Tenho para mim que, talvez, o autoconhecimento seja a mais maçante e persistente dor que vai nos acompanhar durante a vida. Os dias de avanço parecem também de retrocesso e, quando enfim achamos que entendemos alguma coisa de nós, a vida mostra que não. Pode parecer até coisa pouca citar o famoso "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", mas a sensação é essa mesma: há dias em que tudo parece se desenrolar bem dentro de nossas próprias cabecinhas e temos tudo na mais ávida clareza- o que sentimos e até por quê sentimos. Outros, parecem apenas um mero desperdício, em que participamos de fora de nossas próprias vidas sem saber qual rumo tomar e tudo o que resta a fazer é praguejar diante de tudo. E, entre esses dias, há momentos quase irreais em que você tem a certeza de algum progresso vindo de toda sua existência, esquecendo até de quão árdua é a arte de se conhecer: aquele em que você se olha no espelho e é capaz de acolher seus desejos, suas opiniões e sabe o quanto evoluiu para chegar até ali (e sente até certo orgulho, talvez?)

O fato é que é assustador e maravilhoso poder estar consigo mesmo e descobrir cada dia uma coisa nova sobre a pessoa que, em teoria, deveríamos de conhecer melhor: nós mesmos. Se conseguirmos passar por todos esses dias talvez também tenhamos a sorte de conseguir aproveitar, de fato, a própria companhia.