Acordo com o Duque escrita por NahCarstairs


Capítulo 1
Capítulo 1 - Browley




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"A nossa história, começa, caro leitor, na cidade de Londres, em 1813, a dois dias do início da temporada social. Como todos nós sabemos, esta é a época mais importante para os jovens da sociedade londrina, a época de mamães à beira de um ataque de nervos e pais exasperados com o desgoverno emocional das esposas. 

Mas, acima de todo, o início de uma nova temporada marcava também uma época de esperanças. Para as donzelas, tanto as estreantes como as veteranas, representava uma possibilidade de encontrar um par à sua altura, e de assegurar um pedido de casamento (ou vários!) até ao final da temporada. Para os jovens, representava uma época de bailes, danças e um flerte geral com todas as donzelas bonitas das famílias mais importantes de Londres.

Este ano, todos os olhares estarão voltados para Catherine Browley, a filha mais velha desta imponente e milenar família de Londres. Depois de um ano passado devastador para a jovem, com inúmeros pedidos de matrimónio recusados, será este o ano para a jovem Catherine? Os seus pais certamente parecem pensar que sim. Atrevo-me a dizer, caros leitores, que parece que um Verão dedicado aos estudos e a viajar pelo campo só fez bem à jovem, pois regressou a Londres com ainda mais beleza (e língua afiada) do que na temporada passada. Eu cá estou cheia de entusiasmo. Vocês não?"

— Ouviu, irmã? - Perguntou Anne Browley, sentada no sofá da sala de desenho. Tinha terminado de ler em voz alta o folhetim semanal que, todo final de semana, surgia às portas de toda a cidade. Assinava um cavalheiro desconhecido, como "M. Wintergarden", e toda a Londres queria saber de quem se tratava - O folhetim lhe tece bastantes elogios esta semana. É um bom presságio para esta temporada.

 

Anne ria dos escritos de Wintergarden. Considerava-os divertidos e interessantes, mesmo quando expunham os escândalos da sociedade londrina. Tinham sido a sua grande companhia durante a ausência da irmã, no Verão anterior. 

Catherine ergueu os olhos do livro que folheava, claramente entediada. 

— E? - Perguntou - Acaso a minha querida irmã julga que me importa a opinião de um cavalheiro anónimo a meu respeito? - Passou a página do livro e suspirou - Ademais, só alguém como você, Anne, estaria entusiasmada em mais uma temporada social. Sua primeira, não é verdade?

Anne fez que sim com a cabeça, com seus caracóis alourados a balancearem levemente. 

— Não posso negar, irmã. Sabe bem que espero este dia desde que me lembro. Oh, como pode não se interessar por uma temporada inteira de bailes, de danças...

— De cavalheiros a pisarem-lhe os pés...

— Bebidas refrescantes...

— Aperitivos a saber a mofo...

— Vestidos maravilhosos...

— Corpetes que lhe cortam a respiração.

 

 

Anne fez má cara. Catherine era a perita no sarcasmo, na arte subtil de não disfarçar as suas opiniões. Todos lhe louvavam a sua língua afiada, os seus comentários ácidos e sinceros, a sua leveza de espírito que a tornava uma companhia refrescante e divertida. 

— Consegue tirar a diversão em tudo, Catherine! - Queixou-se a mais nova. 

— Apenas no que não é de todo divertido para começar - Contrapôs a irmã - Ademais, Anne, há todo um mundo lá fora à espera de ser descoberto. Livros para ler, debates para ouvir...

— Opiniões não solicitadas para dar...

Catherine acotovelou-a. Sorriu.

— Bravo. Poderei eu finalmente notar que o meu sarcasmo pessoal está finalmente a dar frutos na minha irmã mais nova?

Anne ergueu-se do sofá, pousando o folhetim numa mesa em frente. 

— Decerto que não. Nem as suas opiniões me farão alguma vez duvidar dos meus sentimentos. Encontrar um marido, casar, ter filhos e uma casa para ser senhora... Oh, irmã, é tudo o que quero nesta vida. 

Catherine era bondosa o suficiente para compreender. Não entendia o desejo de alguém tão jovem se querer prender para toda a vida nas amarras do casamento e da maternidade, mas amava os seus irmãos ao ponto de lhes oferecer, pelo menos, a sua tentativa de compreensão. Tomou as mãos da irmã e sorriu-lhe. 

— Nesse caso, sugiro que confirme tudo para a noite de amanhã. O primeiro baile da temporada, apesar de absolutamente entediante, deve deleitá-la tanto como a mim me fastidia. 

Nesse momento, Lady Browley entrou na sala. Descalçou as luvas, abanando-se com o leque. Fazia um calor reconfortante para Novembro, e o dia estava de sol e profundamente abafado. 

— Mãe, veja - Chamou Anne, mal a sua encalorada progenitora se sentou. Estendeu-lhe o folhetim de Wintergarden - Veja como falam tão bem da Catherine para esta temporada. 

Enquanto a pobre Catherine é obrigada a suportar uma segunda leitura da sua extremosa mãe e da sua animada irmã, viajamos pela cidade de Londres, afim de conhecer as famílias mais influentes da temporada. 

Temos, claro, os duques de Malborough. A duquesa, viúva e profundamente amarga, toma como missão pessoal a tarefa árdua de casar o filho mais velho, um cavalheiro de profunda arrogância, cujos comentários irónicos e pouco convencionais repelariam qualquer jovem em pleno controle das suas faculdade. Fitzwilliam Mayfair, futuro duque de Malborough, tem tanta aversão à palavra casamento como um gato à menção de um banho. 

Constou aos meus ouvidos que a casa real das Astúrias também irá fazer uma aparição nesta temporada. Depois de terem casado a primogénita, a princesa Philipa, chega a vez do herdeiro ao trono, o príncipe Andrew. Qualquer donzela que o consiga agarrar terá, sem dúvida, o futuro garantido nas cortes europeias. 

É de importância referir ainda três das mais proeminentes famílias da alta sociedade. 

Em primeiro lugar, os Clarke. Uma família de péssimo gosto, mas com bastante dinheiro. Uma combinação diabólica, se me perguntam. Têm duas filhas, cada uma mais deselegante e desengraçada do que a anterior. Vestem com demasiada cor e exuberância. Tenho pena pelo seu pobre pai, controlado como uma marioneta pela esposa, Lady Clarke, e as duas éguas que tem como filhas. 

Seguidamente, os Johnson. Lord Edward Johnson, um antigo militar, mudou-se de Bath para Londres pela temporada social. Tem dois filhos já casados e uma jovem da idade de Catherine, a ser apresentada também na temporada atual. Muito amigos da família Browley. 

E por último, os Browley. Nunca ninguém os tinha reprovado ou lhes havia encontrado qualquer motivo de censura. Nem eu, em todos os meus folhetins, ainda lhes consegui encontrar qualquer defeito. Mas como qualquer situação, existe mais do que parece... E se há segredos, eu os encontrarei. 

Lord e Lady Browley casaram há vinte e um anos. De imediato, no ano seguinte, tiveram Louis, o filho mais velho, bonito, alto, com o cabelo escuro e presença forte do pai. Depois de Louis, a cada ano, os Browley anunciavam ao mundo a chegada de mais um filho. Primeiro Catherine. Em seguida Anthony e, pois último, Anne. Muito ainda hei de vos falar sobre os dois rapazes Browley, ambos profundamente honrados, homens à antiga, de educação forte e muito protectores das irmãs. Mas apenas tenho espaço nas minhas observações para vos falar sobre as duas jovens... Por enquanto. Mais para a frente contar-vos-ei mais sobre Louis e Anthony. Preparem os corações, senhoras, pois ambos ainda se encontram disponíveis e descomprometidos. 

Que vos poderei contar sobre as duas irmãs Browley? Todos em Londres as conheciam. Andavam quase sempre juntas. Catherine era a mais velha, a mais bonita. Possuía uma inteligência muito superior ao seu sexo. Rivaliza com os homens num debate aceso sobre literatura ou as questões da sociedade. Os homens eram apaixonados por ela. 

Deliciavam-se com os seus cabelos, negros como azeviche, com os seus olhos penetrantes, que os deixavam alerta, com o seu semblante misterioso de quem não dá demasiadas confianças, como convém a uma jovem casadoira. Não havia nenhum cavalheiro descomprometido que não tivesse dado já um longo olhar à beleza sem par de Cahterine Browley sem, por uma vez, a considerar como possível pretendente ao seu coração.... E à sua fortuna. 

Por fim, restava Anne. Segunda em idade, beleza e intelecto. Enquanto que Catherine era o cérebro, Anne era o coração, bondosa e gentil, mais obediente aos caprichos dos seus adorados pais. Se questionassem a todas as mamães extremosas com filhos solteiros e em idade de casar qual das duas jovens prefeririam receber nas suas famílias, todas elas eligeriam Anne. Era a sua favorita. Possuía um temperamento doce, uma beleza virginal, de sorriso meigo e olhos cor de mel. 

Já os cavalheiros pensavam de outro modo. Simpatizavam com a doçura de Anne, com o seu ar casto. Mas a sua brandura de carácter aborrecia-os. Anne bordava e tocava piano, mas era incapaz de uma opinião mais aberta, de uma discussão mais acesa. Era como qualquer outra jovem da alta sociedade, e apenas os seus caracóis alourados a distinguiam como superior.

Já Catherine era um poço de entusiasmo, uma lufada de ar fresco. Era uma Vénus, contemplada à distância, inacessível. Se o que atraía os cavalheiros era o seu semblante de princesa, o que os agarrava era a sua mente, as suas opiniões sinceras, o seu sarcasmo espirituoso e, por vezes, mordaz. Catherine criticava autores (a mim, inúmeras vezes), zombava dos escritos modernos e da poesia apaixonada dos solteiros que lha dedicavam. Era uma mulher culta nos assuntos da sociedade, sabia falar de tudo um pouco e não apenas de triviais cuscuvilhices. 

Está aberta a temporada social. Estou cheia de entusiasmo. Vocês não?


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