Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 7
Here Comes The Sun.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite gente. Tudo na paz? Então noticias para a falta de capítulos na semana que se passou está nessa Thred aqui do twitter, onde deixarei o link e se você quiser é só clicar nele pra ler tudo.

O LINK AQUI:

https://twitter.com/LeidiDeuta/status/1353504046976532481?s=20



Se você não lê as notas e não clicar no link, não venha me xingar aqui e me perguntar o que aconteceu, porque falar me esgota. Se mesmo assim me perguntar, vou tacar um link (com muito carinho e amor) na cara de vocês na hora que for te responder.

Comentários eu responderei no seguimento da semana e você vai saber porque se clicar no link!!!!

Música para esse capitulo: The Beatles - Here Comes The Sun

Dito isso...

Me segue no twitter que jogo qualquer informação lá. @LeidiDeuta

~Boa leitura



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Residência Pamdin - 17h:54min – Galateia Pov.  

Soltei o rolo sujo de tinta dentro do recipiente e Cassandra sorriu parando ao meu lado, olhando orgulhosa para a parede que havíamos acabado de pintar de verde. Sorri pelo trabalho bem feito e olhei para o lado vendo que Jason retirava os jornais manchados do chão.  

— E aí? O que você achou? — Cassandra perguntou divertida e sorri.  

— Está muito bonito. — Elogiei e ela sorriu carinhosa.  

— Jason vai instalar o seu ventilador. – Avisou e se virou para o marido que estava com um bolo de jornal velho nas mãos. — Não vai?  

— Mas é claro que eu vou. Por que vocês não vão comer alguma coisa enquanto eu faço isso. Não sou nenhum eletricista, então capaz de demorar. – Falou sem jeito e Cassandra passou o braço por meu ombro.  

— Eu achei uma ideia fantástica. Vamos lá? – Perguntou animada e lhe segui para fora do quarto. – Tem algo de comer que você goste muito?  

— Eu gosto de cereja.  

— Sério? Isso é muito bom, porque eu sou especialista em fazer bolos e tortas. Posso muito bem fazer de cereja. O que me diz? Quer me ajudar? — Propôs entrando na cozinha e lhe olhei animada. Isso é sério?  

— Quero sim.  

— Então faremos um bolo muito bonito. VICENT, VEM AQUI. – Gritou abrindo a geladeira e dei um pulo por ela gritar do nada.  

— Quem morreu? – O menino colocou a cabeça para dentro da cozinha e Cassandra se virou para ele com um sorriso.  

— Galateia gosta de cereja. – Avisou e ele franziu o cenho. – Aqui em casa não tem nenhuma, então você vai lá no mercado como um bom primo e vai comprar o máximo que conseguir trazer. — Falou animada e ele assentiu.  

— Sim senhora. Você quer ir junto, Galateia? O mercado é logo virando a esquina. Bom que você conhece o bairro. – Convidou e olhei para minha tia que assentiu várias vezes empolgada.  

— Vá com ele sim, você vai gostar. Aqui é muito tranquilo. — Incentivou e fui em direção ao menino um pouco receosa. Eu não tenho muito costume de sair de casa, porque na casa da minha mãe, era só pedir os empregados que eles conseguiam as coisas, fora que Liane preferia passar tempo comigo brincando ou assistindo filme, nunca saindo de casa.  

— Você vai gostar do bairro, é bem calmo e tem praticamente tudo. – Vicent falou saindo na frente e foi até o meu quarto, falando algo com seu pai até voltar com um sorriso e um cartão na mão.  

— Me traz jujuba. – Tio falou aparecendo na porta do quarto e sorriu ao me ver. – Seu ventilador está quase no lugar, só falta eu tirar da caixa. – Usou um tom divertido e acabei rindo. Isso significa que ele nem começou ainda.  

— Cuidado pra não levar um choque que nem semana passada. – Vicent alertou e lhe segui para porta da casa para a rua, onde já estava bem escuro devido ao horário.  

— Eu não vou levar choque. - Garantiu alto e calcei minha sapatilha que havia deixado na entrada da casa. Na casa da tia não é como na da minha mãe, aqui ninguém fica calçado do lado de dentro.  

— Viu, eu disse que minha mãe ia ser um doce com você. — Vicent falou quando me endireitei e sorriu. - Já falou pra ela que gosta de chocolate? Ela vai te comprar todos da loja. - Continuou em um tom divertido e lhe olhei confusa. Se for para analisar o dia de hoje, ela realmente fez de tudo por mim, os móveis do meu quarto estão todos na varanda esperando o quarto ficar pronto e o tio disse que monta todos eles ainda essa noite. Eles parecem estar muito animados com a minha presença, o que é algo que até hoje eu só tinha sentido vir da Lily.  

— Eu ainda não disse. - Falei baixo e ele sorriu seguindo na calçada da rua.  

— Não se acanhe em contar, ela vai ficar feliz em saber disso. Estou dizendo isso porque ela já te adora.  

— Tudo bem, direi a ela. - Murmurei e seguindo ao seu lado, olhando em todas as direções na intenção de conhecer o lugar onde morarei de agora em diante. 

XxX 

Depois que a moça do caixa me disse o valor da compra, eu passei na máquina o cartão que o Vicent me entregou, observando em curiosidade o rapaz que colocava as coisas dentro da sacola. Eu nem sabia que faziam isso em um mercado, lá em casa tudo chegava em caixa e quando eu morava com meu pai, estava sempre brincando quando ele saía pra fazer compra. Por que as próprias pessoas não embalam as suas coisas? 

— Meu Deus, meu Deus! Deixa eu me esconder atrás de você. – Vicent pediu correndo em minha direção e puxando o tecido do meu vestido ao se esconder atrás do meu corpo. – Pelo amor de tudo que é mais sagrado. — Falou e olhei para os lados assustada por ele ter surgido do nada.  

— Do que você está se escondendo? – Perguntei preocupada e seu braço se esticou sobre meu ombro, mostrando a menina na cadeira de rodas, que lia as informações de um saquinho de salgadinhos, ao lado de outra garota que mascava chiclete entediada.  

— É a Sam! Eu tenho um verdadeiro precipício por essa garota, mas toda vez que chego perto dela pareço um retardado. – Contou e franzi o cenho em direção as meninas.  

— Qual delas é a Sam?  

— A que está na cadeira. Ela é da minha sala. – Choramingou e lhe olhei confusa, voltando a atenção para menina de cabelo castanho escuro longo, com uma franja reta na testa e que usava uma jardineira. 

— Por que só não vai lá e fala com ela? - Perguntei lhe olhando. 

— O quê? Você está louca? Eu sou um mero mortal pra essa menina. Ela fez uma apresentação de piano na escola que pelo amor! Eu jurava que tinha uma auréola sobre sua cabeça. – Contou fascinado e olhei outra vez para menina que pegava mais cinco pacotes do salgado os colocando no colo. – Já sei! Você pode ir lá falar com elas. – Propôs e arregalei os olhos.  

— O quê? Eu não! Eu nem conheço elas e não sou muito sociável também. Vou parecer uma louca.  

— Que isso! Você vai se dar bem. A Sam é extremamente adorável e carinhosa. – Contou.  

— Então por que você não vai?  

— Por que eu não sei como reagir? Pelo amor de Deus! Eu gosto dela, fico todo tremido e com o corpo estranho. — Contou e franzi o cenho. O quê?  

— Isso significa que você gosta dela? – Perguntei confusa e ele me olhou em descrença.  

— Sim? Eu acho que sim? Vamos lá, esquece isso e vai lá. – Me empurrou de leve e firmei os pés no chão no mesmo instante. – Garota? Você criou raiz aqui? Porra, você nem se mexe. – Tentou me empurrar de novo e acabei rindo por ele ser tão fraco. – Meu Deus? É um poste agora? Como você faz isso? Tá colada aqui? – Reclamou ainda tentando me puxar e ergui um pé mostrando que não. – Não acredito nisso! Como que é possível? – Perguntou perplexo e olhei para suas costas quando a menina de quem ele falava veio em nossa direção em sua cadeira de rodas e com a menina que lhe acompanhava, que se parecia muito com ela, a única diferença era seu cabelo meio cacheado. 

— Vicent? – Chamou e ele arregalou os olhos se afastando de mim em um salto, ficando vermelho feito um tomate.  

— Sam! Oi Sam, oi. — Falou sem jeito e ela sorriu de leve.  

— O que você estava fazendo? — Perguntou confusa e ele se encolheu me olhando em pânico.  

— Ele estava tentando me tirar do lugar. – Comecei e a menina ergueu uma sobrancelha. — Eu pratico artes marciais e ele achou que seria fácil me empurrar contra a minha vontade. – Expliquei o olhando de canto de olho e ele sorriu.  

— É! Olha só pra isso. — Tentou me puxar pelo braço e mantive meus pés firmes no chão, o impedindo de me puxar. — Ela parece que criou raiz aqui, tá doido. – Falou divertido e a menina me olhou curiosa.  

— E quem é ela? – Questionou e foi minha vez de me encolher ao perceber que as duas me olhavam em curiosidade.  

— Oh, essa é minha prima, Ninfa. — Falou animado e lhe olhei totalmente confusa. Ele me chamou de quê?  

— Ninfa? – A outra garota perguntou e ele riu.  

— O nome dela é Galateia, da mitologia da ninfa. — Contou e lhe olhei incrédula. Eu não acredito que ele está me chamando de ninfa.  

— Que nome lindo o seu. – A outra menina falou e lhe olhei confusa. – O meu é Saraiva, mas nunca me chame desse jeito, só Sara. – Pediu e assenti.  

— O meu é Samantha! Mas por favor, só Sam. A família da minha mãe gosta da letra S. – Contou divertida. – Todo mundo da minha família tem o nome que começa com essa letra. Meu tio é Sérgio e minha mãe é Sônia! Minha tia é Samira, e nossas três primas e um primo são Selena, Solange, Sophia e Samuel. — Contou e pisquei algumas vezes pelos nomes. Como é possível uma família toda só usar uma letra de inicial?  

— Com isso concluímos que só nossa mãe que não sabe escolher nomes. — A garota que disse para ser chamada de Sara falou divertida e cruzou os braços, olhando para o Vicent, que até agora sorria para Sam, que ainda não tinha notado isso.  

— A da ninfa também não. — Falou tentando chamar a atenção de Sam e lhe olhei incrédula pela terceira vez seguida.  

— Não foi minha mãe que escolheu! Foi o meu pai. E não me chame de Ninfa. — Alertei levemente irritada. Como ousa dizer que o nome que meu pai me deu com tanto carinho foi escolhido pela minha mãe?  

— Não foi? Eu jurava que era ela. Tia Scarlet é do tipo que faria isso com uma criança. – Riu divertido e se encolheu por eu lhe olhar com seriedade, assim como Sam.  

— Você está sendo um pouco babaca. – Ela alertou e ele arregalou os olhos. – Ela obviamente está desconfortável com a situação. — Alertou e sorri em sua direção por sua sensatez. — Seu nome é muito bonito, eu gostei e provavelmente nunca vou esquecer, mas devo concordar que te chamar de Ninfa parece ser algo muito legal também. É como se estivesse te dando o papel do que originou o seu nome, entende? – Perguntou e assenti compreendendo. – Eu sei muito bem como é desconfortável quando alguém zoa algo sobre você. – Apontou para as próprias pernas e olhei para Vicent por ele estar a ponto de ter uma síncope.  

— Eu não estava zoando ela, foi brincadeira. – Se defendeu.  

— Sei bem, assim como as pessoas da escola “brincam” de fazer bullying comigo. Achei que você fosse diferente deles. — Falou com certa decepção e ele engoliu em seco. O que eu estou fazendo no meio disso tudo? Eu nem conhecia essas pessoas até hoje cedo e do nada é como se estivesse envolvida em uma coisa que não deveria. — Existe uma grande diferença entre fazer uma brincadeira e a pessoa rir com você porque foi realmente divertido e, você fazer uma brincadeira que ninguém achou graça, o que prova que foi algo que deixou o seu alvo desconfortável. – Continuo.  

— Não é engraçado se ninguém está rindo. – Sara completou e Vicent se encolheu no lugar.  

— Certo, me desculpe por isso Galateia. — Pediu e olhou para Sam sem jeito. – Me desculpe também, eu normalmente não faço esse tipo de brincadeira. Eu só estou um pouco nervoso, então saio falando tudo que me vem a cabeça, sinto muito. Não vou mais brincar desse jeito. — Encolheu os ombros e Sam sorriu carinhosa.  

— O que eu gosto em você é isso, Vicent. — Falou e ele arregalou os olhos levemente. – Se faz algo errado e alguém te alerta sobre, você pede desculpa e não faz de novo. É fofinho. — Voltou a sorrir e franzi as sobrancelhas pelo rosto dele começar a ficar rosa e ir se tornando vermelho aos poucos enquanto ele mantinha os lábios juntos em uma linha.  

— Eu preciso ir pra casa. – Falou quase dando um salto no lugar e colocou as mãos em meus ombros. – Mãe vai fazer bolo pra Galateia, eu vou jogar videogame e depois a gente vai comer. – Contou em afobação e me empurrou levemente, o que dessa vez deixei com que fizesse. — Galateia agora mora lá em casa. Se você gostou dela... Pode visitar quando quiser. – Sorriu animado e peguei as sacolas do que já havia pagado antes do Vicent vir correndo em minha direção  

— Tá legal, a gente se fala na escola. – Falou divertida.  

— CLARO! Quer dizer, tudo bem. — Me empurrou para fora do mercado e praticamente se pendurou em minhas costas. – Caralho, minhas pernas estão molengas, me carrega. – Pediu e sacudi os ombros o fazendo se soltar de mim.  

— Anda sozinho. - Resmunguei e ele riu ficando ao meu lado. 

— Obrigado. – Falou depois de um tempo em silêncio e lhe olhei sem entender. – Eu não fui do mais receptivo com você, mas graças a você eu consegui falar com a menina que eu gosto. – Explicou e assenti continuando a caminhar ao seu lado. – Quando chegarmos em casa você quer que eu ajude você e a mãe fazer bolo? - Perguntou e me encolhi. - Eu sei que ela é animada demais e talvez você não esteja acostumada com isso, mas rapidinho se acostuma. 

— Eu não acho estranho. – Confessei. – Ela me lembra um pouco o meu pai. Gosto dela. — Contei e ele voltou a sorrir.  

— Certo, então irei ajudar vocês no bolo.  

XxX  

Olhei os móveis todos no lugar certo depois que saí do banho e comecei a vestir meu uniforme da escola, colocando o suéter preto de algodão por cima da camisa social, já que estávamos no inverno e hoje é o dia de troca. Ajeitei a saia xadrez em vermelho e olhei para a porta do quarto ao ouvir uma batida nela. Arrumei a gravata por debaixo do suéter e fui até a madeira, abrindo o objeto em curiosidade.  

— Hey! – Vicent saudou sorridente e franzi o cenho. 

— Oi?  

— Olha só, o uniforme da sua escola é muito bonito. Acho que vou me transferir pra lá. — Observou e olhei para o uniforme dele, vendo que era uma camisa azul com o brasão da escola e uma bermuda azul clara.  

— O uniforme dos meninos é terno e gravata, no inverno é um suéter desse e uma calça de algodão. – Contei e ele sorriu.  

— Eu ficaria muito gostoso. – Se gabou e revirei os olhos. – Enfim, eu te devo desculpas. Ontem no mercado eu fui realmente escroto com você e sinto muito por isso. Quando chegou aqui em casa eu também não fui dos melhores e você estava falando sobre não precisar muito das pessoas e eu entendi isso como se estivesse pedindo espaço. – Falou com as mãos atrás das costas e suspirou. — Eu não sei muito bem como dar espaço pras pessoas, porque sou irritante e intruso demais e as vezes falo coisas idiotas sem nem sequer perceber. – Contou e arrumei a manga do meu uniforme, já que em alguns minutos teria de ir à escola, sendo que ontem eu faltei. — Se eu repetir isso, por favor, chame a minha atenção como a Sam fez, que assim eu vou te pedir desculpas. — Pediu e assenti. – E para me desculpar, saí mais cedo e te comprei algo. — Tirou as mãos das costas e me mostrou a placa com o nome “apenas pessoal autorizado”. – Eu vou colar ela aqui na porta do seu quarto, então se você entrar aqui e fechar a porta, é porque quer o seu espaço e eu não vou te irritar. – Falou e acabei sorrindo. Ele é uma pessoa legal.  

— Tem certeza que vai cumprir isso? – Perguntei cruzando os braços.  

— Mas é claro! Eu respeito a lei e as regras. Essa placa aqui é uma regra. Só não digo nada se a porta estiver aberta. – Alertou tirando a proteção do adesivo e colando a placa na madeira. — Assim eu acidentalmente posso não ver o que está escrito e acabar entrando. – Avisou e sorri. – Você quer que eu te leve para escola? Vou ir para minha logo depois, mas posso te levar na sua antes. – Propôs e sorri.  

— Obrigada, mas minha mãe mandou o motorista me levar todos os dias. – Alertei e ele abriu a boca em descrença.  

— Você tem um motorista?  

— Tenho.  

— Metida! Eu tenho de ir para escola a pé. – Reclamou fazendo bico.  

— Em compensação você mora com os seus pais. – Falei e ele piscou algumas vezes antes de suspirar.  

— Você tem um ponto. Mas tá, vou ir pra escola então, já que vou andando. Boa aula pra você hoje e, só pra contar mesmo... Mãe comprou chocolate pra você, de cereja. Era surpresa. – Avisou e o olhei confusa.  

— E por que você me contou?  

— Hã... Não sei. Enfim, estou indo pra escola. Da um beijo nela pra ela ficar feliz. – Saiu correndo e neguei com a cabeça voltando para dentro do meu quarto. Vicent é meio... Estranho.  

XxX 

Sai do carro quando ele estacionou frente ao colégio e arregalei os olhos por quase esbarrar em uma menina que  vinha de cabeça baixa. Abri a boca para me desculpa mesmo não tendo feito nada e congelei ao ver Vick passando do outro lado do jardim . Por um momento tudo o que evitei pensar no dia de ontem me atingiu em cheio. Eu não pensei nela porque tinha muitas outras coisas ocupando minha mente, mas agora lhe vendo de novo... Isso só pode ser brincadeira, não é mesmo? Ou... Ela não se importa mesmo comigo. Por que seria uma brincadeira? Nenhum ser humano brincaria desse jeito. Ela não quer amigos e eu também estou riscada da sua lista, sendo assim... Deveria considerá-la minha amiga?  

— Senhorita Galateia. – Ouvi meu nome e desviei os olhos de Vick que já quase entrava na escola para o senhor que dirigia o carro que mamãe deixou para mim.  

— Sim senhor.  

— A que horas saí da escola? Assim poderei ficar lhe esperando. Qualquer coisa a senhorita anota meu número, porque se algum dia precisar sair mais cedo ou vir mais cedo, é só me avisar que estarei ao seu dispor. – Alertou e assenti virando minha bolsa para procurar meu celular, o achando junto com meus cadernos.  

— Hã... Eu ainda não sei como adicionar um contato. – Falei envergonhada e ele sorriu pegando meu celular.  

— Tudo bem, irei adicionar e deixarei meu número como um atalho aqui na sua tela principal. Eu também não sei muito bem mexer nessas coisas, mas minha filha sempre me ajuda. – Falou digitando e me entregando o celular de volta. – Salvei como carrinho. – Alertou e olhei para o contato salvo, sorrindo levemente pelo nome.  

— Obrigada, senhor. O senhor quer chocolate? – Perguntei e ele ergueu uma sobrancelha. – Minha tia me comprou cinco barras e eu não acho que irei comer isso tudo hoje. – Peguei o chocolate na bolsa e estendi em sua direção. – É muito gostoso, de cereja. – Alertei e ele pegou com um sorriso.  

— Eu vou aceitar, obrigada.  

— Ah! Eu saio da escola 17h:50min. – Avisei ao notar que não tinha lhe dado uma resposta.  

— Certo, então eu estarei aqui dez minutos antes. Tenha um bom dia na escola.  

— Tem um bom dia de trabalho. — Desejei e me virei para entrar na escola, sendo rápida em subir as escadas e ir para minha sala, andando mais devagar ao chegar perto da porta, passando lentamente na entrada para olhar em direção ao lugar que Vick tinha escolhido para se sentar, vendo que ela lia outra revista em quadrinho. Ela sempre adorou revistas em quadrinho e eu passei a gostar por sua causa, mas veja só agora. Acho que não importa muito ter a amizade dela, certo? Se Liane vai ficar sem música e longe de mim, eu posso muito bem não me importar com a indiferença da Vick! A gente só tinha oito anos naquele tempo, não é como se ela fosse obrigada a ter empatia por mim ou ser legal comigo, não depois deu ter ido embora. Eu não me importo! Não estou nem aí pro motivo dela não querer falar comigo, mas... Ela podia ter respondido minha carta, pelo menos deveria ter tido a decência de me responder para que eu não tivesse ficado até hoje esperando uma resposta. Idiota.  

Cinco semanas depois  Aula de química - 14h:34min – Galateia Pov.  

Revirei os olhos para o final da apresentação do grupo e olhei para janela uma segunda vez, tentando de alguma forma ver alguma coisa através dos pingos grossos que batiam no vidro. Tia Cas hoje vai fazer torta e Liane vai pra lá já que amanhã é sábado. Acho que será bem divertido, porque vamos poder jogar no videogame do Vicent e ela vai me ajudar com a lição de casa.  

— Agora o grupo que irá apresentar é o da Victória, William e Yasmin. — A professora alertou e rapidamente olhei para frente, vendo Vick desfazendo o nó de sua gravata um pouco irritada e dobrando a manga do suéter.  

— Eu irei apresentar! Essas amebas não fizeram nada. — Reclamou olhando para os dois “aliados” e acabei sorrindo.  

— Tudo bem, Victória. Apenas apresente. — A professora pediu entediada e ela revirou os olhos.  

— Tá! Reações químicas. – Falou e olhou para os integrantes do seu grupo. – Se meu grupo fosse uma reação química, seria endotérmica, porque eu seria o produto e esses dois seriam os reagentes com a energia entalpia menor que a minha. — Falou emburrada e soltei uma risadinha baixa por entender seu trocadilho. Estão absorvendo sua inteligência pra que ela apresente o trabalho no lugar deles.  

— Está se achando, não é? – O menino perguntou emburrado e ela se virou para ele.  

— Quer apresentar no meu lugar? — Rebateu e ele se encolheu. – Enfim, o que são as reações químicas? — Perguntou retoricamente e começou a explicar enquanto passava slides atrás das suas costas. Sorri apoiando o rosto nas minhas mãos, observando quanto ela parecia inteligente no momento. Lembro que no primário ela só gostava de desenhar ou ficar brincando. A única coisa que ela se dedicava de verdade era nas aulas de natação, que foi onde nos conhecemos. Ela ainda gosta de natação? Nas aulas de educação física eu não a vejo em lugar algum, então isso significa que ela vai para piscina? A última aula hoje é educação física! Vou ir no ginásio para ver se ela está lá, não que eu vá ficar perto da água, é só... Curiosidade para ver se ainda gosta de natação.  

— E isso aqui é uma forma abreviada de como ocorre uma reação. – Explicou se aproximando do quadro e foquei minha atenção totalmente nela. – Essa equação indica que um ácido forte, como o ácido clorídrico HCl que possui um íon H+, reagiu com uma base forte, como o hidróxido de sódio NaOH portador do íon OH–, e ao reagirem formaram água. – Explicou e sorriu. – Que inclusive é muito importante. Bebam água, tomem banho, deem a descarga e por favor, escovem os dentes. — Resmungou e abaixei um pouco minha cabeça para esconder meu sorriso. Ela é muito idiota. Deus, eu queria tanto poder falar com ela, pelo menos um pouquinho. Eu sinto falta de como ela me fazia rir com essas palhaçadas.  

Quando criança eu não gostava muito das aulas de natação porque a maioria das crianças implicavam comigo, mas eu adorava nadar. Só que ter todo mundo implicando comigo estava me irritando tanto que eu havia pedido ao papai para me tirar, mas daí no mesmo dia a Vick chegou perto de mim e perguntou se eu queria competir com ela porque eu era muito rápida. Acabei aceitando porque ela foi a única pessoa que não chegou para implicar comigo e depois disso acabamos que virando amigas, o que não somos mais hoje, porque ela decidiu me ignorar.  

— Com isso eu concluo minha apresentação, do meu trabalho, feito apenas por mim. – Alertou e pisquei algumas vezes notando que não ouvi nada o que ela disse antes.  

— Que pronome possessivo, Victória. — A professora falou se erguendo para acender a luz e ela revirou os olhos.  

— Meu trabalho mesmo, estou mentindo? - Olhou diretamente para mim e engoli em seco por um momento. Ela está realmente olhando pra mim?  

— Seu trabalho foi impecável, mas da próxima vez lembre que são uma equipe. Devem trabalhar juntos. Essa escola priva pelo aprendizado de vocês como um grupo, um deve ajudar o outro no que possuem dificuldades. — A professora avisou e olhando nos olhos verdes de Vick acabei afastando o rosto da mão por parecer que ela não fazia a mínima ideia de quem eu era. O que é isso? Ela não lembra de mim?  

— Tá, mas não foi por falta de tentar. – Desviou os olhos de mim e deu de ombros em direção a professora. – Posso me sentar agora?  

— Pode sim, mas vocês dois, venham aqui na minha mesa. – Chamou pelos colegas dela e a acompanhei com os olhos, vendo que voltava para sua mesa. Ela não se lembra de mim? Ou ela está fingindo não se lembrar? O que diabos está acontecendo? 

XxX 

Fechei os olhos respirando fundo e entrei no ginásio um pouco receosa, arregalando os olhos por vê-la se alongando na borda da piscina. Oh... Então ela ainda gosta de natação e... 

— Oieee! Veio para as aulas? – A professora surgiu no meu campo de visão e dei um sobressalto pelo susto, me encolhendo logo depois.  

— Nã-não. – Gaguejei e brinquei com meus dedos sem jeito. – Eu tenho... Er... De-desenvolvi aquafobia e talassofobia depois que... Er... Que meu pai morreu. — Contei olhando rapidamente na direção da piscina e ver Vick pular dentro da água fez minha respiração acelerar. – E-Eu... Meu médico na época me recomendou fi–ficar próxima ou... — Juntei minhas mãos por estarem tremendo e a professora as segurou firme.  

— Recomendou que ficasse próxima ou observasse pessoas próximas a piscina? – Perguntou e assenti várias vezes.  

— Antes eu participava da natação, mas...  

— Tá tudo bem. Você pode se sentar lá na arquibancada e ficar só vendo, se por algum acaso começar a se sentir mal eu quero que vá à enfermeira, tudo bem? – Perguntou e assenti tentando normalizar minha respiração. – O que é o caso agora. Vá à enfermaria e na nossa próxima aula você tenta de novo. Qual seu nome?  

— Galateia. – Contei e um sorriso surgiu em seus lábios.  

— Galateia, que nome lindo. Faça o seguinte, enfermaria por hoje, na próxima aula você tenta chegar aqui antes das outras alunas já estarem prontas, pode fazer isso? – Perguntou e assenti, olhando na direção da Vick uma outra vez, suspirando aliviada por lhe ver sair da água. — Você é muito bem-vinda aqui e eu não vou interferir nas suas notas. – Garantiu e sorri me virando para ir na enfermaria, apertando uma mão na outra para ver se paravam de tremer. Eu só queria não achar que tudo que entrar na água vai sumir para sempre ou nunca mais voltar. Eu não devia ter mostrado aquele cachorro pra ele, ele não devia ter tentado salvá-lo e... Não devia ter morrido. Se eu estivesse olhando pra frente não teria visto o cachorro se afogando, se estivesse... Meu pai não... Ele ainda estaria vivo e tudo seria diferente.  

— Mocinha? – Ouvi uma voz feminina soar e olhei ao redor notando que estava no corredor da diretoria e a diretora estava logo atrás de mim. Ergui as mãos limpando as lágrimas rapidamente e ela se aproximou preocupada. – O que houve?  

— Eu estou procurando a enfermaria. – Sussurrei voltado a limpar as lágrimas e sua expressão se tornou ainda mais preocupada.  

— Está com dor?  

— Não! Eu só... Cheguei muito perto da piscina e nã-não me dou muito bem com a água. – Contei tentando fazer sua preocupação ir embora, mas sua expressão continuava a mesma. — Eu tenho aquafobia e estou tentando um método, mas... Hoje foi a primeira vez e não... Não sabia que traria tantas lembranças. – Limpei os olhos de novo e ela sorriu carinhosa, colocando uma mão em meu ombro.  

— Não se preocupe, foi só sua primeira tentativa, outras virão. Vamos, eu te acompanho até a enfermeira. Meu nome é Vanessa, e o seu? — Perguntou e olhei para cima, focando a atenção em seu rosto.  

— Galateia.  

— Galateia hum, do sétimo ano A? – Perguntou e assenti. - Olha, minha afilhada é da sua sala e faz aulas de natação aqui na escola, você quer que eu peça para ela te ajudar nesse processo? O nome dela é Victória. — Contou e arregalei os olhos lhe olhando em choque. A diretora da escola é esposa do pai da Vick? — O quê? É estranho eu ter parentes na escola? – Perguntou e neguei com a cabeça rapidamente.  

— Victória não gosta de mim. – Contei fechando os olhos logo em seguida ao dizer as palavras. Vick não gosta mais de mim.  

— Aquela ali não gosta de ninguém, só da irmã dela, não leve pro lado pessoal. – Falou divertida e lhe olhei outra vez em surpresa. Vick tem uma irmã? — Aqui, a enfermaria fica aqui. Sabe chegar sozinha da próxima vez? — Perguntou e assenti várias vezes em agradecimento. — Depois eu precisarei avisar o seus pais por não terem me comunicado desse detalhe sobre você. – Avisou e me encolhi. Como que eu digo que agora meu responsável não é mais a minha mãe?  

— Er... Agora estou morando com minha tia. – Tentei explicar e ela me observou curiosa. – Acho que os contatos estão errados.  

— Então diga a sua tia para vir na minha sala quando puder, porque precisa oficializar seu papel como nova responsável. Tem o contato dela? Eu mesmo faço isso. – Pediu e assenti procurando meu celular e entendendo para ela ao encontrar o número. Ela sorriu e pegou o próprio celular para digitar o número, parando por um momento e olhando para tela em silêncio, como se algo estranho tivesse surgido ali. – Sua tia... É Cassandra Pandim? – Perguntou e assenti. Como ela sabe? 

— Sim, eu vim morar com eles tem pouco tempo.  

— Tudo bem. Eu ligo para ela na semana que vem. Hoje é sexta de todo modo. — Devolveu meu celular e olhou para o seu por mais um tempo antes de guardá-lo no bolso. – Agora vá falar com Ingrid, ela vai adorar ter uma paciente no seu primeiro dia de trabalho. — Me empurrou levemente e sorri indo até a porta da enfermaria, dando duas batidas antes de entrar. Acho que posso tentar ficar próxima da piscina uma vez por semana e... Acho que preciso de um psicólogo.  


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Notas finais do capítulo

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