Wedding lost escrita por Kris Loyal


Capítulo 11
Capítulo 11 — Assovie alto.




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O que o acordou foi o som dos grilos. O garoto abriu os olhos e viu que começava a anoitecer. Passou a mão no rosto e a sentiu molhar-se com algum liquido: sangue, do supercílio.

Mexeu-se devagar, primeiro as pernas, depois o tronco; tudo parecia funcionar bem, apesar da insistente dor de cabeça que sentia. Sentiu vontade de chorar: estava machucado, não sabia onde estava e era quase noite. Suas lágrimas foram detidas quando olhou para o banco da frente e viu os cabelos loiros do pai. Depois de um audível suspiro de esperança, o garoto moveu-se para frente, ao encontro do motorista.

— Pai? Pai? — Ao perceber que ele permanecia desacordado, tentou sacudi-lo um pouco — Acorda pai. Vai, acorda.

Passou para o banco da frente, onde conseguiria balança-lo melhor, e de lá chamou-o mais, cinco, dez vezes. Nenhum sinal de resposta.

Parou e observou: seu rosto também tinha sangue, porém mais que o de Ryan. A perna também parecia estar sangrando e ele estava branco como um papel e frio como uma superfície metálica. As últimas características preocuparam sobremaneira o garoto que se agitou com a possibilidade dele estar morto.

Por Deus, seu pai estava morto? Morto, ausente para sempre, um cadáver inerte? Estaria sozinho naquela mata? Iria morrer também?

Antes que pudesse se controlar, Ryan começou a chorar.

— Pai! — O chamado não parecia ser especificamente para acordá-lo, mas ele não conseguia evitar fazê-lo.

Colocou as duas mãos nos ouvidos repetindo a palavra “acorda” várias vezes pensando que assim poderia acordar daquele sonho em que estava preso. Pois eles não tinham se acidentado de verdade. Seu pai não estava morto. E ele não estava totalmente sozinho. De jeito nenhum. Era um sonho, tinha de ser...

Ao abrir os olhos, no entanto, nada tinha mudado: O pai continuava desacordado, a mata fechada continuava à sua volta e sua cabeça ainda doía.

Chorou mais. Chorou tudo o que tinha agarrado à mão do pai. Ryan nem lembrava de ter chorado tanto em sua vida e só depois de mais de quarenta minutos naquele desespero ele percebeu que nada mudaria, não se ele continuasse ali, não se continuasse a apenas chorar.

Abriu a porta e saiu do carro, olhando para uma e outra direção. Não havia ninguém, ao que parecia. Deu a volta, observando agora o rosto pálido do pai de um outro panorama, puxando o ar dos pulmões de forma brusca, e se forçando a ser o mais racional possível.

Estava sozinho e tinha de aceitar. Ao olhar para Peeta, pensou que seria mais fácil focar em todas as coisas que já fazia sem precisar dele e nas vezes que desejou que ele não estivesse em sua vida. Prendeu o lábio, reprimindo a vontade de chorar novamente.

— Eu não preciso mais de você mesmo. — Falou, mais para si próprio que para o pai desacordado. Era isso, tinha concluído. Ser racional e deixar aquela choradeira de lado era o que precisava fazer. Já era crescido, e não mais uma criancinha que corria chorando todas as vezes que caía para que Peeta ou Katniss lhe assoprasse o machucado.

Virou-se resignado, entrando mata a dentro procurando saber qual era o caminho para sair dali e encontrar a pista e/ou talvez algumas frutinhas que não cairiam mal, porém todo seu objetivo caiu por terra depois de meia hora de caminhada ao perceber alguns ruídos atrás de si.

Parou, respirou. Talvez se ficasse parado, o que quer que seja seguiria seu caminho, ignorando-o, certo? Errado. Percebeu quando o animal se movera em sua direção, mesmo não conseguindo distinguir que tipo de bicho era aquele, se um cachorro do mato, uma raposa ou uma puma.

Correu o mais rápido que pôde, sentindo os galhos lhe cortarem os braços e a face e sua respiração ficar totalmente irregular. Mudou de trajetória varias vezes tentando despistar o animal que parecia resignado em apanhá-lo. Quando não aguentava mais correr, em seu agonizante desespero, encontrou uma árvore onde era possível subir até grande altura, instalando-se ali, até, depois de vários minutos, observar o bicho finalmente desistir e se afastar.

Quando não viu mais sinal do predador, Ryan desceu da árvore com o objetivo de voltar ao carro. Enquanto caminhava até lá, reconheceu que precisava do pai, e torceu com todas as forças que ele estivesse acordado quando chegasse. Sua oração silenciosa, entretanto, não fora atendida, pois ao chegar ao veículo, Peeta continuava igual: desacordado e branco como seda. Chamou-o como das outras vezes, porém continuou sem resposta.

Já começava a anoitecer e Ryan sabia que precisava ascender um fogo ou logo ficaria com frio; ele não era tolo, e já havia sido escoteiro mais de uma vez. Sorriu quando encontrou um isqueiro no porta-luvas do carro, feliz por ter sorte pelo menos uma vez no dia.

Animado com a descoberta, resolveu explorar mais o interior do carro afim de achar objetos úteis e nessa busca encontrou sua mochila, que antes não lembrava mais de ter trago. Vociferou consigo mesmo por não ter munido a bolsa de coisas mais úteis, pois nela só havia um pacote pequeno de balas, uma garrafa de água e um casaco.

Deixou a mochila de lado e pôs-se a trabalhar na fogueira, juntando agora galhos para ascende-la com a ajuda do isqueiro. Enquanto entrava um pouco mais à dentro da floresta, ouviu resmungos, que inicialmente o assustaram. Parou, tentou ouvir melhor. Aproximou-se mais, até que pôde ouvir claramente:

— ....muito longe, Ryan. Não vá para muito longe. Perigoso.

Sobressaltou-se e correu o mais rápido que pôde em direção ao carro. Com os olhos ansiosos alcançou o olhar de Peeta, que apesar de estar de olhos fechados, ainda resmungava o nome do filho, preocupado. Antes que pudesse se conter, Ryan o abraçou forte, fazendo Peeta segurar o gemido de dor, enquanto repetia com voz calma que estava tudo bem, que eles ficariam bem.

— Eu estava errado, pai. Me desculpe. Ainda preciso de você. — O garoto dizia, baixo, controlando a vontade de voltar a chorar.

Soltou-se do pai e pegou a garrafa da mochila para dar-lhe um pouco de água. Ficou mais aliviado ao ver os olhos azuis do Mellark mais velho se abrirem após alguns goles. Ele estava vivo, realmente.

— Me ajuda a tirar minha perna daqui, Ryan. Eu acho que isso está feio demais. — Pediu o mais velho, indicando a perna direita presa no espaço do acelerador.

A tentativa de extração porém foi falha: a cada vez que mexia-se para tentar tirá-la de lá, ou quando Ryan puxava-a da melhor maneira que conseguia, Peeta não conseguia segurar os gemidos que eram consequência da dor absurda que sentia. Além do mais a quantidade de sangue que jorrava cada vez que movimentavam a perna era preocupante.

— Deixa, filho. Deixa pra lá. Não vamos conseguir tirar daí.

— Acho que está quebrada. — Afirmou Ryan, em uma careta.

— Tenho certeza. E não em um só lugar.  

Percebendo o quanto o garoto ainda estava assustado, mesmo cansado e com voz fraca Peeta se esforçou para manter uma conversa. Deixou que ele contasse sobre o bicho que o perseguiu na floresta e sobre como ele tinha descoberto que alguns galhos eram melhores que outros para fazer fogo. Depois de um tempo ouvido o monólogo já mais relaxado do menino, interrompeu sua fala quando o viu bocejar pela quarta vez.

— Se encosta no banco e dorme um pouco. Estou mais descansado, vou ficar acordado para vigiar.

Era mentira, é claro. Peeta se sentia morto, seu corpo todo doía e ele lutava à cada segundo contra a vontade de adormecer.

— Tem certeza, pai? Você não parece tão bem. — hesitou Ryan, mesmo que inconscientemente já estivesse se encostando no banco ao lado.

— Tenho. Dorme. Mais tarde eu te acordo para que eu possa dormir. Não vou vigiar a noite toda. — outra mentira. O deixaria dormir tanto quanto pudesse. Não é como se qualquer um dos dois pudesse fazer algo, de qualquer forma, o que fazia perder o sentido deixar o garoto acordado, gastando as energias que ambos já não tinham. Claro que Ryan reclamou quando acordou ao amanhecer, ao perceber que o pai não o tinha chamado para vigiar.

— Poderiam ter nos matado, pai!

— Se fosse para morrer, já estaríamos mortos. Você não tinha mais como se manter acordado e eu muito menos.

O garoto bufou, e desceu do carro apressado, arrumando os calçados nos pés, ao mesmo tempo que encarava o céu claro, que anunciava um tempo firme.

— Onde vai?

— Subir o morro, claro. Procurar a pista de onde caímos. Não é possível que não passe ninguém que possa ajudar.

— Não sei, Ryan. Você mesmo disse que tem bichos nessa mata que você nem sabe o que é. É perigoso subir até lá. E além do mais logo começarão a nos procurar e...

— E até lá você vai tá’ morto, pai. Ou vai ter perdido essa perna. — Peeta voltou o olhar à própria perna ferida, levando a mão à fronte ao perceber que Ryan estava certo. Não tinham muito tempo.

— Tá. Não fique muito tempo na mata. Preciso saber se está bem, então veja o que puder ver, mas em algumas horas volte. Depois você recomeça. Se tiver algum problema, assovie alto. Eu não posso sair daqui, mas posso atrair o que quer que seja para cá. Entendeu, Ryan?

— Sim.

— Entendeu?

— Eu entendi, pai. Assoviar. Alto.

Peeta observou seu garoto entrar por entre o matagal ainda com a testa franzida de preocupação. Pensou em mil possibilidades de mal situações, mas diante de sua incapacidade vigente, o que lhe restava era torcer que nenhuma delas se concretizasse.

Duas horas depois Ryan voltou, contando que tinha achado uma rota que possivelmente o levaria até a pista, o único problema era que estava dando trabalho para desobstruir. Antes de se preparar para voltar à mata, ofereceu a garrafa de água ao pai, que negou prontamente.

— A partir de agora só você vai beber.

— O que? Não, pai, tomamos um pouco cada um. Vamos economizando até que...

— Só você tem condições de pedir ajuda, Ryan. Então precisa ficar hidratado, consciente e com o máximo de aptidão possível. Não discuta, é o correto.

Tudo isso era verdade, mas no fundo Peeta também fazia isso por não ter certeza de sair dali vivo. Estava perdendo sangue à horas, tinha febre, mal podia se manter acordado. No momento, deixar os suprimentos para Ryan era a única coisa que podia fazer por ele como pai.

Ryan balançou a cabeça em negação algumas vezes e tentou refutar, mas o loiro mais velho estava seguro de sua decisão e certo de não tomar uma só gota a mais. Quando viu que não conseguiria dissuadi-lo, o garoto voltou a caminhar entre as árvores, agora à procura de pequenas frutas que pudesse comer, considerando sua recente fome.

— Venenosa? — Perguntou ao estender ao pai uma porção de pequenas frutinhas de coloração alaranjadas. Eram as únicas que ele tinha achado em sua pequena expedição.

— Não. Acho que são pitangas. — pegou uma e levou à boca. — Com certeza, pitanga. Pode comer. — Enquanto observava o filho comer satisfeito, baixou o tom de voz para falar a próxima orientação — Precisamos conseguir ajuda o mais rápido possível, Ryan. A água logo vai acabar, então você começará a ter sede, e será menos produtivo. Além disso eu não sei mais quanto tempo posso aguentar acordado. Não aguentaremos mais uma noite. Precisa subir lá, e precisamos que um carro pare para ajudar, ou um de nós vai morrer hoje.

Quando puxou a cabeça do filho e encostou a testa dele na sua, Peeta não queria que aquilo fosse considerado uma despedida, ainda que pudesse ser. Por isso, em vez de dizer que o amava e fizesse que aquilo soasse ainda mais como uma despedida, ele apenas perguntou o que sempre perguntava a cada orientação que dava o garoto:

— Você entendeu, Ryan? Entendeu?

E sem tirar seus olhos azuis dos olhos azuis do pai, Ryan respondeu que sim. Tinha entendido. E não voltaria, até que conseguisse ajuda.  

Claro que sua resiliência não foi suficiente para que o milagre acontece e ele encontrasse, logo de cara, um trecho da pista em que passasse carros que ele pudesse abordar. Andou muito, até achar a estrada mais próxima à avenida, e só ali pôde esperar que alguém passasse e parasse ao seu sinal.

Ele não estava de todo azarado, ao que parece, já que apenas quinze minutos de espera silenciosa, viu quando uma caminhonete marrom passou, fazendo-o pular e gritar por ajuda.

O senhor de mais ou menos 60 anos que desceu da caminhonete pareceu meio confuso com o discurso atropelado de Ryan, mas compreendeu que algo sério havia acontecido ao vê-lo pedir, por favor, que ligasse para a emergência.

Enquanto ligava, o homem que Ryan descobriu chamar-se Bill Rives, pediu que o garoto mostrasse onde o pai estava, para ver se podia fazer algo para ajudar.

Depois de voltar todo o caminho com o Sr. Rives, e deixar a caminhonete na estrada para seguir até o local a pé, Ryan até sorria ao voltar ao lugar onde seu pai estava.

Ele só não pôde sustentar o sorriso ao chegar, pois Peeta parecia morto.

Muito mais morto que da primeira vez.  


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Notas finais do capítulo

:(
E agora?

Será que ainda tem alguém por aqui ? rsrs
Tendo ou não eu tenho que terminar o que comecei, então mesmo que demore, saibam que vou postar até o final ok?
Por falar em final, o próximo capítulo é o ultimo e o título dele é: "Fins e começos" Como será esse fim? Vejo vocês lá ! (?)



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