Road Trip escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
That's how I know now that you understand


Notas iniciais do capítulo

Ah, quando uma coisa leva a outra e um assunto me levou a este ship em troca de mensagens no Messenger com uma amiga. Deu no que deu, e seja o que deos quiser. amém

Escrita hoje, com a graça de deos não foi betada, nem será pois non leio o que escrevo, e como a enxaqueca ainda tá me comendo errado, não tenho certeza se segui uma linha reta no rolê, qualquer coisa, avisa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798372/chapter/1

A viagem dos três.

Deveriam, segundo Iida e Yaoyorozu, colocar um nome melhor naquela viagem, naquele grupo! Entretanto, viagem dos três foi como Shōto marcou no calendário do celular, e assim ficou. Era a road trip¹ que haviam combinado há tempos, mas sempre desmarcavam por extras na escola ou nos estágios supervisionados por pró-heroes, naquele mês das férias, entretanto, no começo das férias de verão, poderiam enfim curtir a tão sonhada liberdade —  Num prazo de 3 dias, num hotel seguro onde Iida poderia dirigir para levá-los, onde os pais de cada um deles era, curiosamente, mas não impossível, acionistas. 

Malas prontas e no carro conversível, arrumaram-se para partir. Shōto com sombreiro lhe cobrindo quase inteiro, protetor solar ao extremo, o uso deliberado era mais que incentivado por Iida, que havia lembrado de levar para todos! Momo trajava shorts jeans, sapatilha e uma camisa de algodão, onde o decote era comportado mas seus braços ficavam expostos. Fora na frente com Iida, Shōto jogou-se no banco de trás, quase deitado com ainda a mochila entre as pernas, a mochila de Momo serviu quase de travesseiro, a de Iida jazia sob seus pés enquanto esparramado confortavelmente ali. 

— Prontos? Checaram a lista do que levar? Não esqueceram nada? —  Iida era quase um check-list ambulante. Faltava sacar do bolso um bloquinho e caneta para marcar as tarefas concluídas. Momo bagunçou os fios bem cortados do amigo enquanto meneava a cabeça e dizia pra ele relaxar.

—  Yaoyorozu tem razão, relaxa. De mais a mais, se esquecermos algo, não estaremos em  outro continente, Iida. Vamos apenas atravessar a ponte para uma ilhota. Estaremos, literalmente, há poucas horas de casa. Tudo o que por ventura esquecermos, teremos lá para comprar se for preciso. —  Estava visivelmente mais relaxado, talvez fosse a blusa de estampa havaiana que havia ganhado de presente que agora usava, talvez fosse porque sabia que se afastar um pouco era saudável, era bom. 

Iida, assim como Shōto, estava de bermuda, mas as pernas de Iida destacavam-se muito mais pelo jato em suas panturrilhas, ou pelo simples fato de serem muito mais malhadas que as de Shōto. Não que alguém, ainda, houvesse reparado isso, talvez até o fim daquela pequena aventura alguém notasse. 

De fato, poucas horas de carro era o que os distanciava de casa. No caminho Yaoyorozu foi não só copiloto, como dj. A playlist havia sido montada ainda em casa: férias&diversão, disponível no Spotify. Teria sido um choque, se eles já não soubessem que Jiro e até mesmo Uraraka haviam influenciado o gosto musical clássico de Momo naqueles meses de convívio. O gosto eclético não era problema: 1- Iida não tinha preconceito musical; 2- Shōto não estava prestando a menor atenção no que o rádio ecoava, notava parcialmente só a paisagem mudar gradativamente de altos prédios para o mar, a ponte e então a ilhota recoberta com coqueiros e outras árvores altas, uma vegetação invejável. 

No hotel dividiram-se facilmente; Yaoyorozu num quarto apenas dela, no mesmo corredor, na porta à frente à esquerda. Os meninos num conjugado, aqueles onde o banheiro era a divisa entre um quarto e outro. Cada um ainda com sua privacidade. 

—  Banho e roteiro de descanso! —  Iida comentou ao terminar de colocar a mala de Momo no sofá aos pés da cama do quarto da amiga. Shōto estava recostado no batente mantendo a porta aberta, não querendo ser invasivo na privacidade do quarto da amiga. 

—  Roteiro de descanso? —  A sobrancelha arqueou instintivamente, quem fazia roteiro de descanso? Claro! Iida!! —  Não preciso de roteiro pra isso, é um banho e literalmente, descanso. Sentar naquelas cadeiras de praia que parecem muito desconfortáveis e descobrir que são boas na verdade. Manter esse chapéu na minha cabeça pra esconder meu rosto do sol, e ficar lá, apreciando as ondas de olho fechado e cara tapada. 

Momo riu, Iida gesticulou, como de praxe, refutando cada uma das palavras de Shōto, exceto a alegação de que as cadeiras eram, surpreendentemente confortáveis, isto ele manteve e afirmou! As demais? Refutadas e deixadas de lado, em partes. O banho, check, cadeiras de praia, check, caminhada a beira mar com os pés na areia, check pra desespero de Shōto, mas não para desistência naquela viagem dos três. 

Seguiu para o quarto, Iida entrou pela outra porta, havia aquelas portas duplas estilo armário, quando abertas davam acesso ao quarto alheio, e estavam. Assim puderam ainda conversar antes de resolver que Iida tomaria banho primeiro para depois sair até a recepção do hotel alugar o jeep para transporte na ilhota. Fecharam as portas duplas e Shōto sentou-se na cama ouvindo o som do chuveiro enquanto desbloqueava finalmente a tela do celular desde que havia bloqueado-o ao entrar no carro. Duas notificações: Fuyumi era a remetente de uma delas, Natsuo o outro. Desejaram boa viagem e bom descanso; ele sabia o que os irmãos queriam dizer naquele ato simples. Concordava com eles, embora o convívio com o pai estivesse melhorando absurdamente, férias ainda era algo desejado. Tirou os sapatos, espojou-se na cama, os olhos centrados no teto, o telefone guardado sob o travesseiro do lado direito daquela grande cama. Quando o som do chuveiro findou e ouviu a porta do outro lado sendo aberta, arrastou-se cama afora, abrindo a porta do banheiro pelo seu lado, ainda tendo o vislumbre embaçado de um Iida enrolado na toalha, não viu muito, não questionou também o porquê da água quente naquele verão, não lhe cabia essa informação. 

Banhou-se em água fria, ainda havia um certo receio, todo o pavor com água quente, fervente… morna. Sempre evitada. 

Saiu enrolado na toalha, uma sobre os ombros para recolher as gotas que pingavam dos cabelos recém lavados. Secou o rosto com a ponta desta, o brilho do sol invadia pela janela próxima à sua cama e sentou-se ali por alguns minutos apreciando o brilho amarelo na água tão azul. As batidas na porta trouxeram-no de volta ao momento, assim como a voz de Iida indicando que sairia para alugar o jeep, voltaria em breve para buscá-los para seguirem o itinerário do descanso. Não soube o porquê, mas os lábios crisparam-se pra cima num sorriso espontâneo. Tocou os lábios ciente do que havia acontecido, sem ainda compreender o que o havia levado a tal. Vestiu-se despojado como havia vestido para o início daquela viagem, bermuda e camisa floral ridícula, mas confortável e claramente com estampa de férias para entrar no clima. Encontrou com Momo no corredor; vestido leve e chinelos, o cabelo preso numa trança lateral despojada. 

Iida os esperava já no banco do motorista naquele jeep aberto; bermuda de sarja, sapatênis e camisa pólo, não muito diferente do habitual. Azul tão profundo quanto a cor dos cabelos do representante de turma. Shōto agora notou mais, visto que havia começado a notá-lo ao sair enrolado e embaçado do banho, não que devesse reparar, mas reparou para desencargo agora que o amigo estava devidamente vestido e nítido.

Yaoyorozu foi para o banco de trás, o jeep aberto era um risco para o vestido que trajava, no banco traseiro tinha maior segurança, partes mais fechadas para que o vestido não esvoaçasse além do aceitável. Shōto sentou-se no banco do carona ao lado de Iida. Quando ele deu partida, restou à Shōto ser cutucado por Momo para que se lembrasse de ligar o rádio. Manteve-se atento depois disso, os olhos na estrada de terra enquanto Tenya os levava para mais a beira mar naquela praia particular do hotel. 

Ao contrário do itinerário ditado por Iida, ao chegar na orla deparou-se sim com um trilha que deveriam fazer a pé, e descalços! Mas notou que era algo como uma inicialização naquele pequeno pedaço de paraíso e sossego. Deixaram os sapatos no jeep, Yaoyorozu animada fechou os olhos e respirou fundo ao enterrar os dedos na areia branquinha, Iida a acompanhou e Shōto fez o mesmo para não destoar dos amigos. Andaram em trio, lado a lado naquela trilha larga com tochas a enfeitar e clarear, mesmo com o sol ainda banhando as areias clarinhas aquecendo-os naquele verão tranquilo. 

Quando a trilha chegou ao fim, depararam-se com mesinhas de bares aqui e acolá, dispostas a manter a privacidade de quem as usasse, mas mantendo o grupo perto e unido. Cadeiras reclináveis, sombreira grande, havia drinks em coco e abacaxis, guarda chuvinhas nos canudos para adornar, Yaoyorozu serviu-se de um, um copo multicolorido em tons de laranja vermelho e amarelo, como o pôr-do-sol na praia. Shōto esperou que ela bebesse o primeiro gole, quando comentou que era docinho, resolveu embarcar em alguma das outras bebidas, pegou algo com folhinhas verdes e muito gelo, não teria erro! 

Teve, mas era detalhe a tratar depois o motivo. 

Na verdade, a bebida de todos tinha um problema, mas isso só saberiam depois. Talvez no quinto ou oitavo drink, quando Yaoyorozu começou a soluçar e Iida ao invés de intervir com alguma solução lógica, riu. 

—  Espera, espera… —  ela tocou o braço do garçom que os servia, ela estava curiosa, embora um pouquinho esquecida do que ia perguntar. —  O que é isso que estou bebendo, que estamos bebendo? —  Apontou primeiro para seu guarda-chuvinha, depois para o copo baixo de Shōto e o de Iida num abacaxi, 

—  A senhorita escolheu bem, o seu é sex on the beach; uma mistura docinha de gelo, groselha, suco de laranja e claro, bastante licor de pêssego e muita vodka. —  Ele sorriu e então olhou para o copo de Shōto —  O do senhor é um mojito, refrescante. Soda, um pouquinho de açúcar, limão, folhas de hortelã e uma dose caprichada de rum branco pra manter essa coloração translúcida. —  Sorridente ainda virou-se para ver o que Iida bebia. —  E na minha opinião, uma das melhores escolhas, sempre: Piña Colada. Suco de abacaxi, leite de coco, leite condensado e rum claro. 

Com uma mesura ele se afastou deixando novas bebidas para eles, levando os copos e abacaxi vazio. 

Levou meio segundo para que um olhasse pro outro, e para que Iida segurasse o punho de Shōto que já levava a bebida à boca sugando pelo canudo como se o garçom tivesse informado que estavam bebendo água ou suco ao invés daquelas bombas alcoólicas. 

Um olhar de pura curiosidade, a língua ainda escapou pelo canto da boca a fim de sugar o canudinho forçando assim Iida a puxar ainda mais para baixo o braço de Shōto. 

—  Hey.

—  Não ouviu o que ele acabou de falar?

—  Como se nós já não tivéssemos bebido bastante disso. 

—  Exato, já bebemos bastante! Até além do que deveríamos, que caso não sabia, seria nada. 

Okay, Iida tinha um ponto, mas quando teve o punho livre, bebeu um gole mesmo assim, afinal, tinha sede. 

—  Shōto!

—  Eu estava com sede, a Momo também bebeu mais um gole! 

Na confusão dos amigos e na distração deles, Yaoyorozu havia mesmo bebido um pouco mais daquele drink coloridinho.

—  Qual era mesmo o nome? 

—  Sex on the beach. 

Corou. Respondera tão rápido que corou com aquele som fluindo alto por seus lábios, pigarreou e, assim como os amigos, recostou-se na cadeira e bebeu um gole, esquecendo-se o que fora levantando ainda há pouco; havia álcool naquelas bebidas! 

—  O que é sex on the bitch?

—  BEACH! —  corrigiu Iida o mais rápido que pôde lembrando-se das aulas com Present Mic, inglês fluia bem para ele, tinha facilidade, Shōto não parecia tão ligado àquela matéria. Mas corrigiu-o antes que alguém ali o ouvisse, uma pronúncia errada mudava tudo! 

Pela cara confusa de Shōto, ele não havia entendido a diferença. não queria, entretanto, falar em voz alta quando havia uma moça entre eles, mesmo que Momo voltasse a se distrair com a bebida em questão. Inclinou-se para o lado, um pouco para frente, não notou que pra chamar a atenção de Shōto precisou tocar seu joelho sob a mesa. Encontrou-se mirado por aqueles olhos de coloração distinta e engoliu em seco antes de umedecer a boca e falar:

—  O nome da bebida traduzido fica, Sexo na praia. Mas você pronunciou bitch ao invés de beach. Beach é praia, bitch… digamos apenas que não é. —  Não havia notado que sua mão ainda resvalava na pele de Shōto, não notou que suas falanges haviam tensionado ao apertar o joelho dele. Poderia dizer que era culpa do álcool no organismo, era isso, apenas! Certeza que sim! 

—  Sexo na praia? —  A sobrancelha de shōto arqueou, Iida notou quando ele umedeceu os lábios, como olhou para a areia atrás de si e voltou com o lábio inferior mordido. —  Quem daria um nome desses pra bebida? 

Moveu o ombro para cima, era cada nome que às vezes ficava constrangido de pensar. Sorte que as aulas de inglês na escola não traziam esse tipo tão explícito de conteúdo. 

Quando fez isso, enfim, notou que sua mão estava suando em contato com a pele quente de Shōto, afastou-se como se tocasse brasa, o que era equivalente, visto que Shōto havia superaquecido. 

—  Desculpa —  murmurou um pedido enquanto puxava num bom gole o restante da bebida em seu abacaxi. Aquela altura o álcool parecia o menor dos seus problemas, não havia notado que fora com o auxílio do mesmo que notou certas peculiaridades em Todoroki Shōto. 

—  Acho melhor voltarmos —  Yaoyorozu levantou-se, tão logo apoiando as palmas das mãos na mesa, a vertigem por levantar rápido demais —  enquanto ainda conseguimos, e terá que ser a pé, nenhum de nós pode dirigir aquele jeep. 

Certamente uma pessoa que sabia tomar decisões! 

No caminho, Yaoyorozu entrelaçou seus braços, um com Iida, e o outro com Shōto. O percurso foi lento, mas chegaram sãos e salvos, embora não sóbrios e nem a caminhada trouxe oxigenação necessária à corrente sanguínea bombardeada por algo que não tinham costume. 

Despediram-se dela, Shōto abriu a porta e moveu o braço indicando para Iida entrar, mesmo que o colega tivesse em mãos o cartão que dava acesso ao seu quarto, por sua própria porta, e não por aquela do quarto duplo. Nem notou isso ao entrar, claro. Simplesmente entrou no quarto de Shōto, viu a cama arrumada, a mala aberta na namoradeira aos pés da cama, engoliu em seco e dirigiu-se à porta dupla que o levaria ao seu quarto. 

—  Iida… —  esperou que ele virasse para encará-lo. Fechou a porta e escorou-se nela, o pé descalço na porta, o pé do peito contra a panturrilha da outra perna. —  Não me disse o que era o significado da outra palavra. —  Havia curiosidade genuína, só não havia insistido antes porque sua mente havia, junto de seu corpo, superaquecido com a mão grande de Iida em seu joelho. O que, aliás, não deveria despertar aquele tipo de reação, não é? Estava alterado pelo tal rum, era isso. 

Ele manteve-se próximo a porta dupla, levou a destra ao colarinho da camisa pólo, puxou-o meio desconfortável, aparentemente nem o álcool no organismo o deixava livre do desconforto de dizer aquelas palavras em voz alta, mas tentaria.

—  Bitch significa… vadia. —  Houve uma pausa antes de dizer aquela palavra, uma onde seus lábios foram lambidos pela língua e mordiscado pelos dentes de modo breve, como um mantra para expelir aquela palavra pequena e tão destoante de sua personalidade. 

Shōto riu. 

—  Ah, minha frase ficou horrível então. 

O sorriso era bonito, Iida não havia visto muitos daquele; sorrisos, sabe?! Não de Shōto, ao menos. Ele não via o amigo leve assim, talvez a bebida tivesse ajudado, mas ele havia notado um toque de diferença desde que Shōto entrou naquele carro, sabia do andamento em melhora do convívio da família Todoroki. 

Aproximou-se, esquecendo que seguia para seu quarto. Shōto afastou-se da porta seguindo em sua direção, encontraram-se no meio do caminho, e sentaram-se na cama de casal como se fosse algo costumeiro. Sua mão pousou sobre a dele, um erro de cálculo, buscava a cama. Virou o rosto rápido demais, o óculos escorregou pelo nariz um pouco e Shōto o colocou no lugar, a mão fria em contato com o topo de seu nariz, e então na lateral do rosto, aferindo se a perna do óculos estava bem encaixada atrás de sua orelha. Engoliu em seco, a vista estava turva ainda pelo movimento brusco e a cabeça girava, sabia que era o álcool. 

Enquanto uma mão fria o tocava, a sua mão agarrava-se ao calor da outra mão de Shōto, sentia seus dedos entrelaçarem-se aos dele, como intrusos donos de vontade própria! O rosto inclinava-se na direção do contato daquela mão, daquele polegar a lhe tocar o queixo, e então o lábio inferior despertando um desejo absurdo de abrir os lábios e sorver aquela falange com a língua.  E o fez, comedido, mas fez. Ao umedecer os lábios lambeu o polegar de Shōto, sentiu o lado esquerdo, aquele mais próximo ao seu corpo, visto que sentados lado a lado naquela cama, esquentar um pouco mais. 

Era o álcool.

Era o álcool.

Era o álcool!

Não sabia os efeitos colaterais de beber, mas parte de si indicava que: fazer algo que não tinha a mínima vontade, não constava dentre os efeitos. Ouvia muitas histórias de que o álcool desinibia os desejos das pessoas, mas forçá-las de livre vontade a algo? Sem que outrem o induzisse? Nunca! 

Deslizou sua mão pelo braço de Shōto, o pelos arrepiados com seu contato, quando chegou à nuca, não soube o que mais fazer além de puxá-lo para um beijo. Tão quente e um tanto sem jeito, lábios prensados contra os seus e então uma língua que serpenteava a contornar seus lábios querendo passagem para sua boca, e cedeu. Gemeu meio extasiado, exasperado pelo o que fazia, embora a mente ainda girasse, talvez até mais que antes do beijo. Mas era bom, a maciez dos lábios de Shōto. Lembrou-se, como quase um filme, a vez que havia visto-o sair de toalha do vestiário, lembrou-se agora com riqueza de detalhe a forma que sua mão havia formigado, como se almejasse tocar algo, agora sabia o quê. Era o mesmo formigamento que sentia agora ao apertar os dedos contra a nuca dele sentindo os cabelos entremearem nas falanges, puxando-os um pouco ao aprofundar o beijo, ao inclinar-se sobre ele, deitando-o quase por completo naquela cama, não fosse os cotovelos dele a afirmasse para não cair. 

Afastou-se um pouco, havia passado todos os limites!

Quando quase estava longe do corpo de Shōto, ele lhe segurou pela camisa, puxando novamente até que seus lábios voltassem a se encontrar, até que seu corpo voltasse a pesar sobre o dele naquela posição um tanto torta, mas ainda confortável. 

Fechou os olhos e se permitiu. Quando os óculos voltaram a cair, Shōto o colocou de lado na cama, uma das pernas ao redor da cintura de Iida, apoiada em suas costas sempre puxando-o pra mais perto enquanto os beijos seguiam por lábios e pescoços, marcando, chupando e mordendo. 

Talvez depois não soubessem explicar como haviam chegado até ali, mas naquele momento não queriam saber como chegaram, queriam apenas continuar. 

Antes, claro, que fosse mais longe, separaram-se. O torpor do álcool os fazia agir de forma leve, embora ainda embaraçada quando Iida despediu-se, abrindo a porta dupla e indo pro seu quarto. Ele fora, novamente, o primeiro a tomar banho, entretanto, não fora rápido, e Shōto soube ao usar o banheiro depois, que o banho fora frio. Assim como o seu. Infelizmente o banho frio não foi tão efetivo em baixar sua ereção, nem a temperatura corporal, o lado de chamas parecia ter centralizado e expandido. Custou a dormir, gostava de deitar de bruços, mas era inviável na atual conjectura. Virou-se de lado então, olhando o mar pela janela do quarto, sabendo que Iida estava logo ao lado. 

 

Quando o sol raiou, Iida se pôs de pé, banhou-se rápido e se vestiu para correr na praia. Shōto tomou café com Yaoyorozu, ela notou o pescoço marcado, mas nada comentou. Entretanto, ao ver Iida voltar da praia molhado por um mergulho ou vários, notou no pescoço do outro amigo marcas semelhantes. 

—  Shōto você por acaso viu meus…

—  Estão no móvel de cabeceira do lado esquerdo da cama. 

Sentada ali, o mar em sua plenitude frente ao local que haviam escolhido para o desjejum, precisou só somar dois mais dois, e muitos drinks para chegar ao resultado daquela equação. Sempre desconfiou que Shōto fosse gay, mas nunca pensou que Iida… bem. Se parasse bem pra pensar notaria que os olhares de Iida para Shōto às vezes eram mais demorados, mas… e também tinha as vezes que eles pareciam estar perto demais, ombros colados, ou quando trocavam informações sobre matérias, o modo como Shōto se inclinava na mesa para conversar com Iida, a forma que Iida sempre lambia os lábios quando olhava pros lábios de Shōto. 

Ah!

—  Vai sentar com a gente pra um café? —  Perguntou sorrindo meio buscando afastar da mente o que eles haviam feito com ajuda do álcool. A ponto de perder o óculos!!! 

—  Não, Momo, obrigado. Vou tomar um banho antes, tirar a areia do mar da pele. 

A camisa estava sobre os ombros, o tênis na mão, pés descalços e bermuda de corrida. Sem óculos e descabelado, suado… Iida era uma tentação aos olhos e Shōto não sabia como não olhar. Havia flashes de lábios naquela pele, daqueles lábios em sua pele, do peso do corpo de Iida sobre o seu. Flashes vívidos demais para conseguir ignorar sem que isso aflorasse algo dentro de suas calças, sorte que havia uma mesa para impedir que a situação ficasse constrangedora. 

—  Sabe. eu honestamente acho que ele vai precisar de ajuda pra achar o óculos. 

—  Momo!

— Oras, como ele vai enxergá-los numa mesinha? Os óculos do Tenya são discretos, armação simples e fina. 

Ele havia entendido, ela estava dando a ele uma deixa de sair dali para, quem sabe conversar? Descobrir o que aconteceu entre eles? por os pingos nos is? Tantas opções, mas permaneceu, precisava esfriar o corpo e o sangue, precisava que uma parte voltasse ao normal. 

Voltou ao suco que bebia, dessa vez lembraram de perguntar se continha álcool antes; não continha. 

Pelo resto da manhã, não encontrou Iida. Tampouco Yaoyorozu lhe fez companhia. Deixado com um livro, um sombreiro e uma cadeira de praia, fora assim que passou o resto da manhã.

Já Yaoyorozu passou tentando pescar algo com Iida, não literalmente. Buscava dar atenção ao amigo para que falasse algo, que indicasse algo. Notou que ele havia recuperado o óculos, mas só. A camisa pólo escondia melhor as marcas no pescoço, mas ele estava inquieto. 

—  Shōto falou algo? —  questionou enquanto, juntos, almoçavam na ausência do futuro heroi meio-a-meio. 

—  Sobre?

—  Nada. 

—  Sabe, não tem nada de errado em ter curiosidade, em experimentar. —  Precisou de muita coragem para dizer aquilo para Iida. Ele a olhou por sobre o óculos que havia descido um pouco pelo nariz, mais perto de cair que nunca. 

—  Momo…?

—  Só comentando, todos passamos por isso, acho. Eu… eu… Jiro e eu… O que eu quero dizer é que eu entendo, agora, como você olhava pro Shōto, nunca tinha notado até… notar. E acho que foi assim com vocês também, pelas marcas que dá pra ver no pescoço de cada um. 

Iida não focou no fato da amiga ter revelado que havia feito algo parecido com Jiro, notou apenas o fato de que ela não o estava julgando, apenas conversando com ele abertamente, como bons e velhos amigos faziam, porque era isso. Eram amigos. 

Toda a tarde fora com eles conversando, Yaoyorozu deu a Iida o pontapé de coragem, conheciam Shōto, não daria para esperar dele a iniciativa para descobrir o que fora aquilo, e se repetiria ou deixariam panos quentes sobre o assunto. Quando Iida foi ao encontro dele na praia ao fim da tarde, encontrou-o dormindo, o livro sobre o peito que subia e descia tranquilo, o chapéu sobre parte do rosto, uma perna esticada naquela cadeira, a outra dobrada, pés descalços e camisa um tanto aberta e puxada para o lado, expondo pouco da cintura, suficiente para que Iida puxasse a camisa para tapá-lo melhor antes de se sentar na cadeira ao lado, não mirando o céu e o mar, mas Shōto. 

—  Shōto… —  chamou-o tocando-o no braço, viu-o se remexer, a mão alcançando o livro antes de se sentar melhor, os pés acomodados na areia fofa, virado para Iida. —  Comeu alguma coisa hoje? 

Os olhos demoraram a lhe encarar, mas esperava por isso, embora ansioso por se ver naquelas íris de tons distintos. À luz do sol notou tudo o que já havia notado, que os cílios de Shōto eram compridos, que seus lábios eram macios e que a língua sempre os banhava antes que ele falasse algo depois de certo tempo em silêncio. Notou como ele movia os dedos das mãos, sempre em dúvida sobre o que fazer. Conhecia-o, e só agora via o quanto o conhecia. O quanto observava Todoroki Shōto, e muito mais que aos outros, porque era bom observador, mas não sabia metade dos outros que sabia dele. Precisou álcool para isso? Para vê-lo não, para aceitar que o via há tempos, sim. 

—  Almocei aqui, e terminei o livro —  levantou-o, o marca-página disposto sobre a capa, sem uso no momento. 

Não sabiam como tocar no assunto, permaneceram ali, sentados até que o sol os deixasse. Era o segundo dia e do itinerário fizeram apenas a caminhada, mas Iida não cobraria isso de ninguém, nem mesmo ele tinha cabeça pra mais. Quando voltou ao quarto com Shōto entrou por sua porta antes de cometer a mesma loucura da noite passada. Fechou-a às pressas e recostou-se na porta. 

Precisava de um banho pra esfriar a cabeça, e tão ocupado estava com os pensamentos caóticos que não notou que já havia alguém nu no box. Demorou mais do que o normal para notar. Estava já sem camisa e com a bermuda aberta quando o viu. As costas nuas, cabelos molhados. O corpo moldado por treinos e boa genética. Balbuciou algo, o som do chuveiro nem o deixou notar que a porta fora aberta e se culpou por não ter notado que o chuveiro estava aberto antes, teria se poupado daquela visão tentadora e que ele não conseguiria esquecer; e piorou! Porque Shōto virou-se passando a mão nos cabelos jogando-os pra trás, abrindo os olhos e soltando um som de pura surpresa. A mão desceu para tapar o membro, o que atiçou a vista de Iida em seguir o movimento. Logo olhando pra cima quase na velocidade de sua quirk. 

—  Shōto… eu… desculpa, não ouvi que estava no chuveiro, volto mais tarde. Quando sair. Se quiser. Quer dizer, sai por favor. Não, não agora, pode tomar seu banho — embolou-se, virou às pressas, esqueceu a blusa sobre a pia e todo o resto, bateu a porta com força e respirou pesado quando se escorou nela. As mãos foram à testa e tiraram logo o óculos para esfregar o cano do nariz com os dedos enquanto deixava o ar sair pelos lábios entreabertos. Merda, não ia conseguir esquecer aquela cena, nem tão cedo, nem nunca! 

Maldito quarto conjugado, maldito banheiro compartilhado, maldita porta do banheiro que tornou a ser aberta, agora por Shōto que sai dali só de toalha e nada mais, molhado e tentador. Iida precisou colocar os óculos para ter certeza de que estava vendo e não imaginando. 

—  Shōto…

Não. Sem palavras, não que ele não quisesse tentar usá-las, mas ambos ali eram falhos naquele ramo, talvez por isso Shōto tenha calado-o com um beijo. Talvez por isso Iida tenha envolvido a cintura de Shōto com ambos os braços, puxando-o pra mais perto enquanto sua língua enroscava-se a dele, enquanto o corpo molhado de Shōto parecia chiar e esquentar. 

Afastou-se para ter certeza, estava vaporizando, e não soube como não abrir um semi-sorriso com aquilo. Mas voltou a puxá-lo num beijo afoito, era necessário fazer aquilo enquanto ambos sóbrios para descobrir se o que sentiram na noite passada era algo real ou criado por álcool. 

Spoiler: era real. Tão real que fazia o corpo esquentar e certas partes do corpo endurecer, crescer, ganhar destaque nas vestes ou sob toalhas felpudas e branquinhas. 

Claro que estava “fácil” pros dois ali: Iida estava de bermuda aberta e sem camisa, literalmente! Shōto só de toalha, uma esfregada a mais de pélvis contra pélvis e a coitada fora a primeira a debandar, caindo pelas pernas de Shōto, voltando a atrair a atenção de Iida para o membro teso entre eles. 

Shōto parecia tão leve, tão livre de qualquer amarra quando tocou sua mão e levou até o meio de suas pernas, o modo como mordeu firme o lábio inferior e gemeu ao se esfregar mais contra sua palma. Parecia tão diferente naquelas mini-férias de fim de semana prolongado naquele verão; talvez fosse o ar da praia, ou a certeza de que enfim entendiam o porquê se olhavam tanto antes e sempre tentavam se aproximar, o corpo já falava antes, eles só não eram bons naquele dialeto, ainda. 

O falo contra seu punho, sua palma no comprimento enquanto os dedos chegavam aos testículos de Shōto naquela apalpada não prevista, mas não recusada, claramente. Moveu a mão, a pele quente e carne tenra era tentadora, o som que Shōto deixava escapar por entre os lábios naqueles beijos afoitos também, mas Iida tinha a curiosidade de vê-lo, então afastou o rosto do dele enquanto o tocava daquela forma de novo. Shōto era tão bonito, as maçãs do rosto quase no tom avermelhado de sua cicatriz, esta que Iida nunca evitou olhar, não via nada em Shōto que indicasse vergonha, conhecia a história por trás daquela marca em rosto, por trás do receio do amigo por banhos quentes e sua preferência por soba frio. 

Talvez por conhecê-lo assim queria novas facetas, queria aquela face avermelhada e lábio mordido enquanto Shōto também usava suas mãos em seu corpo, enquanto infiltrava a destra na sua bermuda e boxer, enquanto afastava o prepúcio e brincava com o polegar contra a fenda da glande. Era bom vê-lo assim, era bom se sentir livre para experimentar, como Momo havia comentado antes. Embora tivesse quase certeza que, quanto mais experimentasse com Shōto, mais iria querer. Mas isso era coisa a se pensar depois, por ora bastava que aqueles toques fossem trocados, bastava que seus lábios voltassem a beijar os dele de forma quente, abrasiva. Assim como os toques que se intensificavam, assim como agora sua bermuda e cueca estivessem sendo chutadas para longe das pernas, seu corpo sobre o dele na sua cama. 

Haviam progredido rápido, mas nenhum dos dois parecia querer parar, não quando Shōto inverteu, ficando por sobre o quadril de Iida, sua pélvis contra a dele num rebolar sensual, numa fricção que trazia arrepios. 

Chegaram ao ápice assim, mãos em pênis, pênis contra pênis numa masturbação dupla em meio à fricção frenética dos corpos que buscavam alívio no orgasmo.

—  Ainda pretende tomar um banho sozinho, ou posso ir também? —  Shōto questionou pressionando seus lábios no pescoço marcado de Iida, um selo breve e descontraído, tirando do mais alto uma risada inesperada. 

Quando Iida levantou e lhe estendeu a mão, aceitou de bom grado, aproveitando um banho frio, não que agora fosse tão necessário, com os ânimos estabelecidos, mas Iida sabia que banho quente não era a praia de Shōto e não o forçaria nisso. 

Ainda tinham que conversar, saber aonde mais as mãos poderia chegar, ou o que mais cada parte do corpo podia fazer, ou investir no outro. Não trataria disso, no caso, na mesa de jantar com Yaoyorozu, apesar da cara dela destacar que ela fazia breve ideia do que haviam aprontado naquele fim de tarde antes do jantar. 

Ainda teriam mais um dia naquela ilhota, ainda teriam uma noite à sós naquele quarto conjugado onde sentaram na cama de Shōto e, de fato, conversaram, mas não só isso. Não quando agora as mãos conheciam os caminhos no corpo alheio, e quando o sangue jovial era sempre mais fácil de atiçar com beijos e memórias  frescas. Não quando enfim podiam saciar o desejo reprimido que tinham guardado. 

Quando partiram, na outra manhã, curtido enfim a praia juntos com direitos à fotos tiradas com o celular de Shōto que enfim havia saído debaixo do travesseiro, com memórias registradas e marcas de sol, mesmo com todo protetor solar insistido por Iida, quando partiram daquela ilhota no começo da manhã do quarto dia daquelas férias de verão, Yaoyorozu voltou no banco traseiro, enquanto via vez ou outra as mãos dos amigos no câmbio numa troca breve de carinho e intimidade.

O que acontecia no verão, não precisava ficar só no verão, mas com certeza não seria pela boca de Yaoyorozu que os amigos saberiam da novidade. E por enquanto, não havia o que saber, não enquanto eles não soubessem também se aquilo poderia ter futuro, mesmo que soubessem que não era só curiosidade que os guiava enquanto os dedos entrelaçavam e olhares eram trocados com ternura. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Road trip é, literalmente, viagem de carro.