Aconteceu quando Zuko ainda era um garoto de apenas 13 anos de idade. Ele estava feliz, finalmente compareceria a sua primeira reunião de guerra, finalmente poderia mostrar ao seu pai como podia ser um bom príncipe e um bom filho.

Não foi nem um pouco como ele imaginou.

Saiu daquele salão com um Agni kai marcado. Tudo por ir contra a ideia absurda de sacrificar um pelotão inteiro de novatos por uma mísera armadilha.

Aquele tipo de combate era algo muito sério, pois o perdedor teria sua honra manchada para sempre, além das regras rígidas que não permitiam misericórdia ou generosidade, aquele que não matasse ou ao menos queimasse seu oponente era tomado por fraco.

Mas ele não teve medo.

Zuko podia até ser jovem, mas confiava em suas habilidades e daria tudo de si contra aquele general desprezível. Ele tinha muita raiva acumulada e aquilo o tornava ainda mais forte.

Isso era o que ele pensava.

Ao virar-se naquela arena lotada, não foi o general que encontrara, mas sim, o Senhor do Fogo Ozai.

Seu pai.

O príncipe imediatamente caiu de joelhos, se recusava a lutar contra o próprio pai, pediu perdão, rogou por misericórdia, chorou e implorou que não levassem aquela luta adiante.

Naquele dia, Zuko perdeu sua honra.

Um garoto de apenas 13 anos, exilado, não só de sua casa, mas de sua nação. A partir daquele momento o propósito da sua vida era encontrar o avatar e recuperar a sua honra.

E foi assim por vários e longos anos. Os soldados que Zuko levara consigo jamais entenderiam o real significado das palavras desesperadas que eram mascaradas pela obsessão na voz do príncipe desonrado.

"Preciso encontrar o avatar e recuperar a minha honra" -- ele repetia de novo e de novo

Nem mesmo o nobre tio Iroh conseguiu captar a verdadeira força dessas palavras. Ele cuidou de seu sobrinho com afinco, acalmou o garoto que se fazia de forte nas noites de insônia, esteve presente em todos os momentos, apoiou-o em tudo.

No entanto, em sua mente sábia ele via a obsessão de Zuko por honra como a vontade de provar sua capacidade, de se mostrar digno de ser filho de Ozai, como saudades de casa e recuperação do seu orgulho.

Claro, tudo isso estava correto, mas havia algo mais, um sentimento que nem mesmo Iroh distinguira em todas as centenas de vezes que o sobrinho repetira aquela frase.

Amor.

Porque ninguém sabia, mas Zuko tinha sim, alguém a qual voltar. Porque ninguém imaginaria, mas no dia em que partira da nação do fogo, ela estava lá.

Os soldados já haviam embarcado, tio Iroh esperava o sobrinho já de dentro do barco, quando Zuko olhou para trás uma última vez.

E ele a viu.

Os dois coques presos pelos costumeiros laços vermelhos, as mãos juntas ao corpo enquanto tentava vê-lo e ao mesmo tempo se manter escondida por trás daquelas caixas, a boca apertada e os olhos dourados mergulhados em lágrimas que não foram derramadas. A não ser por uma única e solitária gotinha teimosa que fugira pela sua bochecha avermelhada.

Aquilo o destroçou completamente, mas ele não recuou, Zuko olhou no fundo daquelas íris brilhantes e fez uma promessa muda, a ela e a si próprio.

"Preciso encontrar o avatar e recuperar a minha honra"

"Só assim voltarei a ser ao menos um pouco digno de você… Mai"

A voz do tio o fez cortar a troca de olhares, a lágrima teimosa já havia sido limpa e os olhos tristes da pequena Mai ganharam um singelo brilho de esperança. Doeu vê-lo dar as costas e sumir sem olhar para trás, mas ela confiava nele e por algum motivo ele a acalmara, mesmo de longe.

Seus olhos diziam: "Me espere, logo estarei de volta", a determinação neles deram paz ao coração dela.

Quando subiu ao barco, Zuko gravou a última visão de sua terra e seu coração se contorceu ao perceber que Mai já não estava mais ali.

Naquela noite, o príncipe chorara silenciosamente, como a criança que era, mas ele tinha a sorte de ter o melhor pai do mundo, só faltava perceber que Ozai estava longe de ser esse.

Iroh velou o sono do menino durante toda aquela semana, desolado com o sofrimento do sobrinho e com muita raiva de seu irmão caçula. O velho homem só não sabia que boa parte daquela dor tinha nome, sobrenome e muito tédio.

Os anos foram passando, o avatar era capturado e fugia, houveram conflitos e separações, Zuko chegara a voltar a sua nação e firmar o namoro com a morena, o que incrivelmente não causou estranhamento a ninguém.

Em pouco tempo ele era mais uma vez um exilado, mas por escolha própria, Zuko tomara decisões muito difíceis para encontrar o próprio caminho.

Sendo professor daquele a qual dedicou a vida para caçar, o príncipe aprendeu que ninguém poderia tirar ou devolver sua honra, ele era o único que poderia fazer isso, apenas através de suas ações.

E elas o levaram a lutar naquela guerra pelo lado certo.

E vencer.

E mesmo depois de se tornar o novo senhor do fogo Zuko sentia-se inseguro e indigno. Mai merecia alguém melhor que um garoto tolo e inconstante que já a abandonara tantas vezes.

"Mai merece mais, ela merece alguém sem manchas em sua honra"

O que Zuko não contava, era que Mai simplesmente não ligava, ela não queria alguém melhor ou mais honrado.

No fim, ele era apenas o idiota que a largou, mas para a sua sorte ela o amava, amava tanto que seu sentimento superava até o medo que tinha de Azula, ela enfrentaria toda a nação do fogo por ele se precisasse.

Mas se Zuko se importava tanto com esse negócio de honra, ela decidiu que daria isso a ele, porque queria vê-lo ainda mais feliz.

E conseguiu.

Ela fez o senhor do fogo chorar como uma criança.

Mas de felicidade.

Porque ninguém jamais voltaria a chamá-lo de príncipe desonrado.

Porque ela lhe deu o melhor presente que alguém poderia ter.

Sua filha.

Izumi.

Sua honra.

Izumi Honora.

A princesa de nome Honra.

A Honra do Príncipe Desonrado.