O som da paternidade escrita por apenasmay


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas.

Como coloquei nos avisos, essa one foi criada para o projeto Dezembromione. Você pode pesquisar no twitter @dezembromione e ler as outras histórias.

Não estou muito segura sobre isso aqui. Não costumo escrever e publicar tudo o que escrevo, nem escrever sobre o casal, apesar de amar ler e já ter ficado com o coração quentinho com as histórias postadas ao longo desse mês.

Ainda assim, desejo uma boa leitura e desculpe qualquer coisa.



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Rony bocejava e olhava no relógio em seu pulso a cada cinco minutos. O tempo parecia não passar, da mesma maneira que não passou durante a noite em que ele ficou praticamente inteira acordado. Embora Harry já tivesse mandado ele se aquietar por várias vezes, ele apenas não conseguia.

Por que Hermione teve aquela ideia tão estúpida de ir a uma consulta numa clínica Trouxa? Eles são bruxos, afinal, não precisava disso. Havia diversas maneiras de tratar gestantes no mundo bruxo e Hermione poderia ter se contentado com alguma delas, não poderia?

Não. Ela não poderia.

Ele bufou enquanto lia os documentos à sua frente sem compreender o mínimo deles. Hermione tinha um jeito particular de ser. E isso incluía levar as ideias que ela tinha adiante, independente de sua aprovação.

Ele nem saberia se portar numa clínica Trouxa, afinal. Não saberia como agir, o que falar, que roupa vestir… E para completar ainda teria que chegar lá dirigindo. Por Merlin! Ninguém havia lhe contado que casar com Hermione Granger implicaria numa situação dessas.

Discretamente, ele sorriu, enquanto coçava o pescoço e erguia a cabeça.

Não é que tinha casado mesmo com Hermione? Às vezes isso ainda parecia muito surreal. Apesar de detalhes que o deixavam incomodado vez ou outra e das brigas que agora ocorriam com uma frequência bem menor — pessoas amadurecem, ok? —, ele a amava de um jeito imensurável.

É. Apesar de toda a irritação que ele estava sentindo, ele sabe que faria qualquer coisa que Hermione pedisse, apenas porque ela era Hermione, sua esposa. A mulher com quem ele estava prestes a ter um bebê.

Um friozinho percorreu sua barriga enquanto este último pensamento lhe ocorreu. Um bebê. Ronald Weasley seria pai. A ideia ainda era muito inacreditável para ele. O bebê parecia ser só um delírio coletivo dele, Hermione e os demais familiares. A presença dele ainda não era palpável, exceto por uma coisinha ou outra em miniatura que começava a aparecer na casa deles.

— Cara, você não tá rendendo nada hoje. Se quiser ir pra casa agora, pode ir. Tá sossegado hoje e, além do mais, não falta muito pro turno terminar. Você tem horas na casa…

A voz de Harry interrompeu seus pensamentos. Rony sentiu as orelhas queimando. Odiava ouvir alguém dizer que ele não estava rendendo no trabalho e não poder contestar, já que se tratava de uma verdade. Então ele franziu os lábios e deu um aceno de cabeça.

— Ok, Harry. É realmente melhor eu fazer isso. Então… — Ele limpou a garganta que pareceu mais seca diante do fato de que a hora de enfrentar a clínica Trouxa estava chegando. — A gente se vê.

— Até mais. Boa consulta pra vocês. Depois quero saber como foi. Com detalhes.

Harry disse animado e num tom levemente zombeteiro, afinal, zoar o melhor amigo sobre coisas relacionadas a ele e Hermione nunca deixava de ser engraçado, mesmo que fossem adultos agora.

Ao aparatar em casa, Rony constatou que Hermione ainda não havia chegado, o que o fez se sentir leve por algum momento. Entrou no quarto dos dois e observou a roupa preparada sobre a cama, não parecia nada confortável. Ah, pronto. Além de tudo ainda ia ter que se vestir como um Trouxa e isso lhe causaria desconforto, como todas as ocasiões em que isso aconteceu antes. “Isso é única e exclusivamente por você, bebê. E pela sua mãe”, ele pensou antes de deixar o quarto para tomar banho.

Assim que terminou o banho e terminou de vestir a calça, Hermione adentrou o quarto. Ela sorriu olhando o marido com os cabelos ruivos molhados e se aproximou dando-lhe um beijo breve.

— Chegou cedo? Já tá até de banho tomado. — A morena parecia ansiosa. Rony era capaz de reconhecer por seu tom de voz e linguagem corporal. Casar com alguém tinha disso. Vocês convivem diariamente e, quando se dão conta, já conhecem detalhes que aos outros passam despercebidos.

— Sim, o Harry sugeriu que eu viesse antes. Sabe como é, ele sabe quando preciso disso...

Hermione assentiu, compreensiva, se dirigindo à cômoda do quarto, de onde retirou alguns documentos e começou a organizar a bolsa que levaria à clínica. Rony ficou observando enquanto achava tudo muito estranho. Hermione nem precisava de uma bolsa daquele tamanho, mas teria que fingir que precisava, já que não poderia usar feitiço nenhum no meio daquelas pessoas. Ele continuava sem compreender por que teriam que apelar para uma clínica Trouxa

— Amor, você não acha melhor canc…

O ruivo começou a última tentativa de fazê-la desistir da ideia. A última tentativa interrompida e falha, como todas as anteriores.

— Ronald, eu já te disse que não vou desistir. Para com essa estupidez. Sabe, não estou fazendo nada que seja horrivelmente difícil! Não tem uma única vez que você…

— Ok, ok. Me desculpa. E não fica brava. Faz mal pro bebê.

Hermione fechou os olhos e suspirou, definitivamente brava, mas optando por não falar mais nada. Afinal, aquele era um argumento de grande peso para ambos. O bebê merecia que eles desistissem de uma briga.

Os próximos gestos foram silenciosos. A atmosfera do lar ainda parecia pesada por carregar muitas palavras não ditas. No momento de sair trocaram breves palavras murmuradas. No carro, Hermione guiou um Ronald nitidamente nervoso pelo trajeto. Dentre muitos pensamentos, ele torcia para que ela não percebesse que ele havia enfeitiçado o veículo. Quando estacionaram em frente à clínica, Hermione resolveu quebrar o silêncio, num tom jocoso:

— Obrigada por me acompanhar, mesmo a contragosto. Eu te prometo que se você realmente odiar isso aqui, nas próximas vezes eu venho com os meus pais. É só que… eu queria sua companhia nesse momento especial.

Ela parecia prestes a chorar, o que era mais do que suficiente para amolecer o coração do homem ao seu lado. Ele a abraçou e beijou o topo de sua cabeça, murmurando que estava tudo bem, embora ainda não compreendesse o que de tão especial tinha naquele momento, ficando essa última informação apenas em sua mente.

Assim que deixaram o carro e adentraram a clínica, o desconforto parecia sufocar Rony. Ele acompanhou Hermione no balcão e se sentou ao lado dela logo depois. Havia mais algumas pessoas na sala de espera com eles, aguardando o horário. Não demorou cinco minutos para que um homem puxasse assunto com os dois, se dirigindo mais especificamente a Rony.

— Também é o primeiro de vocês? — O rapaz parecia animado e ansioso.

— É sim — Hermione respondeu, já que o marido havia passado alguns segundos apenas olhando com a boca levemente aberta, sem emitir som nenhum.

— Nós estamos muito ansiosos. — Dessa vez foi a mulher ao lado do homem que falou, num sorriso cúmplice. —  Acho que hoje já poderemos saber o sexo.

Hermione fitou a barriga da mulher, só então percebendo que já estava significativamente crescida. Rony anotou mentalmente para perguntar à Hermione como os Trouxas conseguiam saber o sexo do bebê antes de nascer, continuando calado. A conversa entre os três seguia vagando pelo vasto universo dos bebês, enquanto ele apenas dava leves acenos com a cabeça em concordância ou pequenas risadas, com medo de falar algo errado e torcendo para que a vez deles chegasse logo.

Quando ouviu alguém chamar Hermione, Rony engoliu em seco. A espera já tinha sido muito difícil, mas lá dentro deveria ser ainda pior. Ele seguiu a esposa até o consultório. Mãos suadas, orelhas vermelhas, olhando para qualquer coisa que não fosse a médica que os esperava lá dentro. A mulher, no entanto, agia com naturalidade e os recepcionou com um sorriso amistoso.

O ruivo acompanhou com o olhar Hermione se direcionando a uma maca e foi orientado a se sentar numa cadeira ao lado dela. Ele não sabia direito para onde olhar e nem exatamente o que iria acontecer. Por Merlin, nem parecia alguém que trabalha lutando contra bruxos das trevas!

— Pode ser um pouco gelado.

A voz da médica atraiu sua atenção e ele observou com o rosto levemente franzido em curiosidade ela passar uma espécie de gel na barriga de Hermione e, em seguida, começar a passar algo que ele não tinha ideia do que era no local onde havia colocado o gel.

E foi então que a magia aconteceu.

Segundos depois do exame começar, a telinha da tevelisão começou a mostrar algo e um som tomou conta do ambiente. Rony olhou para a telinha com a boca entreaberta, num espanto maravilhado, contemplando o que era o primeiro momento em que sentiu que a palavra “pai” tomava forma e fazia algum sentido.

Então, ele fitou Hermione e percebeu que havia lágrimas nos olhos dela. Foi só então que ele percebeu que a mesma coisa acontecia com ele, num sorriso muito radiante ao ouvir a médica dizer que estava tudo bem com o bebê e explicar um monte de coisas das quais ele apenas memorizou aleatoriamente “embrião”, “6 semanas”, “4 milímetros” e “saudável”.

Enquanto a médica continuava a falar, num gesto quase automático Rony direcionou sua mão à mão da esposa, entrelaçando seus dedos. E, antes que pudesse processar tudo o que estava sentindo, já estavam se despedindo e saindo do consultório. As mãos permaneciam entrelaçadas. O chão abaixo de si, por sua vez, parecia não existir. Era um sentimento tão grandioso e bom que ele se sentia flutuando.

— Você ouviu aquilo? Foi maravilhoso. Como um coraçãozinho tão pequeno é capaz de bater tão rápido e com tanta força? — O Rony anterior, que não proferia uma palavra, agora dava lugar a um Rony que parecia ter muito a dizer, sem conter o sorriso e o brilho nos olhos. — Nosso nenê, Mione. Tão pequenininho e tão cheio de vida.

Hermione se limitava a sorrir, já que era muita emoção para um momento só ver o bebezinho que se formava em sua barriga, ouvir seus batimentos cardíacos e contemplar o marido tão feliz e demonstrando estar tão emocionado quanto ela.

— Amor, você me desculpa? — Rony parou na calçada, encarando Hermione com seriedade. O semblante sério foi dando lugar a um visível arrependimento. — Sabe, mais uma vez você tinha toda a razão e eu estava sendo péssimo, só por medo de… você sabe, de encarar o desconhecido, de fazer feio na frente dos Trouxas… de te fazer passar algum tipo de vergonha...

— O importante é que você veio. E que nós pudemos viver esse momento juntos… Nós três num momento muito importante para as nossas vidas. — Hermione o olhou com ternura e compreensão. Ela apenas amava o homem que tinha ao seu lado, com todas as suas perfeições, imperfeições, medos e coragens.

Rony sorriu também em resposta, os olhos novamente lacrimejantes, e abraçou a esposa, sem se importar que estavam bem no meio da calçada, possivelmente atrapalhando a movimentação de outras pessoas.

— Eu te amo. E não sei o que seria de mim sem você. Estar aqui hoje foi o momento mais especial que nós já vivemos. Pode até parecer exagero, mas senti como se pela primeira vez eu tivesse me percebido pai de verdade, sabe? Aquele coraçãozinho batendo com toda a força. Quatro milímetros… isso é tão pequeno! Meu pai vai ficar louco quando souber o que os Trouxas são capazes de fazer para monitorar bebês.

Hermione se colocou na ponta dos pés e beijou a bochecha do ruivo. Em seguida, eles se dirigiram ao carro com as mãos entrelaçadas e a morena ainda extasiada por tantos sentimentos bons dentro de si.

Para Hermione, aquele som era a representação da família deles começando a crescer, da vida deles começando a mudar, do amor deles gerando uma vida. Para ela, se a felicidade tivesse uma trilha sonora, com certeza seria composta no ritmo das batidas daquele coraçãozinho. Para Rony, no entanto, aquilo tudo poderia ser resumido em um único termo: o som da paternidade.

Independente de qualquer conceito, uma coisa era certa para ambos quando retornavam para casa juntos naquele carro: a partir dali, eles não eram mais apenas dois, já eram três. A vida deles nunca mais seria a mesma. E, para dizer a verdade, eles nem queriam mais que fosse. Aquele bebê já havia os conquistado.


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Notas finais do capítulo

Amanhã é o último dia desse 2020 todo atípico e carregado de muitos sentimentos. Desejo um ótimo 2021 para todos. Melhor e mais leve do que 2020 tem sido. Continuem se cuidando. ❤



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