Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 17
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Asami chegou em casa sorrateiramente, mesmo que não precisasse. Havia se despedido de Misashi há um tempo, e agora estava pronta para se mostrar à mãe. Fez questão de manter a roupa limpa, e Kusaku havia ajudado-a com seus ferimentos. Só faltava que a mãe acreditasse em tudo aquilo.

Pela janela, percebeu que a família estava no café da manhã, e era assim que ela deveria chegar, anunciando que finalmente havia terminado sua jornada pelo País do Fogo mostrando os passos da família Ryuusei no processo.

Asami cruzou a varanda e chegou na porta. Respirou fundo e abriu, dizendo:

— Bom dia, família!

A família interrompeu a comilança e virou-se inteira na direção dela. O pai, à ponta da mesa, olhou para sua esposa de forma assustada, como se esperasse o pior vindo dela. As irmãs se encolheram, com exceção da mais nova, Yoake.

A mãe foi a primeira a voltar a comer, elegante como sempre era.

— E a viagem — ela segurou um bolinho doce. — Como foi?

— Até que tranquilo. Pegamos um pouco de chuva no início e a caravana ficou atolada por algumas horas, mas nada preocupante...

A garota sorriu de canto, depositando a mochila no chão.

— Que cheiro bom...

— Tira a mão — anunciou Yorune quando a menina tentou pegar uma das guloseimas. — Tá toda suja de viagem.

— É, melhor ir tomar um banho, Asami — Ibuni completou, cobrindo a comida com a mão também.

Yoake, como se para entrar na brincadeira, cobriu com as mãos pequeninas.

— Ah... certo, tem razão...

Asami fez um bico desaprovado a atitude das irmãs. Retirou as sandálias e seguiu na direção do corredor evitando os olhares.

A saída da garota fez a conversa mudar, agora as irmãs cochichavam sobre outra coisa aleatória que ficou abafada numa mistura de vozes e risadas. O pai parecia aliviado que a esposa não tivesse feito caso com algo na filha. A mãe, Tayo, por outro lado, escolhera o silêncio para observar melhor tudo. E o que observava agora era o par de sandálias que a garota deixara ali.

Estavam sujas, havia barro manchando o chão de madeira da sala de jantar, mas a mulher focava em outra coisa. A cor do barro, bem mais desbotada do que os que haviam ao redor da aldeia da Folha. Sem contar a textura, que mesmo numa primeira olhada já parecia bem mais rígida do que qualquer barro do País do Fogo. Ela sabia porque havia limpado cada calçado das filhas em suas jornadas pelo mundo, lembrava de cada textura, cada cor, cada cheiro.

Sabia que a filha tinha andado por outro lugar. Só não sabia por onde.

Mas, com certeza, descobriria, mais cedo ou mais tarde.

• • •

Kusaku segurou o presente de sua mãe em mãos, assustado de que não havia amassado na viagem. O Tsuru encarava-o assim como ele o fazia, enquanto isso, era a pagoda de sua família que encarava ambos. Ele estava prestes a chegar, e teria que se portar como fora ensinado durante toda sua vida.

E agora, ele tinha uma experiência que dizia o porquê precisava se comportar dessa maneira.

Kusaku adentrou o local, estranhando que ninguém estivesse lá para recebê-lo. Não ouviu nada no andar de cima, mas havia algo no quintal traseiro que puxava sua atenção. Ele foi até lá, e ao ver o pai próximo a uma árvore meditando, não quis atrapalhá-lo e começou o caminho de volta para dentro.

— Qual o relatório da missão? — questionou o homem.

Kusaku quase mordeu a língua, assustando-se que ele estivesse tão atento mesmo de olhos fechados.

— Não houveram baixas dentro do time — começou, limpando a garganta. — Houve combate ainda dentro do território da Folha contra alguns refugiados. Entregamos o pergaminho ao Kage do País da Terra, e impedimos um atentado ao mesmo. Nosso sensei foi ferido na explosão, mas acredito que tenha ouvido esta parte nas notícias — concluiu o garoto, apreensivo.

— E os cervos? — perguntou, agora com o timbre mais firme. Parecia incomodado que aquilo não tivesse sido citado. — O que houve?

— Sobre os cervos... bem, os refugiados que... — o menino fez uma pausa, engolindo em seco. — Que matamos — baixou a cabeça, e tentou cobrir o ato com uma reverência — invadiram nossas terras. Aparentemente queriam se alimentar deles, mas a maioria debandou e só pegaram alguns.

Kusaku sabia que o pai conhecia cada uma daquelas informações, mas o que lhe atacava era a vontade que o sujeito tinha de ouvir tudo da boca dele.

Ainda de olhos fechados, o homem respirou fundo antes de responder o filho.

— Então, você os matou? — ele excluiu completamente a parte onde havia um plural na frase.

— Eles... estavam... obstruindo a missão. Não tivemos muita escolha — o garoto percebeu que havia sido frio demais, então começou a tentar se explicar. — Eles estavam a dias sem se alimentar, usavam pílulas alimentares para se manter, a maioria morreu por ov...

— Ótimo — o pai cortou o garoto no meio da explicação. — Resolveu nosso problema.

O pai abriu os olhos para encarar o filho, mesmo que à distância. Uma folha caiu da árvore, flutuando até chegar próximo do pai.

— Bom trabalho — finalizou, e a folha chegou bem do lado da sua cabeça. Nesse momento houve uma reação, uma pequena estática tocou a folha. — Humph — o pai considerou.

Kusaku estremeceu. Tudo ali o assustava. A sua subordinação, a estática que remetia ao elemento que compartilhavam, as falas em seu discurso que disseram exatamente o que ele queria ouvir. E se, como ninja, estivesse fadado a continuar seguindo o caminho de sua família? E se estivesse fugindo do inevitável? Havia sangue suficiente em suas mãos para que ele compreendesse que não podia evitar tudo. E se na verdade não pudesse evitar nada?

Kusaku certamente conhecia todas as perguntas que faria a si mesmo até que estivesse ocupado o bastante para não pensar naquilo. Enquanto isso, tentaria não preencher todas as lacunas das respostas. Pois, se o fizesse agora, só ouviria a voz do pai.

• • •

Misashi chegou em casa apertando o envelope dentro da mão. Havia um sorriso em seu rosto. Aquele era o começo de uma vida melhor para ele e para a mãe. Talvez, depois de algumas missões, pudessem se mudar daquele bairro decadente, encontrar algo melhor no centro. Sabia que era possível, só precisava de tempo. E por enquanto ficaria ali, fazendo a mãe se alegrar, um sorriso de cada vez.

Correu até o portão, bateu de um lado para o outro no batente e pulou. Pisou na terra esburacada do quintal e avançou para abrir a porta com ferocidade. Entretanto, a velocidade murchou quando ele ouviu fungadas no lado de dentro. Acostumado a ouvir a mãe chorar, não pensou que algo tivesse acontecido, mas que ela havia lembrado de algo que não devia.

Ele cruzou o batente abrindo a passagem devagar, e mais uma vez, a mulher estava no escuro. Dessa vez, entretanto, havia um pequeno animal na janela junto dela, um pequeno pássaro marrom com uma espécie de vestimenta de couro. A mãe segurava uma carta, uma que o animal deveria ter trazido.

Entre as lágrimas, a mulher fitou o filho, e isso a fez sentir mais vontade de derramar choro. O garoto se aproximou para abraçá-la, deixando o envelope em cima da mesa da cozinha. Quando ela apertou-o forte, puderam se recompor o bastante para que ela pudesse dizer o que estava acontecendo.

— Oh... Misashi-kun... s-s-seu... o... o seu pai foi... foi morto em combate.

Misashi estagnou, parou dentro do abraço e tentou ficar estável. Não conseguiu. As lágrimas vieram, e ainda assim, o máximo que o garoto conseguia lembrar do pai eram as costas dele indo embora.

Então, seu objetivo ficou ali. Jogado no chão junto àquelas lágrimas, esperando um bom momento para evaporarem, pois nada, por muito tempo, ficaria bem.

• • •

— Certo — um homem de voz esganiçada disse.

No meio do salão de pé direito alto, havia uma mesa com seis cadeiras e seis pessoas sentadas. Dentre eles, duas mulheres, uma em cada flanco da mesa. Parecia haver uma reunião estratégica, pois um mapa do mundo ninja conhecido jazia aberto com várias peças de madeira postas em pontos específicos.

— A Folha assinou o tratado, e se propôs a pagar por uma parte das reconstruções na Aldeia da Pedra — o primeiro continuou. — O que foi uma decisão inesperada...

— Tudo porque a senhorita Yanuma fez um péssimo trabalho — um outro comentou.

— Cala boca, rato de laboratório! — insultou a mulher ofendida, com sobrenome Yanuma. — Não fale mal dos meus pássaros, funcionaram muito bem no Relâmpago e na Areia.

— Não tão bem quanto deveria. Minhas pílulas estavam lá, sustentando aqueles agentes por dias a fio. Sem contar que usar as manifestações como distração e ainda distribuir as pílulas para os refugiados foi uma ideia de gênio. — rebateu com o canto de boca. Depois, o sujeito lamentou. — O Tsuchikage deveria estar morto.

— Ele não morreu por um motivo técnico — uma outra voz adentrou a conversa. Esta era muito mais calma que as anteriores. — Um empecilho, da Aldeia da Folha. Nós mobilizamos nossos mercenários, novamente, atiçados por suas pílulas — apontou para aquele que confrontara Yanuma — para que a aldeia tivesse que gastar seus ninjas experientes, mas não esperávamos que um ninja daquele cacife estaria no meio daquelas crianças...

— Certo, certo — a primeira voz aguda confirmou tudo, retomando o controle da conversa. Parecia ser quem falava as novidades dentro do grupo. — Apesar dos esforços do senhor Kobo e da senhorita Yanuma não terem tido os resultados mais esperados, conseguimos atingir o Mizukage.

— Agradeça ao meu ouro — um outro homem veio à conversa. — Foi a missão mais cara daqui.

Ninguém discordou. O primeiro homem, sentado à ponta da mesa, resolveu falar.

— Direto ao ponto, Mageko — pediu. — Ninguém aqui tem seu tempo.

Mageko arrefeceu, todo torto sobre sua postura. Ajeitou os óculos e prosseguiu. Apontou no mapa a divisão entre a Água e o Fogo.

— A ideia agora é controlarmos essa região através dos recursos que temos disponíveis agora. Eu pensei bastante, e há uma maneira de fazermos isso mais rapidamente.

— E qual é ela? — a primeira mulher perguntou.

O sujeito pegou diversas peças, pôs sobre o meio do mapa. Aquele monte pegava em diversas áreas do mapa, embaralhavam-se um nos outros, se sobrepunham.

— Quê isso? — o que foi chamado de rato de laboratório perguntou.

— Nossa passagem só de ida em direção ao nosso objetivo. É a nossa chance de usar todos eles contra eles mesmos.

Na ponta da mesa, o líder olhou tudo com um sorriso satisfeito. Aquilo seria o seu futuro. O homem de óculos olhou para ele pedindo aprovação, e ele apenas assentiu com a cabeça. O continente saberia seu nome.

O continente conheceria a Reforma. 

 


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