Spray 2020 escrita por SnowShy


Capítulo 1
Fé, Confiança e... Pozinho Mágico?


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Como vocês tão? Espero que bem!
Esse ano tá difícil, né? Mas, enquanto a vacina não vem, eu vou tentar divertir vcs com as minhas historinhas :)
Espero que gostem!



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No final de 2019, as pobres fadas que foram levar o inverno ao Hemisfério Norte, depararam-se com a situação da China. Não sabiam se eram imunes ao tal do coronavírus, então ficaram apavoradas! Ao voltarem à Terra do Nunca, ficaram reclusas no Bosque do Inverno, mesmo que não tenham apresentado sintoma algum do novo vírus do Continente. Nenhuma fada entrava ou saía do Bosque. As irmãs Tinker Bell e Periwinkle quase não aguentaram de saudade! Rosetta também sofreu por ficar longe de seu namorado Sled...

Depois da quarentena e das fadas curandeiras garantirem que nenhuma fada do inverno havia sido contaminada pelo vírus, as coisas voltaram ao normal no Refúgio. Porém, com receio de que o vírus evoluísse e passasse a contaminar fadas, os ministros das estações, juntamente com a Rainha Clarion, decidiram que as fadas iriam em menor número na próxima vez que tivessem que mudar as estações do Continente, para que o risco fosse menor. Outra decisão que tomaram foi de que alguns guardiões do pozinho mágico fossem junto e levassem porções extras de pozinho. Decidiram isso com base numa hipótese das fadas curandeiras de que a magia da Terra do Nunca havia ajudado a proteger as fadas do inverno do vírus.

Assim, a primeira ida de 2020 ao Continente foi tranquila e segura, a primavera chegou ao Hemisfério Norte e o outono ao Sul sem problemas. A não ser, é claro, quando algumas fadas reparavam no desespero dos humanos e ficavam tristes por eles...

**

A Fazenda Cocoricó estava conseguindo deixar tudo sob controle durante o ano de 2020. Júlio era o único que saía de casa, sempre tomando os cuidados necessários, é claro. Às vezes ele ajudava os vizinhos fazendo entregas e também fazia compras para os seus avós, que ficavam bastante atentos e preocupados toda vez que ele saía, principalmente depois que o menino levou um tombo de bicicleta durante seu serviço de delivery...

Além de fazer essas coisas, Julinho estava tendo aulas on-line e também gravava vídeos para o seu canal no YouTube, com a ajuda do avô, contando para as pessoas as suas historinhas ao longo do ano.

**

2020 seguia sem mudanças melhores no Continente, então a segunda ida das fadas ocorreu no mesmo esquema da primeira. Rosetta, que não havia sido escalada no começo do ano para ir ao Continente, havia sido agora. Ela iria, junto com outras fadas, levar a primavera para o Hemisfério Sul, mais precisamente, para o Brasil.

O Ministro da Primavera, sempre muito organizado, resolveu dividir as fadas em grupos de duas ou três, cada grupo com um guardião do pozinho mágico. Achou que seria mais seguro, quanto menos aglomeração de fadas, menos chances de alguém levar aquele tal vírus pra Terra do Nunca.

As fadas não costumavam levar as estações a todos os lugares do Brasil, para haver uma diversidade no clima e na vegetação. Mas um dos lugares para o qual elas levavam era o estado de São Paulo, para onde Rosetta e Terence, o guardião escalado para fazer dupla com ela, iriam. 

Era um pouco estranho para eles. Não que eles não gostassem um do outro, mas não eram exatamente amigos... Quer dizer, eles tinham amigos em comum, como a Tinker Bell, e até conversavam quando estavam com outras fadas, mas nunca tinham conversado diretamente um com o outro, assim, como amigos... Enfim, eram só conhecidos. Mas tudo bem.

Eles voavam, sem conversar, pelo interior de São Paulo,  quando chegaram à uma cidadezinha que Rosetta conhecia muito bem: Cocoricolândia. Era a chance dela de quebrar o silêncio:

— Essa cidade é tão bonita! Eu acho um dos melhores lugares do Continente pras fadas da natureza, porque não tem aquele monte de prédios, sabe?

— Ah, sim! Você já esteve aqui?

— Já, um monte de vezes! Tem uma fazenda que eu adoro... a gente pode ir pra lá agora?

— Claro! Uma fazenda deve ter ingredientes diferentes pra fazer pozinho mágico...

Terence disse isso porque estava fazendo aula de alquimia de pozinho mágico. Era tão irônico que quando a fada Zarina, muitos anos atrás, começou a fazer essas experiências com pozinho mágico, ela tenha chegado até a ser expulsa do Refúgio das Fadas, mas agora estivesse dando aulas para os guardiões do pozinho... Isso mesmo, aulas! E Fada Gary fazia questão de que todos os guardiões participassem, pois isso aumentaria seus conhecimentos de pozinhologia. 

E Terence estava tão focado nessas aulas, que, mesmo tendo sido escalado para ir ao Continente, não conseguia parar de pensar nisso. Por isso, estava cheio de materiais de estudo a tiracolo.

**

Na Fazenda Cocoricó, o avô de Júlio estava cuidando da horta. Ele havia acordado bem cedo naquele dia, achando que precisava fazer uma coisa, mas não sabia o que era, ou não se lembrava... Então achou que era cuidar da horta, por isso, estava lá desde que tinha terminado de tomar o café da manhã.

— Vô! Vô! — Apareceu Júlio, correndo, com uma folha de papel na mão. — O senhor não vai acreditar!

— Nossa, menino, mas quanta pressa! O quê, no que eu você acha que não vou acreditar?

— Lembra que eu tinha dito que a dona Quitéria tinha mandado a gente fazer uma redação, um conto sobre a quarentena?

— Sim, eu me lembro.

— Então... eu tinha ficado com crise de criatividade, né? Mas depois eu consegui pensar numa história bem interessante: era sobre um menino que descobria um mundo mágico enquanto estava de quarentena na fazenda dos avós...

O avô sorriu. Era muito interessante como Júlio conseguia ser tão criativo e ao mesmo tempo usar elementos do seu dia-a-dia nas histórias que contava...

— Mas eu fiquei com medo do meu texto tá errado, sabe? — O menino continuou. — Porque eu tava misturando a vida real com contos de fada e eu achava que não era isso que a professora queria... Mas o senhor acredita que eu tirei 10 e ela pediu pra eu ler o conto pra sala toda na aula on-line??? Puxa, puxa, que puxa, eu fiquei muito feliz!!!

— Meus parabéns, menino! Eu tenho certeza de que essa nota foi muito merecida!

— Brigado, vô! Sabe, quando eu contei pra vovó, ela disse que as melhores ideias vêm da imaginação ou dos sonhos, alguma coisa assim... e que deve ser por isso que a dona Quitéria gostou do meu texto, porque eu usei a imaginação.

— Bom, como sempre, a sua avó está certa! Haha.

De repente, o avô se lembrou de uma coisa: havia tido um sonho diferente na última noite e era por isso que achava que precisava fazer alguma coisa! O problema, agora, era que não conseguia se lembrar do sonho...

Júlio, que estava com a redação impressa na mão, perguntou se o avô gostaria de ouvir, e este, é claro, aceitou. À medida que ouvia a historinha do neto, o Vô começava a achar que o sonho que havia tido tinha algo a ver com ela...

**

No caminho para a Fazenda, Rosetta havia ficado o tempo todo falando sobre como sempre ia pra lá quando estava no Brasil e tudo o que sabia sobre o lugar: que tinha um menino que antes era jovem, mas agora já era avô de outro menino, então ela se referia a ele como "Vô"; que dava pra plantar flores de morango perfeitas; que tinha muitos animais; muita música; que tinha uma aldeia indígena lá perto, etc. Terence achava tudo muito interessante, o que foi bem legal, porque em nenhum momento eles tiveram que passar novamente por aquele silêncio constrangedor do início.

Ao chegarem na Fazenda Cocoricó, a fada jardineira disse:

— Antes da gente entrar lá, eu preciso que você prometa que não vai deixar eu me distrair!

— Tudo bem.

— É sério! Essa fazenda é muito bonita e, sabe... uma vez, quando estavam várias fadas juntas aqui, eu e a Fawn nos distraímos, eu com a plantação e ela com os animais, e acabamos nos perdendo das outras fadas! Por sorte, eu acho que você é mais centrado do que a Fawn, mas mesmo assim...

— Não se preocupe, eu não vou deixar você se distrair.

— Obrigada! Você acredita que ela disse que os animais daqui falavam?

— A Fawn?

— Pois é, ela é uma doidinha, né?

— Só se esse lugar fosse mágico...

Eles começaram a rir e Rosetta foi fazer o trabalho dela com as plantas. Por trás de uma árvore, Terence avistou o avô de Júlio. Ele ainda estava na horta, só que mais pensando do que trabalhando. O guardião perguntou:

— Aquele ali é o Vô?

Rosetta foi para onde Terence estava e disse:

— Ah, é ele mesmo. Ele é fofo, né? Mas sem distrações, lembra? — Ela disse de uma forma muito gentil e educada, não como se estivesse dando ordens ou algo assim. Mas talvez Terence não fosse tão centrado quanto ela pensava e acabasse se distraindo tanto quanto ela na Fazenda...

— UAI SÔ! — Gritou uma voz estranha aos ouvidos das fadas.

Elas viraram e viram que era um CAVALO!

— Será que eu tô vendo coisas?! — Perguntou Alípio, então sacudiu a cabeça e Rosetta e Terence aproveitaram para voar para bem longe dele.

— Aquele cavalo... — Disse Terence.

— Eu sei... — respondeu Rosetta.

— Ele falou!

— Não pode ser...

— Então a Fawn tava certa!

— Mas isso é muito estranho! Eu venho nessa fazenda há anos e nunca vi os animais falarem, ele não pode ter falado... E se... e se a gente tiver adquirido o dom de entender a linguagem dos animais? É, a Fawn tem esse dom, aliás, eu acho até que foi por isso que ela achou que tinha ouvido os animais falarem aqui...

— Mas nós não somos fadas dos animais, Rosetta...

— A Silvermist também não é e ela entende girinos...

— Porque ela é uma fada da água... Olha, eu acho muito improvável, mas, tudo bem, pode ser que você, que é uma fada da natureza, em algum momento comece a entender os animais ou sei lá... Mas eu sou um guardião do pozinho mágico, isso não tem nada a ver com o meu talento. Aquele cavalo tava falando  e esse lugar é mágico!

Rosetta começou a ficar nervosa e se abanar com as mãos:

— Santa margarida, ele tava falando mesmo, né?! Ai, e agora?! Se ele fala, ele pode se comunicar com os humanos, contar pra eles que viu fadas e... eles podem não ser que nem aquela menininha doce que achou a Tinker Bell uma vez e querer acabar com a gente!!!

— Espera... Talvez eles...

— Eles vão capturar a gente e prender por dias, por anos! O meu cabelo vai ficar horrível, as minhas roupas vão ficar amassadas e...

— Mas as pessoas dessa fazenda nao devem ser más! Você acompanha o Vô há anos e sabe que ele, pelo menos, não é, né?

— Bom, ele... sempre pareceu gostar da natureza, então eu acho que ele é do bem...

— Então o resto da família dele também deve ser. Além do mais, você viu como o cavalo tava impressionado? Eu acho que ele nem tem certeza de que viu a gente, então pode ser que os humanos nem levem a sério se ele contar...

**

Alguns minutos depois, todos os animais do paiol já sabiam que Alípio pensava ter visto fadas. Alguns acreditaram, outros não. Em seguida, Júlio e a avó também ficaram sabendo. O menino ficou animado, parecia que a história que tinha inventado era mesmo real!

O avô, que já havia saído da horta, estava passando roupa. Ele olhou pro borrifador de água e imediatamente pensou em seu sonho. Aquele objeto estava lá... O dia todo estava sendo assim, a cada momento, ele se lembrava de alguma coisa. Antes, quando tinha saído da horta para entrar em casa, tinha visto uma rosa cor-de-rosa (era Rosetta quem tinha plantado) que não estava lá ontem e lembrou-se de que havia pétalas de rosas em seu sonho. 

Mais tarde, ficou sabendo da história de Alípio. Foi quando conseguiu se lembrar de quase tudo e sabia exatamente o que achava que tinha que fazer... 

Há muito tempo, quando o Vô ainda era jovem, ele tinha sonhado com duas fadas: uma ruiva de roupa rosa feita de pétalas e uma morena de roupa laranja e marrom feita de folhas. Fazia muito tempo, mas, na noite anterior, ele havia sonhado com a Fada Rosa novamente. 

No sonho, ele estava sentado a uma mesa num lugar todo branco (um laboratório, talvez) e a Fada Rosa estava lá,  ajudando-o a preparar um spray. Mas não era qualquer spray: era um spray anti-COVID-19, e um dos ingredientes era pétalas de rosas. Mas também tinha outra coisa... Uma espécie de pó de pirlimpimpim... 

Agora o Vô estava muito confuso. O dia inteiro, achava que havia sonhado com algo muito real, alguma obrigação do dia-a-dia, por isso pensava que precisava fazer alguma coisa, a coisa que estava fazendo no sonho... Mas ele não era médico nem cientista, como podia fazer um spray que imunizaria ou curaria as pessoas? Sem contar com a parte das fadas, que não fazia o menor sentido... Por outro lado, e se Alípio estivesse falando a verdade? E se a Fada Rosa realmente estivesse lá, como no sonho, e o ajudasse com isso??? 

O Vô não tinha certeza de nada, mas sentia que precisava fazer alguma coisa. Se não desse certo, continuaria esperando a vacina, como já vinha fazendo desde o início do ano...

Então, saiu para buscar a rosa.

**

Rosetta estava mais calma. Continuava fazendo o seu trabalho e se encantando com a Fazenda Cocoricó, como nas outras vezes em que ia pra lá. Terence, por outro lado, não conseguia parar de pensar no fato de estar em um lugar mágico no Continente. Nunca havia ouvido falar em Cocoricolândia, não sabia se alguma fada sabia da magia daquele lugar... E, sim, ele estava mais distraído do que Rosetta, mas não era de propósito! O que será que aconteceria se ele misturasse alguma coisa de lá com pozinho mágico da Terra do Nunca? Teria um ótimo trabalho pra apresentar na aula de alquimia...

**

Além da rosa cor-de-rosa, o que faltava?... Talvez na cozinha tivesse algum ingrediente que deixasse o spray parecido com o do sonho... Mas algo dizia ao Vô que ele não deveria entrar agora... Ele andou mais um pouquinho pela fazenda, não por perto de onde estavam os animais, mais por perto da horta. Até que...

BUM!

Ei... Aquilo era o pó de pirlimpimpim do sonho???

**

Houve uma pequena explosão de pozinho mágico graças à pequena distração de Terence. Ele e Rosetta estavam bem perto do Vô, mas nem haviam percebido, de tão distraídos.

— Terence, você sujou o meu vestido todo!

— Desculpa, foi mesmo sem querer! Mas eu garanto que não coloquei terra na mistura de pozinho, pode ficar tranquila, porque sujo, sujo, seu vestido não tá!

— Olha, eu não queria dizer nada, porque as suas escolhas não têm nada a ver comigo, mas eu tô um pouco preocupada com você...

— Por quê? Eu dou a minha palavra de que não me distraio mais! — Ele disse, levantando a mão direita. — Opa! — E quase derrubou uma de suas sacolas de pozinho...

— Você fica arrumando vários hobbies estranhos desde que a Tink começou a passar mais tempo com o Peter Pan do que no Refúgio das Fadas.

— Isso não é verdade... — Ele ficou todo desconcertado. — E a aula de alquimia não é hobbie, é uma exigência do Fada Gary...— De repente, Terence percebeu que o Vô estava lá, olhando pra eles. Espantando, o guardião disse: — É... Rosetta... eu acho melhor você olhar pra trás!

— Ah, não, nem adianta mudar de assunto! Ela é sua melhor amiga, você devia ser sincero e dizer o que...

— É sério, olha atrás de você!!!

Rosetta virou e o Vô disse:

— Sinos... Fadas soam como sinos... Ei, eu conheço você!

Percebendo que as fadas estavam assustadas e prestes a sair voando, ele disse:

— Esperem, esperem, não precisam ter medo! Não vou machucar vocês, só queria saber se... É que eu tive um sonho uns anos atrás e você estava lá, mas agora... eu acho que não foi um sonho...

Rosetta ficou impressionada. Não sabia que já tinha sido vista pelo Vô... Percebendo a expressão da Fada Rosa, ele disse: 

— Você consegue me entender?!

Ela concordou com a cabeça e ele continuou:

— Eu te vi quando eu era menino, você e uma outra fada... ahn... ela não está aqui, mas... Acontece que eu tive outro sonho e... Eu sei que vocês devem se esconder dos seres humanos por alguma razão, mas... se pudessem me ajudar, eu agradeceria muito!

Então o Vô contou todo o sonho. Depois, indicou exatamente o cômodo da casa onde estaria tentando preparar o tal spray e disse que as duas fadas poderiam ir pra lá se quisessem ajudá-lo a tentar transformar seu sonho em realidade. Estava louco? Talvez... Mas pensou que o mais louco que poderia acontecer era ainda estar sonhando, então entrou na casa.

Rosetta e Terence não sabiam o que fazer. Confiavam no Vô, sabiam que ele estava falando a verdade. Mas e depois, o que poderia acontecer? Se o ajudassem, os outros humanos ficariam sabendo da magia das fadas e isso poderia colocar todo o Refúgio em perigo... Talvez toda a Terra do Nunca! Mas e os humanos que estavam sofrendo? É claro que muitos deles eram maus, mas... só de pensar que um humano como o Vô poderia ser contaminado por esse vírus já dava um aperto no coração de Rosetta...

— A gente podia... tentar pedir pra ele não contar pra ninguém sobre as fadas? — Sugeriu fada jardineira.

— Acho que é uma boa ideia. Por mais que a gente tenha o risco de se meter em encrenca...

— É. Mas sabe de uma coisa? Eu acho que é nessas horas que a gente mais precisa de fé, confiança...

— E pozinho mágico!

— Espera! Vai sobrar pozinho pra gente voltar pra Terra do Nunca se a gente ajudar o Vô???

— Quando os ministros disseram que era pra trazer pozinho mágico extra, eu realmente trouxe pozinho mágico extra!

— Perfeito! Ei, eu acho que esse monte de pozinho que ficou no meu vestido pode ajudar no meu voo... Aliás, eu até tô gostando, sabe? Ele não ficou sujo, ficou mais bonito, brilhante...

— Ah... Que bom que você gostou! Mas desculpa mais uma vez por isso...

**

Não era um laboratório que nem no sonho, era o quarto de Júlio. O avô havia pedido permissão ao garoto para fazer uma coisa lá e, obviamente, ele havia deixado, não negaria a um pedido do avô, que achava arriscado que outra pessoa visse as fadas (por mais que todos já soubessem que Alípio tinha visto), por isso não havia contado exatamente o que precisava fazer no quarto do neto.

A Fada Rosa e o fadinho (o Vô não sabia como chamá-lo), então, chegaram e o viram com o borrifador de água na mão. 

— Que bom que vocês vieram! Não se preocupem, se não quiserem, eu não conto a ninguém sobre vocês! — Ele estava mesmo em sintonia com as fadas! — Se o spray der certo eu digo que... ah, eu não digo como foi feito, talvez eu não diga nem que fui eu que fiz, eu posso... enviá-lo de forma anônima para as pessoas que precisarem. Vocês estão de acordo? — Os dois concordaram com a cabeça. — Ótimo! Agora... Eu não sei os nomes de vocês... Sempre te chamei de Fada Rosa, mas...

Rosetta ficou impressionada por ele quase ter acertado o seu nome. O Vô percebeu a expressão da fada.

— Seu nome é Rosa?

A fada fez um gesto de "mais ou menos" com a mão.

— Cor-de-rosa? — O Vô tentou novamente.

Rosetta negou com a cabeça e fez uma rosa (a flor) na frente dele.

— Ah, então o seu nome não tem a ver com a cor... Pode ser... Ro...sinha? Rose? Roseta?

Sim! Ela concordou e ele ouviu o tilintar.

— Ah, que nome bonito! Então foi você quem plantou aquela rosa lá fora hoje cedo, não foi?

— Sim, eu adoro rosas! — Mais uma vez, tudo o que o Vô ouviu foi o tilintar, mas sabia exatamente o que a fada tinha dito.

— E você, rapazinho? Qual é o seu nome?

Terence pegou um lápis de Júlio e escreveu seu nome num papel.

— Por que eu não pensei nisso? — Disse Rosetta.

A letra ficou meio garranchuda, porque o lápis era maior do que ele, mas deu pro Vô entender.

— Terence.— Ele pronunciou em português. — É em inglês? — O guardião assentiu. — Terence — agora ele pronunciou em inglês. — Então, me diga, Terence, como você fez aquela explosão mais cedo? Eu acho que vamos precisar dela... E, Rosetta, será que eu poderia usar mais dessas rosas que você cria?

**

Depois de algumas horas, o spray estava pronto. Ele era tão mágico... Mas será que funcionaria? O Vô agradeceu às fadas e prometeu que não contaria nada a ninguém. Elas ficaram muito felizes em ajudar, tinham a sensação de que daria certo. Mas Rosetta precisava continuar seu trabalho com a primavera e Terence tinha que ir com ela, então não podiam ficar mais tempo na Fazenda Cocoricó... Teriam que esperar as notícias chegarem aos ouvidos das fadas, caso o spray desse certo.

Despediram-se e o Vô decidiu o que faria: embrulharia o spray numa caixa e mandaria em forma de encomenda a um dos médicos de Cocoricolândia. Colocaria um bilhete, dizendo para que servia o spray.

Dentro de alguns dias, estariam todos curados ou imunizados em Cocoricolândia. Tudo por causa da magia das fadas e de uma ideia que veio de um sonho.


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