado eu quero, mas por outro… não me sinto preparada. Desculpe." revelou e ele beijou o topo de sua cabeça enquanto a abraçava.

 

"Não precisa se desculpar, Mô. Eu quero que seja uma coisa gostosa pra você. Então se você não se sente pronta, não precisa de pressa." falou e ela sorriu abertamente.

 

"Como aquele chatonildo se transformou nesse serzinho fofo?" perguntou e ele riu.

 

"Como aquela curiosa se tornou na pessoa que eu amo estar junto? É um dos mistérios do mundo." falou e ela o beijou.

 

De súbito, a porta se abriu e de lá entrou Cascão.

 

"Cascão!" exclamaram se cobrindo e ele fez gesto de silêncio.

 

"Foi mal atrapalhar, é que seus pais 'tão aqui, Mônica! Magá 'tá lá enrolando eles, dá pra gente vazar, Cebola." ele disse baixo e Mônica começou a se vestir às pressas.

 

"Vazar por quê? Eu falo que 'tava no banheiro e você… sei lá. Os pais dela parecem ser gente fina." Cebola disse sem pensar muito.

 

Os outros dois o encararam.

 

"Raciocina, Cebola! Os pais da mina foram viajar e ela chama dois caras e uma menina pra ficarem sozinhos na casa durante a noite. O que isso parece?" Cascão questionou.

 

"Que ela tem amigos." o amigo brincou.

 

"Cebola! Não é hora pra brincadeiras! Eles vão achar que ia rolar sacanagem aqui! Pulem a janela e se escondam nas plantas que têm ali na entrada. Eu vou até lá e abro o portão e vocês vão. Rápido!" ela exclamou e Cebola se vestiu às pressas.

 

                                       X

Na cozinha, Magali contava aos adultos uma história que envolvia Mônica. Quando a amiga apareceu, sentiu-se aliviada.

 

"Magá, acho que seu pai chegou. Vai lá falar pra ele que você vai dormir aqui!" Mônica inventou lançando um olhar de súplica que a amiga entendeu.

 

"Tá… não é problema, né?" Magali perguntou aos pais da amiga que negaram.

 

"Nem um pouco! Pode ir lá. Vem cá, minha filhinha!" o pai de Mônica disse animado.

 

Magali saiu com a chave do portão e olhou para onde saíram Cebola e Cascão engatinhando.

 

"Cebola, sua roupa 'tá toda ao avesso!" ela comentou.

 

"Esse é o menor dos meus problemas. Eu 'tô sem meu celular! Como vou pedir o uper?" perguntou.

 

"Eu peço do meu, agora anda logo. Falou, Magá!" Cascão disse e mandou um beijo para Magali antes de sair rapidamente.

 

Magali olhou para eles e riu antes de voltar para dentro.

 

                                           *

De volta ao internato, Ramona estava deitada na grama observando as estrelas. A moça desviou seu olhar quando um cheiro conhecido invadiu suas narinas.

 

"Oi! Posso sentar aí com você?" era Do Contra.

 

"Por que 'tá me pedindo? É claro que pode!" a ruiva exclamou e ele se juntou a ela. 

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

 

"E ai? O que achou das tartarugas?" ela perguntou e ele riu.

 

"Foi mais interessante do que eu imaginava. É muito legal que elas simplesmente sabem o que fazer." o rapaz respondeu e ela assentiu.

 

"Eu pensei a mesma coisa! Tanto que até quis ser uma tartaruguinha pra saber qual rumo eu devia tomar." comentou e ele assentiu.

 

Novamente, os dois ficaram em silêncio até o rapaz suspirar.

 

"Mona, o que eu disse mais cedo sobre não trocar nossa amizade por nada, não foi o que eu quis dizer." falou.

 

"Como assim?" ela perguntou.

 

Mais uma vez, o rapaz respirou fundo para criar coragem.

 

"Eu realmente gosto muito da nossa amizade, mas eu sinto que… que poderia ser mais que isso." revelou e ela arregalou os olhos.

 

O rapaz fixou os olhos castanhos nos verdes.

 

"Eu não sou muito bom em palavras e nem em sentimentos, mas… eu gosto de você, Ramona. Muito! Não sei se você sente o mesmo, mas eu precisava tirar isso do meu peito e…" ele falava e a moça sequer ouvia, seus olhos haviam migrado dos castanhos dele para os lábios levemente rosados que subiam e desciam.

 

Como se fosse uma tartaruguinha, que simplesmente sabia o que fazer, Ramona calou Do Contra juntando seus lábios aos dele. O rapaz, de imediato, olhou surpreso, mas não demorou para que seus olhos se fechassem e o beijo fosse retribuído. O ósculo era simples e sereno, mas, ao mesmo tempo, era como se uma explosão de sentimentos bons florescessem deixando tudo mais delicioso.

 

Quando os dois se afastaram, trocaram um sorriso e não falaram nada, ele apenas se deitou na grama e a puxou para que deitasse com ele. Diferente das outras vezes que os cabelos negros se misturavam aos ruivos, o braço do rapaz rodeou os ombros da moça, que deitou sua cabeça no ombro dele e voltaram a olhar as estrelas, com um sorriso.

 

O resto da noite  passou bem rápida, havia sido um dia cheio de emoções.


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