Recomeço || ONE-SHOT EVERLARK escrita por The Deathly Mockingjay


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

One-shot que fiz para a minha participação no Aliado Oculto no Twitter. Minha sorteada foi a @ccmlawrence. Seu pedido foi: everlark, luzes e campo. Tentei juntar tudo isso com nessa one-shot. Espero que goste! - Aurora



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Ela acordou quando não sentiu mais os braços dele ao seu redor. Abriu os olhos sem muita vontade, mas não havia mais sono que os mantivesse fechados. O vento frio da madrugada a fez se estremecer um pouco e mais uma vez se deu conta da falta do loiro em sua cama. Não era para nenhum dos dois estarem acordados tão cedo assim; não havia nem sinal do nascer do sol. Katniss se levantou e se enrolou com o lençol e saiu do quarto em direção ao estúdio onde ela tinha certeza que ele estaria.

— Peeta? - ela pergunta quando entra no quarto que antes pertencia à sua mãe.

Peeta estava concentrado em outro quadro. Seus olhos azuis continuavam penetrantes mesmo no escuro.

— Por que está pintando no escuro? - ela perguntou novamente quando ele não desviou os olhos da tela.

O loiro parou de pintar e a fita. Seus olhos cansados a fitam e no mesmo momento ela já sabe o que está acontecendo. Sua mente brevemente a leva para a primeira vez que dormiram juntos há mais de uma década atrás quando ela o implorou que ficasse com ela depois de acordar gritando por causa dos pesadelos ou quando ela o perguntou do porquê que ele nunca o acordou.

 -Peeta, como é que pode eu nunca saber quando você está tendo um pesadelo? – digo.

— Não sei. Acho que não grito e nem esperneio, ou qualquer coisa assim. Fico paradinho, paralisado de terror, e só – diz ele.

— Você devia me acordar – digo, pensando em como eu interrompia o sono dele duas ou três vezes numa noite ruim. Em quanto tempo era preciso para eu me acalmar.

— Não é necessário. Meus pesadelos normalmente têm a ver com perder você – diz ele. – Eu fico legal logo que percebo que você está aqui.

Mesmo depois de tanto tempo, ela nunca acordava para confortá-lo, e isso a matava por dentro. Ele sempre está aqui por mim, mas nunca consigo estar lá para ele.

Ela não pensou duas vezes antes de ir ao seu lado e levantar seu queixo, forçando-o a olhá-la em seus olhos. Cinza contra azul. Dia e noite. Havia tanto tempo que ele não tinha um desses episódios. Ou eu nunca o flagrei como agora, ela pensou.

— Peeta - ela sussurrou - quer conversar?

 

Ele acenou negativamente enquanto desviava seus olhos antes tão cheios de vida e agora tão pesados.

— Não foi tão ruim...- ele sussurra um tempo depois, pegando-a de surpresa. Peeta podia ser o melhor mentiroso entre os dois, mas ambos sabiam que era uma mentira.

Katniss separa o pincel de sua mão e a encaixa em suas pequenas mãos de caçadora. Ela se senta em seu colo e apoia sua cabeça em seu peito. Seus dedos fazem carinhos em seus cachos loiros. Ele havia compartilhado com ele sua vontade de cortá-los durante a semana, mas ela quase o implorou para que não o cortasse; ela adorava entrelaçar seus dedos pelos fios loiros e de vez em quando até trançar.

Eles ficam assim por tanto tempo que ela perde a noção do tempo e só se lembra quando sente os primeiros vestígios de luz solar no céu visível pela janela aberta. Então, como se os primeiros raios de luz tivessem iluminado sua mente, ela sabia exatamente o que fazer.

— Peet? - ela sussurrou novamente.

— Sim? - ele responde.

— Vem - ela diz pegando suas mãos e tomando-as em suas enquanto se levanta do colo dele.

Ela o forçou a se levantar e falou:

— Pegue um moletom e me encontre lá embaixo. - e saiu como se tivesse dito a coisa mais trivial possível, deixando o loiro confuso ainda parado em frente à tela.

Ela se deslocou rapidamente para a sala de leitura no andar inferior onde ela passava boa parte de seu tempo, quando não estava na floresta ou com Peeta. Katniss nunca se viu como uma pessoa de leitura; nunca havia propriamente tocado num livro que não fosse da escola; mas agora, ela tomou gosto pelas letras impressas. Durante mais de dez anos haviam passado mais livros em suas mãos do que em todo distrito. Ela, no entanto, nunca ficava com eles, sempre os doando, passando adiante para todos sentirem o prazer que aqueles livros lhe trouxeram. Havia poucos que ela nunca passaria adiante; aqueles que tocaram seu coração de certa forma que nunca cogitou em dar para ninguém. E era em um desses exemplares, mais especificamente "O Pequeno Príncipe", que estava o que procurava. A doutora havia chamado aquela pequena foto de "sonograma" onde estava capturada a primeira imagem do bebê deles. Katniss sorriu para si mesma ao revisitar a memória de quando foi ao médico para um simples check-up e saiu com a notícia mais assustadora e, ao mesmo tempo, maravilhosa que já recebeu.

Ela havia esperado toda semana, tentando digerir a novidade e ao mesmo tempo achar uma forma de contar à Peeta, mas nada parecia bom suficiente para ele. Todavia, no fundo, ela sabia que não importava a forma que ela o contasse, ele soltaria fogos de tão feliz de qualquer forma. E ele estando feliz, ela estava feliz.

— Katniss? - ela ouviu a voz dele a trazendo de volta para a realidade.

Ela vestiu a clássica jaqueta de caça de seu falecido pai e guardou o sonograma em um de seus bolsos e respondeu:

— Estou indo! - e partiu para sala onde se encontrava um Peeta confuso, mas arrumado.

— Estava só arrumando umas coisas... - ela disse e logo percebeu que se continuar a falar, ele logo perceberá que algo está acontecendo, se já não sabe. Abra a boca mais uma vez e ele perceberá em um segundo, ela pensou.

Ela pegou a mão de seu marido e o puxou para fora de casa. A casa que habitavam ainda era a mesma da Aldeia dos Vitoriosos. O restante das casas na Aldeia, incluindo a de Peeta, foram dadas ao governo e reformadas para que mais de uma família pudesse habitá-las. Apesar de não serem importunados pelos novos vizinhos, tanto Katniss quanto Peeta não podiam esperar para sair daquele lugar que traziam tantas memórias ruins. Demorou um tempo, mas finalmente conseguiram um terreno mais afastado do distrito perto da Campina para construir a casa deles, ou melhor, seu lar. Era início da primavera e ainda havia um pouco de neve, mas assim que tudo derretesse, eles podiam começar a trabalhar na casa.

Em silêncio eles caminharam por todo o distrito em direção à Campina, observando as mudanças do distrito sob os primeiros vestígios do amanhecer. Em menos de vinte anos atrás, a essa hora, haveriam diversos mineradores, quase todos com as características clássicas da Costura a caminho de mais um dia nas minas, engolidos pelo trabalho e pobreza. Agora, as minas não mais existiam e há outras oportunidades de trabalho, dessa vez dignas e muito bem remuneradas. Era difícil não se lembrar daqueles tempos, daquela dor de ver suas crianças jogadas numa arena para lutarem até a morte ou de vê-las lentamente morrendo de fome nas ruas do distrito, mas tudo mudou. O mundo mudou e não havia mais sofrimento. Não havia mais Jogos Vorazes. Não havia mais Snow. E foram essas mudanças que a fizeram largar do medo que tanto tinha e, finalmente, viver. O sonograma em seu bolso era a maior prova disso.

Quando finalmente chegaram, Katniss sentiu a palma de suas mãos suarem de nervosismo. Estava tudo indo como tinha planejado e isso a assustava... Eles atravessaram a cerca e foram em direção ao salgueiro em que amavam. Tantos anos se passaram e ele continuava o mesmo e por isso se tornou o lugar predileto dos amantes desafortunados. Foi debaixo dessas mesmas folhas que ela abriu seus sentimentos ao loiro pela primeira vez. Foi sobre a sombra reconfortante da árvore que Peeta se ajoelhou em sua frente, enquanto assistiam ao primeiro pôr do sol da primavera, e a pediu em casamento e, para Katniss, não havia lugar melhor para lhe dizer que finalmente seria pai.

Katniss expirou um ar que nem sabia que segurava ao perceber que o dia não havia amanhecido por completo e poderiam relaxar e contemplar a vista. Sem nenhuma troca de palavras, eles se sentaram. Geralmente era a garota em chamas que deitaria em seu colo enquanto o loiro brincava com seus cachos pretos, mas hoje era um dia especial e Katniss resolveu que era a vez dele relaxar em seu colo. Eles nunca haviam parado para assistir o amanhecer daquele salgueiro; era uma visão totalmente nova: o céu se iluminando com a chegada da estrela, transformando o azul escuro da noite numa perfeita mistura de cores quentes e frias; uma harmonia perfeita. O laranja que Peeta tanto amava se encontrava lá, mas não era tão presente quanto num pôr do sol. Katniss observou os raios solares iluminando os cachos loiros dourados de Peeta que ela tanto amava enrolar seus dedos, os seus cílios tão loiros que eram quase invisíveis quando não iluminados e tão longos que ela ainda se perguntava, depois de tantos anos, como eles não se entrelaçavam quando ele piscava. Ela observou o sol iluminar a campina aos poucos, trazendo consigo o começo de um novo dia, afastando a escuridão da madrugada para um novo recomeço. E foi com esse pensamento em mente que ela reuniu coragem para falar as palavras que nunca havia dito. Como na primeira vez, ela pensou.

— Peeta? - ela o chamou a atenção.

— Sim?- ele respondeu sem tirar os olhos da paisagem e Katniss já sabia que teriam mais um novo quadro em suas paredes.

— Eu queria te contar algo... - ela disse, sua voz um pouco mais fraca.

Suas mãos tremiam de nervosismo e até mesmo de medo; ela não sabia o que aconteceria a partir daquele momento e esse vazio a assustava. Peeta parecia ter percebido o nervosismo em sua voz, pois levantou-se rapidamente para encarar os olhos cinzentos de sua esposa; sua testa franzida de preocupação, afinal, Katniss não ficaria nervosa com qualquer coisa.

— O que aconteceu? - ele perguntou e fica nervoso quando ela não a responde, apenas o encara com medo.

Não era como se ela quisesse aumentar esse suspense, mas não conseguia encontrar sua própria voz e esse silêncio a deixa cada vez mais inquieta. Palavras nunca foram seu forte, então ela respirou fundo e o entregou o sonograma. Ela esperava que ele entendesse pois não era a primeira vez que viam uma fotografia daquelas (tantos de seus amigos tiveram seus filhos próprios que era difícil esquecer uma imagem tão icônica) e ela estava certa. Foi pelos olhos azuis como o oceano do Distrito 4, agora cheios de lágrimas de felicidade, que ela percebeu que ele havia, de fato, entendido. Ela não precisava desviar de seus olhos para saber que ele estava trajando o maior sorriso desde o casamento deles. E foi com aquela visão de seus lindos olhos azuis iluminados pela luz fraca do amanhecer, debaixo do salgueiro, que ela percebeu que não tinha mais nada a temer.


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