Um Dia de Esqui escrita por nymphadora


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era possível ouvir um jingle natalino soando ao longe enquanto pequenos flocos de neve caíam ao redor do Grimmauld Place número doze e Ron trocava de roupa pelo que parecia ser a milésima vez naquele dia.

 

Tinha a impressão de que nunca se acostumaria a usar roupas trouxas, como se nenhuma o fizesse parecer apresentável o suficiente, principalmente  tratando-se daquela ocasião em especial.

 

A verdade era que o encontro entre ele e os Granger fora adiado inúmeras vezes por Hermione, que afirmava ser melhor dar um tempo para que seus pais e ela pudessem voltar a ter uma dinâmica normal após terem recuperado as memórias de suas próprias vidas. A questão era que tudo ao redor era mais complicado do que isso e, passaram-se meses em que Ron apenas teve contato superficial com seus sogros em meio ao caos do pós guerra e apenas agora, em dezembro, teria a chance de conhecê-los verdadeiramente. 

 

Ele havia comprado flores específicas que, segundo Hermione, eram as preferidas de sua mãe. Havia, também, decorado o máximo de informações que podia sobre a área de odontologia para impressionar o pai dela, sem que ela soubesse. Mesmo com tudo isso, Ron não podia sentir-se menos inseguro em vê-los novamente.

 

— Ron, você já está pronto? — disse Hermione entrando no quarto que agora pertencia a ele, sem se preocupar em bater. — Sabe que não quero aparatar quando a neve estiver ainda mais intensa. 

 

Ela o beijou brevemente antes de sentar-se na beira de sua cama, onde costumava ler seus livros enquanto Ron a observava da escrivaninha no canto oposto do local.

 

— E se eles conseguirem ver as cicatrizes dos meus braços, enquanto estou vestido como um trouxa? — questionou Rony, mais uma vez, avaliando a própria imagem no espelho que possuía no quarto. — E se por causa delas acharem que não sou boa companhia pra você?

 

Linhas avermelhadas preenchiam os dois braços de Ron desde o dia em que fora atacado por um cérebro na sessão de mistérios do Ministério da magia quando, ele, Harry, Hermione, Luna, Neville e Gina, invadiram o local em busca de Sirius.

 

Hermione riu em relação ao questionamento, levantando–se e indo em direção a ele, ela colocou seus braços ao redor de seus ombros.

 

— Eles sempre adoraram você! Se pensassem dessa forma, nunca teriam permitido que eu passasse tantos verões n'A Toca. 

 

— Eles sempre me adoraram como o amigo da filha deles, como namorado é diferente.

 

— Ron, eles te conheceram como meu namorado quando estávamos na Austrália e não pareceram de maneira nenhuma estar contra isso! Além do mais, eu tenho falado sobre nós desde então.

 

A afirmação de Hermione não o tranquilizou, porém. Estavam na Austrália como namorados sim, mas ele lembrava-se de como os pais dela estavam mais preocupados em entender como haviam esquecido de suas próprias vidas, do que em lidar com o status de relacionamento de sua filha.

 

— De qualquer forma — continuou Hermione enquanto ele mantinha seus braços ao redor da cintura dela. — Eles nos chamaram para esquiar, seus braços vão estar cobertos pelas roupas de frio que teremos de usar. Ninguém vai notar cicatriz nenhuma.

 

Ron ainda entendia pouco, quase nada, da tradição trouxa de usar pranchas nos próprios pés para deslizar sobre a neve, mas decidiu aceitar a opinião de Hermione e convencer a si mesmo de que estava pronto para o jantar com os Granger, que viria anterior a manhã de esqui.

 

Ele e Hermione deixaram o Grimmauld Place aos cuidados de Monstro, dirigindo-se ao fim da rua onde era mais seguro aparatar. Era engraçado olhar para trás e perceber que a casa, antes usada como quartel general para a Ordem da Fênix, era agora o que Harry tentava chamar de lar, compartilhando provisoriamente sua herança com Rony.

 

X

 

A tempestade de neve estava ficando mais intensa quando chegaram à rua da casa dos Granger. Hermione entrelaçou sua mão na de Ron antes de guiá-lo para  o sobrado localizado no fim da rua, cujo telhado já estava coberto de neve, assim como o chão em que pisavam.

 

Os pais de Hermione os receberam com sorrisos e abraços sinceros ou o mais próximo disso quando chegaram à porta. A verdade é que faziam poucos meses desde sua volta da Austrália e Ron não podia deixar de perceber como o casal, que antes era excessivamente carinhoso com a filha, agora parecia distante e até mesmo receoso em relação a ela.

 

— E então. — começou a Sra. Granger enquanto ainda estavam na entrada da casa e penduravam os casacos pesados no cabide ao lado devido ao ar quente do aquecedor da casa — Foi difícil chegar até aqui?

 

— Não mãe — respondeu Hermione após receber um abraço supérfluo do pai.. — Nós nos aparatamos da casa de Ron pra cá.

 

A Sra. Granger apenas assentiu, não parecendo inclinada a questionar mais sobre a aparatação e, quem sabe, iniciar uma conversa mais longa com a filha. 

 

— Isso é para a senhora. — disse Ron, entregando o buquê que levara até ali para a mãe de Hermione. — Hermione disse como você adora essas flores em especial.

 

A mãe de Hermione recebeu o buquê olhando as flores com carinho e, por um momento, pareceu próxima a dar um olhar um pouco mais caloroso à filha, mas pareceu mudar de ideia após o Sr. Granger sugerir que saíssem da entrada e enfim entrassem na casa.

 

Ron percebia como a casa em que estavam era a mesma em que Hermione vivia quando ainda estudavam em Hogwarts e ele, junto com seus pais e irmãos, iam buscá-la para passarem o verão n'A Toca.

 

A casa dos Granger não era nem de longe tão grande e caótica quanto a casa dos Weasley, sendo todos os móveis e objetos perfeitamente organizados dentro das paredes claras de cada cômodo. Mesmo a cozinha era perfeitamente planejada para aquela pequena família e Ron não pôde deixar de sentir-se um pouco deslocado sentado naquela pequena mesa entre eles.

 

O jantar estava perfeitamente servido à mesa e Ron fazia o possível para tentar agir naturalmente diante do silêncio cabal instaurado entre os quatro durante a refeição. Sentado ao lado de Hermione, ele não sabia o que fazer em relação à maneira como o Sr. Granger o olhava.

 

— Hermione comentou que você e Harry não estão com ela em Hogwarts dessa vez. — falou Sr. Granger. — Não pretende terminar seus estudos Ronald? 

 

Ron sentiu seu estômago afundar ao ouvir seu nome sendo pronunciado daquela maneira,mas manteve o olhar do Sr. Granger enquanto voltava a pousar seu garfo no prato em que comia. Hermione parecia querer se manifestar em sua defesa, mas ele foi mais rápido.

 

— Eu e Harry recebemos, como convite do Ministro, a chance de terminar de procurar bruxos aliados à magia das trevas, os chamados Comensais da Morte. — respondeu e Hermione acrescentou em seguida.

 

— Ron agora é Auror, como eu já tinha comentado mais cedo, pai. Mas não precisamos falar disso agora, não é? 

 

Hermione havia repousado sua mão sobre a de Ron em sinal de apoio.

 

— Acho muito nobre trabalhar protegendo a segurança das pessoas, Ron. — disse a Sra. Granger para ele. — Principalmente se isso for feito sem impedir que elas tenham suas próprias escolhas em relação a isso.

 

Ron percebeu Hermione estremecer ao seu lado, mas ela nada disse, voltando a se concentrar no prato a sua frente como se sua mãe não tivesse se manifestado. Ele queria poder fazer ou dizer qualquer coisa que fizessem com que ela não se afetasse tanto com a maneira como estava sendo tratada, mas via-se mãos atadas visto que também queria ser bem visto pelos pais da garota. 

 

— Ouvi dizer que o número de pessoas usando aparelhos dentais tem crescido nos últimos anos. —  disse Ron numa tentativa de quebrar o silêncio entre os quatro. — Mas é claro que não entendo disso tanto quanto vocês.

 

— A porcentagem de pessoas que precisam de aparelhos tem crescido mesmo. —  respondeu o Sr. Granger num tom de quem entendia do assunto, muito parecido com a maneira que Hermione usava em sala de aula. — Nem todos possuem meios mágicos para endireitar seus dentes, mesmo sem a aprovação dos pais para isso.

 

Ron percebeu, mais uma vez, Hermione se remexer desconfortável na cadeira ao lado e decidiu, por fim, desistir das tentativas de manter uma conversa amigável com seus sogros, concentrando-se em terminar de comer o jantar preparado por eles.

 

O Sr. Granger não demorou em indicar o sofá onde Ron iria dormir quando a refeição deu-se por finalizada e tanto ele quanto a Sra. Granger recomendaram que não demorassem a se deitar pois acordariam cedo na manhã seguinte. “Para não pegar filas tão longas no ponto de esqui.” disse a Sra. Granger antes de retirar-se para o quarto sob as escadas ao lado de seu marido.

 

Ron e Hermione fizeram questão de ficar para retirar os pratos e lavar a louça, o que não foi questionado pelos pais da garota. Enquanto lavavam as louças lado a lado, Ron não pôde evitar que seus pensamentos flutuassem até o que fora dito pelo pai de Hermione mais cedo. Ele não parecia aprovar o fato dele não concluir seus estudos assim como Hermione, e Ron não pôde deixar de questionar se estava dando os passos certos ao ter decidido não voltar para Hogwarts. E se Hermione, assim como seu pai, considerasse imprudente ele não terminar os próprios estudos? E se, mesmo apoiando sua ambição de ser auror, ela não o considerasse digno a isso sem as notas dos N.I.E.M.s? Seus pensamentos foram interrompidos quando percebeu que Hermione havia começado a dizer algo.

 

— Eles nunca vão me perdoar, não é? — questionou ela passando a esponja em um dos pratos usados. — Faz meses desde que voltaram da Austrália e nada parece ser como antes.

 

— Você só precisa ter paciência, Hermione. — disse Ron enxugando um dos copos de vidro. — Eles precisam de um tempo para processar tudo, desde a obrigatoriedade de irem até o St. Mungus no mínimo uma vez por mês, até o fato de terem de lidar com você estando longe outra vez, quero dizer, vocês conviveram pouco desde que eles voltaram da Austrália e você foi para Hogwarts.

 

Hermione suspirou. Aquilo era um fato, afinal. Encontrar os Granger na Austrália havia sido mais difícil e demorado do que esperavam e, quando enfim conseguiram contatar seus pais, faltava pouco tempo para a volta de Hermione a escola de magia e bruxaria, sobrando assim, poucos momentos de reconexão entre ela e sua pequena família. Ron jamais entenderia completamente aquele sentimento, mas sabia como era difícil estar distante dos próprios familiares.

 

— Talvez você tenha razão. — disse ela, para o alívio de Ron. — Faltam poucos meses para que eu enfim faça meus exames e termine meus estudos. Talvez as coisas melhorem quando eu conseguir estar presente com mais frequência.

 

— Eu tenho certeza que sim. — disse Ron agora pronto para expor seus receios a ela. — Hermione,você acha que seus pais pensam que eu…

 

— Não precisamos desperdiçar tanto tempo com essa louça. — disse ela aparentemente não tendo escutado o que Ron havia começado a dizer. — Vamos deixar com que elas se limpem sozinhas enquanto aproveitamos o tempo para… Outras coisas.

 

Fazendo um aceno de varinha, Hermione fez com que todos os pratos, panelas, copos e talheres começassem a ser limpos pela esponja enfeitiçada e, fazendo com que qualquer outro pensamento se esvaísse da mente de Ron, ela colocou-se na ponta dos pés e alcançou seus lábios enquanto ele entrelaçava seus dedos pelos seus cachos espessos.

 

Adorava tocar seus cabelos quando estavam próximos daquela maneira e sentia que poderia permanecer assim por horas, sentindo seu coração bater mais forte pelo modo em que ela correspondia seu beijo com a mesma intensidade e carinho que ele fazia.

 

Momentos como aquele, reviviam em si memórias de quando eram mais novos, quando faziam rondas juntos como monitores de Hogwarts, conversando e rindo pelos corredores da escola, lembrava-se da maneira em que seus olhares se encontravam durante as reuniões da AD, como se fosse inevitável encontrarem um ao outro mesmo em meio a feitiços e outros estudantes que, ainda não sabiam, mas se preparavam para algo maior.

 

—  Vamos subir, está ficando tarde e acho que a louça terminou de ser lavada há tempos. —  disse Hermione sorrindo para ele, Ron, porém, não a seguiu quando ela o puxou pela mão.

 

—  Seu pai disse que o sofá estava pronto para mim, então acho que é aqui que vou ficar essa noite. —  disse ele.

 

Hermione revirou os olhos mas não tentou convencê-lo do contrário. Se despedindo com um um último beijo, ela subiu as escadas em direção a seu quarto o deixando sozinho entre a cozinha e a sala.

 

X

 

Em meio a escuridão, tudo que Ron conseguia ouvir eram os miados distantes de Bichento que provavelmente estava com Hermione em seu quarto. “Pelo menos um de nós pode estar perto dela essa noite”, pensou Ron se virando para o outro lado no sofá pouco confortável que ficava em frente a uma caixa retangular que ele havia ouvido Hermione chamar de televisão.

 

Ele estava fazendo o que podia para passar uma boa impressão para os Granger pois era importante para ele ter a aprovação dos pais de Hermione sobre o relacionamento dos dois se esperava manter o que tinham e, posteriormente, caminhar para algo ainda mais sério e consolidado, mas temia não ser o suficiente.

 

Estava sentindo suas pálpebras começarem a pesar de sono quando percebeu um perfume familiar aproximar-se de si.

 

— Hermione ? — disse ele, sentando-se no sofá em que estava deitado. — Por que voltou até aqui?

 

— Eu estava tendo pesadelos. — respondeu ela sentando-se ao lado dele. — Os mesmos de sempre, você sabe.

 

Ron aproximou-se dela passando um de seus braços ao redor dos ombros da garota. Ele sabia como os pesadelos relacionados a guerra, tortura e perdas que sofreram assombravam Hermione tanto quanto ainda o assombravam.

 

— Tudo que eu queria era que eles não se esquivassem de mim como estão fazendo agora. — disse Hermione e Ron percebeu que algumas lágrimas estavam começando a cair de seus olhos. — Eu só queria proteger os dois de qualquer perigo que eles pudessem correr por minha causa.

 

Soluçando com mais intensidade, Hermione aceitou o lenço que Ron tinha em um de seus bolsos enquanto deitava sua cabeça no ombro dele. Estarem daquele modo era mais comum do que imaginavam e isso ocorria desde o enterro de Dumbledore quando estavam em seu sexto ano. Existiam muitos momentos difíceis e isso era inegável, mas estavam ali um para o outro em todos eles.

 

 — Eu escrevi para eles todos os dias desde que voltei para Hogwarts.  — continuou Hermione.  — E mesmo assim…

 

 — Talvez tudo que eles precisem é ter certeza de que você não vai mais usar magia contra eles. E eu sei que sua intenção era protegê-los.  — acrescentou Ron ao notar que Hermione começava a abrir a boca para rebater.  — Mas tudo que eles enxergam é uma quebra de confiança. Você precisa mostrar que eles podem confiar em você de novo, assim como eu precisei me provar para você e Harry quando, você sabe, voltei depois de ter deixado vocês.

 

A fala de Ron fez com que Hermione secasse suas lágrimas para encará-lo com seus expressivos olhos castanhos agora vermelhos de tanto chorar.

 

 — Você sabe que eu e Harry te perdoamos há muito tempo,Ron. Você estava sob influência da Horcrux e nós sabemos disso.  — disse ela, apertando uma das mãos de Ron com carinho. — Está realmente tarde agora, é melhor subirmos.

 

— Talvez seja melhor eu continuar aqui. —  disse Ron receoso.

 

— Eu não quero ter outros pesadelos Ron. Vem comigo, por favor. 

 

Ao ouvir o último pedido, Ron não pensou duas vezes antes de pegar as cobertas que estava usando no sofá e levá-las para onde Hermione o guiava. Estariam sozinhos em seu quarto mas não era segredo para ninguém, talvez nem mesmo para os pais de Hermione, que os dois já haviam compartilhado uma cama um incontável número de vezes antes e depois de sua ida a Austrália.

 

A sensação dos cabelos de Hermione contra seu rosto enquanto ele passava um dos braços ao redor da cintura dela já era familiar e assim os dois adormeceram.



X

 

Ron teve a impressão de que o despertador havia começado a tocar apenas minutos depois dele ter pego no sono e percebia que aquela manhã,cujo os primeiros raios solares ainda se manifestavam timidamente, seria ainda mais fria do que a noite anterior.

 

Ele e Hermione desceram juntos em direção a cozinha quando estavam prontos e agasalhados para sair para esquiar. Foram recebidos com saudações sonolentas de "bom dia" pelos Granger que, ao contrário do que Ron temia, não pareceram se opor ao fato dele não ter passado a noite no sofá da sala.

 

— Então, você tem alguma ideia de como esquiar, Ron ? — perguntou a Sra. Granger enquanto comiam as panquecas feitas pelo pai de Hermione. Ron sentiu seu estômago se contorcer devido a pergunta. 

 

— Na verdade, bruxos não possuem o costume de deslizar pela neve dessa maneira, mas talvez eu possa aprender, não pode ser tão difícil quanto voar numa vassoura. — disse Ron, sentindo, em seguida, que aquilo pareceu ser uma resposta errada ou algo perto disso ao notar o silêncio que se seguiu durante todo o tempo em que terminavam o café da manhã.

 

A verdade era que Ron temia que as brincadeiras de seus irmãos mais velhos em afirmar que Hermione era demais para ele, tivessem um fundo de verdade, afinal, parecia, a ele, que os pais da jovem bruxa estavam, silenciosamente, concordando com aquela afirmação.

 

Quando entraram no carro, Hermione entrelaçou sua mão,coberta por uma luva de lã, na dele que estava protegida do mesmo modo, enquanto estavam ambos no banco de passageiro do veículo que pertencia aos pais dela e mantiveram o contato durante todo o percurso até a pista de esqui, sorrindo um para o outro e trocando olhares de carinho pelo caminho.

 

— Chegamos. — anunciou o Sr. Granger após estacionar próximo a um conjunto de casas de madeira cobertas de neve, assim como o solo, na qual lia-se “Snowboard e Esqui” numa placa de entrada. 

 

Ao entrarem em uma das docas, os quatro foram instruídos a vestir os casacos, capacetes e protetores oculares disponibilizados pela equipe de Esqui proprietária do local. Estava absurdamente frio e a neve caia de maneira intensa do lado de fora, por isso, quando receberam suas pranchas para esquiar e foram guiados para o local onde haviam  pessoas praticando a atividade, Ron fez questão de verificar se nenhum dos trouxas ao redor estava prestando atenção quando usou um dos feitiços para aquecer em Hermione, certificando-se de que ela não sentisse frio ou corresse o risco de ficar doente.

 

Um instrutor foi o suficiente para que Ron obtivesse pelo menos uma ideia de como deslizar pela encosta coberta de neve à sua frente. Os pais de Hermione foram na frente e depois os dois deslizaram juntos até o outro lado onde encontrava-se um grande número de  pinheiros e era possível ver as casas de madeira ao longe.

 

Repetiram o mesmo caminho algumas vezes enquanto Ron ensaiava o que precisava dizer a Hermione mas não pôde dizer no dia anterior. Quando enfim fizeram uma pausa dos deslizamentos, ele retirou o capacete e o protetor ocular que eram obrigados a usar para enfim conseguir olhar e falar propriamente com ela enquanto estavam sentados num dos bancos de madeira ao lado das docas e fora da rota de esqui do local.

 

—  Eu estava pensando… talvez seja uma boa ideia se eu voltar para Hogwarts no próximo mês de Setembro e fazer os N.I.E.M.s. —  disse ele, ainda um pouco ofegante devido à atividade física realizada.

 

Para sua surpresa, a resposta de Hermione foi olhá-lo como se ele houvesse acabado de dizer que iria passar uns dias no Lago Negro com a lula gigante. Os cabelos dela estavam ainda mais volumosos agora e o modo como seus olhos castanhos expressivos estavam voltados para ele faziam-na parecer ainda mais adorável aos seus olhos.

 

— Porque isso agora? —  questionou ela retirando suas luvas assim como havia feito com o capacete e óculos de proteção. —  Kingsley disse que você, Harry e Neville não precisavam das avaliações finais para exercer a profissão de Auror, como já estão fazendo.

 

— Mas talvez seja importante. —  continuou Ron. —  Seus pais podem ter razão quando dizem ser imprudente eu não terminar meus estudos.

 

—  Eles não disseram exatamente isso, Ron. E porque o que meus pais pensam é tão importante, visto que você convenceu seus próprios pais de que não precisava voltar a Hogwarts? —  perguntou Hermione, retirando seu próprio cachecol em seguida e passando a se abanar como se estivesse calor.

 

Ron deu de ombros. Sabia que anos de amizade entre eles faziam com que fosse difícil esconder qualquer aspecto de sua personalidade de Hermione.

 

—  Eu só quero que eles tenham certeza de que estou no mesmo nível que você, Hermione. Não quero que pensem que você está perdendo tempo com uma pessoa inferior. 

 

Dizer aquelas coisas foi difícil o suficiente para que ele não conseguisse mais manter contato visual com ela, passando a se concentrar no volume de neve sob seus pés.Hermione,porém, repousou uma de suas mãos sobre a de Ron a apertando com carinho, fazendo com que a atenção dele voltasse para ela.

 

— Eles admiram você ter ido comigo até a Austrália para procurá-los, mesmo após tantas perdas pessoais pelas quais você passou. —  disse ela. — Eles adoram você e sua família desde que nós temos onze anos, Ron. Não teriam motivos para achar que não estamos no mesmo nível apenas porque temos vidas diferentes. Eles estão sendo superprotetores, apenas isso, precisam voltar a lidar com o fato de que eu vivo num mundo diferente do deles, como sempre vivi. 

 

Ron suspirou.

 

— Você não seria Hermione Granger se não voltasse para Hogwarts para se formar e ter um espaço no Ministério da Magia por mérito próprio, não é? — disse Ron, enfim voltando a olhar para ela.

 

— E você não seria Ron Weasley se não ficasse e ajudasse seu melhor amigo a encontrar Comensais foragidos em busca de deixar o mundo bruxo mais seguro para pessoas como eu. — disse Hermione. — E amamos um ao outro por esses exatos motivos, não é?

 

— Sim — disse Ron aproximando o corpo de Hermione do seu. — Amamos um ao outro por esses exatos motivos.

 

Beijaram-se sem dar importância às pessoas que estavam em volta ou ao vento cada vez mais gelado que os rodeava. Esse último fato parecia incomodar ainda menos Hermione, que havia retirado a própria touca de lã da cabeça quando separaram seus lábios, reclamando sobre como algo deveria estar errado por ela estar sentindo calor num dia tão frio.

 

— Acho que usei o feitiço para aquecer com mais intensidade do que imaginei. — disse Ron, desculpando-se e retirando, discretamente, a própria varinha das vestes para desfazer o feitiço. — Eu não queria que você ficasse com frio.

 

Sua afirmação fora descontraída e despretensiosa, por isso, Ron se surpreendeu com a reação de Hermione em voltar a beijá-lo com ainda mais carinho e intensidade que anteriormente, o prendendo num abraço do qual ele correspondeu com entusiasmo, fazendo o possível para ignorar seus músculos que agora começavam a doer devido a intensidade de esforço físico para subir e descer aquela encosta. 

 

X

 

A Toca estava quente pelo crepitar da lareira e aconchegante devido o carinho compartilhado pelos que estavam ali. O lugar estava belamente decorado para a noite de natal com luzes natalinas, um pinheiro com duendes amarrados em seus galhos e  presentes embrulhados ao redor.

 

Era o primeiro natal pós guerra e, por mais doloroso que fosse a falta de pessoas como Fred, Remus e Tonks, a memória deles estava viva no pequeno Teddy Lupin, que brincava no colo de Harry enquanto Gina conjurava bolhas de sabão da ponta de sua varinha e no fato de George ter conseguido convencer Percy a deixar bombas de bosta ao redor da cadeira na qual tia Muriel iria se sentar. Faziam o possível para encontrar felicidade em meio ao luto.

 

Antes de se unirem para a ceia, o Sr. Granger concordou em jogar uma partida de xadrez com Ron, da qual perdeu após trinta minutos de jogo.

 

— Hermione sempre comentou como você era bom nesse jogo, Ron, eu só não imaginava que perderia tão feio assim. — disse o Sr. Granger, fazendo Ron sorrir por enfim estar sendo chamado pelo seu apelido por seu sogro.

 

A família Weasley e Granger haviam se reunido ao redor da mesa da cozinha e Arthur e Molly conversavam com os pais de Hermione como velhos amigos enquanto tia Muriel resmungava sobre como a casa estava cheia do outro lado da mesa, e Ron contava a Harry e Gina como era esquiar em meio a tanta neve.

 

Seguindo a tradição Weasley, presentes foram trocados após a ceia de natal na sala de estar em frente a lareira e Ron estava com seus dedos cruzados torcendo para ter conseguido acertar no que havia comprado para seus sogros. Estava tão focado na reação deles ao abrirem o livro e abotoaduras que ele havia comprado, que quase não percebeu quando Hermione rasgou o embrulho entregue por Molly, revelando um suéter azul cuja estampa revelava um "H" bordado em dourado.

 

— Parece que Hermione ganhou uma suéter Weasley, dessa vez. — disse George sorrindo de maneira sugestiva.

 

— Você sempre foi como alguém da família para nós, querida. — disse Molly para Hermione, Arthur assentiu ao lado da esposa. — E agora mais do que nunca, não é?

 

Seu olhar foi de Rony para Hermione e ambos coraram devido a insinuação, mas Hermione sorriu e agradeceu pelo presente e, vestindo o casaco que combinava com o de Rony, ela sentou-se ao lado dele assim como estavam durante o jantar. Não disseram nada um ao outro, não precisavam, existia ali um silêncio mútuo que só podia acontecer entre duas pessoas que se entendiam completamente.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Essa foi minha segunda e última história para o Dezembro Romione e espero que vocês leiam as outras fics desse mês lindo. Eu adoro escrever Hermione mostrando coisas trouxas para o Ron então foi muito legal escrever essa história.

Obrigada por lerem e comentários são sempre bem vindos ♥, boas festas!



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