Um Natal Para Se Apaixonar escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo Único - Um Natal Para Se Apaixonar


Notas iniciais do capítulo

One-Shot especial de Natal.

Atendendo ao pedido de Blackbird, de uma one de natal, logo depois de eu ter postado a de halloween. Foi uma luta aguentar o faniquito e não postar antes desta data. Espero que goste do que escrevi aqui.

A todos, desejo uma boa leitura natalina.



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A porta do elevador abriu na recepção do prédio comercial onde trabalha Rosalie. Ela saiu logo atrás da mulher, de cabelos grisalhos, que se movia com elegância. O barulho de seus saltos soando sutilmente ao caminhar rumo à rua gelada numa tarde de inverno.

Rosalie ajeitou o cachecol em volta do pescoço, evitando a brisa gelada. As ruas de Nova Iorque estavam úmidas da última nevasca. Decoração Natalina por todos os lados. Pessoas agasalhadas caminhavam apressadas, de um lado a outro, entrando e saindo do trabalho, outras fazendo suas compras de Natal.

Em frente, avistou um casal de namorados próximos à vitrine de uma loja. O homem, segurando ambas as mãos da mulher, numa troca de olhares que dizia o quanto estavam apaixonados. Quem sabe, dizendo juras de amor.

Sacudiu a cabeça, acreditando que estar apaixonado era bobagem. Toda aquela história sobre borboletas no estômago e fogos de artifício era mera invenção. Nas poucas vezes que esteve envolvida com alguém, não chegou nem perto de sentir nada disso.

Cruzou a rua sem prestar atenção ao táxi amarelo, que freou bruscamente a poucos metros de onde estava, a buzina soando alto e persistente. Desculpou-se com um movimentar de mão, apertando o passo até estar do outro lado da rua. Um violinista tocava músicas Natalinas em frente uma loja de chocolates.

Enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo bege, mantendo o ritmo, virou à direita onde avistou o letreiro da cafeteria cuja amiga, Alice, é sócia. Empurrou a porta, grata por estar outra vez no aconchego de um aquecedor. O movimento estava grande lá dentro, ficou com impressão que todos queriam uns minutos num ambiente aquecido antes de voltar às ruas geladas. Olhou em volta, tentando encontrar a amiga. Atrás do balcão, o namorado e também sócio de Alice, acenou em sua direção.

— O de sempre? — perguntou vendo-a se aproximar.

— Por favor. — Rosalie chegou perto do balcão. — É o que mais quero nesse momento; um café fresquinho. — Deu novamente uma olhada no ambiente, enquanto o café não chegava. — E Alice?

Jasper se virou um instante, seus cabelos louros presos em um coque samurai, olhou no salão lotado, movendo o dedo como assim fosse mais fácil localizar Alice, baixinha, entre tantas pessoas.

— Em algum lugar por ali — chegou dizer —, anotando pedidos dos clientes. Claire e Dimy não estavam dando conta. Ela achou melhor ajudar.

Rosalie observou o movimento, então, avistou Alice, assoprando os cabelos que insistiam em cair sobre seu rosto, retornando ao balcão para entregar os pedidos.

— Parece que todo mundo resolveu vir hoje no mesmo horário — Rosalie comentou com ela.

Alice passou a mão na testa de um jeito dramático.

— Estou exausta. — Ela passou para o outro lado do balcão. E Rosalie se virou para continuar conversando. — Café? — perguntou Alice.

— Jasper está cuidando disso.

Alice entregou os pedidos a Radesh, o jovem alto, de pele negra, filho de um casal de imigrantes; mãe indiana e pai africano. Agradeceu a ele, se dando uns minutos para conversar com a amiga.

— Então, já preparou tudo para o feriado? — arriscou Alice.

— Quem me dera! — Jasper trouxe o café de Rosalie colocando diante dela no balcão e tornou se afastar. — Obrigada, Jasper. — Olhando outra vez para Alice, continuou: — Preciso comprar os presentes. Não sei o que comprar para meus sobrinhos. Nem mesmo sei o que crianças gostam. O que preferem, roupas, brinquedos ou jogos educativos?

— Quantos anos têm seus sobrinhos? — tentou Alice.

— Não sei. — diante o olhar acusador da amiga, emendou: — Não é culpa minha, são crianças demais. Às vezes até confundo quem é mãe de quem. Durante este ano nasceu mais uma. Esta eu sei que é de Kate, porque ela está sempre me cobrando que tenho de conhecer a mais nova da família.

— Por via das dúvidas, compre brinquedos. Toda criança gosta de ganhar brinquedos.

— Que tipo de brinquedos?

— Agora você me pegou. Compre o que estiver em alta. Os mais vendidos, sei lá.

— Vou à falência comprando tantos presentes. Minhas irmãs precisam parar de ter filhos, e isso é sério.

— Parece ser de família — Alice brincou. — Afinal, seus pais tiveram cinco filhas. Nem consigo imaginar como conseguiu lidar com tantas mulheres em sua vida. Não demora seus pais estarão cobrando que tenha seus filhinhos também.

— Não sou a única sem filhos, lembra? Irina também não os tem. Se bem que, anda falando em adoção. Meus pais que foque nela e na Blair e nessa ideia de adoção. Não tenho planos de me casar, nem mesmo em ter filhos. Nunca irei me apaixonar.

— Se você está dizendo…

— Vem comigo, me ajudar com as compras? Tenho um tempo livre agora.

Alice pareceu pensar no pedido.

— Está bem. — Começou retirar o avental, olhou onde o namorado estava. — Só porque sou muito sua amiga — falou com Rosalie. — Guardou o avental em algum lugar embaixo do balcão e se despediu do namorado. — Estou indo ajudar Rose com os presentes de Natal para a família gigante dela.

Após horas escolhendo presentes, Rosalie foi ao apartamento e Alice voltou à cafeteria. Exausta, deixou tudo na sala com decoração clara e nenhum enfeite de Natal, o total oposto dos locais por onde passou durante o dia.

Foi tomar um banho e vestiu o pijama. Esquentou o jantar no micro-ondas, e, como de costume, se sentou à mesa para jantar sozinha. Ao terminar, deixou tudo impecavelmente limpo outra vez. Ali mesmo na mesa de jantar, ligou o notebook e se dedicou responder e-mails de trabalho.

Encolheu as pernas no assento da cadeira, ao alcance de suas mãos deixou uma caneca com café. Intercalando em digitar, e um gole de café, o celular tocou com uma chamada de vídeo de sua mãe Esme.

— Oi, mamãe. — Atendeu a chamada, deixando o aparelho encostado ao vaso em cima da mesa, para conversar enquanto usava o notebook.

— Oi, querida — percebendo a filha digitando, não pôde deixar de comentar: — Trabalhando até essa hora, Rose?

— Só respondendo alguns e-mails.

— Já fez as malas?

— Que malas?

— Nossa reunião de família para o Natal. Você não pode faltar. Somos sua família, estamos ansiosos para encontrá-la de novo. 

— Mamãe…

— Não vá me dizer que não vem.

— Não tenho escolha, não é?

— Te ouvindo falar assim, até parece que somos para você um fardo.

— Não é nada disso, mamãe.

— Que bom, porque me deixaria muito triste se fosse assim.

— Mamãe… Vou estar aí no Natal. Já comprei os presentes. — Ela segurou o telefone, mostrando na sala de estar as sacolas e embrulhos. — Viu só! Preciso agora encontrar a mala que acomode todos.

A mãe reparou não só nos presentes, mas, também, na ausência de decoração Natalina.

— Não decorou o apartamento para o Natal? Onde está sua árvore?

Rosalie moveu o celular mudando de ângulo, onde mostrou um vaso de planta artificial.

— Bem aqui.

— Isso está longe de ser uma árvore de Natal. Compre uma de verdade, decore ela.

— Nem vou estar aqui para o Natal. Para que fazer isso?

— É uma tradição de família.

— Tenho só mais alguns dias antes de ir me encontrar com vocês. Não faz sentido enfeitar tudo aqui e deixar o apartamento fechado.

Num tom firme, Esme lembrou:

— Quero você aqui no Natal.

— Estarei.

— Virá mesmo sozinha? — por trás de sua pergunta, uma tentativa de descobrir se estava saindo com alguém.

— Sozinha.

— Kate chega hoje com as crianças. Irina, Tanya e Bella chegam amanhã com suas famílias. E você, Rose?

— Estarei aí na véspera de Natal.

— É tão em cima da hora, querida. Não vai conseguir participar dos últimos detalhes conosco.

— Não tenho como chegar antes, mamãe. Não consegui que me liberassem no trabalho.

— Está bem, querida. Amo você.

— Também te amo, mamãe.

— E, ponha um enfeite de Natal nesse apartamento. Você não é o Grinch.

Rosalie não pôde evitar a risada que deu.

— Tchau, mamãe!

Após falar com a mãe, desligou o notebook e foi ver o que levar na mala. Encontrou, no closet, uma manta vermelha, avaliou o tecido e uma ideia lhe ocorreu. Levou a manta até a sala colocando estrategicamente sobre o sofá branco.

— Decoração de Natal, okay.

[…]

Após quase quatro horas de voo, chegou ao aeroporto em Denver, Colorado, na tarde da véspera de Natal. Colocou a bagagem no carro de aluguel, se preparando para cerca de 1 h 47 min de viagem via I-70 W, rumo a Breckenridge.

— Tem uma nevasca a caminho? — Esme falou ao telefone antes de ela pegar a estrada.

— Vou chegar antes.

— Quero muito que esteja conosco no Natal, mas sua segurança é mais importante.

— Já estou no carro que aluguei, preciso desligar agora. Logo estaremos todos juntos. — Então, desligou. O telefone ficou no banco do carona enquanto se preparava para pegar a estrada. — Certo — falou para si mesma. — Vamos lá!

Por todos os lugares por onde ela passou, encontrou o clima Natalino. As estações de rádio não fizeram diferente. O rádio lhe fez companhia enquanto dirigia. A primeira música que ouviu foi “Jingle Bells Rock, com The Platters”. Na sequência, entrou “We wish you a Merry Christmas, com Take 6”.

O céu cinzento e a neve no acostamento, a estrada úmida e escorregadia fez com que fosse mais devagar. Pequenos flocos de neve voltaram a cair confirmando a previsão do tempo. Faltando muito pouco para chegar a seu destino, encontrou placas de sinalização para a estrada interditada. Sem poder seguir viagem, não chegaria a tempo para a reunião anual de Natal da família. Um carro a frente do seu, fez o retorno.

Pela primeira vez desde que começaram com os preparativos para o Natal, sentiu tristeza pela ameaça de não se encontrar com a família. A luz pálida do dia havia quase completamente desaparecido. Pegou o celular, com as mãos enluvadas, retirando uma delas para manuseá-lo. Sem sinal de operadora, observou. Deixou cair no colo, jogando a cabeça para trás até tocar ao encosto do assento.

— Mamãe tinha razão, eu deveria ter vindo antes. O que vou fazer agora? — olhou para os lados. Fez o retorno, lembrando-se de ter visto, não muito longe dali, uma cafeteria. Dirigiu de volta, atenta a paisagem, a música ainda tocando no rádio. Estacionou a poucos metros do estabelecimento, parou em frente para ler o letreiro logo abaixo do beiral do telhado encoberto de neve. Luzes de Natal piscavam na fachada.

Avistou algumas pessoas lá dentro ao olhar na parede envidraçada. Na calçada, ao lado de um pequeno morro de neve, havia um hidrante. Flocos de neve caiam em seus cabelos louros e na touca branca de tricô. Ergueu o telefone, caminhado quase como estivesse de patins no chão escorregadio, buscando sinal da operadora. Esbarrou num cliente da cafeteria que deixava o local.

— Me desculpe — pediu, mas o homem, com aparência de lenhador, não demonstrou se importar. Escorregou mais uma vez, quase batendo de cara na porta do estabelecimento. O telefone numa das mãos, empurrou a porta com a outra. A sineta sobre sua cabeça anunciou a chegada arruinando os planos de passar despercebida. Escorregou outra vez quando a porta se fechou, agitando os braços num movimento rápido buscando onde se segurar. Foi quando alguém, muito alto, e com braços fortes, segurou sua cintura ajudando recuperar o equilíbrio.

— Cuidado, moça. Assim, vai acabar se machucando — a voz grave soou próximo ao seu ouvido. Trazendo a sensação de ter gostado, não só de como a voz dele soou, mas da pegada firme também. Seu olhar firmou no dele ao ficar de pé sem escorregar, lindos olhos azuis, como o céu num dia quente de verão, a encaravam de perto. Quase pode sentir um calor imaginário aquecer sua pele, a neve no agasalho derretendo. Atordoada, não percebeu as mãos tocando o peito forte dele. Ficou com as bochechas queimando ao o ouvir falar novamente.

— Gostou?

Recolheu a mão como estivesse em câmera lenta. Olhou em volta, imaginando como sair disso.

Ele mudou a bandeja que segurava de mão.

— Está perdida por aqui? — arriscou.

— Preciso de um lugar onde me abrigar da tempestade de neve. E encontrar sinal… — Mostrou a ele o telefone na mão.

— Fique à vontade. — Ele olhou em volta buscando um lugar onde ela pudesse sentar.

Rosalie, então, percebeu algumas pessoas olhando em sua direção. Quase se encolheu de vergonha.

— Você pode ficar… Ali — ele terminou, mostrando com a mão a mesa ao lado da parede de tijolinhos.

— Obrigada — respondeu ainda enfeitiçada com a aparência física dele. Esbarrou na banqueta quando passou pelo balcão, ficando ainda mais envergonhada.

— Emmett — alguém o chamou no salão. O homem forte e atraente, que acabou de impedir que caísse de cara no chão, lhe dirigiu a palavra mais uma vez.

— Te atendo em um minuto — em seguida, se afastou para atender quem o chamou.

Rosalie se encaminhou ao lugar indicado por ele. Gostou que estivesse aquecida outra vez. O aroma de café e chocolate quente era acolhedor. Sentou-se deixando a bolsa pendurada na cadeira. Retirou outra vez as luvas para mexer no celular. Finalmente, tinha sinal de operadora.

Olhou de soslaio onde Emmett estava desviando o olhar depressa quando virou o rosto em sua direção. Fingiu se concentrar no que fazia no celular. Um segundo depois, olhou novamente para ele. Emmett sorriu ciente do que estava fazendo. Pega no flagra, usou o telefone de verdade, para falar com a mãe.

Emmett aguardou detrás de o balcão ela terminar de falar ao telefone para se aproximar.

— Vai querer beber algo?

Rosalie foi pega de surpresa mais uma vez pela voz dele. Levantou o rosto para olhar no dele.

— O que me indica?

— Estava tremendo quando a impedi de cair de cara no chão. Um chocolate quente com marshmallow seria uma boa opção.

— Suponho que vou engordar um pouquinho, então.

Emmett sorriu. Ela pensou ser um sorriso perfeito. Sem planejar, sorriu de volta.

— Volto em um instante com seu chocolate quente. — Ele parou e olhou para trás. — Se me permite, não deveria se preocupar com o peso. Parece muito bem como está.

Ela sorriu, um pouco sem jeito.

— Obrigada, eu acho.

Observou discretamente ele trabalhar atrás do balcão. Canções Natalinas estavam tocando no rádio em som ambiente. Uma garota de cabelos escuros se despediu de Emmett com entusiasmo, o que fez pensar se estaria interessada nele. Mais uma vez, ele a pegou olhando em sua direção, tentando disfarçar ao ser descoberta.

— Aqui está seu chocolate quente. — Levou a caneca à mesa dela.

— Vou levar todo o Natal para terminar.

Emmett achou graça.

— Vai gostar.

Pegou-se olhando para ele, pensando quão forte parecia.

— Já estou gostando — respondeu no automático.

— Ainda não provou — ele rebateu num tom de duplo sentido.

Rosalie sentiu as bochechas ardendo, não duvidou que estivessem ficando vermelhas nesse exato momento. Segurou a caneca com as duas mãos, tomando um bom gole do chocolate.

— Hummmm… Quente, quente, quente. — Devolveu a caneca à mesa quase em desespero.

Emmett apontou para seu rosto.

— É… — murmurou.

— O quê?

— Você…

— Eu o quê?

— Tem um bigode de chocolate quente.

Rosalie virou o rosto, usando o guardanapo para limpar a boca.

— Me chame, caso precise de mais alguma coisa.

Ela balançou a cabeça, voltando pegar a caneca nas mãos.

— Vá devagar, está quente — ele lembrou.

— Vou me lembrar disso.

Emmett a deixou para atender outros clientes. Rosalie notou que as pessoas pareciam conhecê-lo bem. Continuou tomando o chocolate quente respondendo à família no aplicativo de mensagens.

Após um tempo, notou, restavam somente mais duas pessoas, além dela e de Emmett.

Precisava usar o banheiro. Olhou em volta tentando descobrir o caminho que a levaria a ele. Pegou a bolsa logo que avistou a placa. Guardou o telefone e seguiu o caminho indicado.

Passado um instante, Emmett olhou de detrás do balcão a mesa que ela ocupava, vazia. Ficou desapontado, imaginando quando teria saído sem que percebesse. E não foi pelo chocolate quente que ela, supostamente, teria deixado sem pagar.

Retornando do banheiro, encontrou somente Emmett e outro homem no salão. Emmett viu que estava de volta. A satisfação por vê que ainda estava na cafeteria o fez sorrir. Rosalie acenou, voltando se sentar. Viu quando o outro cliente levantou, conversou com Emmett e foi embora, restando somente os dois.

— É… Por que está todo mundo indo embora?

Emmett secou as mãos no avental, retirou-o e guardou embaixo do balcão.

— Eles moram aqui perto.

— Ah… Entendi.

— E eu fecho às oito.

Rosalie verificou a hora no visor do celular. Eram oito e dois.

— O que significa que também tenho de ir? — pediu, meio sem saber o que fazer, uma vez que o caminho que a levaria até a família estava interditado.

— Eu não sei. Você tem que ir? — respondeu com outra pergunta.

— Eu deveria estar com a minha família agora. É véspera de Natal.

Emmett saiu de detrás do balcão caminhando alguns passos na direção da mesa que ela ocupava.

— E por que não está?

— A estrada que me levaria até eles, está interditada por conta da neve.

— Sinto muito. Você ao menos conseguiu se comunicar com eles?

— Eles sabem que estou perto, mas não posso chegar e eles não podem vir. E você? Não vai ficar com sua família? — arriscou.

— Não tenho família — revelou. Percebendo que a deixou curiosa, completou: — Cresci em um lar para crianças órfãs. Nunca soube quem eram meus pais.

— Eu sinto muito — usou as mesmas palavras que ele usou a pouco para se referir ao encontro dela com a família adiado.

— Não sinta. Estou bem assim. Quando criança, eu questionei muitas vezes o porquê de meus pais terem me abandonado. Hoje, não me importo mais.

— Fica aqui, o lar onde cresceu?

— Em Denver, pertinho daqui.

— Deve ter alguém com quem queira ficar nesta data. Amigos, talvez. Uma garota?

— E você, além de sua família, com quem mais gostaria de estar essa noite? — O olhar sustentou o dela como a desafiasse dizer a verdade.

Rosalie piscou atordoada.

— Não há essa pessoa — murmurou, por fim.

Após um instante sem que ambos falassem qualquer palavra, Rosalie voltou a falar:

— Seu nome é Emmett, certo? Ouvi algumas pessoas te chamando assim.

— Sim, esse é o meu nome. O seu, qual é?

— Rosalie. Rose, para amigos e família.

— É um bonito nome. Combina com você. É tão bonita quanto a rosa. — Percebendo que falou demais, virou de costas retomando o caminho até o balcão.

Rosalie se levantou.

— Suponho que esse é o meu momento de ir embora.

— Tem certeza?

— Não, não tenho.

— Não costumo fazer isso — apresentou. — Bem, pode ficar e passar a noite aqui.

— Está fechando a cafeteria, como posso ficar? Não quero ofender, mas, não me parece que este lugar seja uma pousada. — Viu os lábios dele desenhando um sorriso. — Não ria de mim.

— Você está certa quando diz que não se parece com uma pousada. Minha casa fica logo aqui em cima. — Ele mostrou com o dedo o segundo andar. Foi automático o olhar dela para o teto da cafeteria. — Não no teto — ele brincou.

— Gosto do seu senso de humor. Agradeço o convite, mas, não posso aceitar. — Então, falou consigo mesma: — Ele pode te matar jogar dentro de um saco e sumir com meu corpo. Isso é loucura, Rosalie.

— O que disse?

— Nada, não. Só estou pensando.

— Barulhentos, seus pensamentos.

Pegou a bolsa, voltando a ficar de pé.

— Quanto te devo pelo chocolate quente? — Olhou a caneca na mesa. Tomou pouco menos da metade dela.

— É por conta da casa.

— Não posso aceitar.

— É véspera de Natal. Aceite como um presente meu para você.

— Sendo assim. — Ela se encaminhou à saída. — Obrigada, então. — Pôs a mão na porta para abrir.

— Feliz Natal! — desejou ele.

A sineta tocou, uma forte corrente de ar gelado entrou jogando neve em toda ela, que recuou, falando repetidas vezes:

— Não dá, não dá, não dá. — A porta bateu. E ela sacudiu a neve no sobretudo.

Emmett riu detrás do balcão.

— Eu avisei — lembrou.

Rosalie deixou a bolsa numa das mesas mais perto da porta, agora que restavam somente os dois na cafeteria. Sentou pensativa, olhando o lado de fora através do vidro embaçado.

— Vou ter de fechar agora — avisou.

Acenou sem olhar para ele.

— Faça de conta que sou parte da decoração.

Emmett achou graça de seu comentário.

— É uma linda decoração nesta véspera de Natal.

Rosalie não resistiu, e acabou se virando para olhar o rosto dele.

Emmet apagou as luzes na parte dos fundos da cafeteria restando somente acesas na parte da frente, onde eles estavam.

— A estrela no topo da árvore — seguiu falando.

— O que disse?

— Que é linda e delicada tal qual a estrela de Natal, a que colocamos no topo da árvore. Tem uma árvore de Natal em sua casa, não tem?

— Bom, não, mas… Minha mãe me cobra sempre essa coisa da decoração.

— Deveria ouvi-la.

— Não tenho tempo para perder com essas coisas.

— Seja menos afobada menina.

— Como assim? — tentou Rosalie, achando-o cada vez mais amigável.

— Deixe a vida acontecer no próprio tempo.

— Certo — murmurou Rosalie. — Se eu sou a estrela, o que você seria na decoração de Natal? — arriscou.

— O pinheiro, sem dúvida.

— Nada exagerado — respondeu ela.

Emmett foi atrás do balcão ainda enquanto falava:

— Eu não sei você, mas eu estou com muita fome. — Pegou um refratário com tampa e pôs em cima do balcão. — Tenho uma torta aqui de noz-pecã. Aceita dividir comigo?

— Sabe fazer torta noz-pecã? Se soubesse que servia ela aqui, já teria pedido um pedaço.

— Na verdade, eu até tento, mas esta aqui eu ganhei.

— Uma admiradora? — arriscou.

— Acho que não. Então, aceita dividir comigo a torta?

— Torta de noz-pecã lembra muito minha família. — Ela olhou a rua encoberta de neve pelo vidro novamente.

Emmett levou à mesa pratos, talheres e a torta. Puxou a cadeira em frente a ela onde se sentou.

— Eu realmente sinto muito por não conseguir chegar a sua família esta noite.

— Não queria participar da reunião de família esse ano — admitiu. — Agora… — não conseguiu terminar, olhando a neve cair do lado de fora.

— Agora que não consegue chegar, sente ser o que queria — concluiu ele, prestando atenção em seu rosto.

Ela, então, se virou olhando a torta no prato, com a estranha sensação familiar.

— Não vai provar?

Ela pegou o talher. O pedaço no prato dele, quase terminando. Pegou um pedaço pequeno no próprio prato levando à boca. Sucessivas memórias de infância lhe ocorreram. Fechou os olhos, achando o sabor e textura familiar.

— Rosalie — ele chamou atento ao que fazia. — Você está bem?

— Caramba! — exclamou. — É igual à torta de noz-pecã que minha mãe faz.

— Sério?

— Incrível! Sempre achei que a torta de noz-pecã que minha mãe faz fosse a melhor. Você disse que ganhou? — questionou, comendo mais um pouco da torta. — Se foi uma garota que deu ela para você, deveria casar-se com ela.

— Ela já é casada.

— Então foi mesmo uma garota — continuou. — Tem certeza que não está interessada em você?

— Absoluta.

 — Posso comer mais um pedaço, quando terminar este aqui. — Ela balançou o talher sobre o pedaço de torta no prato.

— Quanto quiser.

— Você é muito legal, sabia? — Rosalie elogiou. — Foi uma boa decisão ter entrado aqui minutos atrás.

— De onde veio? Me lembraria se tivesse visto você por aqui antes.

— Meus pais têm casa aqui na cidade. Estou em Nova Iorque desde que terminei a faculdade. Aluguei um carro ao chegar a Denver, e o resto você já sabe.

— Agora entendo porque disse que sua vida é corrida. Veio de uma megalópole.

— Não gosta de agitação?

— Prefiro locais menos movimentados.

Assim que terminaram de comer a torta, Emmett recolheu e armazenou a louça na maquina de lavar. Durante esse tempo, Rosalie conversou com os pais por telefone. Percebeu que estava sozinha logo que os pais desligaram. Olhou na direção do balcão e não encontrou Emmett por lá.

— Emmett? — chamou cautelosa. — Emmett, você ainda está aqui? — não houve respostas. Levantou e foi à sua procura. Alcançando à escada, onde luzes mostravam o caminho até o segundo andar, chamou novamente: — Emmett, você está aí em cima? — Subiu os dois primeiros degraus. — Emmett? — Pensou em desistir, virando de costas, quando ele apareceu no alto da escada.

— Rosalie?

Ela se virou, abrindo um sorriso sem graça.

— Desculpe, não queria incomodar.

— Não me incomoda. Não avisei que estava subindo, porque não quis interromper sua ligação — se explicou.

Ela virou outra vez subindo mais alguns degraus. Lá em cima, encontrou sala conjugada ao quarto e uma área para a cozinha, o banheiro separado por divisória. Uma lareira de frente para o sofá e uma árvore de Natal enorme ao lado dela, iluminada por luzes pequeninas.

— Tem uma árvore de Natal — se pegou dizendo.

— Tenho, sim.

— Mas onde está a estrela? — questionou recordando a conversa que tiveram lá embaixo, na cafeteria.

— Acabou de chegar — brincou. Ela o olhou como fosse loucura. — Estou brincando. — Ele se aproximou da árvore, se curvando embaixo dela. — Deve ter caído. Encontrei! — disse, com a estrela na mão. — Quer colocá-la para mim?

Rosalie balançou a mão recusando.

— Fique à vontade.

— Tudo bem. — Ele prendeu a estrela no topo da árvore de volta. Rosalie reparou nos músculos, em como se apertavam sob o tecido leve da camisa de mangas compridas que usava. Terminando, se voltou para ela. — Você pode retirar o sobretudo e pendurar ali, no gancho. — Mostrou onde ficava seu agasalho.  — Não precisa se assustar. Só estou dizendo isso para que se sinta à vontade. O aquecedor aqui em cima não está muito bom, por isso liguei a lareira também. Pode descansar, preparei a cama para você. Eu vou ficar com o sofá

— Obrigada, o sofá parece bom para mim.

— Tem certeza?

— Não quero tirar seu conforto. Afinal, quem caiu de paraquedas aqui fui eu.

— Com uma nevasca, deveria dizer.

— Não faz tanta diferença agora. — Ela retirou o sobretudo deixando no lugar indicado, em seguida, se sentou. Retirou as botas, se encolhendo com as pernas dobradas num canto do sofá. O estalido da lenha na lareira a levou olhar o fogo. — Sua casa é bem aconchegante.

— Obrigado.

Ficou observado ele se aproximar com uma manta extra, ficando surpresa ao colocá-la sobre seus ombros. Seus rostos ficaram próximos, os lábios quase se tocando. O celular dela avisou da chegada de uma mensagem. Emmett, então, se afastou as mãos roçando nos braços encobertos dela. Rosalie ainda o olhava quando pegou o celular na mão.

— Vou tomar banho. Você pode ficar à vontade.

Usou esse tempo para responder algumas mensagens. Pouco depois, voltou olhar em volta procurando por Emmett. O encontrou deitado na cama, recostado à cabeceira, usando o notebook. Deu-se conta que olhava fixamente para ele ao ouvi-lo falar olhando sobre o notebook.

— Precisa de algo?

“Preciso saber se não está pesquisando como me matar”, pensou. — O que está vendo? — foi o que disse.

— Uma matéria sobre esportes radicais.

— Gosta de esportes radicais?

— Você não gosta?

— Sou medrosa demais para essas coisas.

Um sorriso se formou no rosto dele.

— Está confortável aí?

— Por que está me perguntando isso? — soou desconfiada.

— Por educação? — avaliou.

— Me desculpe — ela pareceu envergonhado depois disso. — Estou confortável aqui, obrigada.

Ele voltou à atenção a tela do computador.

— Espero que você não ronque.

— Eu não ronco — defendeu-se.

— Como pode saber?

— Eu saberia se roncasse.

Emmett não pôde evitar sorrir. Uma almofada voou em sua direção caindo sobre as teclas do notebook.

— O que pensa que está fazendo?

— Está rindo de mim — acusou.

Ele pegou a almofada e jogou de volta. Rosalie se abaixou, o objeto voou sobre o encosto do sofá caindo no carpete. Um minuto depois, uma chuva de mensagens começou chegar a seu celular. Nesse momento, se deu conta que era meia-noite. A família inteira desejando um feliz Natal.

— Feliz Natal, Emmett — desejou.

— Feliz Natal, Rosalie.

Levou algum tempo até responder todas as mensagens. Não percebeu em que momento Emmett pegou no sono. Olhou sobre o encosto do sofá, ele estava deitado com o notebook fechado ao lado dele. O ressonar constante. Pensou que deveria estar cansado de trabalhar o dia inteiro de pé atendendo clientes na cafeteria. O achou um gigante gentil. Atendeu a todos com atenção, e, quando em alguns momentos, oferecia um sorriso.

Saiu do sofá com cautela, evitando que o assoalho fizesse barulho sob seus pés. O celular ficou na almofada. Cruzou o espaço entre a sala e o quarto até estar aos pés da cama. Aproximou-se pela lateral, olhando o rosto dele, a barba por fazer, o contorno de suas sobrancelhas. Ele era tão bonito. Tão viril. Não resistiu ao impulso de erguer a mão até estar a centímetros de tocar o peito forte dele, observou subir e descer com a respiração. Apertou os olhos se obrigando recuar antes que o tocasse.

Tornou se afastar, um passo de cada vez. Tropeçou num par de botas de inverno caindo de cara no carpete. Não conseguiu evitar o grito que veio junto a pancada de seu corpo ao atingir o chão.

— Ai — gemeu, esparramada no carpete. A única parte do corpo que moveu foi à cabeça, olhando na cama, confirmando que Emmett ainda dormia. Ficou aliviada ao ver que sim. Levantou se sentindo vitoriosa.

— O que está fazendo? — A voz dele quebrou o silêncio, assustando-a. Virou-se, com a mão na altura do coração, encontrando Emmett sentado na cama, avaliando cada movimento seu.

— Estava procurando o banheiro, não vi suas botas… — moveu as mãos indicando o chão aos seus pés. — Fui de cara nele.

— O banheiro é para lá — orientou. — Viu quando entrei nele.

Ao se mover, Rosalie se atrapalhou com as botas quase caindo de novo.

— Ops! — murmurou, olhando para trás. Passou a mão nos cabelos, a caminho do banheiro.

Emmett ficou rindo quando fechou a porta.

— Desastrada — disse para si mesma ao se apoiar na porta fechada. Após um tempo criou coragem de voltar para a sala. Emmett estava deitado, embora acordado.

— Não precisa me rondar enquanto durmo.

— O quê? — ela gaguejou. — Não fiz isso.

— Está segura aqui.

Rosalie abriu e fechou a boca sem saber o que responder.

— Agora, se quiser tocar meu corpo, é só pedir.

Ela bufou, atirando o cobertor sobre a cabeça como uma criança que se esconde. Emmett riu de sua reação. Por um tempo, ficou levantando o cobertor, o necessário para enxergá-lo na cama, voltando abaixar sempre que olhava em sua direção.

[…]

Pela manhã ao acordar, ergueu o tronco olhando na cama dele, encontrando-a vazia. Fez menção de levantar e algo se enroscou no cobertor. Alcançou com a mão um enfeite de Natal; um anjo em murano azul. E o bilhete que dizia: “Este é meu presente de Natal para você”.

Achou fofo ele ter retirado um enfeite da árvore para presenteá-la na manhã de Natal. Guardou com cuidado na bolsa junto ao bilhete. Conferiu a mensagem que chegou da mãe logo cedo. Foi ao banheiro dele lavar o rosto e dar um jeito na aparência. Arrumou o sofá onde passou a noite. Pós de volta o sobretudo, a touca e pendurou as luvas no bolso. Deu uma última olhada antes de fechar a porta e descer a escada.

Encontrou Emmett atrás do balcão. Ele não estava sozinho, conversava com um rapaz de cabelos louros compridos. Outras duas pessoas tomavam café numa mesma mesa.

— Feliz Natal! — disse para o rapaz que conversava com ele. Assim que o outro respondeu, Emmett se dirigiu a ela.

— Aí está você. A estrada foi liberada no início da manhã — avisou.

— Acabei de ver na mensagem que minha mãe enviou.

— O que significa que você já vai? — chegou mais perto do balcão para conversar com ela.

— Obrigada pela estadia. E pelo presente.

— Você encontrou.

— Sim, e adorei.

— Vai ter de comprar uma árvore de Natal no próximo ano — encorajou. — Não pode deixá-lo na gaveta.

— Acredito que sim. — Ela pôs a mão sobre a dele, no balcão. O que sentiu diferiu de tudo que sentiu ao tocar outra pessoa. A troca de olhar. Os dedos dele envolveram os seus, um instante antes de ele dizer:

— Café ou chocolate quente?

— Vou querer café dessa vez, para viagem — lembrou. Aguardou o café ficar pronto para viagem. Suas mãos se tocaram outra vez ao receber o copo.

— Feliz Natal, Emmett — desejou. Afastou a mão para pagar pelo café e ele mais uma vez recusou o pagamento, alegando ser Natal.

— Feliz Natal.

Encaminhou-se a saída, desejando poder encontrá-lo novamente algum dia. E ele, desejou que pudesse ficar um pouco mais. O ar frio entrou pela porta quando saiu e a sineta lembrou que estava indo embora.

Já no carro, lembrou que não deu uma lembrancinha como presente de Natal, ou mesmo em agradecimento por toda gentileza ao hospedá-la. Vasculhou a mala de presentes, buscando algo que pudesse ser dele, algo que não desse muito na cara que tinha sido escolhido para outra pessoa. Pegou o globo de neve, que ela mesma adorou quando o encontrou na loja.

Voltou na cafeteria para entregar a lembrancinha a Emmett. Ele estava de costas, falando ao telefone, quando entrou. Usou a caneta e o papel em cima do balcão para lhe deixar um bilhete.

Para lembrar-se da hóspede atrapalhada, na véspera de Natal.

Rosalie

 

Deixou o bilhete embaixo do globo, que assentava os flocos de neve quando se virou pronta para partir.

Emmett desligou o telefone, olhando para trás a tempo de ver a porta se fechando. Ficou com a sensação de ter sentido o perfume dela ao soprar da brisa gelada. Pegou o globo e o bilhete, olhando em volta procurando por ela.

— Ela já foi — disse James, que antes conversou com ele.

Emmett saiu de detrás do balcão e abriu a porta da cafeteria procurando por ela. O carro que usava havia desaparecido assim como a ela. Sacudiu o globo na mão, desapontado. Olhou a estrada úmida com neve no acostamento e voltou entrar na cafeteria. Pensou que, como em um encanto de Natal, ela chegou e foi embora.

[…]

Estacionou em frente à residência dos pais, impressionada com o como esse ano eles investiram na decoração Natalina. Toda a fachada, arbustos e árvores no entorno com luzes. Até um trenó gigantesco colocaram no jardim. A neve, um tapete branco onde no verão aparecia o gramado, dando o toque final.

Saiu do carro carregando a bolsa e a mala de presentes, voltaria depois para buscar a bagagem de uso pessoal. Caminhou com dificuldade até a porta da frente. Deixou a mala escorregar no momento que ergueu a mão tocando a campainha. Instantes depois, a porta foi aberta revelando, Carlisle, seu pai, com um suéter verde de Natal.

Em cima da porta, o ramo de visco. Sentiu como um lembrete para abaixar a guarda e viver o momento em família.

— Rose — ele chamou seu nome com alegria. Saindo do caminho para que pudesse entrar na casa.

— Feliz Natal, papai.

— Feliz Natal, filha. Deixe-me te ajudar. — Pegou a mala levando para a sala com pé direito alto onde uma gigantesca árvore de Natal foi montada. Aos pés da qual, uma montanha de presentes se destacava. Em frente à parede envidraçada, o presépio representando o nascimento do menino Jesus e a chegada dos Reis Magos para entregar-lhe os presentes.

Rosalie abriu a mala juntando os presentes que trouxe aos demais.

— Onde está todo mundo? — pediu, assim que terminou.

Uma a uma, as irmãs foram chegando ao cômodo onde estavam, todas vestidas com suéteres Natalinos, combinando com o do pai, com a única diferença que os delas eram na cor vermelha. Isabella e Tanya desceram a escada. A mãe, a única das mulheres com suéter verde, veio da cozinha com Kate, Irina e Blair — a garota de cabelos escuros e compridos, que a pouco mais de dois anos namorava Irina.

— Feliz Natal — disseram todas, se aglomerando ao cumprimentá-la.

— Pensávamos que não conseguiria chegar nem mesmo hoje — contou Tanya. 

— A garota do contra — Irina acusou. — A única na família que não queria celebrar o Natal este ano.

— Não sou do contra. Eu gosto do Natal.

— Ahã… Sei…

— Não escute o que Irina diz — encorajou Kate, a mais velha das irmãs. — O importante é que conseguiu chegar.

Isabella emendou:

— Um pouco atrasada, é verdade.

Os maridos vieram do cômodo onde a família mantinha a sala de jogos. Steven, casado com Tanya, Edward com Isabella e Garrett, Kate. Todos eles vestindo suéteres de Natal. 

— Feliz Natal — disseram os rapazes.

Esme segurou seu braço, então.

— Graças a Deus chegou bem.

— Estou me sentindo deslocada por ser a única sem um suéter Natalino.

— Não seja por isso — disse Blair. — Guardamos um para você. Irina disse que isso aconteceria. — E foi buscar o suéter para Rosalie numa sacola ao pé da árvore.

Rosalie agradeceu, em seguida, retirou o sobretudo vestindo o suéter combinando com das irmãs.

— Ficou perfeito! — Esme elogiou.

— E as crianças, onde estão?

— Lá em cima — Isabella respondeu.

Os maridos seguiram a caminho da porta da frente.

— Onde estão indo? — Rosalie fez mais uma pergunta.

— Limpar a neve na entrada da casa.

Um murmurinho no alto da escada, depois o grito das crianças.

— Tia Rose!

Rosalie olhou para cima, seis das sete crianças se empurrando, todas com pijamas Natalinos em cores diferentes e pantufas nos pés.

— Fiquem onde estão — avisou. As crianças não obedeceram, vindo todas em sua direção. Formando um círculo no seu entorno, puxando seus braços como fosse uma novidade para eles.

— Socorro, gente! — pediu as irmãs. As crianças riram, e de tanto se aglomeraram a sua volta a derrubou. E, para seu desespero, se jogaram por cima.

— Crianças — pediu Esme. — Deixem a tia de vocês respirar.

— Não sei mais quem é quem. — Conseguiu dizer conforme as crianças foram se afastando, sem deixar de olhá-la.

A mais velha delas, com dez anos, de cabelos cor de bronze, ao lado do menino de sete, com cabelos na mesma cor, foi quem começou explicando:

— Eu sou a Renesmee, tia. E ele é o Tomy, meu irmão. Como pode se esquecer da gente? Os diferentões com essa cor de cabelos.

As outras crianças começaram se apresentar lembrando a tia quem era quem.

— Eu sou a Lory, tenho nove anos. E a minha irmã Hazel, sete. Nossa mãe é a Tanya.

— E nós somos os gêmeos Owen e Charlie, com nove anos. Nossa mãe é a Kate — disseram os gêmeos de cabelos louro-escuros.

— A tia sabe quem são só estava brincando, bobinhos. Espera, está faltando uma. A que ainda não conheço.

— É Avery, a nossa irmãzinha.

— Que tal abrirmos os presentes agora? — sugeriu a avó. As crianças correram para perto da árvore, empurrando umas às outras, procurando os presentes com seus respectivos nomes. Ela estendeu a mão ajudando a filha se levantar.

— Alguém anotou a placa — brincou Rosalie. — Ai — gemeu, levando a mão as costas. Irina e Blair riram.

— Elas não paravam de perguntar quando você chegaria — Irina contou.

E Blair emendou:

— É a tia favorita.

Rosalie observou os sobrinhos, todos felizes, abrindo seus presentes embaixo da árvore na manhã de Natal.

— Onde está a caçulinha? — pediu.

— Vou ver se ela já acordou — avisou Kate, e se afastou subindo a escada.

— Mãe — Renesmee gritou —, Tomy pegou o menino Jesus no presépio outra vez.

— Tomy — Isabella chamou. — Não pode fazer isso, filho.

O menino se defendeu.

— Levei para perto da lareira, ele estava com frio.

— Ele não está com frio. Coloque de volta no presépio da vovó.

— Tudo bem, Tomy — disse Esme. — Vovó acha que foi uma boa ideia. — Tomy sorriu para a avó, todo feliz.

As filhas de Tanya, Lory e Hazel, gritaram:

— O Papai Noel comeu todo o biscoito e o leite. E as cenouras também sumiram.

Owen emendou, empolgado.

— As cenouras foram as renas que comeram.

Kate voltou com a bebê careca nos braços.

— Avery, diga “oi” a sua tia — falou com a menina.

— Ela é tão fofinha — murmurou Rosalie. A mão acariciando os dedos gordinhos. Segurou a sobrinha mais nova no colo e quando a bebê começou chorar, devolveu aos braços da mãe. Então, sua atenção foi para a lareira. — Penduraram as meias — lembrou.

— A sua também está lá, tia Rose — lembrou Charlie.

— Podemos tomar café agora? — Isabella quis saber.

— Crianças, vamos tomar café, depois vocês continuam abrindo os presentes — Esme as chamou. As crianças resmungaram, mas acabaram obedecendo.

Alguns se acomodaram à mesa, outros em banquetas no balcão da cozinha.

— Que horas o convidado especial vai chegar? — Tanya deixou escapar.

— Que convidado especial? — Rosalie pediu, sem conseguir esconder a curiosidade.

— O que a vovó convidou para te conhecer — dedurou Renesmee.

— Como assim, para me conhecer? Mamãe?

Irina aproveitou para explicar:

— É um amigo dos nossos pais. Eles acreditam ser o cara perfeito para você.

— Mamãe! Não podem fazer isso. Não podem fazer esse tipo de coisa sem me consultar antes.

Hazel deduziu, então.

— Se é amigo da vovó e do vovô, só pode ser velho. — Todos na cozinha riram.

Aparentemente indignada, Rosalie questionou:

— É sério isso?

— Hazel, seu avô e eu não somos velhos. — Esme discordou. E, ao colocar a mão no ombro de Rosalie, tranquilizou: — Querida, ele é um gato.

— Mamãe — alertou Irina. — Se meu pai ouve isso.

— Estou casada, não cega. Tenho de fingir que ele é feio, ora essa.

— Muito bem, vovó — Renesmee apoiou.

— Vou contar isso ao vovô — desafiou Owen.

— Que besta você.

— Renesmee, não fale assim com seu primo — Isabella interveio.

— Ele está sendo dedo-duro e machista. 

— Sem brigas, crianças — Kate lembrou. — É Natal.

Rosalie reparou na ilha da cozinha.

— Vocês fizeram casinhas de gengibre. Que pena, não pude participar. Em uma delas tem meu nome. Quem fez essa?

Renesmee levantou a mão.

— É uma forma de sentir você conosco.

— Obrigada, querida.

Renesmee ficou toda orgulhosa. Tomy aproveitou para falar:

— Eu pedi ao menino Jesus que ficasse em segurança, porque você ficou presa na estrada. Estava com medo que aparecesse um monstro de neve. Ou o Pé-grande para machucar você.

— Que lindos vocês. A tia ama todos.

[…]

— Ah, qual é — disse Rosalie as irmãs, Isabella e Tanya, no antigo quarto. As irmãs diziam que o convidado especial chegou e estava lá embaixo. — Não quero um amigo dos nossos pais como pretendente.

— Não tem de ser assim, apenas seja simpática.

— Não podem escolher por mim. Eu podia não gostar de garotos, igual à Irina — afirmou.

— Nesse caso seria uma garota a convidada especial. Agora, anda! Vamos descer. 

— Vocês vão ver só — queixou-se Rosalie, de banho tomado, deixando o quarto. — Esse almoço de Natal vai ser uma furada. — Ao descer a escada, o viu de costas. Uma leve inquietação lhe ocorreu, achou que não lhe era estranho aquele porte físico.

— Olha ela ali — Esme estimulou.

O convidado se virou, e não pôde acreditar no que viu.

— Rosalie — disse seu nome num tom de surpresa.

— Emmett— ela sorriu.

— Vocês se conhecem? — Esme pediu.

— Sim — Rosalie concordou. — Foi ele quem me abrigou ontem à noite. — Eles sorriam um para o outro.

Renesmee e a prima Lory falaram juntas:

— A vovó tinha razão, ele é um gato.

Owen e Charlie fizeram questão de lembrar.

— E não é um velho.

Com um cutucão, Isabella empurrou Rosalie para que desse um passo à frente.

— Isso é o que eu chamo de “o maravilho presente de Natal”.

— Para — resmungou Rosalie.

— Vai lá falar com ele, sua boba. — A cutucou de novo, obrigando se aproximar.

— Estou feliz em vê-la de novo — Emmett fez questão de dizer. — Não sabia como fazer para agradecer pelo presente que me deixou.

A família dela trocou olhares de quem achava tudo muito interessante. Rosalie olhou para eles, sem graça.

— Não sabem como fico feliz que já se conheçam — Esme comentou. E, discretamente, fez sinal para que todos saíssem da sala. Os adultos levando as crianças.

— Então, os Cullen são seus pais? — Comentou Emmett, uma vez que estavam sozinhos.

— É o que me fizeram acreditar a vida toda. — Ambos riram. — Como os conhecesse? — ela quis saber.

— Eles estão sempre aparecendo na cafeteria desde que a inaugurei. Isso há pouco menos de um ano. Você não os visita com frequência, não é?

— Como eu disse, minha vida é muito corrida.

— Nova Iorque, claro — ele confirmou. Após um minuto em silêncio, tornou a falar: — A família é importante. Cada segundo ao lado de quem você ama, é precioso.

— Diz isso pela sua história de vida?

Emmett balançou a cabeça.

— Estou feliz em dividir minha família com você nesse Natal. Espera, foi minha mãe que te deu a torta de noz-pecã — concluiu.

Ele sorriu. — Quem podia imaginar — disse. E, devagar, ergueu as mãos segurando as dela.

— Quem sabe possa vir outros natais como esse — propôs. O olhar sustentando o dela, enquanto ambos sentiam o coração bater acelerado no peito.

— Muitos natais! — Tanya gritou do cômodo ao lado.

Com um sorriso, Emmett disse:

— Eles estão ouvindo o que estamos falando.

Rosalie desviou o olhar, com um sorriso tímido.

— Parece que sim — admitiu. — É coisa deles que tenhamos nos encontrados aqui hoje.

— Parece que o destino quis que fosse assim — Emmett aceitou. Então, sem saber se aceitaria, aproximou o rosto devagar para lhe beijar o rosto. Rosalie fechou os olhos apreciando o contato dos lábios dele na pele de seu rosto. O toque sutil da barba por fazer a lhe acariciar.

Charlie questionou, no cômodo ao lado.

— Vovó quando podemos almoçar? — O som de risadas veio em seguida. Um a um, a família foi entrando na sala a caminho da cozinha.

Segurando na mão do filho caçula, Isabella comentou:

— Deve estar se perguntando por que das cinco filhas sou a única morena? Não sou a diferentona, como diz minha filha, nem pinto os cabelos. Eu fui adotada mesmo.

— Não nasceu do meu ventre. Nasceu no meu coração — Esme fez questão de lembrar.

— Você tinha mesmo de falar isso, mãe? — Renesmee se queixou. — Não ligue para o que diz minha mãe, vovó. Às vezes, ela fala besteiras.

— Claro que não, meu bem.

— Essa é minha família — disse Rosalie, assim que ficaram os dois para trás.

[…]

Após um almoço de Natal barulhento e divertido, Rosalie caminhou nos arredores da casa encoberto de neve ao lado de Emmett. Ainda podiam ouvir as crianças gritando, brincando na neve com os adultos.

— Quer escorregar na neve? — tentou. — As boias estão livres agora, podemos brincar um pouquinho também.

— Só se for agora — Emmett aceitou. E, juntos, voltaram alguns metros para pegar as boias gigantes que as crianças abandonaram na frente da casa. Cada um sentou em uma, deram impulso descendo o morro de neve no terreno que pertencia à família. O som de suas gargalhadas se misturou ao riso das crianças, quando as boias tombaram jogando os dois na neve macia. — Você está bem? — pediu Emmett.

Rosalie afastou a boia para o lado saindo debaixo dela. Emmett ofereceu a mão para levantar. Ao ficar de pé, seus olhos se encontraram. Ele levou uma das mãos às costas dela, de maneira a aproximá-la um pouco mais. Os lábios se tocaram de leve no instante que antecedeu o beijo. Bolas de neve atingiram as costas dos dois. Risadinhas pipocaram. Rosalie sorriu ainda com os lábios junto aos dele. Emmett a abraçou, descansando o queixo no alto de sua cabeça com o gorro vermelho.

— Seu cachecol branco ficou no meu apartamento — lembrou. — Ele tem o cheiro de seu perfume.

— Você guardou?

— Esperava te encontrar novamente para devolver.

Deram-se as mãos enluvadas, as dele, luvas pretas, as dela, vermelhas.

As crianças se jogaram no chão fazendo anjos de neve.

Rosalie sorriu, olhando em frente. Gostando de como suas mãos se entrelaçaram, do que esse contato lhe trazia. Um pensamento lhe ocorreu ao ver o sorriso estampado no rosto da mãe.

“Está acontecendo. A coisa toda. As borboletas no estômago, os fogos de artifício.”

Era fim de tarde e as luzes de Natal na frente da casa começaram ganhar destaque na ausência de luz do dia. Tudo voltou a ficar colorido e alegre, com o riso das crianças ao fundo.

 


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Notas finais do capítulo

Desejo a todos um feliz natal. Que o ano de 2021 seja menos pauleira que foi 2020! Misericórdia, que ano. Que coisas boas estejam aguardando por nós lá na frente!


Se você gostou, deixe um comentário. Isso me faria muito feliz.


Beijo grande