Romance is a Bonus Book escrita por Ciin Smoak


Capítulo 1
Merry Christmas!


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, assim como prometido, olha quem apareceu aqui em mais um ano com mais uma fanfic de natal?

Quem me conhece, já sabe que o natal é a minha data favorita do ano e por isso eu nunca deixo ele passar em branco, além do mais, hoje é meu aniversário (Sim, eu faço aniversário na véspera de natal) e então estou presenteando vocês e me presenteando com mais uma história natalina em que eu tentei trazer tudo o que o natal significa pra mim: Amor, compaixão, perdão, entre outras tantas coisas maravilhosas!!!

PS: Quero deixar um agradecimento especial a minha best friend Regina por ter betado mais essa fanfic pra mim, te adoro amiga!!!!

Sem mais delongas, vamos a leitura!!!



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Eu realmente preciso fazer isso? Quer dizer, isso é realmente necessário?

A vida tinha um jeito engraçado de cuspir na sua cara, as vezes! Fazendo você perder o ônibus no dia em que tinha uma reunião importante ou derrubar ketchup na camisa no dia que tem uma entrevista de emprego, ou ainda VER A SUA CHEFE TE COLOCANDO NO PIOR TRABALHO DO MUNDO TOTALMENTE DE PROPÓSITO.

—Não venha me fazer essa cara, Oliver! Você sabe tão bem quanto eu que o único motivo pra ter que fazer isso é porque você deliberadamente rejeitou os outros projetos!

—Se eu soubesse que teria que fazer isso, eu com certeza teria aceitado ficar com algum deles.

—Bom, foi um erro seu!

—Você não acha que poderia conversar com algum deles pra trocar comigo? Uma boa mãe faria isso pelo filho! –A mulher a minha frente riu alto e então acariciou o meu rosto.

—Não pense que o fato de eu ser sua mãe, vai te dar alguma vantagem nesse caso porque não vai!

Bem, esses eram os malefícios de ter a sua mãe como a sua chefe, quando ela era babaca você nem ao menos podia gritar com ela!

Moira Queen era a pessoa mais resoluta que eu já havia conhecido na minha vida, desde muito nova, após ganhar uma pequena herança do meu avô, ela havia decidido que queria trabalhar com a sua maior paixão, livros.

Com esse pensamento em mente, ela abriu uma editora pequena, mas com garra e muito foco ela foi crescendo no mercado e hoje, A Queen’s Editorial era uma das maiores editoras dos Estados Unidos.

Eu havia crescido cercado por esse universo, o primeiro cheiro que eu havia aprendido a reconhecer era o de um livro novo, algo que sempre me lembrava a minha mãe e antes mesmo das outras crianças da escola aprenderem o abecedário, eu já estava lendo O Pequeno Príncipe.

Acho que no fundo, minha vida estava condicionada a isso desde o começo, por isso foi natural pra mim terminar a escola e fazer a faculdade de Inglês, após isso fazer a especialização em Produção Editorial. A verdade, é que eu não queria decepcionar a minha mãe e por mais que amasse livros mais do que a maioria das pessoas, eu não sabia se realmente gostava de trabalhar com isso.

Eles haviam sido meus companheiros por toda a vida, mas eu lia por diversão, por emoção e desde que isso havia se tornado um trabalho, as coisas não pareciam mais tão mágicas assim.

—Querido, está me ouvindo? –Olhei pra cima e percebi que deveria estar divagando a muito tempo, pois minha mãe já havia começado com aquele tique de ficar batendo o pé no chão.

—É claro!

—Você pode me dizer o que eu acabei de falar, então? –Ela tinha aquele olhar perspicaz no rosto, aquele olhar de mãe que dizia “não tente me enrolar” e por isso achei melhor falar a verdade.

—Blablabla, blablabla, livros?

—OLIVER JONAS QUEEN! –Abri um sorriso na direção dela e então segurei a sua mão.

—Você poderia repetir, por favor?

—Eu estava dizendo que sei que você não gosta do tema, mas já que Lyla teve complicações na gravidez, Diggle precisa estar ao lado dela e não pode mais cuidar disso, além do mais, o projeto já está praticamente finalizado, você só precisa dar o ok pra tudo e manda-lo pra impressão. Sabe que ele tem que estar nas estantes cinco dias antes do natal e não temos muito tempo!

—Não pode pedir pra outra pessoa trocar comigo mesmo? Eu não me importo de pegar qualquer outro projeto do começo e fazer tudo sozinho se for necessário, você mesmo disse que já está praticamente tudo pronto, então por que outra pessoa não pode assumir?

—Porque você sabe muito bem que eles não são tão rápidos e eficientes quanto você e que assim corremos o sério risco de não entregar o livro a tempo, não podemos mais perder um dia sequer depois de todos os atrasos que já tivemos. Não podemos entregar um livro de natal depois que o natal já tiver acabado!

—Tudo bem, só não me peça pra colocar um gorro na cabeça, o fato de você estar me obrigando a cuidar desse livro não vai me fazer querer ir pro Polo Norte ver os duendes!

Minha mãe arqueou a sobrancelha diante do meu sarcasmo, mas mantive o olhar firme.

—O que eu não faria se você não fosse o meu filho e o melhor editor da empresa mesmo? –Dei de ombros e então ela se afastou com um suspiro. –Não se esqueça do jantar hoje, sua irmã e seu pai finalmente estão chegando de viagem e quero que todos tenhamos um jantar em família, ok?

Balancei a cabeça em confirmação, doido pra acabar com aquilo de uma vez.

Família? É serio? A quantos anos não éramos uma família mesmo? Meus pais haviam se separado há quinze anos atrás, resultado? Minha mãe havia ficado comigo e meu pai havia ficado com a Thea, o clima era pesado as vezes e eu não sentia que fazíamos parte de uma família, mas minha mãe insistia em fingir que éramos uma.

Ela assentiu levemente, caminhando pra porta logo em seguida.

—Espera, quem vai ser o meu auxiliar nesse projeto? –Ela abriu um sorriso discreto, mas eu conhecia aquele sorriso há trinta anos e tinha a mais absoluta certeza de que ele significava que eu não gostaria do que viria a seguir.

—Felicity Smoak!

—Não, de jeito nenhum, não mesmo, sem chance! Esquece, eu sou plenamente capaz de cuidar disso sozinho! –Não, ela não podia fazer isso comigo, não podia mesmo.

—Você sabe que não consegue, hoje é dia quatro e os livros precisam estar nas livrarias no dia vinte, ou seja, temos apenas dezesseis dias pra fazer isso acontecer! Além do mais, por que não quer trabalhar com ela? A senhorita Smoak é ótima no que faz e está sempre animada!

—Exatamente, quem diabos canta musiquinhas natalinas as sete da manhã de uma segunda feira? Pelo amor de Deus! Além disso, parece que o papai noel vomitou nela, você viu as meias que ela tá usando hoje? São meias de renas e ela tá com um gorro na cabeça. O que você tá tentando fazer? Me matar de desgosto? Acha que assim vai me fazer gostar do natal?

Por um momento, percebi um olhar de culpa passar pelo seu rosto, mas ela logo o apagou e então voltou a parecer a Moira Queen de sempre, irredutível.

—Bom, você pode escolher, pode trabalhar com a senhorita Smoak ou com Isabel Rochev, o que prefere?

Minha cara de desagrado deve ter me entregado, pois ela sorriu satisfeita e finalmente abriu a porta.

—Muito bem, vou mandar a senhorita Smoak vir pra sua sala o mais rápido possível!

Depois disso ela saiu da minha sala e eu deixei a minha cabeça cair entre as mãos.

Seriam LONGOS dias até o natal!

...

Escondido atrás de uma das enormes estantes, observei o escritório e respirei aliviado ao ver que o caminho estava livre, eu só precisava chegar até a minha sala e então..

—Tá tudo bem?

Pulei com o susto e acabei batendo a cabeça na madeira atrás de mim, o que com certeza deixaria um galo gigante.

—Ai, caralho!

—Você não devia falar palavras tão feias em dezembro, não é muito natalino! –Observei a loira a minha frente e minha expressão deveria demonstrar o que eu estava sentindo, pois tudo o que ela fez foi erguer as mãos em sinal de rendição. –Tudo bem, era só uma dica. Mas agora, mudando de assunto, o que você tá fazendo aqui nesse modo furtivo?

Quem diria que uma loira baixinha com luvas cheias de árvores de natal conseguiria parecer tão assustadora.

—Eu? Ora, nada demais Felicity, quer dizer...

—Jura? Nada demais! Deve ser mesmo né? Porque se eu não te conhecesse bem diria que você estava se escondendo de mim! –Ela tinha um sorriso no rosto, mas eu sabia que aquele sorriso escondia um ódio homicida em relação a minha pessoa no momento.

—Eu? Que? Eu jamais sonharia em fazer isso!

É, eu havia feito isso mesmo!

Desde ontem, após a “conversa” com a minha mãe, eu havia conseguido fugir do trabalho antes que mamãe noel aqui conseguisse entrar na minha sala e depois havia conseguido me safar do “jantar em família” também. A verdade é que eu estava muito orgulhoso de mim mesmo, mas é claro que uma hora ou outra o universo me pegaria.

—Ótimo, vamos pra sua sala então e podemos já resolver o tipo de papel que vamos usar pra impressão do miolo do livro e precisamos também escolher a fonte que vai na capa, quer dizer, tem que ser algo que combine com a história. –Ela parecia totalmente animada e isso já estava começando a me dar dor de cabeça.

—A gente não pode só colocar uma fonte qualquer e um gorrinho de papai noel? Quer dizer, não vai dar na mesma? –Ela pareceu chocada por uns bons segundos e então me olhou feio.

—Você nem se deu ao trabalho de ler o livro, né? –Dei de ombros e vendo que não conseguiria me livrar dela tão cedo, acabei decidindo ir de uma vez pra minha sala.

—Você quer café? Nossa eu tô louco por um café! –Passei na cafeteira rapidamente e com ela ainda no meu pescoço, preparei um café com a maior calma do mundo.

Ouvi-la atrás de mim batendo o pé sem parar me dava uma enorme vontade de sorrir.

—Podemos ir agora, senhor Queen?

—Mas é claro!

Caminhamos até a minha sala em silêncio e então ela se sentou à minha frente.

—Tudo bem, eu pensei em começarmos com o tipo de papel, o que acha? –Ela tinha tudo anotado, adivinha só? Em uma agenda que tinha um papai noel na capa que dizia “não esqueça de anotar nada”.

—Não íamos usar o Ivory Slim 58g/m²? –Ela bateu a cabeça, parecendo totalmente pensativa e então negou rapidamente.

—Eu não acho uma boa ideia, quer dizer, ele é muito fino e você tem noção do quanto as pessoas choram lendo livros natalinos? Quer dizer, o papel tem grandes chances de rasgar e em tempos de rede social isso geraria uma propaganda totalmente negativa pra Editora. –Refleti um pouco sobre as palavras dela e percebi que ela tinha certa razão.

—O que você sugere então?

A loira parecia totalmente animada ao perceber que eu realmente estava dando ouvidos pro que ela estava falando, quer dizer, nem era tão ruim, contanto que ela continuasse se atendo aos detalhes técnicos e talvez tampasse aquela blusa ridícula.

“Sou totalmente a favor das uvas passas!”

Quer dizer, onde diabos ela arrumava essas roupas? Ela mandava fazer ou algo assim? Porque não era possível que uma loja normal vendesse uma coisa dessas.

—Vou trazer uma pra você! –Ergui a cabeça rapidamente na direção dela e percebi que a mesma me olhava fixamente, parecendo dividida entre ficar brava ou rir.

—A blusa, você parece tão interessado nela que eu vou trazer uma pra você, que tamanho você usa?

Pelo amor de Deus, não!

—Huuuum, qual é o tipo de papel que você sugere que a gente use mesmo?

Ela me olhou de cima a baixo antes de voltar pras suas anotações e eu senti que estava sendo realmente analisado durante essa reunião.

—Bom, eu estava pensando em usarmos o Pólen Soft 80 g/m², ele tem uma qualidade muito melhor e a coloração amarelada facilita a leitura, você sabe! Além do mais o livro tem 310 páginas, então não é necessário usar um papel tão barato.

—Faz sentido, mas isso não aumentaria os custos de produção em uma margem maior?

—Aumentaria se nós fôssemos fazer uma tiragem pequena, mas já temos quase dois mil livros reservados na pré venda até o dia de hoje e a estimativa é que esses números subam até o dia da estreia, por isso podemos começar com uma tiragem de sete mil exemplares, reduzindo assim os custos.

Eu me deixei cair na cadeira enquanto analisava a situação, eu estava realmente espantado, quer dizer, a mulher havia vindo totalmente preparada pra situação.

—Você estudou bastante pra fazer isso né? –Ela deu de ombros com um sorriso no rosto.

—Bom, é que eu amo o natal, é a minha data favorita do ano! –Olhei pra ela de cima a baixo, desde a tiara de renas passando pela blusa da uva passa e as luvas de árvore de natal.

—Jura? Nem dá pra perceber! –Ela claramente percebeu o sarcasmo na minha voz, mas preferiu ficar calada, o que eu pessoalmente achei uma atitude extremamente inteligente.

—Bom, voltando ao assunto, o que acha das folhas, pode ser? –Analisei por alguns instantes e mesmo que a contra gosto, concordei com ela com um aceno. –Tudo bem, vamos pensar no papel da capa agora, eu pensei em alguns modelos e trouxe eles pra você ver, alguns combinam tanto com o natal...

Enquanto ela dizia isso, começou a se aproximar de mim com os papeis nas mãos e no momento em que ela se abaixou ao meu lado e começou a falar, nossos rostos se encontraram por alguns segundos e eu senti algo estranho na barriga, como se ela tivesse começado a doer do nada.

Felicity não parecia diferente, pois ela se calou rapidamente e ficou apenas me encarando.

Cometas...

Os olhos dela lembravam o fogo da cauda de um cometa!

Espera, o que?

—Bem, eu acho que você pode cuidar disso, o que acha? –Eu não sabia o que havia acabado de acontecer ali, mas fiz questão de acabar o mais rápido possível.

—Você acha que eu posso resolver isso? –Ela pareceu espantada por um momento e se esqueceu de se afastar, mas eu logo limpei a garganta e ela parece acordar e voltar para o seu lugar rapidamente. –Bom, quer dizer, a escolha do papel da capa e da fonte pro título?

—É claro, quer dizer, você está bastante preparada e sinceramente se depender de mim eu vou escolher algo vermelho e colocar um gorro em cima, talvez um coração, então...

—Você realmente não deu a mínima para ler o livro, né? –Eu sabia que agora não conseguiria escapar da sua pergunta, então apenas dei de ombros.

—O título dele já é auto explicativo, quer dizer, “Para o Polo Norte, com amor”? Já não tá bem na cara? Provavelmente é sobre um casal que vai se conhecer nas circunstancias mais adversas, mas a magia do natal vai junta-los e os dois vão terminar o livro com alguma frase clichê brega enquanto descobrem que se amam loucamente.

Tudo bem, eu acho que agora havia conseguido deixar a mulher totalmente irritada!

—Eu tinha me esquecido do quanto você é insuportável e metido, não é sobre nada disso, quer dizer, é um livro de fantasia, tem romance, mas não gira em torno de disso, além do mais é uma história realmente incrível e você saberia disso se ao menos TENTASSE LER A DROGA DO LIVRO!

—Pra que eu preciso ler o livro se eu já tenho a Garota Noel aqui pra fazer isso por mim? –Ela me olhou por alguns segundos e então juntou as suas coisas rapidamente e caminhou até a porta antes de se voltar pra mim com um sorriso no rosto.

—Eu totalmente prefiro ser a Garota Noel do que ser a personificação perfeita do Grinch! –Ri alto com aquilo e apesar de sentir no fundo um certo incômodo com aquilo, apenas dei de ombros.

—Pois saiba que pra mim isso é um elogio!

—Pois saiba que não foi um!

Após dizer isso ela saiu da minha sala e eu tive vontade de jogar algo contra a porta. Aquela sensação esquisita que eu havia sentido quando ela chegou perto de mim? Esquece, deviam ser gases ou qualquer coisa parecida.

Mulher impossível!

Após a saída dela, devo ter bebido a minha garrafa de água inteira enquanto praguejava na minha mente, pois eu nem ousava fazer isso em voz alta no caso de ela brotar do chão dizendo que eu não deveria falar essas coisas no natal e blablabla.

Após algum tempo eu finalmente consegui me concentrar no trabalho, mas logo fui interrompido de novo pelo barulho do meu celular.

“Tem tempo livre no almoço? As irmãs da Lyla querem almoçar com ela e eu meio que fui expulso de casa por isso!”

Minha vontade era de dizer não, afinal ele era o culpado pelo tornado Smoak estar bagunçando a minha vida, mas eu era bonzinho demais!

Mandei apenas um ”ok” (porque eu também não era tão bonzinho assim) e então continuei trabalhando. Eu estava com raiva de mim, mas pensando bem eu deveria estar com algum tique ou algo do tipo, porque sempre que eu me distraía me pegava olhando pro lado de fora da minha sala, pra área onde o Papai Noel havia vomitado, a mesa dela.

Ela estava sempre sorrindo e as vezes dava alguns gorros para os funcionários e tudo bem, isso era fofo até...

Mas eu não ligava pra isso, porque Felicity Smoak era insuportável e só!

Assim que a hora do almoço chegou, eu voltei a sair da minha sala como um funcionário da CIA no meio de uma operação secreta e corri até o Henrietta’s, o restaurante favorito de todos os funcionários da Editora.

—Finalmente você chegou, eu já estava começando a envelhecer aqui! –Fuzilei meu amigo (?) com os olhos e então me sentei na frente dele.

—Do que você tá reclamando? Você tem sorte que eu vim, isso é mais do que você merece levando em consideração que você me deixou pra trabalhar com aquela doida, eu aposto que isso foi ideia sua inclusive! –Diggle nem ao menos se deu ao trabalho de parecer envergonhado, simplesmente deu de ombros e sorriu.

—Você tá certo, foi ideia minha mesmo! –Tudo bem, ouvir a verdade jogada assim na minha cara havia causado um impacto maior do que eu pensava.

—Qual é o seu problema?

—Que problema? Eu achei que colocar vocês dois pra trabalhar juntos de novo seria incrível!

—Incrível? Da última vez não deu muito certo né? Ela é atrapalhada, espalhafatosa, escandalosa, sorridente demais e...

—Eu sei, ela é tudo o que você não é! –Ele continuava com um sorriso no rosto e eu tive vontade de mata-lo.

—Por que você fala isso como se fosse uma coisa boa?

—Você conhece a teoria do Yin e Yang, certo? Ela diz que tudo que nos cerca é composto por duas forças opostas unificadas em harmonia para favorecer o movimento e, por sua vez, a mudança. Vocês são perfeitos juntos, justamente porque são totalmente diferentes.

—Ok, tudo certo, Oliver Queen e Felicity Smoak com certeza não dariam um bom casal! –Diggle se aproximou de mim por um instante e então abriu um sorriso maior ainda.

—Mas quem disse algo sobre vocês serem um casal? Eu estava apenas falando sobre uma parceria de trabalho!

Senti uma gota de suor frio escorrer atrás do meu pescoço e então dei de ombros, fingindo uma emoção que eu não estava sentindo no momento.

—Que seja, não combinamos em nenhum dos dois casos!

—Tudo bem, se é o que você diz!

O pior de tudo é que mesmo concordando comigo, ele ainda ostentava aquele sorriso no rosto que dizia totalmente o contrário!

...

“De todas as pessoas que eu já conheci, ela é a única que pode acabar conseguindo me fazer sorrir de verdade”!

Acordei rapidamente enquanto minha cabeça girava, o que diabos havia sido aquilo?

Eu sabia que havia tido um sonho estranho, mas não conseguia me lembrar do que se tratava, quer dizer, alguns fragmentos, talvez? Eu havia sonhado com algo relacionado a Felicity? Era isso?

Felicity!

Puta merda...

Olhei na direção do relógio e percebi que eu estava mais do que atrasado, nós dois havíamos combinado de nos encontrar hoje para decidir o marketing final da campanha desse bendito livro (e com isso quero dizer que ela havia me obrigado) e simplesmente havia perdido o horário.

Sabia que a essa hora ela devia estar lá embaixo, na porta do meu prédio, desejando a minha morte prematura e por isso simplesmente pulei da cama e me arrumei em tempo recorde. Em 20 minutos eu estava saindo do meu apartamento com uma torrada na boca enquanto corria para pegar o maldito elevador.

Ao chegar no térreo eu já estava completamente ofegante e procurei a minha volta por uma cabeleira loira, mas acabei não encontrando nada e por um momento achei que eu havia me enganado e que não estava atrasado, talvez ela estivesse.

—Você tá tentando acabar com o meu natal? É isso? –Me virei rapidamente e dei graças aos céus por ter comido a torrada enquanto ainda estava no elevador, caso contrário eu teria cuspido tudo nesse exato momento.

—Que susto mulher, pra que isso?

—Pra que isso? Sou eu quem te pergunta pra que isso, Oliver! Você está a uma semana sendo um completo babaca em tudo o que se relaciona ao livro e simplesmente joga as decisões pra mim, não foi pra isso que a sua mãe te colocou pra trabalhar nisso, sabe? Além do mais, você ao menos estava tentando fingir que ligava pra alguma coisa, mas agora você simplesmente nem queria me acompanhar hoje!

—Porque eu não entendo o sentido disso, já estamos fazendo o marketing desse livro há mais de um mês e agora você simplesmente quer montar algo novo na reta final e mesmo que eu aceite isso, porque diabos preciso passear com você pela cidade para montar a campanha? Porque não podemos estar em uma reunião no escritório e decidir isso com a Laurel, que por acaso é nossa chefe da equipe de marketing, como sempre fizemos?

—POR ISSO, OLIVER! É POR ISSO QUE NÃO PODEMOS! –As pessoas ao nosso redor nos olharam, parecendo espantados com o ataque dela. Felicity percebeu rapidamente e seu rosto ficou corado, o que combinou totalmente com a blusa vermelha de pinheirinhos que ela estava usando hoje e...

Foco, Oliver!

—Podemos ir, por favor? –Assim que terminei de falar isso simplesmente comecei a andar e ela me seguiu, resmungando.

“Ah, agora ele quer ir?”

Andamos por alguns minutos a esmo, nem me ofereci para pegar o carro, pois sabia que isso só a deixaria mais irritada, ao invés disso, apenas andei ao lado dela, sentindo algo que eu não sabia explicar.

—Pra você, o que é o natal? –Estávamos a tanto tempo em silêncio, que eu me espantei assim que ouvi a voz dela.

—Que pergunta é essa?

—Apenas responda, Oliver! –Ela tinha um olhar consternado no rosto e eu me lembrei de uma época atrás, onde mesmo que inconscientemente eu fazia de tudo só pra poder ver o olhar dela.

—Bom, o natal não passa de uma data comercial  que serve pra aumentar a oferta e demanda do mercado sob a falsa ótica de juntar a família no que promete ser a data mais amorosa e festiva do ano!  -Felicitu ficou quieta depois disso e eu apenas deixei o silêncio tomar conta, sentindo o gosto daquelas palavras na minha boca.

Houve uma época em que o natal era tudo pra mim, mas a cada dia que se passava, isso parecia mais um sonho borrado do que uma realidade do passado.

—É por isso que estou te levando pra fazer isso hoje! –Sua voz não passava de um sussurro e eu apenas fiquei olhando pra ela, esperando que a sua frase começasse a fazer sentido. –Você não acredita no natal e é por isso que não consegue se importar com esse livro e enquanto continuar com esse tipo de pensamento, vai continuar me irritando e eu vou continuar destruindo o meu espírito natalino enquanto penso em formas de te matar sem que ninguém descubra que fui eu. Então apenas tente manter a mente aberta hoje, ok? É tudo o que eu peço!

Ela me olhou com aqueles olhos extremamente fortes e eu me lembrei o motivo pelo qual eu havia preferido me afastar deles a alguns anos atrás.

—Tudo bem, mente aberta, posso fazer isso!

—Ótimo, me segue então!

E foi isso que eu fiz, segui aquela mulher que me deixava totalmente confuso pelas ruas de Starling e em nenhum momento abri a boca para perguntar aonde íamos.

Andamos por aproximadamente vinte minutos e eu já estava prestes a perguntar quando diabos íamos chegar no momento em que chegamos a um parque imenso com árvores gigantescas e folhetos espalhados por todo o canto.

“Show de Natal: Venha participar conosco”

—Um show de Natal? É isso? Como diabos isso aí vira uma estratégia de Marketing? –Felicity deu de ombros e então sorriu.

—Eu realmente não faço ideia, espero que você descubra como fazer isso quando sairmos daqui! –Ela estava de brincadeira comigo né? –Anda, vamos logo!

Nesse momento ela segurou a minha mão, provavelmente para me guiar pra dentro do local, mas no segundo em que elas se tocaram, um arrepio percorreu o meu corpo inteiro, como se uma corrente elétrica tivesse passado pelo meu corpo e assim como ela, eu me afastei rapidamente.

—Bom, é...Vamos entrar logo né? –Ela parecia confusa e nervosa, assim como eu, então a segui em silêncio, mas percebi que em momento algum ela tentou tocar em mim de novo.

—Felicity, o que...

—Finamente vocês chegaram! –Virei pra trás rapidamente e somente consegui ver uma cabeleira loira antes de algo se impactar contra mim e Felicity rapidamente. –Estou tão feliz por você estar aqui bebê e por ter trazido o seu amigo!

Eu ainda estava meio confuso quando a mulher se afastou da gente, mas percebi uma semelhança entre ela e Felicity no momento em que percebi que as duas estavam usando a tal blusa de pinheiro.

—Eu disse que viríamos, não disse? Sabe que sempre cumpro as minhas promessas! –Depois de falar isso, ela olhou pra mim e em seguida para a mulher a nossa frente. –Mãe, esse é Oliver Queen, Oliver, essa é Donna Smoak, minha mãe.

Mãe?

—É um prazer conhece-la, senhora Smoak! –Estendi a mão na direção dela, mas ela me abraçou logo em seguida, me pegando totalmente de surpresa e tudo o que acabei fazendo foi abraça-la de volta.

—O prazer é meu por finalmente conhecer você, Felicity fala tanto sobre você, sabe! –Arqueei a sobrancelha ao ouvir aquilo e ao olhar rapidamente na direção da loira ao meu lado, jurei que vi ela sacudindo a cabeça compulsivamente na direção da mãe dela, mas nem tive tempo de pensar nisso, pois a mulher mais velha me estendeu uma sacola.

Ainda sem entender muita coisa, abri a mesma e retirei de lá uma cópia da blusa que Felicity estava usando naquele primeiro dia, a blusa das uvas passas, mas essa tinha o tamanho ideal pra mim.

—Minha bebê disse que você parecia interessado na blusa, então pensei, por que não dar uma pra ele, né? –Ela tinha um sorriso no rosto e só então notei o nome da loja gravado na sacola.

“Smoak’s artigos de festa”

Então era ela que fabricava todas aquelas coisas loucas de natal?

Nota mental: a mãe era doida, por isso a filha também era!

—Nossa, muito obrigada! – Eu não era capaz de falar que havia adorado o presente, porque eu não era tão bom mentiroso, mas esperava que isso passasse despercebido.

—Que isso, espero que faça bom uso dela! Agora se me dão licença, preciso ir ajudar o Frank com as caixas, os enfeites da nossa grande árvore acabaram de chegar!

Assenti com um sorriso e assim que ela saiu, me voltei na direção de Felicity que ainda parecia meio vermelha.

—Felicity, o que...

—Não foi nada, quer dizer, ela é exagerada sabe? Eu devo ter comentado sobre você uma vez? No máximo duas, não é como se eu ficasse o tempo todo falando sobre você porque isso seria estranho e eu totalmente não faço isso e...

—Eu não ia falar sobre isso! –Ela ficou quieta no mesmo momento e então seu rosto adquiriu uma coloração ainda mais vermelha.

Um fio de cabelo havia escapado da sua trança e comecei a erguer a mão para tira-lo do rosto dela, mas a abaixei rapidamente assim que percebi o que estava prestes a fazer.

Mas que merda estava acontecendo comigo?

—Eu ia perguntar sobre o motivo de estarmos aqui, quer dizer, já deu pra perceber que aqui estão os preparativos pra uma festa de natal e que a sua mãe ajuda a organizar tudo, mas o que isso tem a ver com o livro?

—Vamos apenas ajuda-los por enquanto, pode ser? –Ela voltou a me olhar com aqueles olhos e mais uma vez acabei concordando.

Era oficial, Felicity Smoak precisava parar de me olhar daquele jeito!

A segui em silêncio e durante o resto da manhã me dediquei de verdade a ajudar aquelas pessoas, conheci Henry, um senhor muito simpático que cuidava da divulgação da festa, Jennet, uma senhora que cuidava de toda a comida que seria disponibilizada no evento, Margareth, que era uma faz tudo e ajudava todo mundo em cada função e Gustav, um garotinho muito sorridente que adorava cuidar da decoração junto com as outras senhoras.

O trabalho foi cansativo, mas era divertido estar entre aquelas pessoas, elas sorriam o tempo todo e não pareciam se importar com o excesso de trabalho, além do mais, Felicity estava sorrindo ainda mais do que o habitual, se é que isso era possível e eu começava a achar que aquilo era fofo na verdade, ao invés de irritante.

Mais uma vez ela estava vencendo as minhas defesas e eu não sabia se conseguiria me afastar novamente como havia feito há três anos atrás.

—E então? Vamos pra casa? Aposto que você está com fome e a Thea está te esperando! –Franzi o cenho na direção dela, que apenas deu de ombros, ela fazia muito isso. –Bom, ontem quando fui combinar o horário com você, te escutei falando no telefone com a sua irmã e combinando de almoçar hoje.

—Ah, é claro! Quer dizer, eu já estava me esquecendo, vamos sim! –Após as minhas palavras, ela começou a me arrastar para fora do parque e eu apenas dei um tchauzinho de longe para todo mundo. –Por que não fomos nos despedir direito?

Ela riu baixinho e então arrumou a bolsa sobre os seus ombros.

—Porque se você fosse se despedir da minha mãe, ela provavelmente nunca te deixaria ir embora, já que ficou extremamente encantada por você ter vindo hoje!

Eu refleti muito sobre aquilo e por muito tempo andamos em silencio, até que quando estávamos perto da minha casa, tomei coragem para dar vazão aos meus pensamentos.

—Eu gostei de estar lá e ajudar, mas ainda não entendi o motivo de você ter me levado! Quer dizer, era pra montarmos uma estratégia de marketing, não era?

—Você vai fazer isso, assim que pensar bem e refletir sobre tudo o que viu hoje! –Continuei olhando na direção dela, ainda sem entender o que diabos ela estava falando e por isso ouvi um suspiro sair de seus lábios no momento em que ela se encostou no portão do meu prédio. –Você acha que o natal é só uma data comercial e pra algumas pessoas é mesmo, mas eu queria te mostrar que o natal é mais que isso. –Ela se sentou na bancada que ficava na frente do portão e eu a acompanhei.

—Se lembra das pessoas que conheceu hoje? –Assenti, curioso pra saber aonde ela queria chegar, mas já começando a sentir algo estranho tomando conta do meu peito. – Bom, o Henry é um ex soldado, ele foi convocado pra guerra e quando voltou, seus pais já haviam falecido e seu irmão, que havia sido convocado junto com ele, havia morrido em combate, ele ficou sozinho e a única coisa que conseguiu encontrar da sua casa eram as fotos de família, entre elas as dos natais que eles passaram juntos, estar nesse projeto o faz se sentir menos só e todo dia 25 de dezembro ele pendura fotos da família naquela árvore imensa que fica lá no meio do parque. A Jennet sofreu de câncer durante muitos anos e acabou perdendo vários natais com os filhos porque estava no hospital, mas quando ela finalmente entrou em remissão, prometeu pra si mesma que passaria todos os natais possíveis com a família e os amigos já que ela havia percebido que nenhum tempo nos é garantido. A Margareth foi abandonada pelo marido, ele fugiu pra ficar com uma mulher mais nova, deixando ela só com o Jack, o cachorro que os dois criam desde que era um filhotinho, ela não tem filhos e a única irmã mora em Boston, mas acontece que o Jack adora correr por esse parque, já que tem muito espaço pra ele e foi assim que ela conheceu todo mundo e começou a participar de todas as atividades, principalmente as datas festivas, já que ela passaria completamente sozinha se não estivesse lá. Também temos o Gustav, ele é adotado, mas até hoje continua indo no orfanato que viveu durante alguns anos, os pais dele são pessoas incríveis e como eles tem uma boa situação financeira, todo o ano levam as crianças do orfanato pra participarem da festa la no parque, distribuem presentes e essas coisas.

Eu estava com o coração pesado por ouvir tudo aquilo, mas percebi que Felicity tínha lágrimas nos olhos, lágrimas essas que ela não parecia querer deixar que escorressem pelo seu rosto, mas apesar disso, ela ostentava um sorriso.

—E por último, temos a minha mãe! Papai saiu um dia, há anos atrás, ele disse que iria comprar o peru para assarmos na ceia de natal, mas não voltou. Horas depois descobrimos que ele havia sido atropelado por um motorista bêbado e não conseguiu resistir no caminho para o hospital. Por isso o natal é tudo pra ela, porque era a data favorita do meu pai , é a nossa forma de estar perto dele! –Depois de dizer tudo isso, ela se levantou e olhou pra mim. –Talvez pra algumas pessoas o natal seja só uma data comercial, pra outras seja uma data pra trocar presentes, mas praquelas pessoas que você conheceu, o natal é tudo e são nessas pessoas que eu queria que você pensasse quando olhar pra esse livro e pra essa data!

Senti lágrimas querendo chegar aos meus olhos também e por um momento, me vi contra um espelho, vendo um garotinho loiro que sorria enquanto pendurava bolas em uma árvore imensa. Eu não me reconhecia mais naquele garotinho, mas pela primeira vez em 15 anos eu começava a encontrar semelhanças com ele dentro do meu coração.

—Você é uma pessoa notável, Felicity Smoak! –Ela sorriu, verdadeiramente e grandiosamente e estendeu a mão na minha direção. Sem pensar eu aceitei e assim que nossas mãos se tocaram, aquele mesmo choque percorreu as minhas veias, mas dessa vez não nos afastamos, dessa vez nós apenas...

Sentimos!

—OLLIIIIIIE!!!! –Me virei pra trás e percebi que minha irmã estava descendo do táxi com um sorriso no rosto enquanto me encarava.

Ela ainda estava longe, por isso voltei a olhar para a mulher a minha frente.

—Bom, eu acho melhor ir, você tem que almoçar com a sua irmã e depois disso tem uma campanha de marketing pra criar! –Ainda totalmente anestesiado, eu apenas assenti e senti falta do seu toque no momento em que ela soltou a minha mão.

Após isso ela me deu as costas e começou a caminhar na direção oposta, eu fiz o mesmo e comecei a ir na direção da minha irmã, que me olhava com um ponto de interrogação no rosto.

—Ah, Oliver? –Me virei pra trás e vi que Felicity já estava a uma distância considerável de mim. –Obrigada por finalmente notar!

Ela então se virou e foi embora e eu simplesmente não disse nada, não disse que ela não precisava me agradecer e não disse que eu já havia notado isso há três anos atrás quando ela havia chegado na empresa.

FlashBack On

—Você realmente não se importa em fazer isso, querido? Quer dizer, eu sei que você anda muito ocupado, mas a maioria dos editores está de férias e os outros também estão muito ocupados, além do mais, eu tenho pavor só em pensar em Isabel Rochev assustando a garota. –Ri baixinho da cara de pavor que a minha mãe fez e dei de ombros.

—Eu já disse que não me importo, vai ser divertido treinar a nova funcionária!

Minha mãe sorriu pra mim e então ouvimos uma batida na porta da minha sala.

—Pode entrar!

A porta se abriu lentamente e uma mão tímida apareceu. Eu estava curioso, é claro, mas não estava preparado pro que estava por vir.

Foi como um soco no estômago!

Ali estava Felicity Smoak, a nova funcionária da Queen’s Editorial, a princesa dos olhos da minha mãe (porque segundo ela, a loira a minha frente tinha um dos currículos mais impecáveis que ela já havia visto).

Ela era...normal! Eu estaria mentindo se dissesse que ela era excepcionalmente linda ou algo do tipo, mas ela tinha algo, algo que fez suor escorrer pelo pescoço e meu coração acelerar a batida.

—Olá, eu sou Felicity Smoak! Vocês devem ser o senhor e a senhora Queen! –Minha mãe sorriu na direção dela e foi logo cumprimenta-la, enquanto eu apenas fiquei ali, observando, esperando...

—Senhor Queen é meu pai, pode me chamar de Oliver! –Ela assentiu e então abriu um sorriso na minha direção, um sorriso que fez algo estalar dentro de mim, algo que eu já não sentia a muito tempo.

—Tudo bem, Oliver!

FlashBack Off

—Alôôôôôôô!!!! Terra chamando Oliver Jonas Queen! Será que você pode parar de olhar pra bunda daquela loira e prestar atenção na sua irmã! Quer dizer, eu cheguei de viagem e nós não havíamos nos visto até agora!

Thea era baixinha e seria engraçado vê-la pulando na minha frente para chamar a minha atenção se ela não fosse tão assustadora as vezes.

—Aquela loira tem um nome e eu não estava olhando pra bunda dela, estava apenas...divagando! –Ela fez uma careta pra mim e então pulou em meus braços. Eu logo a segurei no colo e apertei seu corpo contra o meu, assim como fazia quando éramos crianças.

—Senti sua falta maninho! –Sorri e depositei um beijo nos cabelos dela antes de coloca-la de volta no chão.

—Também senti sua falta, Speed! –Thea passou um dos braços ao meu redor e juntos, começamos a caminhar para dentro do meu prédio, na direção do restaurante.

—E então, quem era a loira que tem um nome e pra qual você não estava olhando pra bunda? –Revirei os olhos e me sentei na frente dela. Percebi que os garçons pareciam meio atarefados e por isso provavelmente demorariam um pouquinho pra vir nos atender.

—Felicity Smoak, trabalhamos juntos e...

—Ah, eu sei quem é, ela é a nora dos sonhos da mamãe! –Franzi o cenho na direção dela e a mesma deu de ombros? –O que? Você não sabia? Mamãe já estava praticamente planejando o casamento de vocês, jurava que vocês iam namorar a uns anos atrás, quando ela chegou na Editora, mas algum tempo depois vocês simplesmente pararam de se falar e foi o fim do sonho dela!

Aquilo havia me pegado totalmente desprevenido e por um momento, eu não soube o que dizer.

—Eu não sabia, quer dizer, ela nunca me falou nada disso!

—Você sabe que a mamãe não fala muitas coisas pra gente, Ollie! Sempre foi assim! –Assenti, me sentindo triste de repente. –Mas e então, como andam as coisas na Editora?

Aquilo me entristeceu ainda mais.

—Não andam, quer dizer, eu não acho que isso seja pra mim, livros eram como uma válvula de escape, algo que eu amava mais que tudo, mas agora parecem cada vez mais maçantes e eu simplesmente não consigo mais encontrar alegria em fazer isso!

—Você está reclamando de barriga cheia, imagina só ter que lidar com acionistas todos os dias? Reuniões, relatórios e todas essas coisas chatas, o único momento em que eu realmente gostei de administrar alguma coisa na minha vida era enquanto jogava Banco Imobiliário, agora isso tudo faz eu querer arrancar os cabelos!

Ri baixinho e então segurei a mão dela.

—Eu não acho que isso seja chato, na verdade, me parece bem interessante, você sabe que eu sou bom nisso!

—Eu sei, me lembro de quantas vezes você me ajudou a resolver os problemas que apareciam na empresa, enquanto eu ficava editando os livros pra você!

—Acho que estamos com os papéis trocados maninha! –Ela sorriu, um sorriso que parecia triste e cansado.

—Acho que realmente estamos!

...

Mais tarde, naquele mesmo dia, eu estava deitado no meu sofá, percebendo que eu realmente achava que minha irmã e eu estávamos com os papéis trocados, quer dizer, ela parecia se divertir muito mais fazendo o meu trabalho do que o dela própria e eu não podia mentir e dizer que não gostava do trabalho na QC.

Mas será que conseguiríamos fazer algo sobre isso? Ou será que continuaríamos apenas seguindo a maré?

Enquanto ainda pensava nisso, passei a minha mão pelo bolso da minha calça e senti algo ali. Estranhei no mesmo momento porque eu tinha um certo tique e nunca colocava nada no bolso esquerdo, então puxei o objeto de lá no mesmo momento e vi que se tratava de um papel.

O abri cuidadosamente e então me deparei com a letra bem cuidada que eu sabia pertencer a Felicity.

“Você está errado sobre o livro, sabe? Não é um típico clichê com final feliz, eu não queria te dar nenhum tipo de spoiler, mas levando em consideração que você não vai ler mesmo...Ela morre no final!”

Me levantei no mesmo momento enquanto olhava praquele quadradinho cor de rosa e relia as palavras várias vezes.

Não, não podia ser!

Aquilo era um livro de natal, as pessoas não morriam em livros de natal, era uma espécie de regra!

Corri até o meu escritório e puxei de lá o manuscrito impresso do livro, não a edição final da gráfica, mas aquele usado pela Editora para cuidar do material.

Eu estava prestes a ir na direção da última página, quando minha mão travou automaticamente.

Droga, eu não conseguia fazer isso!

Eu era um leitor e como leitor eu não podia simplesmente ler o final sem entender o contexto da história...

E a maldita sabia disso, era exatamente isso que ela queria!

Não, eu não ia cair no joguinho dela!

Saí do escritório rapidamente e voltei pra sala, porque é óbvio que ela estava mentindo, só estava fazendo isso pra me obrigar a ler o maldito livro.

Tentei fazer de tudo, reler algum livro da minha estante, assistir alguma série, até limpar a maldita casa, mas meus olhos ficavam a todo momento se voltando para o escritório.

Droga...

...

—Você é uma coisinha descarada e mentirosa, Felicity Megan Smoak!

Eu estava parado em frente a Terra onde o Papai Noel Mora, mais conhecida como escritório da Garota Noel e nesse momento ela me encarava com um olhar inocente no rosto.

Cara de pau!

—Uou, bom dia pra você também Oliver! Do que estou sendo acusada as... –Ela olhou na direção do relógio dela para fazer um drama a mais e então voltou a olhar pra mim. –Oito e quarenta e dois da manhã?

—Não se faça de inocente, senhorita “eu não queria te dar spoiler, mas ela morre no final”. E o pior de tudo é que eu caí na sua jogada, porque eu sabia que era mentira, quer dizer, que tipo de livro de natal termina com alguém morrendo?

—Ah, então você leu o livro? Meu plano super infalível foi realmente infalível então! –Ela tinha um sorriso de vitória no rosto e aquilo só me deixou ainda mais nervoso.

Loira calculista!

Eu havia passado a madrugada inteira acordado lendo o maldito livro, simplesmente não havia dormido um minuto sequer, porque no momento em que estava terminando a última frase, meu despertador mostrando que era a hora de eu me levantar e ir me arrumar para o trabalho.

—E se eu te falar que apenas li a última página e vi que ela não tinha morrido coisa nenhuma? Parece que seu plano não deu tão certo assim, Smoak!

Nesse momento ela riu alto e acabou chamando a atenção de alguns funcionários a nossa volta.

—Não me faça rir, Oliver! Conheço você e uma vez você me disse que nunca conseguiria ler só a última página de um livro sem entender o contexto da história!

Ela tinha um sorriso triunfante no rosto, mas de repente eu não estava mais percebendo aquilo, tudo o que eu conseguia pensar era...

—Você lembra do que eu te contei a tanto tempo atrás? –De repente ela não estava mais sorrindo e seus olhos haviam adquirido uma emoção diferente.

—Lembro de tudo o que você me falou desde que nos conhecemos e me lembro de tudo o que você deixou de falar também!

Eu havia entendido o recado, havia entendido a frase subentendida... “Me lembro de tudo o que já conversamos, mas também me lembro de quando você se afastou sem me dizer o motivo”. Era isso que ela queria dizer e isso era o que mais me doía, porque a verdade é que ela não havia feito nada de errado.

—Felicity, eu...

Parecia mais uma cena de filme, ela se aproximou, eu me aproximei, nossos olhos se encontraram e...

O estraga prazeres chegou!

—Gente pelo amor de Deus, esse é um ambiente de trabalho e por mais que dê pra cortar com uma tesoura a tensão sexual que está sendo emanada nesse momento, vocês precisam manter o decoro, o que as pessoas vão pensar?

Me afastei no mesmo momento e apesar de sentir que estava vermelho, tratei logo de não demonstrar isso.

—Nossa, a palavra decoro vinda do homem que correu pelado pela baía de Starling, a ironia do ano! –Ele riu alto e então se encostou na mesa da Felicity.

—Mas foi você quem me desafiou!

—Eu não achei que você ia levar a sério!

—Você sabe que eu não nego nenhum desafio, caro Ollie! –Revirei os olhos e então dei as costas pra ele.

—Se eu te desafiar a pular de um penhasco, você vai? –O escutei rindo baixinho e ouvi que Felicity acompanhou a risada, o que teve o poder de fazer algo não tão engraçado com o meu coração.

—Depende, você vai comigo? –Bufei rapidamente e comecei a caminhar na direção da minha sala.

—Odeio você, some daqui!

—Pois eu gosto de você! – Pude escutar os seus passos me seguindo, então apenas retirei a chave do bolso para abrir a minha sala. –Eu preciso ir lá, tchau Felicity, como sempre foi um prazer ver você!

—Tchau Tommy, digo o mesmo... A propósito, quer um gorro de papai noel? –Me virei na mesma hora, totalmente abismado com a situação à minha frente.

—É claro loirinha, coloca aqui! –Ele apontou na direção da cabeça e ela logo retirou um gorro vermelho ridículo de dentro da gaveta e O ARRUMOU NA CABEÇA DAQUELE INFELIZ.

—Thomas Merlyn, eu posso saber que palhaçada é essa? –Eu estava começando a perder o juízo e o que me deixava ainda mais puta era ver que ele parecia estar se divertindo com isso.

—O que foi, Ollie? Fefê e eu temos uma coisa chamada, intimidade!

Era oficial, eu ia mata-lo!

—Por que você tá oferecendo um gorro pra ele? Você nunca ofereceu um pra mim! –Ela pareceu espantada por alguns segundos, eu também estava espantado com o que havia acabado de dizer, mas a minha indignação era maior.

—Bom, você não parece gostar do natal, porque diabos ia querer um gorro?

—Eu não quero um, mas você deveria oferecer apenas pela boa educação!

—Gente, alguém me traz pipoca que isso aqui tá mais interessante do que a briga dos Crowfords, quando a mulher descobriu que o marido estava traindo ela com o babá das crianças que era 14 anos mais nova!

—Cala a boca, Thomas!

O descarado ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo, mas continuou rindo como o bastardo que era.

—Então, Oliver, você quer um gorro de natal? –Felicity parecia estar se segurando para não rir e isso só me deixou ainda mais irritado.

A fuzilei com os olhos e nem me dei ao trabalho de responder, apenas entrei na minha sala e fechei a porta logo em seguida, mas mesmo assim consegui escutar a voz do Merlyn do lado de fora.

—Eu vou lá acalmar a fera, ele pode acabar colocando laxante na minha bebida ou algo assim, ele e a Thea tem essa veia vingativa, sabe?

Bufei ao escutar aquilo, mas simplesmente decidi respirar fundo enquanto me dirigia pra minha mesa e tentava com todas as minhas forças não enforcar o homem que estava entrando na minha sala nesse momento.

—Felicity mandou dizer que caso você mude de ideia, ela vai deixar um gorro de papai noel guardado pra você!

—Pois você e ela peguem esse maldito gorro e...

—Não, não use palavras feias, Ollie! Eu sou um bebê e não estou acostumado com esse tipo de comportamento!

Coloquei a cabeça entre as mãos e me segurei para não gritar, por que mesmo eu era amigo desse idiota que parecia ter prazer em me torturar?

—O que diabos você quer aqui, afinal de contas? –Ele deu ombros e se sentou à minha frente de forma totalmente relaxada.

—Eu apenas vim ter ver, pra bater papo sabe? Mas confesso que te ver enciumado está sendo o ponto alto do meu dia? –Aquilo me deixou completamente chocado e eu simplesmente cruzei os braços.

—Você enlouqueceu? Eu apenas não sabia que vocês tinham tanta intimidade e achei desrespeitoso ela te oferecer um maldito gorro enquanto nunca ofereceu pra mim que sou colega de trabalho dela e...

—Você está com ciúmes! –Ele disse aquilo com tanta convicção que teve o poder de me calar. –Não precisa negar pra mim, né? Você sabe que eu só me preocupo com o seu bem e sei que você é apaixonado por ela a anos, mas depois que você se afastou, eu vi que você ainda não tava pronto e decidi ficar quieto, mas agora que vocês estão próximos novamente, achei que esse seria o momento perfeito!

Eu estava estático, acho que essa seria a palavra. Do que diabos ele estava falando? Quer dizer, o que havia acontecido com o meu amigo irresponsável e que nunca falava nada sério?

—Você tá delirando? Quer dizer, de onde saiu isso? –Ele apenas me olhou de forma ainda mais firme.

—“De todas as pessoas que eu já conheci, ela é a única que pode acabar conseguindo me fazer sorrir de verdade”! –Senti o sangue fugindo do meu rosto no mesmo momento, eu havia sonhado com aquela frase ontem mesmo e aquilo vinha martelando no fundo da minha mente desde então.

—O que? O que é isso? Por que está falando isso? –Ele se aproximou de mim e diminuiu o tom de voz.

—Eu não estou falando, estou apenas repetindo o que você me disse sobre a Felicity, você disse que ela era a única pessoa que poderia conseguir fazer você sorrir, disse também que o sorriso dela te deixava feliz e que seus olhos sempre vagavam na direção dela quando você estava distraído, como se ela fosse um grande imã!

Eu queria rir, queria dizer que ele era um grande piadista, queria pedir pra que ele parasse de falar besteiras e dissesse logo o que havia vindo fazer aqui, mas eu não conseguia dizer nenhuma dessas coisas, não conseguia porque ele me olhava de uma forma que quase nunca olhava e eu sabia que não tinha um pingo de humor na declaração dele agora!

—Eu não me lembro de ter dito algo assim! –Minha voz não passava de um sussurro nesse momento.

—É claro que não, você tava bêbado e todo mundo sabe que você nunca se lembra do que faz ou fala quando tá bêbado! É por isso que eu tenho vários vídeos seus pra poder usar na posteridade!

—Quando exatamente eu disse isso, Tommy? –Ele deu de ombros e pareceu puxar a situação na mente para poder se lembrar.

—Há uns três anos atrás? Acho que foi isso, logo depois de você ter começado a tratar a Felicity como uma mera funcionária e ter deixado todo mundo sem entender nada!

Eu tinha que retomar o controle da situação, de algum jeito eu precisava retomar o controle sobre mim mesmo!

—Pelo amor de Deus, homem! Você tá jogando na minha cara algo que eu disse há três anos atrás? É serio?

Tentei passar um certo nível de deboche na voz, algo que eu sinceramente não sentia no momento.

—Estou, porque você disse na semana depois daquilo também e no mês seguinte e no ano seguinte, no outro ano também, e mês passado quando nos encontramos na Verdant e bebemos até amanhecer o dia!

Que?

No fundo eu sabia exatamente onde ele queria chegar, mas minha mente parecia se recusar a querer entender.

—Onde exatamente você quer chegar? Diga logo de uma vez!

—Onde eu quero chegar? Você não sabe mesmo? –Ele me olhou de forma inquisidora por um bom tempo antes de voltar a falar. –Oliver, você tem repetido as mesmas palavras pra mim toda vez que bebe demais durante os três últimos anos e sempre que eu te pergunto o por que você não fala com ela já que se sente assim, você responde a mesma coisa, “não quero que acabe como eles”, eu sei que quando diz isso, está falando dos seus pais, mas não acha que já passou da hora de você e da Thea começarem a viver de verdade ao invés de sofrer em função de algo que seus pais fizeram a quinze anos atrás?

...

As frases de Tommy ficaram na minha mente por dias e isso fez com que eu me tornasse super consciente da presença de Felicity. Eu sempre parecia saber onde ela estava, seu perfume sempre chegava à mim antes mesmo da sua presença real e eu a todo momento a flagrava olhando em minha direção, embora fosse eu que realmente estivesse olhando pra ela.

Graças a isso fiquei sem dormir por dias e percebi que ela havia se afastado de mim, como se uma muralha invisível tivesse se erguido ao nosso redor. Aquilo me deixou triste, realmente triste, mas percebi que talvez eu merecesse, não era eu que havia feito a mesma coisa com ela a alguns anos atrás?

A verdade era que Felicity Smoak era pura luz, mas meus olhos estavam cegos há quinze anos e eu não havia conseguido enxergar.

Acho que no fundo, eu não quis enxergar!

Os dias foram se passando e eu fui cada vez mais entrando na caverna escura e fria que era minha mente, ignorava as ligações dos meus pais e sempre mandava uma mensagem desmarcando algo com Thea, Tommy ou Diggle, acontece que eu não sabia pra que rumo levar a minha vida e me recusava a ficar sem descobrir.

Eu andava todos os dias a noite pelas ruas da cidade, olhando as estrelas, buscando entender a confusão de sentimentos que habitavam dentro de mim. Sempre parava no mesmo lugar, em frente a livraria que ficava perto da minha casa e ficava apenas ali, admirando os livros.

Mas hoje tudo estava diferente!

As prateleiras de amostra estavam lotadas com “Para o Polo Norte, com amor” e eu confesso que senti orgulho ao ver o nosso livro ali, exposto.

Nosso livro!

Era impressionante como de repente eu havia passado a considerar ele como algo meu também, como em pouco tempo eu havia começado a enxergar o natal com outros olhos.

Não como aquele menino inocente, mas algo perto disso! Era como se eu estivesse redescobrindo tudo relacionado a esses sentimentos que eu havia evitado por tanto tempo.

—Está lindo, não está? –Me virei pra trás e me deparei com Felicity!

Estava uma noite fria e ela usava um pesado casaco vermelho, com um cachecol preto e um gorro natalino na cabeça.

Ela realmente parecia a Garota Noel!

Ela estava linda!

Como eu havia conseguido fechar os meus olhos pra isso?

—Como você?... –Eu queria perguntar como ela sabia que eu estava aqui, mas tive medo de ela estar apenas passeando pela mesma rua que eu e isso soar arrogante.

—Eu andei seguindo você pelos últimos dias e você sempre parava aqui no final da sua caminhada! –Aquilo me pegou totalmente desprevenido e eu simplesmente não soube o que dizer, mas pelo visto as surpresas não haviam acabado ainda. –Eu escutei a sua conversa com o Tommy aquele dia, sabe?

O que?

A minha falta de reação deve tê-la deixado ainda mais nervosa, pois ela logo começou a falar sem parar.

—Eu sei que foi errado e me desculpe, não foi a minha intenção ouvir algo tão pessoal, mas o Tommy me pediu pra escutar, disse que era muito importante que eu ouvisse e eu simplesmente não sabia do que se tratava, por isso acabei escutando, mas quero que saiba que eu...

—Fe-li-ci-ty! –Ela parou de falar no mesmo momento e apenas me olhou, parecendo estar realmente preocupada. –Tudo bem, ok? É claro que isso me pegou de surpresa, mas eu poderia esperar algo menos vindo do Tommy? Ele só estava tentando ajudar, sei disso!

Ela assentiu rapidamente e então logo pareceu novamente constrangida.

—Sobre os seus pais, eu...

—Acho que eu te devo algumas explicações, não é? –Ela negou rapidamente e começou a apertar o cachecol com força.

—É claro que não, você não precisa falar nada se não quiser, ok?

—Obrigada por isso, mas eu quero falar! –Ela me olhou por alguns segundos, como se estivesse querendo ter certeza de que eu estava falando sério, mas logo assentiu e então apontou para o beiral da calçada.

Eu a segui e nos sentamos lá mesmo, eu não pretendia contar a história da minha vida no meio da rua, mas parecia ser a melhor coisa no momento.

—Quando você disse que eu parecia o Grinch naquele dia, bom, eu realmente vi uma certa semelhança, porque o Grinch era solitário, não era? Ele odiava o natal porque se sentia sozinho enquanto via todas as outras famílias juntas! –Percebi pelo canto do olho que ela ergueu a mão para me tocou, mas a abaixou no último segundo, o que me deixou realmente decepcionado.

—Oliver, me desculpa, eu não saiba! Em nenhum momento quis machucar você! –Sorri na direção dela, para mostrar que estava tudo bem.

—Eu sei disso, não se preocupe! A questão é que eu o entendia, sabe? Quer dizer, a quinze anos atrás meus pais decidiram que não se amavam mais e que tinham que terminar aquele casamento o mais rápido possível. O problema é que eles se esqueceram de nos contar isso e nós, Thea e eu, apenas descobrimos isso no dia de natal, quando escutamos os dois brigando por causa disso. Me lembro de ouvir o meu pai dizer que eles precisavam manter o controle porque a casa estava cheia de convidados, naquele momento eu quis gritar, quis brigar com eles, porque eles estavam destruindo a nossa família, mas nem sequer pareciam pensar que Thea e eu também seríamos afetados!

Olhei na direção do céu e praticamente senti a minha mente voltando àquele dia!

—Me lembro de ver que Thea começou a chorar baixinho e os soluções dela fizeram os meus pais perceberem que não estavam sozinhos. Eles rapidamente nos levaram pra dentro e tentaram contornar a situação, mas o estrago já estava feito e nós não queríamos ouvir aquela conversa de que por mais que fosse difícil, precisávamos demonstrar maturidade porque tínhamos convidados. Eu sinceramente queria que os convidados fossem pro inferno, quer dizer, era tão mais importante pra eles manter as aparências do que consolar os filhos que estavam sem chão naquele momento? Eu não entendia, como um casal que dizia aos quatro cantos do mundo que se amava fervorosamente simplesmente estava se desfazendo daquele jeito bem diante dos meus olhos?

Senti que as mãos de Felicity finalmente encontraram os meus ombros e pela primeira vez em muitos anos, me senti realmente reconfortado.

—Eu sinto muito Oliver, sinto muito mesmo, ninguém merece passar por isso, ainda mais uma criança! –Dei de ombros e permiti que minha cabeça encontrasse o ombro dela.

—Tudo bem, faz muito tempo! A questão é que eu nunca consegui esquecer, não consegui esquecer como eles nos fizeram descer as escadas e fingir que estava tudo bem, o quanto eu precisei morder a bochecha pra não chorar enquanto tentava passar força pra minha irmãzinha e o quanto aquilo me quebrou por dentro! Depois disso, o natal meio que morreu pra mim e eu simplesmente me fechei pro mundo, me isolei de tudo e de todos, enquanto Thea resolveu estar com alguém diferente a cada dia, beber mais do que deveria e aprontar mais do que alguém com um mínimo de consciência. Cada um de nós reagiu de um jeito, mas o motivo era o mesmo, estávamos quebrados e ninguém podia consertar isso, nem mesmo os nossos pais, mesmo que eles tenham tentado fazer isso durante anos.

—Vocês cresceram bem, Oliver! Mesmo com todos os problemas, você e sua irmã se tornaram pessoas incríveis.

Ela estava certa, quanto a Thea pelo menos...

Já quanto a mim!

—Eu não tenho tanta certeza disso! –A senti acariciando a minha cabeça, embora ainda parecesse meio hesitante. –Quando meus pais se separaram, percebemos que nenhum dos dois suportaria ficar sozinho, então eu decidi ir com a minha mãe e Thea decidiu ficar com o papai, não era pra ser assim, famílias não deviam ficar separadas.

—É por isso que você sempre odiou o natal, então? –A voz dela não passava de um sussurro e a minha não estava muito diferente.

—Acho que o natal se tornou um lembrete sabe? De que a minha família estava em pedaços e de que havíamos passado os últimos quinze anos usando máscaras, não fomos sinceros uns com os outros e isso só serviu pra afastar todos nós.

Ela abriu um sorriso amarelo e pareceu um tanto quanto culpada.

—Devia realmente ser um saco pra você me ver parecendo a louca do natal todo ano, certo? –Ri baixinho com aquilo e percebi que o natal não vinha me incomodando mais a muitos dias.

—Era um pé no saco as vezes, eu confesso, mas também era bom, mostrava que as pessoas ainda podiam ser felizes nessa data, por mais que eu não fosse e além disso, tudo mudou no dia em que você me levou lá no parque. Acho que percebi que todos nós estamos quebrados de alguma forma, a vida sempre faz isso com a gente, mas podemos nos ajudar, podemos consertar uns aos outros! –Percebi que ela tinha algumas lágrimas nos olhos enquanto acenava freneticamente acariciei o rosto dela. –Me desculpe por ter me afastado de você, eu tava com medo, não queria terminar como os meus pais, não queria magoar e ser magoado daquela forma, mas eu fui injusto, estava tão cego pela minha dor e pelas lembranças do passado, que não percebi que pela primeira vez eu tinha chance de tentar fazer lembranças melhores para o futuro.

Ela abriu um sorriso, tímido, mas que estava lá e então assentiu lentamente, como se finalmente começasse a compreender.

—Eu pensei em ir atrás de você várias vezes, sabe? Quer dizer, no momento em que nos conhecemos eu senti algo especial, uma conexão diferente e conforme os dias iam passando eu te conhecia mais e mais e sentia que assim como eu estava encantada por você, você também estava por mim, nos divertíamos juntos e eu me sentia confortável com você, que mesmo sendo tão diferente de mim, sempre conseguia me fazer rir! –Ela tinha um olhar saudoso no rosto e eu percebi o quanto devo te-la machucado quando fiz isso. –Mas aí você se afastou de repente e eu fiquei sem entender, quer dizer, várias coisas se passaram pela minha mente e entre elas a mais assustadora era que todos aqueles sentimentos maravilhosos haviam sido sentidos apenas por mim, que só eu estava me apaixonando ali, então eu fui covarde e nunca falei com você, porque o medo de realmente escutar você falando na minha cara que não sentia nada por mim e que eu havia confundido as coisas era maior do que tudo!

Percebi que nossas mãos estavam entrelaçadas e me perdi um pouco enquanto reparava no encaixe que parecia ser realmente perfeito.

—Me desculpe, Felicity! Eu não fui justo com você, me afastar sem dizer uma única palavra foi errado e covarde e eu nunca vou poder me desculpar o suficiente.

—Não precisa se desculpar, eu entendo, sabe? Acho que sempre entendi! Porque mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, eu percebia que você estava triste e que havia alguma coisa errada, eu deveria ter tido mais coragem, talvez eu pudesse ter te ajudado antes, mas tô aqui agora, se você quiser! Não vamos acabar como seus pais, sinto isso no fundo do coração, sabe?

Foi o meu coração quem disparou de repente e o ar fugiu dos meus pulmões de maneira extraordinariamente rápida.

—O que você tá querendo dizer? –Ela sorriu e aproximou o rosto do meu.

—Eu estou querendo dizer que você tem uma escolha, porque eu estou aqui, batendo na sua porta! –O hálito dela se misturou ao meu e por puro instinto, eu rocei os meus lábios nos dela. –Eu sempre estive batendo na sua porta!

...

Soul Parque (quinta feira, 24/12 – 22:30 hrs)

—Eu não acredito que você veio!!!!!! –Antes que eu pudesse dizer algo, mais uma vez aquele furacão loiro correu em minha direção e me deu um abraço forte.

Furacão esse que agora eu deveria chamar de sogra?

Felicity e eu estávamos juntos, isso era verdade, mas fazia apenas poucos dias e ainda não havíamos dito a palavra “namoro”, então, eu não tinha muita certeza do que estava acontecendo.

—Estou tão feliz por vocês dois, Felicity ficavam me falando sobre você durante os últimos três anos e tudo o que eu conseguia pensar era “esses dois vão acabar namorando” e não é que eu acertei? Eu sabia que vocês estavam predestinados, agora eu finalmente tenho um genro e minha filha não vai morrer solteira, então é um ótimo natal!

—Mãe, pelo amor de Deus, eu vou me jogar de algum lugar se você continuar falando! –Donna riu alto e então abraçou a filha antes de vir novamente em minha direção e arrumar a gola da minha camisa.

—Tudo bem, eu vou ali me certificar de que as bebidas estão geladas, ok? –Depois disso ela saiu assim como havia aparecido, do nada.

—Então, nós estamos namorando? –Felicity tinha um sorriso no rosto, apesar de fundo parecer meio apreensiva.

—Bom, eu acho que a sua mãe já respondeu por nós, né? –Ela riu alto e me abraçou de lado.

Eu estava com uma camisa vermelha para “combinar” com o natal, porque isso era tudo o que eu havia me permitido usar, Felicity havia tentado me convencer de todas as formas a usar a camiseta das uvas passas, mas qual é? Um homem precisava ter limites também!

—Você está realmente pensando em trocar com a Thea? –Assenti enquanto olhava a multidão que começava a chegar e supus que aquelas deveriam ser as crianças do orfanato.

Thea e eu havíamos conversado muito nos últimos dias e conseguimos perceber que realmente parecíamos ter trocado, ela tinha paixão por editar livros e eu gostava de tocar um negócio, então estávamos apenas pensando, “por que não”?

—Vamos fazer um teste, ver se nos adaptamos, precisamos contar aos nossos pais primeiro, mas no fim eles vão aceitar porque apesar de todos os pormenores, eles são bons pais e vão nos apoiar! –Ela abriu um sorriso e deu de ombros.

—Então eu vou namorar o futuro CEO de uma das maiores empresas do país? Uau, isso parece importante! –Revirei os olhos e apenas puxei ela para os meus braços.

—Eu sou realmente importante, você ainda não havia percebido isso? –Estava cada vez mais fácil rir ao lado dela, quer dizer, eu ainda tinha meus momentos de introspecção e sabia que o medo não iria embora de uma vez, mas eu estava caminhando e pela primeira vez, eu conseguia um luz no fim do túnel.

Senti seus lábios tocando os meus e assim como havia sido naquela primeira vez, em uma calçada em frente a minha livraria favorita, senti o meu coração disparando contra o peito e automaticamente meus braços se fecharam em volta da cintura dela.

Eu queria protege-la, queria fazê-la feliz porque sabia que ela me faria feliz também!

Logo sua língua começou a brincar com a minha e começamos a entrar por um caminho um tanto quanto perigoso para quando se está em público, quer dizer, minhas mãos haviam ido automaticamente para o limite do aceitável contra a curva dos quadris dela e eu duvidava muito que aqueles gemidinhos baixos que ela estava soltando fossem muito natalinos.

—Ai está uma coisa que não se vê todo dia! –Felicity e eu nos separamos rapidamente, ofegantes e me deparei com a minha irmã a minha frente.

Ela estava com um cara, o que não era novidade!

Ela estava sorrindo no natal e parecia realmente feliz, isso sim era novidade!

—Olá, eu sou Roy Harper, é um prazer conhece-lo! –O rapaz estendeu a mão na minha direção e eu o cumprimentei de volta.

Ele tinha um aperto firme e respeitoso!

Tudo bem, eu meio que havia gostado dele!

—O prazer é meu, Roy! Sou o Oliver, irmão da Thea! Mas e então, vocês estão... –Eu não sabia o que falar, quer dizer, minha irmã costumava ter os “caras da vez”, mas isso já fazia muito tempo.

—Namorando, estamos namorando! –Ela parecia orgulhosa ao dizer isso e eu senti uma espécie de orgulho fraternal que só irmãos eram capazes de sentir. –Você falou tanto sobre essa festa nos últimos dias, que decidimos vir conferir com nossos próprios olhos, mas esse lugar tá lindo demais!

Ela parecia encantada com tudo a nossa volta e eu me lembrei de que quando éramos pequenos, Thea era a que mais amava decorar a árvore de natal, os olhos dela brilhavam e ela parecia realmente feliz...

Assim como agora!

Conversamos por mais um tempo e eu sabia que por mais que precisássemos conversar sobre tudo isso, agora não era o momento, então quando eles nos deixaram para poder ver o resto da decoração do parque, eu fiquei em silêncio, mas não me surpreendi quando escutei o bip do meu celular.

“Pela primeira vez em muitos anos, é um bom natal!”

Abri um sorriso e a procurei no meio da multidão, nossos olhos se encontraram e minha irmã sorriu pra mim!

—É, é sim!

—Disse alguma coisa? –Felicity parecia curiosa, mas apenas neguei rapidamente.

—Nada demais! Agora, por que não vamos cumprimentar os outros?

Ela assentiu com um sorriso e começamos a nossa caminhada, admirando a festa e cumprimentando todas aquelas pessoas maravilhosas que eu havia conhecido naquele dia que Felicity havia começado a entrar em meu coração.

Eu me sentia acolhido ali, com uma sensação quente no coração que não sentia a muito tempo e percebi que finalmente....

Era mesmo um bom natal!

Rimos, comemos e bebemos e quando finalmente a meio noite chegou, Felicity e eu nos beijamos apaixonadamente atrás de uma das árvores enquanto nos escondíamos dos olhares curiosos.

—Feliz natal, Oliver!

—Feliz natal, Felicity!

Eu poderia contar sobre os nossos outros natais, poderia contar sobre o nosso casamento na praia ou sobre os nossos filhos, Mia e William, poderia contar todas as aventuras e aprendizados que fomos vivendo ao longo do tempo, mas acho que isso seria uma história pra outra hora!

Bastava dizer que estávamos felizes, nos fazíamos felizes e eu não me arrependia por um só momento de ter confiado nos sentimentos dela por mim e nos meus por ela, porque a verdade é que como alguém disse uma vez...

Somos todos livros, esperando que alguém nos abra e nos veja por dentro!!!!!


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Notas finais do capítulo

E é isso meus amores, feliz natal e um próspero ano novo!!!
Espero que tenham amado ler essa história, tanto quanto eu amei escreve-la, então caso vocês tenham gostado, deixem o review aqui ta bom? Me deem esse presente de aniversário kkkkkkkkkk!!!

Quem realmente tiver gostado, caso queira favoritar ou talvez até recomendar, é muito bem vindo também e eu vou ficar extremamente grata!!!!

Um beijo meus amores, nos vemos em 2021!!!!



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