Sakura escolheu sorvete de baunilha.

Comia, sentada em um dos balanços da pracinha que ficava ao lado do hospital, iluminada pela luz laranja da tarde e o calor do sol que se punha começava a derreter seu sorvete. Não havia, entretanto, qualquer mínimo sinal de pressa em suas ações. Degustava do doce como se fosse uma espécie de recompensa.

Contudo, não estava sozinha.

Naruto estava especialmente falante aquela tarde, de pé no balanço ao lado do seu, indo suavemente para frente e para trás, como se ainda fosse uma criança mesmo que já fosse um jounin – com direito à uniforme e tudo, assim como a própria Sakura. Seus olhos azuis brilhavam e um sorriso largo simplesmente não saia de seus lábios desde o momento em que se encontraram. Pensar que a aquela empolgação era por sua causa fazia com que Sakura se derretesse um pouquinho, junto com o sorvete.

No dia anterior, enquanto jantavam juntos no Ichiraku após uma missão longa (que resultara em uma ida às pressas de Kakashi-sensei ao hospital devido à alergia causada pela acidental ingestão da tinta de Sai durante o combate) Naruto reuniu toda a coragem que tinha dentro de si e praticamente cuspiu a pergunta para Sakura:

“Nós poderíamos tomar um sorvete juntos, o que você acha?”

Mal sabia ele que Sakura aguardava por um convite dessa espécie já há algum tempo. De modo que a resposta já estava pronta, na ponta da língua.

“Eu adoraria”

E ali estavam.

Enquanto Sakura tomava seu sorvete, ouviu Naruto contar com certo entusiasmo sobre algumas aventuras antigas ao lado de Jiraiya. Se surpreendeu ao perceber que somente depois de tanto tempo ficara sabendo de tudo aquilo: os lugares em que ele esteve, as coisas que aprendeu, os perrengues ao lado do erro-sennin (esses eram muitos, inclusive). Estava se divertindo de verdade, como não fazia já há algum tempo.

Ficaram ali até anoitecer.

Ele se prontificou a leva-la em casa, como era de costume. Sakura não impediu.

Quando finalmente chegaram, ele se despediu e colocou as mãos na nuca. Sorria de uma maneira tão sincera e calorosa, como se aquele fosse o melhor dia de sua vida. Ao vê-lo assim, tão feliz e realizado, Sakura decidiu que tornaria aquele encontro inesquecível para Naruto – e, porque não, para ela também! Umedeceu os lábios e então corou, sentindo-se envergonhada só de pensar no que estava prestes a fazer.

Seus dedos apoiaram-se no queixo de Naruto e seus lábios colaram rapidamente em sua bochecha dentre um murmúrio de “obrigada” que o fez arregalar os olhos azuis de uma maneira débil. Ele arfou quando se separaram, como se o ar faltasse em seus pulmões. Isso a fez deixar escapar um sorrisinho meio satisfeito e meio prepotente, típico de quem sabe que está no controle da situação.

Sakura deu uma última olhada nele antes de entrar em casa.

Olhos arregalados. Braços caídos ao lado do corpo. Bochechas vermelhas. Boquiaberto.

Ela sorriu e acenou.

— Temos de fazer isso mais vezes, Naruto!

Antes que a porta se fechasse, o ouviu gritar de empolgação.