Just one more night escrita por Sami


Capítulo 1
Capítulo único.




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(...) 

 

As paredes extremamente brancas e tão limpas pareciam dar-lhe uma leve dor de cabeça, a falta de uma cor conforme caminhava pelo extenso corredor trazia uma sensação de perda, como se seu corpo tivesse mesmo sido invadido pela sensação de ter se perdido em algum momento. Vários enfermeiros passaram ao seu lado em velocidades distintas, alguns correram, outros apenas caminhavam lentamente para seus postos enquanto ao fundo, era possível ouvir uma música natalina tocar em som ambiente. Fazia tempo desde que estivera no hospital, lembrava-se com clareza que estivera ali meses atrás por causa de um incidente em seu trabalho e meses antes por causa de um ferimento causado por um tiro...  

Quando finalmente chegou à máquina de porcarias que causariam uma intensa dor de barriga no homem, Kayla Jones olhou para todas as opções na sua frente, buscando a que seria menos prejudicial para seu pai. Richard Jones lhe dera uma nota de vinte dólares, o que ela considerou um grande exagero, pois a maioria dos salgadinhos e doces da máquina não passavam de dez dólares. Imaginou que ele estivesse achando que ela ficaria com o troco — que não viria — ou algo assim, por isso a nota. A moça pensou, olhou para cada produto ali exibido com cuidado, seu pai estava em recuperação, ela bem sabia que ele não poderia ficar comendo aquele tipo de alimento — se é que poderia chamá-los de alimentos —, mas tinha um coração mole e não conseguiu negar o pedido do homem.  

Não quando ele vinha “se comportando” tão bem, como Richard mesmo lhe dissera momentos atrás quando lhe dera o dinheiro para que ela comprasse alguma coisa para tirar o gosto ruim da boca causado pelos tantos remédios que ele vinha tomando.  

Após cinco minutos tentando decidir o que não acabaria de matar seu pai, Kayla escolhera um pacote de amendoins sem sal e torceu mentalmente para que o homem aceitasse sem reclamar, caso contrário, ela teria de voltar para pegar algo que fosse para ele mais apetitoso do que amendoim sem sal. Girou pelos calcanhares, virando na mesma direção em que viera e seguiu caminho de volta para o quarto aonde Richard estava. A música natalina mudou e agora era uma mais clássica, um pouco mais animada também, mas que ainda parecia um lembrete ruim para aqueles que teriam de passar a noite de véspera de natal dentro de um hospital.  

Kayla suspirou. Mais cedo havia tido uma pequena e boba discussão com o pai porque o homem estava insistindo para que ela não ficasse com ele durante aquela noite.  

— Aproveite a véspera pelo menos. — ele lhe dissera com insistência, olhando-a com firmeza. Era uma ordem, a ruiva conseguira distinguir perfeitamente um pedido da ordem que ele estava lhe dando.  

Jones entendia os motivos do homem em não querer que ela passasse a noite ali com ele, ela perdera quase um mês inteiro com longas visitas e noites em claro por causa de um problema de saúde do pai; além do dinheiro que gastou também. Richard estava se vendo como um peso, ele mesmo lhe dissera isso várias e várias vezes desde que fora internado e fizera a cirurgia, mas Kayla não o via assim e discordava dele sempre que podia. E, depois de quase uma hora discutindo como duas crianças, Richard conseguiu praticamente obrigá-la a passar a véspera de natal fora daquele hospital. Ele insistiu bastante e ela relutou também, bem mais do que gostaria, mas ele venceu. Ao menos daquela vez.  

E enquanto seguia de volta para o quarto, Kayla tentava pensar no que faria quando saísse dali, Ellen estava viajando para fora do país com o namorado rico dela e todos os outros estavam com suas famílias festejando a data. Ela pensou em alguns pubs que conhecia, também cogitou ficar em casa e pedir comida de algum restaurante, mas nada disso pareceu lhe atrair. Claro que, ficar num hospital também não era um atrativo, mas ao menos ela estaria se ocupando cuidando do pai; mesmo que ele se recusasse a restringir a filha daquela maneira.  

Perdida em seus pensamentos ela não se dera conta de que estava prestes a tropeçar em alguém quase tão distraído quanto ela, a ruiva não viu que ele virara o corredor ao mesmo tempo que ela o fez e seus corpos se chocaram com o encontro inesperado. Jones quase caiu para trás, mas conseguiu se equilibrar a tempo de impedir uma queda iminente, já o doutor — ela percebeu que ele trajava o jaleco com o logo do hospital — se mostrou mais equilibrado do que ela e apenas recuou um passo, a prancheta dele foi de encontro ao seu rosto e ela sentiu a dor em sua testa. Batera a cabeça no objeto e sentia um pequeno incômodo na área.  

— Oh, me desculpe. 

— Desculpe.  

Disseram ao mesmo tempo, nenhum dos dois conseguiram se ver, pois ambos se esquivaram do outro, dando mais espaço para que pudessem passar sem que se chocassem novamente. Kayla seguiu em frente, levando a mão livre de encontro a sua testa por causa do incômodo que sentia ali. O doutor também seguiu seu caminho, mas algo em sua voz a fez parar de andar logo em seguida e olhar para trás. Kayla Jones teve um vislumbre breve do homem de costas antes que ele entrasse apressado em um dos quartos, o cabelo era escuro com alguns poucos fios grisalhos e o perfume que vinha dele... Ela pareceu reconhecer aquele cheiro de algum lugar. Seria ele?  

Franziu a testa de maneira pensativa, ela o teria reconhecido se fosse Aaron Bennet. Ela bem sabia que parecia uma completa loucura achar que o conseguiria reconhecê-lo depois de vê-lo apenas uma única vez, quer dizer, passara boas horas o encarando e guardando o rosto do homem em sua mente e também reconheceria sua voz séria em qualquer lugar. Sacudiu a cabeça, deixando que o pensamento se perdesse em sua mente, não estava se iludindo com a ideia de encontrá-lo depois de quase um ano desde aquela noite, sabia que ele trabalhava no hospital, mas não o vira desde suas idas ao hospital e, passara quase um mês inteiro ali, eles teriam se esbarrado em algum momento se ele estivesse naquele hospital.  

Retornou para o quarto, seu pai estava praticamente sentado e assistia a algum programa de fim de ano que estava passando na televisão; era um show de algum cantor desconhecido e que, parecia agradar ao homem.  

— Demorou. — Richard Jones fingiu resmungar. Kayla fez uma careta e lhe entregou o pacote de amendoins sem sal, o homem olhou para a embalagem e então a olhou novamente. — Sem sal? 

Ela deu com os ombros.  

— Era a melhor opção da máquina, acredite.  

Richard se mostrou convencido com sua resposta e começou a degustar do amendoim sem sal, fez uma careta leve ao comer o primeiro, mas então se acostumou. Não demorou para que ele logo dispensasse a filha, lembrando-a da ordem que dera a ela antes. Kayla pensou em voltar para aquele assunto, em insistir para passar a noite ali com ele, mas sabia que seria uma grande perca de tempo. Richard não concordaria e então, estariam tendo aquela mesma discussão boba de antes.  

Assim, a ruiva pegou suas coisas, a blusa grossa de lã numa cor neutra e as luvas e se despediu do homem, depositando em sua testa um beijo rápido e enfim o deixou sozinho. Ela sabia que ele ficaria bem, o pior já havia passado e Richard estava apenas se recuperando de uma cirurgia simples, não existia nenhum tipo de preocupação que fizesse com que ela achasse necessário ficar ali com ele, o médico responsável lhe dissera isso no dia anterior e frisou que Richard precisaria apenas ficar uma semana ali para sua completa recuperação. Sua estadia no hospital não era mais necessária.  

 

(...) 

 

Assim que pisou do lado de fora do hospital ela sentiu o vento gelado daquele início de noite bater em seu rosto com força, Kayla deixou um suspiro escapar de seus lábios e ela pôde ver o bafo quente que saiu de sua boca, deixando claro que a temperatura ali era extremamente baixa. Era dezembro, quase fim de ano e o frio que caiu sobre toda a cidade naquele mês se mostrava bem mais intenso do que as previsões dos jornais alertaram, ao ponto de forçar toda a população a usar roupas grossas, toucas, luvas, cachecóis e botas para que se protegessem do clima extremamente baixo. 

Olhou ao redor, ela não viu nenhum taxi por perto e soube que teria de pedir pelo aplicativo para retornar para casa, caminhou para o lado oposto da entrada do hospital, onde sabia ser um ponto de fácil acesso. Retirou o celular do bolso de sua calça enquanto caminhava e então parou de maneira brusca quando percebeu que estava quase — quase — tropeçando novamente em alguém. Seria aquela a segunda vez se não tivesse parado a tempo.  

No momento em que Kayla ergueu o rosto e afastou-se dois passos da pessoa desconhecida sentiu que seu coração disparou diante a surpresa, ela abriu a boca, estava pronta para falar alguma coisa, mas então ele também a olhou e sua reação foi bem semelhante a dela. Um ano, se lembrou com firmeza. Exatamente um ano se passara desde aquela estranha e nada comum noite no bar, seu último dia como garçonete de Gareth e também naquele lugar deplorável. Um ano desde que tivera um encontro completamente diferente com aquele homem e que o beijara.  

— Você?... 

Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio que se formou ali, sua voz soou firme, apesar de ele estar claramente com um pouco de frio; o que não era de se espantar, a temperatura do lado de fora estava mesmo muito abaixo do normal. Ela percebeu que seu rosto não mudara muito, ainda era com aquele mesmo ar sério e firme de antes, seu cabelo estava poucos centímetros maior e com alguns poucos fios já grisalhos, um charme, ela comentou para si mesma.  

— Aaron Bennet. — ela fingiu ter uma pequena dificuldade em dizer seu nome apenas para aliviar aquele momento estranho ali formado, o homem enfim conseguiu ter outra reação e piscou. Os lábios se esticaram muito levemente em um sorriso simples, algo que ela gostou de ver.  

— Kayla Jones. — Bennet dissera seu nome da mesma maneira daquela noite, daquela forma que fazia com que um forte e demorado arrepio corresse por sua espinha. Um ano inteiro se passara e mesmo que aquele fosse seu segundo encontro com ele, a sensação que sentia quando seu nome era dito por Aaron continuava a mesma. — Você... Uau, já faz um tempo.  

— É. — ela conseguiu concordar antes de morder os lábios com força quando sentiu uma nova rajada de frio recair sobre seu corpo. — E como você tem passado?  

Era uma pergunta boba, ela sabia disso muito bem, mas foi a única que conseguiu formular em sua mente em pouco tempo. A verdade, a dura verdade, era que vê-lo novamente era estranho, Kayla passara meses remoendo o que acontecera naquela noite quente e, quando se deu conta de que estaria agindo como uma adolescente em esperar que seu caminho se encontrasse com o dele novamente, acabou por seguir sua vida. Claro que, vez e outra ela acabava se recordando da ousadia que tivera em flertar descaradamente com ele e então beijá-lo quando a noite se encerrou. Em seus sonhos, ela também revivia aquele momento.  

Mas naquele momento, de pé numa noite fria e numa realidade bem diferente da qual estava antes, o encontro parecia... Esquisito. Ele estava diferente, ainda que não conseguisse listar todas as mudanças que percebera nele e ela também estava bem diferente daquela noite, até porque, um ano se passara. Não eram mais as mesmas pessoas.  

— Estou bem, trabalhando bastante, na verdade. — Aaron respondeu, o que a surpreendeu bastante, pois Kayla poderia jurar que ele lhe daria apenas uma resposta simples e daria a conversa por encerrada. — E você? Ainda está na livraria do centro? 

Ela sorriu por ele se lembrar daquele detalhe, a informação desnecessária dada para na esperança de ele ir procurá-la; isso não aconteceu.  

— Na verdade eu sai depois de uns meses, comecei a trabalhar na área que estou estudando — contou, limitando-se dessa vez em não dar a ele muitos detalhes de sua vida, pois não sabia o que esperar daquele bate papo. Ele prosseguira? Faria algum comentário e então seguira com sua vida? 

O que aconteceu contrariou toda expectativa que ela criou. Aaron Bennet pareceu se interessar pela informação, seu corpo relaxou um pouco e seu rosto demonstrou um tipo nada discreto de interesse.  

— Sério? E em que área? 

— Arquitetura.  

Ele ergueu uma sobrancelha surpresa, interessado e ao mesmo tempo animado.  

— Uau! — exclamou baixo, parecendo sorrir. — Futura arquiteta.  

Novamente fez-se silêncio entre eles e Kayla percebeu que era um silêncio desconfortável, de quando uma conversa automaticamente se encerrava por conta própria. A ruiva fechou a mão livre num punho e a soltou, o frio estava ficando mais intenso e ela sentia o corpo já mostrar alguns sinais para que ela encontrasse algum lugar quente — sua casa — e logo.  

— Bem, foi muito bom te encontrar, mas eu preciso ir... — ela começou a falar de maneira apressada, tentando não demonstrar que aquilo era apenas um escape, na verdade uma fuga, para o constrangimento que passou a sentir com aquele encontro. Kayla não esperou que ele respondesse, avançou exatos três passos e no quarto passo que dera passou ao seu lado, aspirando seu perfume sem que se desse conta do eu fizera. O cheiro invadiu suas narinas e ela tremeu, não de frio.  

Aquilo fez com que sua mente trouxesse à tona imagens daquela noite, dos tantos flertes trocados e do beijo que deram, Kayla se perguntou aonde essa mesma mulher estaria naquele momento e escolheu por não saber a resposta.  

— Espere. — Kayla se assustou quando sentiu a mão firme do homem se fechar em seu braço, segurando-a para que ela parasse de andar no mesmo momento. Ela se virou no mesmo instante, um pouco assustada pelo toque e, Aaron rapidamente a soltou, levemente constrangido pela própria atitude.  

Os dois se olharam novamente.  

— Não quer tomar um café? Ou qualquer outra coisa?  o convite feito a surpreendeu, novamente todas as expectativas criadas foram contrariadas.  

E Kayla se viu aceitando o convite sem nem pensar duas vezes 

 

(...) 

 

Era de se esperar que o centro da cidade estivesse uma verdadeira loucura, principalmente por ser véspera de natal. Até mesmo a cafeteira escolhida por Aaron se encontrava lotada e, com seus pedidos em mãos os dois deixaram o estabelecimento em certo momento. Quando se deram conta de que não teriam nenhum tipo de privacidade ali. Caminhavam pelos arredores, mantendo certa proximidade do local; se acordo com o homem ele não queria passar a impressão errada para Kayla e levá-la para algum ponto afastado.  

Durante esse tempo conversaram sobre a noite de um ano atrás, contaram tudo o que estavam fazendo com suas vidas, até mesmo explicaram o motivo de não estarem prontos para alguma festa de natal ou reunião de família. Kayla percebeu como tudo aquilo, cada acontecimento daquela noite fria parecia ter sido orquestrado com perfeição até aquele momento. E ela se perguntou, se tivesse vencido a discussão com o pai ainda teria se encontrado com Aaron naquele dia?  

 Já faz um ano, Aaron  ela começou uma conversa quando pararam em uma parte mais tranquila do lugar, Kayla contou apenas duas pessoas além deles que pareciam concentradas demais em seus celulares para prestar atenção neles.  Por onde andou todo esse tempo?  

A pergunta causou no homem uma reação, ele pareceu se despertar de seus pensamentos no mesmo instante e direcionou os olhos para a ruiva ao seu lado. Bennet viu quando ela pareceu estremecer devido ao vento gelado que soprou, Kayla bebericou rapidamente o café extremamente quente e momentaneamente pareceu se aquecer.  

 Bem, tenho tido o dobro do trabalho... As emergências aumentaram e meus dias se resumem em apenas ficar no hospital.  contou, Kayla notou que ele parecia um tanto cansado conforme falava de seu trabalho no hospital.  E você?  

Jones deu com os ombros.  

 Estou na fase em que unir faculdade e trabalho me deixa sem muito tempo para qualquer tipo de lazer  respondeu, ambos dando um gole em suas bebidas quentes ao mesmo tempo.  Mas não posso reclamar, estou finalmente fazendo o que gosto e o que estou estudando.  

O homem assentiu levemente, os olhos escuros ainda parados sobre a figura feminina e ruiva ao seu lado, Kayla percebeu que ele continuava a encará-la e que o peso de seu olhar era ainda o mesmo daquela noite. Ela sentia seu rosto queimar, mas não sabia dizer se era por causa do café quente que bebia, ou se era por causa do olhar que recebia dele ou se era por causa do frio.  

 Devo dizer que fiquei surpreso ao encontrá-la no hospital  Aaron retomou a fala depois de um breve momento em silêncio.  Achei que não a veria mais depois daquela noite, na verdade, eu tinha quase certeza disso... 

Ao ouvi-lo a moça não soube exatamente o que dizer de volta, ela também achava  se convencera  de que seu caminho não cruzaria outra vez com o de Aaron Bennet e ela aceitara isso.  

— Se bem me lembro, eu disse aonde poderia me encontrar. — o lembrou, o convite explicito não passou despercebido pelo homem e ela notou que ele entendera sua fala. 

— Sim, falou — concordou com a cabeça. — E eu cheguei a ir para o centro várias vezes naquele mesmo mês e quando estava prestes a ir até a livraria, acontecia algo no hospital que me obrigava a voltar.  

Kayla franziu os lábios muito levemente, ouvindo-o com atenção. Ela não esperava ouvir aquilo, não esperava saber que Aaron realmente chegou a tentar encontrá-la, novamente se pegou perguntando-se o que teria acontecido se ele conseguisse achá-la na livraria. Iriam conversar como estavam fazendo naquele momento? Marcariam algum encontro para outro dia? Fingiriam ser apenas dois estranhos? E sem perceber o que estava fazendo, ela acabou por desviar os olhos dele, encarando um ponto qualquer do lugar mais a frente.  

 Você pensa demais  Aaron comentou logo em seguida, uma observação bem diferente do que ela esperava obter dele. — Eu gostaria de saber o que ocupa tanto a sua mente.  

Kayla sentiu os lábios se esticarem num sorriso pouco travesso, ele não era a primeira pessoa a lhe dizer isso; pensativa demais. Ela sempre ouvia de alguém, fosse seu pai, Ellen ou até mesmo alguém da faculdade ou trabalho.  

— É um pouco óbvio, não é? — ela diz de maneira muito gentil, voltando os olhos para ele. — Principalmente depois do que acabou de me contar.  

Dessa vez, Aaron tem em sua face uma expressão pouco pensativa e, depois de alguns poucos segundos em total silêncio ele concorda.  

— Acho que isso muda as coisas. — ela diz de repente, o cenho levemente franzido. 

— Torna tudo estranhamente mais fácil, eu acho. — declara.  Eu tenho pensado sobre aquela noite  ele admitiu, virando o rosto para frente durante alguns segundos e voltando a encará-la. — Na verdade, este foi o pensamento que mais tem me acompanhado no decorrer desse ano.  

Kayla estava prestes a reagir, mas foi interrompida quando estremeceu de frio por causa de mais uma rajada gelada. Seu corpo se encolheu automaticamente, mesmo usando uma blusa de lã grossa, botas e luvas, o frio intenso parecia mais forte do que suas roupas. Aaron percebeu isso e se aproximou um pouco mais dela.  

— Está com frio. — aquilo era uma afirmação. — Aqui, vista.  

Ela nem mesmo teve tempo de responder, Aaron já estava tirando o sobretudo escuro e grosso do próprio corpo e lhe entregando. Reparou que ele vestia um suéter de lã da mesma cor, mas diferente dela, não parecia estar com tanto frio assim.  

— E você? — ela perguntou, recusando-se a aceitar, não queria se aquecer e deixá-lo passar frio.  

— Eu vou sobreviver. — ele respondeu, insistindo para que ela vestisse o casaco e depois de um olhar firme Kayla aceitou.  

O sobretudo ficou quase perfeito em seu corpo, por terem pouca diferença em suas alturas, apenas o tamanho do sobretudo deixava claro que a roupa não lhe pertencia. Contudo Kayla nem pensou nisso, o perfume que vinha da peça masculina pareceu distraí-la momentaneamente.  

— Eu sei que parece loucura, mas eu também penso sobre aquela noite. Bastante, na realidade. — ela retornou para a conversa quando se viu já mais aquecida. Admitir isso em voz alta a fez relembrar desses momentos em que se recordava daquele encontro, dos sonhos que tinha...  

— Do tiroteio...  

— Não. — ela o cortou de modo gentil, sorrindo quando a lembrança de um momento especifico invadiu seus pensamentos. — Só da parte realmente boa daquela noite.  

A ruiva mostrou um sorriso ousado ao respondê-lo, deixando claro sobre o que ela estaria falando. Não fingiu uma inocência que não mais existia em si, até porque, ela havia beijado um completo estranho que conhecera na mesma noite, um homem que tinha idade para ser seu pai. Literalmente. Dissera aquilo porque estava certa de que Aaron quando pensava sobre aquela noite não tinha nas lembranças o tiroteio que aconteceu e sim o que se seguiu mais tarde, afinal, ele também correspondera ao beija na mesma intensidade em que ela o beijara.  

Aaron a encarou com uma sobrancelha arqueada, apesar de seu rosto se mostrar sério naquele momento, ela pôde perceber um riso correr por seus lábios também. Estavam próximos do outro, perigosamente próximos e isso partira dele, a quebra da distância pequena entre eles.  

— Eu queria procurá-la — ele começou a falar, mas logo fez uma pausa. — Mas pensei que seria injusto, aquele nosso encontro no bar aconteceu ao puro acaso e eu queria que essa segunda vez também acontecesse... Entende essa loucura?  

Kayla assentiu devagar.  

— Não é loucura pensar assim — disse com meio sorriso. — Acho que tudo está acontecendo como deveria, à sua maneira.  

Ele concordou.  

— Mas não está sendo nada parecido com o da primeira vez. — atestou, ele olhou em direção a construção da cafeteira mais atrás. Foi a vez de ela concordar.  

Kayla mordeu o lábio com leveza e inclinou o corpo em sua direção, um movimento muito leve e discreto. 

— Não... Sem brigas de homens bêbados e sem tiroteio do final — brincou, percebendo que ele parecia estar mais próximo dela também conforme falava 

— Só a parte boa daquela noite? — ele perguntou, sua voz estava mais baixa, ela poderia dizer que estava levemente rouca. Um tom muito sugestivo, notou. 

— Só a parte boa — a ruiva repetiu em uma afirmação, percebendo que seu corpo também se aproximava mais dele; como se estivesse sendo puxada por alguma forma maior que a obrigava a ficar perto do homem.  

Aaron murmurou alguma coisa que ela não prestou atenção no que seria e nem mesmo pareceu ser algo importante, Kayla piscou e quando se deu conta, Aaron estava com o corpo rente ao seu, o rosto inclinado na sua direção e as mãos a segurar sua face. A distância entre eles já nem existia mais nesse momento e, no instante em que seus lábios tocaram os dele, qualquer resquício que pudesse existir de espaço fora quebrado. Aaron a beijava com certa lentidão, algo mais discreto e muito mais calmo do que o primeiro beijo que deram na noite em que se conheceram; aproveitando ao máximo aquele roçar de lábios.  

De início ela ficou parada, sentindo o toque ainda controlado dos lábios do homem sobre os seus e a maneira gentil com a qual ele a beijava, mas logo passou a correspondê-lo com mais intensidade. Deslizando a língua para dentro da boca dele e tocando-a com lentidão e percebendo que ele a imitou ao também intensificar o beijo quando ela tomara essa iniciativa. Um ano depois do primeiro beijo trocado e ela precisou novamente ter alguma iniciativa para incentivá-lo a algo a mais; riu mentalmente com isso, ao menos nem tudo estava tão mudado assim.  

Jones levou as mãos cobertas pelo par de luvas até seus ombros, segurando-se no homem quando sentiu o corpo masculino a prensar contra a grade aonde estava encostada, ela pareceu perder um pouco do equilíbrio com a ação dele, mas Aaron já a tinha nos braços. Segurando-a com as duas mãos firmes ao redor de seu corpo, a mantendo perto de si e firme enquanto de pé. Tal proximidade permitiu que ela conseguisse sentir a temperatura que vinha do corpo do mais velho, apesar do vento gelado daquela noite ela sentia calor vir dele e, de certa forma isso parecia ser passado para seu corpo também.  

Ela estremeceu quando sentiu a mão esquerda dele subiu lentamente até sua nuca e seus dedos se afundarem em seu cabelo, enroscando-se nos fios longos e ruivos da moça. Kayla nesse instante não mais estremecia de frio, na verdade o corpo queimava e não era por causa do sobretudo que usava, mesmo que por cima do grosso tecido, o toque de Aaron em sua cintura ardia, a arrepiava, deixou suas pernas bambas.  

Aquele beijo foi bem diferente do primeiro que trocaram, apesar do outro ter acontecido apenas porque ela ousou o suficiente para fazer algo antes que ele fosse embora, naquele momento tudo fluía bem diferente. Aaron ousava mais, talvez por ele ter sido quem tomara a iniciativa dessa vez de beijá-la antes, mas ele parecia mais aberto a explorá-la, não apenas com suas mãos, mas com sua boca também e, ele não tardou para tocá-la, apertando sua cintura, puxando um pouco de seu cabelo e tirando dela um tremor que ela apreciou bastante. Chegando até suas nádegas e apertando aquela região num toque bem mais ousado e atrevido. Ele a beijava com mais interesse e também com mais urgência e ela correspondia sempre à altura.  

Em certo momento, seus lábios se separaram e ela usou aquele pouco tempo para recuperar o fôlego, enquanto isso, Aaron descia os lábios por seu rosto até encontrar seu pescoço, aonde passou a dar mais atenção a região. Kayla mordeu o lábio com força ao sentir o gemido subir por sua garganta com força total ao senti-lo beijar aquela área sensível, e o apertou mais forte, as mãos — protegidas com a luva que usava — o agarraram no pescoço e era ela a puxar seu corpo de encontro ao dele, forçando os próprios lábios a ficarem fechados enquanto se deliciava com o que ele fazia.  

Nem o frio ou o fato de possivelmente estarem sendo vistos por terceiros não era um incômodo, na realidade Kayla nem parecia dar muita atenção para isso. Estava perdida demais nos toques e beijos de Aaron para se importar com o público que estaria ao redor. Já tinha sido beijada antes, durante toda a sua adolescência e até antes de encontrá-lo pela primeira vez, mas poderia afirmar — por mais clichê que isso poderia soar — que aquele beijo era completamente diferente de tudo o que ela já experimentou antes. Não apenas a intensidade dos lábios de Bennet sobre os seus, mas também a maneira como ele a tocava, como seus lábios se moldavam aos dele com tanta facilidade e também na maneira como seu próprio corpo reagia a ele.  

Lentamente e, contra sua vontade, ela novamente tomou a iniciativa de cessarem o beijo, tornou-os mais curtos, selinhos rápidos até que estivessem ambos com suas bocas livres. Seus rostos se mantiveram próximos e ao encará-lo, suas pernas falharam, mas ela não chegou a cair, ainda estava sendo envolvida pelo par de mãos masculinas, os olhos de Aaron pareciam ainda mais escuros e ela sabia o que aquilo significava, até mesmo a maneira como ele a encarava estava diferente. Era desejo.  

— O que vem agora? — ousou perguntar depois de longos minutos em silêncio absoluto, apesar de temer estragar aquele momento que tiveram a dúvida pairava por sua mente e ela viu que precisava dizê-la logo. 

De início o mais velho a apertou contra seu corpo quando um vento mais congelante soprou neles, fazendo com que seu cabelo ruivo se desgrenhasse um pouco e trazendo alguns pequenos flocos de neve. Nada muito exagerado, mas que fez com que a temperatura caísse bem mais naquele momento.  

— O que você quiser — responde, sua voz soando rouca e também mais baixa. — Eu sei exatamente o que eu quero e é estranho perceber que precisou de um ano inteiro para isso acontecer.  

— Eu também sei o que eu quero — começou a falar, segurando-o pela gola de seu suéter e o puxando ao seu encontro mais uma vez, mordendo o lábio inferior com sensualidade para deixar claro o que suas palavras queriam dizer. — Você.  

 

(...) 

 

As roupas já estavam todas jogadas pelo chão num tipo de rastro, as várias peças usadas para proteger-se do frio deixadas de qualquer maneira quando foram tiradas de seus corpos deixava claro o que estava acontecendo. Na cama, dois corpos se enroscavam num tipo sensual de dança, Aaron explorava o corpo da ruiva com tranquilidade e sem qualquer pressa, tocando-a de todas as maneiras possíveis, com as mãos... Com os lábios...  

Seus gemidos preenchiam todo o quarto conforme se tocavam e se beijavam, o cômodo até mesmo pareceu mais quente do que antes. Fazia frio do lado de fora, mas dentro daquele quarto, o calor que emanava de seus corpos fez até com que o cômodo largo esquentasse.  

Kayla cravou as unhas em suas costas quando sentiu seu membro invadi-la novamente, dessa vez com mais firmeza e mais rápido, jogou a cabeça para trás e deixou que seus olhos se fechassemSe deixando levar ao imenso prazer que estava recebendo, seus lábios se abriram e novamente ela deixou um gemido escapar, este soou um pouco mais alto que o anterior, mas o que poderia ter feito? Estava prestes a perder o controle que tinha do próprio corpo.  

Ele desceu a boca, trilhando beijos por seu queixo até chegar ao pescoço, demorou-se ali, saboreando o gosto que ela tinha e cada vez mais se deliciando com os sons que escapavam de seus lábios. Aaron afundou-se outra vez ao seu encontro, fazendo-a arquear o corpo em sua direção e soltar um gemido mais alto que preencheu todo o quarto, Kayla o agarrou pelos cabelos, puxando-os com força descontrolada conforme as estocadas do homem prosseguiam mais fortes e mais rápidas ao seu encontro. 

Abriu os olhos e se encararam ela conseguindo enxergar ali o brilho de todo seu desejo, ela tocou seu rosto com delicadeza arrancando dele um arrepio, suas costas se arquearam mais e ele precisou enterrar o rosto em seu ombro quando soltou um grunhido rouco de prazer com o toque recebido. Seus corpos continuavam movendo-se, as mãos masculinas segurando-a pela cintura e fazendo com que ela estivesse rente ao seu corpo. Ele a beijou fervorosamente, apertando a carne de seu corpo quando a ruiva também respondeu ao beijo; quase tão faminta quanto ele parecia estar. 

— Aaron eu... — Kayla nem conseguiu terminar a frase sem que gemesse novamente, interrompendo não só as próprias palavras, como também seus pensamentos. Se ele lhe perguntasse no dia seguinte o que ela queria dizer, nem se lembraria disso.  

Era loucura pensar que estava entregando-se a alguém que vira apenas duas vezes, seu lado mais racional jamais teria permitido que ela chegasse assim tão longe, ainda mais quando o homem tinha idade para ser seu pai; aquele por si só já seria um argumento excelente para fazê-la recuar e voltar atrás de todas as suas decisões tomadas até aquele momento. Contudo deixou o lado lógico de lado, já o beijara antes e podia dizer que praticamente foi arrebatada quando o fizera, o beijou uma segunda vez — naquela mesma noite — e sentiu-se como antes, fora o calor, aquela chama que correu em seu corpo conforme Aaron a tocava e que também sentia ali na cama com ele.  

Bennet deixara suas intenções claras quando ainda estavam no centro, a conversa que tiveram em muito lhe serviu para esclarecer algumas coisas e, ele a queria, deixou isso claro quando a beijou e quando dissera isso de forma implícita. E ela estaria mentindo se dissesse que não se sentia da mesma maneira. O desejava, passara um ano inteiro se recordando de uma noite apenas em que flertou de forma ousada com um homem mais velho e ele correspondera sem parecer um verdadeiro pervertido, o beijou na mesma noite e ele também correspondeu... Sonhara com aquela noite durante todo um ano, claro que, com uma imaginação mais livre do que realmente aconteceu.  

E lá estava ela, entregando-se ao mesmo homem que ousou beijar na frente de sua casa a um ano atrás. O arranhando, deixando marcas em suas costas que sabia que lhe causariam constrangimento no dia seguinte. O ouvia gemer em seu ouvido, o sentia invadi-la e preenchê-la como ninguém antes fizera. Seu corpo respondia a cada nova investida dele e aos poucos sentia que estava quase se descontrolando por completo. 

As mãos dela desceram por suas costas largas, sentindo quando ele a arqueava em resposta ao seu toque mais suave e ansioso, chegaram às nádegas e cravou suas unhas ali, sentindo-as comprimido enquanto prosseguia com as estocadas fortes. Sentia seu membro entrando e saindo de dentro dela em um ritmo mais sincronizado, Kayla movia o quadril tentando acompanhá-lo, o empurrava para mais perto de si, ansiando cada vez por mais dele.  

— Deus! — ele exclamou de repente entre um gemido rouco e falho, agarrando uma parte da cabeceira da cama e jogando o quadril para frente com mais força, Kayla arqueou o corpo em direção a ele, levando as pernas ao redor de corpo masculino e as travando ali mesmoApertando-o.  

Suas unhas afundaram em sua pele ao mesmo tempo em que ela jogou a cabeça para trás, abriu a boca e deixou que o gemido de êxtase saísse de seus lábios. O som pareceu excitar o homem que continuou a penetrá-laaté que ele também chegasse ao ápice, ele logo travou o quadril, invadindo-a uma última vez e finalmente gozou, urrou de forma rouca no pescoço dela; derramando-se dentro dela. 

Beijaram-se uma última vez, algo como o beijo que deram mais cedo quando ainda estavam na rua, lento e gentil antes de Aaron desabar em cima dela em busca de fôlego para depois perceber que poderia estar sufocando-a. Kayla viu quando ele deitou-se ao seu lado, mantendo ainda a proximidade de seus corpos, ela o olhou com atenção se vendo ali quase tão ofegante quanto ele; e tão satisfeita quanto.  

Ao lado da cama, na pequena cômoda, ela conseguiu ver um relógio marcando as horas, passavam-se da meia-noite e da janela, ela conseguia ver um pequeno vislumbre do que seria neve caindo.  

— Já é natal. — murmurou com a voz falha, arrumando-se na cama larga quando Aaron a trouxe para si, deitando-a por cima de seu corpo quente.  

Ele virou o rosto e também olhou para o relógio também, para logo em seguia olhá-la. 

— Oh, — ele pareceu surpreso com o horário. — Feliz natal Kayla Jones. — ele respondeu, acariciando o cabelo ruivo e longo da moça. Ela por outro lado estremeceu ao ouvir seu nome sair por entre seus lábios, se perguntou se Aaron tinha alguma noção do que causava nela quando falava seu nome inteiro. Talvez ele nem soubesse ou se tivesse algum conhecimento disso, o fazia de propósito.  

Kayla ergueu o corpo parcialmente, o suficiente para conseguir olhá-lo nos olhos e sorriu de maneira travessa.  

 Feliz natal, Aaron Bennet.  


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Notas finais do capítulo

Feliz natal Isah, espero que tenha gostado do presente ♥



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