"Qual o seu problema? Por que porras você não consegue me deixar em paz?"

"Porque eu me preocupo com você!"

E era isso, Luke Hemmings se preocupava com Michael Clifford, quem visse juraria que tudo não passava de uma encenação.

Mas era real, os dois realmente estavam ali, no parapeito daquele edifício, Michael na beirada e Luke o segurando.

Tudo poderia ter dado certo, um suicídio perfeito.

Sua mãe acharia as cartas, estava tudo bem... Se não fosse o maldito Hemmings, o metido.

"Por quê? Vamos me diga, por quê se preocupa?"

"Eu não sei, eu apenas me preocupo. Isso é tão errado?"

"Não sei se você percebeu mas estragou o meu plano, então sim, é bem errado"

E Luke o olhou incrédulo.

Não poderia acreditar naquilo, depois de todos os andares subidos, depois de tanto correr, o infeliz ainda se mostrava ingrato.

"Quer saber Clifford? Se joga, mas se joga de cabeça, quero ter o prazer de ver isso"

E então Luke o soltou, o deixou livre pra fazer o que quisesse.

E Michael não perdeu a oportunidade, se virou, abriu os braços e fechou os olhos.

'Nothing's gonna hurt me with my eyes shut'.

E então ele chegou perto da borda do prédio, se preparou...

Podia ouvir as vozes festejando, pois finalmente ele havia tomado a decisão certa.

                 E assim ele foi....

Ou quase, se não tivesse uma mão o puxando antes de concluir seu objetivo.

"Você realmente iria fazer aquilo? Você está louco?"

E as vozes voltaram a se aglomerar em sua mente o conduzindo, mas era tarde demais, ele teria que adiar o suicídio.

"Claro que ia, eu vim aqui com esse objetivo"

"Eu não vou te deixar fazer isso"

"Por que não? A vida não é sua"

"Só cala a boca, você não tem direito de opinar"

Estupefato. Essa era a expressão de Michael no momento.

Aquele loiro aguado estava ali o intimidando e ditando as regras.

"Claro que tenho, a vida é minha"

"Cale a boca! Você entende a gravidade do que faz? Você não pensa na sua mãe? Em como ela ficará?" Em como eu ficarei?

"Não é uma decisão dela, ela irá aprender a conviver com tudo isso..."

"É a sua decisão, mas atinge outras pessoas, seu babaca!"

Desde quando o loiro se preocupava com ele?

Pra onde fora todo aquele ódio?

O que aconteceu?

"Eu preciso fazer isso, você não consegue me entender, ninguém consegue"

"Não fale como se fosse o único que sofresse" 

"O que você sabe sobre isso? Você ouve vozes? Você se sente sozinho? Você se sente sufocar? Você se sente desmoronar a cada dia que passa? Sente que se sumisse neste instante ninguém ligaria, você sente? Eu duvido! Você é perfeito! Luke Hemmings, o prodígio"

"Você não me conhece Clifford, então não tente me julgar!"

Naquele momento as vozes deram um sossêgo, e ele se pôs a observar em volta.

Luke segurava a manga de seu próprio casaco, olhava para o chão onde gotículas caiam, ele estava chorando, ele sempre chorava.

Michael sentiu vontade de o abraça-lo e o fez.

O envolveu em seus braços e sentiu o vento que fazia zumbido e transpassava por eles, os acariciando.

Sentiu que precisava disso, daquele abraço, dele.

Mas não seria capaz de admitir em voz alta.

E foi assim que tudo começou.

Fogo e pólvora, juntos, formando uma catástrofe.